Na altura de 1940 meia Europa continental está em mãos de Hitler. Um após outro, os países tombam perante o jugo nazi-fascista. Portugal, na teoria país neutral desde o início da Segunda Guerra Mundial, emite umha ordem, chamada Circular 14, proibindo expressamente a entrega de vistos sem a autorizaçom do ministério aos seguintes coletivos: apátridas, "portadores de passaportes Nansen" (entregados pola Liga das Nações), Russos, Judeus "expulsos dos países onde tinham cidadania" ou expulsos dos países onde residiam, toda pessoa na impossibilidade de "regressar livremente ao país de procedência" e políticos oposicionistas.
Porém, entre 17 e 26 de junho de 1940 Aristides de Sousa Mendes, Cônsul de Portugal em Bordéus, passou vistos a todos aqueles que procuravam fugir da barbárie nazista. A sua açom terá salvado milhares de Judeus e outros refugiados de guerra.
Um dos seus primeiros vistos irregulares foi para Eduardo Neira Laporte, comunista, basco, comandante médico do exército republicano espanhol e chefe da comunidade de refugiados espanhóis republicanos em Rivière (Landes).
17 de junho (segunda-feira)
Sousa Mendes decide entregar vistos a todos os refugiados que os demandarem. "Doravante, darei os vistos a todas as pessoas, sem distinçom de nacionalidade, raça ou religiom". Esse dia entrega um total de 230 vistos.
18 de junho
Entrega 231 vistos
19 de junho
Entrega de 156 vistos.
Com a ajuda dos seus filhos e sobrinhos, bem como do Kruger (rabino de Antuérpia), Sousa Mendes carimba e assina todos estes vistos a mão, primeiro sobre impressos oficiais, depois sobre qualquer bocado de papel.
Grande parte destes vistos som entregues a portugueses que regressavam ao seu país e muitos outros foram entregues nos poderes de cônsul, polo que nom precisavam a autorizaçom de Lisboa. Mas muitos outros foram entregues na desobediência. Face os primeiros avisos das autoridades de Lisboa ele teria declarado: "Se há que desobedecer, prefiro que seja a umha ordem dos homens do que a umha ordem de Deus".
20 de junho
A embaixada britânica em Lisboa informa ao Ministério dos Negócios Estrangeiros português que Sousa Mendes atrasa propositadamente a entrega de vistos aos cidadãos britânicos para receber ingressos extra. Salazar ordena as primeiras medidas contra o Cônsul.
20-21 de junho
Apesar da presença de funcionários de Salazar encargados de o "repatriar" de autoridade, Mendes Sousa desloca-se para Baiona, onde prossegue a atividade de entrega de vistos no escritório do vice-cônsul.
22 de junho
Sousa Mendes desloca-se para a estrada de Hendaia, onde prossegue a escrever e assinar vistos para os refugiados na proximidade da fronteira.
23 de junho
Sousa Mendes é demitido das suas funções por Salazar.
Após o encerramento da fronteira de Hendaia e perante a ausência dos funcionários encargados para o apanhar, Sousa Mendes pega do carro à cabeça dumha coluna de refugiados que guia até um pequeno posto fronteiriço onde, do lado espanhol, nom há telefone. Nessa altura o funcionário da alfândega ainda nom fora informado da decisom de Madrid de fechar a fronteira com a França. Sousa Mendes usa o prestígio da sua funçom de cônsul (teórica, já que fora demitido das suas funções) e impressiona o funcionário para que deixe passar todos os refugiados que poderiam assim, com o seu visto, chegar a Portugal de comboio através do posto fronteiriço de Vilar Formoso.
De regresso a Portugal, Aristides de Sousa é colocado perante o Conselho de Disciplina por ter agido sem a autorizaçom do Ministério dos Negócios Estrangeiros português, o que levou à sua puniçom disciplinar.
"Quando o dia da Paz, que espero nom tardará a chegar, me permitir narrar pormenorizadamente os factos, todos os que me lerem chegarám ao conhecimento das circunstâncias de força maior que deram lugar à minha condenaçom. Por isso nada mais aqui direi sobre o assunto. Desejo apenas frisar que, em consequencia delas, fui severamente castigado e aposentado, "por incapacidade profissional"!!!
Com estas magoadas palavras Aristides de Sousa dava conta em 1945 da repressom de que foi alvo por resistir e desobedecer as instruções antissemitas dum regime de clara fasquia fascista como o português. O Cônsul de Bordéus ousou fazê-lo e ousou confessar que o faria de novo, apesar da perseguiçom que se desatou contra ele.
A façanha de Aristides de Sousa Mendes foi um caso único por ter atuado sem qualquer apoio, institucional ou oficial, obedecendo apenas à sua consciência.
Em 1961 som plantadas vinte árvores na memória de sousa Mendes nos terrenos do Memorial de Yad Vashem (Memorial do Holocausto situado em Jerusalém).
Em 1966 o Memorial de Yad Vashem de Israel concede-lhe o título de "Justo entre as Nações".
A 15 de novembro de 1986 é condecorado, a título póstumo, com o grau de Oficial da Ordem da Liberdade. O presidente da República Portuguesa, o socialista Mário Soares, reabilita assim Aristides de Sousa e a sua família recebe as desculpas públicas.
Em 1994 o Presidente português Mário Soares desvela um busto em homenagem a Aristides de Sousa, bem como umha placa comemorativa no nº14 do quai Louis-XVIII, o endereço do consulado de Portugal em Bordéus em 1940.
Em 1995, a 23 de março, é agraciado, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo polo Presidente da República Portuguesa Mário Soares.
Em 1995, a Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses (ASDP) cria um prémio anual com o seu nome.
Em 1996 o grupo de escuteiros de Esgueira (Aveiro) homenageou-o criando o CLÃ 25 ASM (Aristides de Sousa Mendes)
Em 1998 a República Portuguesa, na prossecuçom do processo de reabilitaçom oficial da memória de Aristides de Sousa Mendes, condecora-o com a Cruz de Mérito a título póstumo polas suas ações em Bordéus.
Em 2005, na Grande Sala da Unesco em Paris, o barítono Jorge Chaminé organiza uma Homenagem a Aristides de Sousa Mendes, realizando dois Concertos para a Paz, integrados nas comemorações dos 60 anos da UNESCO.
Em 2006 foi realizada uma ação de sensibilizaçom: "Reconstruir a Casa do Cônsul Aristides de Sousa Mendes", na sua antiga casa em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal e na Quinta de Crestelo, Seia - São Romão.
Em 2007 um programa televisivo da RTP1, Os Grandes Portugueses, promoveu a escolha dos dez maiores e importantes portugueses de todos os tempos. Sousa Mendes foi o terceiro mais votado. Ironicamente, o primeiro lugar foi atribuído a Salazar, e o segundo lugar a Álvaro Cunhal.
Em 2007 o barítono Jorge Chaminé realizou dois concertos homenagem a Aristides de Sousa Mendes, em Baiona e em Bordéus.
Em 2010 a cidade de Baiona/Bayonne nomea umha rua Aristides de Sousa Mendes na sua honra.
Em 2013 a cidade de Toronto, no Canadá, homenageou Sousa Mendes atribuindo o seu nome a um parque infantil recém-renovado.
Em 17 de junho de 2014, a iniciativa de João Crisóstomo, um português residente em Nova Iorque, Aristides de Sousa foi homenageado em igrejas e sinagogas de todo o mundo: Rio de Janeiro, Vaticano, Bordéus, Luxemburgo, África do Sul, Belgica ou nas comunidades imigrantes portuguesas de Newark, Long Island e Yonkers (EUA).
"Sousa Mendes é um dos grandes humanistas do século passado. Foi um pioneiro, outros seguiram o seu exemplo. Mas nos EUA, e à volta do mundo, ainda há muitas pessoas que o desconhecem", explica Crisóstomo. "Decidi celebrar o 17 de junho, a que chamo o Dia da Consciência, porque acho que as pessoas devem ser celebradas por aquilo de bom que fizeram em vida e nom polo dia em que nasceram ou morreram", frisou o promotor da sua última homenagem.
Na sequência destes atos, às 19 h de 20 de junho celebra-se umha missa à que se associaram, ao apelo da FASM, vários bispos (Beja, Bragança, Viseu, Forças Armadas, Setúbal), a Ordem Franciscana, a Comunidade de S. Edígio, muitos párocos, comunidades religiosas e as Comunidades Israelitas de Lisboa e do Porto.
Desde o dia 10 de junho continua aberta ao público no Centro Cultural do Instituto Camões em Vigo (Galiza) todos os dias úteis até dia 30 a exposiçom "Aristides de Sousa Mendes. "Realmente, eu desobedeci, mas a minha desobediência não me desonra". No ato inaugruaçom da exposiçom o seu neto, o Dr. António de Sousa Mendes (na imagem) falou na memória do seu avô. Entre 1927-29 este diplomata passou por Vigo, estabelecendo a sua morada na vila minhota de Tui.
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