segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

CORUNHA

Cidade galega, localizada na beira do oceano Atlântico, com cerca de 246.200 habitantes.

A cidade estendeu-se a partir da construçom na restinga formada entre a ilha onde hoje assenta a Torre de Hércules, -o farol em funcionamento mais antigo do mundo-, e o continente. A parte mais antiga da cidade alicerça-se sobre um castro.

As invasões normandas provocam um esmorecimento da cidade a partir do século IV, fazendo com que a populaçom do entom chamado Burgo do Faro se deslocasse para o interior da ria. 

Ao longo do século IX produzem-se vários ataques viquingues à cidade, entom conhecida como Faro ou Faro Bregâncio. É por isto que, no final do séc. X, o rei galego Bermudo II inicia a construçom dos elementos defensivos costeiros. Nessa altura é que se situam os primeiros vestígios da presença judaica a teor das lápides hebraicas encontradas nas redondezas da primitiva cidade. 

Em 1208 o rei galego Afonso VIII refunda a cidade sob o nome de Crunia como porto de reguengo, com o privilégio de desembarcar e vender sal livre de taxações. Doravante produz-se um período de desenvolvimento mercante e pesqueiro fazendo com que a cidade alastre polo tombo da península. Apesar dos achados, a tradiçom é a que estabelece a chegada dos Judeus no momento da (re)fundaçom da cidade.

Quando em 1369 o rei D. Fernando I de Portugal invade a Galiza, é aclamado Rei na cidade da Corunha. No breve tempo que teve de reinado em Portugaliza, realizou disposições em matéria monetária para o que mandou fazer moeda de seus sinais d´ouro e prata, asii (...) na Crunha e em Tuy, testemunhando as Cortes de Lisboa de 1371 a validez das moedas indistintamente no reino da Galiza como no de Portugal.

Depois da invasom castelhana da Galiza em 1483, os reis católicos instalam na Corunha a Real Audiência do Reino da Galiza, abandonando Compostela, sendo designada capital do Reino da Galiza em 1563.

Salvo as referidas lápides semitas, os primeiros documentos existentes da presença judaica na Corunha datam de 1375, com o ata de nascimento de Samuel, filho de David Mordechai.

A judiaria da Corunha foi crescendo rapidamente ao longo dos séculos XIII, XIV e XV, chegando a ser umha das mais prósperas e ricas, a de maior atividade cultural de todo o norte de Sefarad. Alguns historiadores acham que o descolamento da alfama esteve motivado pola chegada de duas vagas de Judeus: os Judeus ingleses expulsos em 1290 por Henrique I e os Judeus franceses expulsos por Filipe IV em 1306. Igualmente, é possível que ao porto da Corunha chegasse um grande número de Judeus fugindo das perseguições antissemitas de Castela.


En funçom dos tributos pagos polos Judeus da Corunha pode-se assegurar que se tratava da segunda Judiaria mais grande da Galiza.

A atividade principal dos judeus da Corunha era a arreacadaçom de tributos, o empréstimo e os ofícios como alfaiates, joalheiros, tecelãos,... mas acima de todo foi o porto da cidade o que fez com que prosperasse a comunidade hebraica, graças ao comércio que este mantinha com África, Europa e o Mediterrâneo. Sabe-se que no ano 1384 o judeu David era um dos maiores exportadores da cidade e que possuia umha "nave grande e bem fornecida" que exportava peixe para o Mediterrâneo. Os Judeus corunheses também comerciavam com os reinos de Castela e Aragom e que em 1451 contribuíram com umha elevada quantidade para o resgate da Judiaria de Múrcia.
Locais de âmbito judaico da Corunha. Eva L. Parguinha
Na Corunha conhece-se a existência de duas Judiarias, umha intramuros e outra extramuros, nom podendo determinar-se com exactidom, todavia, se as duas coexistiram no mesmo espaço e tempo.

Localizaçom da Judiaria intramuros da Corunha. GoogleEarth

Relativamente à localizaçom da Judiaria de intramuros da Corunha, situava-se na atual Rua Sinagoga, abrangendo as Ruas Sapataria, Cortaduria e Ferrarias. 
Arruamentos da Judiaria da Corunha. GoogleMaps


Rua da Sinagoga

Rua da Sinagoga, na Judiaria da Corunha. Foto: Eva L. Parguinha
R. da Sinagoga na Judiaria da Corunha. Foto: Eva L. Parguinha
R da Sinagoga, na Judiaria da Corunha. Foto: Eva L. Parguinha
Rua da Sinagoga, na Judiaria da Corunha. Foto: Eva L. Parguinha
Passadiço na Rua das Ferrarias, visto da R. da Sinagoga. Judiaria da Corunha.
GoogleMaps

Rua das Ferrarias

R. da Sinagoga (à esquerda) e Rua das Ferrarias (defrente). Judiaria da Corunha
GoogleMaps
Interior do passadiço na Ruela de S. Bento/Rua das Ferrarias na Judiaria da Corunha.
GoogleMaps
Rua das Ferrarias na Judiaria da Corunha. GoogleMaps

Rua da Sapataria

Rua da Sapataria na Judiaria da Corunha. GoogleMaps

Rua Curtidoria

Rua da Curtidoria na Judiaria da Corunha. GoogleMaps
R. de Santa Maria vista da R. da Curtidoria na Judiaria da Corunha.
GoogleMaps
Segundo a tradiçom popular é nesta Judiaria que estaria localizada a sinagoga, no nº4 da Rua da Sinagoga, bem como a existência dum passadiço que ligava o templo judaico com a igreja de Santa Maria. Da sinagoga da Corunha apenas resta umha cisterna, aberta na pena e com um manancial de água.
Nº4 da Rua da Sinagoga da Corunha. GoogleMaps

Prédio da sinagoga da Corunha. Foto: Eva L. Parguinha

A Judiaria extramuros da Corunha estaria localizada na zona da Rabiada ou Larrabiada, no antigo bairro de Santa Luzia (conhecido atualmente como da Falperra).  

Muito perto deste ponto achava-se o fosser ou cemitério judaico, a zona conhecida na atualidade como d'A Palhoça, frente a um ilhéu chamado Pena dos Judeus, desaparecido durante o alargamento do porto pesqueiro e onde agora se acha a Fábrica dos Tabacos. Nessas obras de alargamento, realizadas em 1869, encontraram-se os restos do cemitério judaico, destacando três lápides em bom estado de conservaçom, com inscrições em hebraico. As lápides acham-se hoje no Museu Sefardita de Toledo, no que é um espólio cultural dum património que pertence ao povo galego da Corunha. Aliás, ao realizar umha obras de desentulho nas proximidades do porto da Palhoça, em 1978 apareceram restos humanos que poderiam indicar que esta foi a localizaçom desse cemitério judaico.

De resto, existe a hipótese de que na Corunha existiu umha outra judiaria de menor tamanho na Rua Nova, já que as ruas com esse nome costumavam acolher as judiarias galegas. Porém, na atualidade apenas se pode afirmar com certeza a existência das duas anteditas judiarias.

Desconhece-se se os judeus habitaram espalhados por toda a cidade e foram separados para essa zona depois de 1480, como no caso das judiarias de Ourense, ou se desde o início moraram agrupados por volta a umha rua como no caso de Ribadávia. Porém, umha carta foral de 1494 permite localizar a judiaria da Corunha dentro da cidade velha, muito perto da atual Porta dos Ares: «... para que por nos e en nonbre del cabildo de la dicha yglesia posays partyr y faser partilla con Vasco Moro, notario, vecino de la dicha cibdad que esta presente, de una casa que es syta acerca de la porta dos Sares acerca de donde solia ser juderia que es en la colacion de la dicha yglesia...»".

Relativamente ao aspecto do bairro judeu da Corunha, este seria, ao igual que o doutras zonas da cidade, o dum arruamento de terra sem pavimentar, operaçom que nom se implementaria na cidade até o século XVI.


A Judiaria da Corunha possuía umha grande riqueza e cultura no século XV, pouco antes da sua desapariçom. Assim sendo, ligada à tradiçom judaica da cidade está a Bíblia Kennicott, umha bíblia em hebraico realizada na cidade no ano 1476. Obra de Moisés Iba Zabara para o judeu português José de Braga, é considerada como um dos mais importantes manuscritos hebraicos iluminados que existem, umha obra prima da arte sefardita medieval. Na atualidade esta obra guarda-se na Biblioteca da Universidade de Oxônia, Inglaterra.



A realizaçom na Corunha da Bíblia Kennicot coloca um grande problema histórico. Por um lado, alguns historiadores afirmam que esta obra foi realizada por umha Escola de Iluminados Hebraicos, que era das mais prestigiadas da Europa e que estava em contato com outras escolas europeias, sendo criaçom destes iluminados judeus as versões galegas das obras "Grande et General Estória" de Afonso X e da "Crónica Troiana". Por outro lado, outros estudosos afirmam que nunca existiu essa escola e que a Bíblia Kennicott é umha simples reproduçom da Bíblia Cervera.


Chegado o momento da expulsom, a comunidade judaica da Corunha que nom se converteu, bem como os Judeus vindos doutros lugares da Galiza e Castela, utilizaram os cais do porto da Corunha para fugir para a África. Em 1493 um ourivre corunhês chamado Isaque foi denunciado por ter abandonado o país rumo para África com dous milhões de maravedis em moedas e pérolas.

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