Cidade portuguesa na regiom do Alentejo, com cerca de 11.000 habitantes.
Montemor-o-Novo foi edificada em três montes e o seu núcleo urbano situa-se nas freguesias de Nossa Senhora da Vila e de Nossa Senhora do Bispo.
As referências mais remotas à presença judaica em Montemor-o-Novo som do século XIV. Já no reinado de D. Fernando cobrava-se “o serviço real dos judeus” da vila, prestaçom a que os Hebreus eram coagidos como contrapartida da proteçom régia (em 1382 o montemorense Judas Alcaide arrematou a cobrança das sisas gerais de Évora).
Em 1400 o clérigo Estêvão Eanes emprazou um terreno com
vinha e olival no lugar do Sesmo, termo da vila, a Judas Alcanzil e a sua mulher, contra o foro de 30 libras por ano. Aliás, vários documentos desse século mencionam topónimos como o Lagar dos Judeus, referido pola primeira vez em 1331 e o Adro dos Judeus.
Porém, as referências mais numerosas a Judeus correspondem ao século XV, com mençom da Judiaria de Montemor-o-Velho e das atividades a que se dedicavam, assim como das tensões por eles despertadas junto da comunidade cristã maioritária. Maria José Ferro Tavares incluiu no seu estudo exaustivo dos judeus portugueses até 45 referências a diferentes judeus de Montemor-o-Novo, homens e mulheres, entre os quais se destacavam os apelidos de Azecrim, Gabay, Pinto e Xavi e as profissões de alfaiate, algibebe (vendedor de roupas baratas), ferreiro, mercador e tecelão. A esses se podem juntar Samuel Zaguazay e sua mulher Cete, que em 1492 venderam umha vinha a D. Mécia de Moura, mais Samuel de Leiria, que testemunhou o ato, vindo a confirmar a intervençom dos judeus montemorenses na atividade agrícola. Um conjunto numeroso de documentos do século XV recentemente revelado pelo historiador Manuel Branco inclui mais onze nomes de judeus -um deles, Fabibe Franco, ferreiro- residentes na vila e o seu termo, relacionados com aforamento de vinhas e de casas na judiaria.
A participaçom judaica em ofícios artesanais e no comércio de rua ressalta das próprias deliberações camarárias, conhecidas polas respetivas atas. Assim sendo, em 1443 o ferreiro Gonçalo Lopes, certamente cristão, foi proibido de comprar carvom ao “carretador dos judeus ferreiros” e os ferreiros judeus ficaram também impedidos de comprar esse combustível ao acarretador daquele. Isto parece indicar que o ofício de ferreiro era exercido por vários judeus e por um único cristão. No mesmo ano, as “tendeiras, merceiras e espicieiras” foram proibidas de vender fora da judiaria, até que a populaçom saísse “ das missas da terça”, podendo-o fazer daí em diante onde quisessem. Era certamente umha medida destinada a evitar a perturbaçom dos ofícios religiosos pelos pregões das vendedeiras, obviamente judias.
A teor da documentaçom existente referente à propriedade de habitações de judeus, a Judiaria de Montemor-o-Novo situava-se intramuros, numha zona bastante central, à direita da entrada principal, a Porta de Santarém ou da Vila, entre o muro e a Rua do Bispo.
Assim sendo, um documento do século XV identifica a Porta da Vila com a da judiaria, referindo-se a ela como “ à porta da Judaria que se chama a Porta de Santarém”. Por outro lado, a sinagoga de Montemor-o-Novo localizava-se junto a essa zona, voltada para a Praça Central e muito perto da igreja de Santa Maria da Vila. Por aí passava um dos principais eixos viários da povoaçom intramuros, a rua que ligava a Porta de Santarém à Praça.
Isso condiz com as queixas dos moradores, apresentadas em cortes a D. Afonso V, contra o aumento do número de judeus e a expansom da judiaria para fora da sua primitiva área: “Vossa Senhoria saberá como d’antigamente na milhor parte desta vila foi ordenada Judaria, a qualos judeus leixaram [ deixaram ] e leixam cada dia destruir e derribar e dissimuladamente se vão a Vossa Senhoria para viverem na Cristandade, dizendo-vos que o fazem por nom caberem nas ditas judarias, o que (…) se torna em desserviço de Deus (…) porque têm já uma das melhores ruas da vila ocupada, em que se faz pouco serviço de Deus pela grande conversação que assi hão com os ditos cristãos”. Pediam ao rei que nom desse mais autorizações a Judeus para viverem fora do seu bairro, por o mesmo ser “tão grande”. O soberano pediu que lhe mostrassem as autorizações que tinha dado, para decidir sobre
o assunto.
Esta representaçom ao rei refletia várias coisas :
- que a comuna judaica estava em plena expansom, extravasando da judiaria;
- que os cristãos viam isso com muito maus olhos, em parte por motivos religiosos, mas mormente pola concorrência que os judeus lhes faziam no comércio e nas profissões artesanais;
- que o rei os protegia, entre outros motivos devido aos impostos que lhe proporcionavam;
- que se preparava o ambiente para a futura ordem de expulsom dos judeus.
Em 1496 o rei D. Manuel I ordena a expulsom dos Judeus de Portugal. A fim de "expurgar" a presença judaica em 1504 o município decide a transformaçom da sinagoga de Montemor-o-Novo em prisom
Em 1503-04, já concretizada a expulsom de parte dos Judeus e a cristianizaçom forçada de muitos outros, surgem referências documentais a cristãos-novos: Fernão Gomes, Fernão Martins e Martim Rodrigues (certamente nomes cristãos de antigos judeus da vila) compraram e aforaram casas no arrabalde. Deve ter-se tratado da saída para fora dos muros de ex-judeus, desejosos de deixarem a antiga judiaria e tudo o que a mesma implicava de segregaçom e preconceitos.
Mas isso nom impediria que, poucas décadas depois, os descendentes destes e doutros viessem a ser o alvo preferido do zelo da Inquisiçom de Évora. Montemor-o-Novo viria a ser uma das localidades mais fortemente atingidas pelas perseguições desse tribunal. No século XVI foram penitenciados um total de 14 pessoas naturais de Montemor-o-Novo (8 pola Inquisiçom de Évora, 5 pola de Lisboa e 1 pola de Coimbra).
Alguns estudiosos colocaram a hipótese de que S. João de Deus (João Cidade, 1495-1550), natural de Montemor-o-Novo, onde passou os seus primeiros oito anos, teria as suas origens numha família judaica desta vila alentejana.
Alguns estudiosos colocaram a hipótese de que S. João de Deus (João Cidade, 1495-1550), natural de Montemor-o-Novo, onde passou os seus primeiros oito anos, teria as suas origens numha família judaica desta vila alentejana.
Informações elaboradas a partir do documento "Montemor-o-Novo e o nascimento de João Cidade", Jorge Fonseca, Revista de Cultura, Câmara Municipal de Montemor-o-Novo.
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