terça-feira, 26 de novembro de 2013

TOMAR

Cidade portuguesa com cerca de 15.800 habitantes pertencente à regiom da Estremadura.

Depois da "conquista" da regiom aos Mouros polo rei Afonso Henriques a terra de Tomar foi doada como feudo à Ordem dos Templários, que iniciaram em 1160 a construçom do Castelo-Convento. Em 1162 recebeu o foral. Com a desapariçom dos Templários a cidade passou à Ordem do Cristo.

Construída entre 1430-60 por ordem do Infante Dom Henrique, a Sinagoga de Tomar testemunha a importância que a comunidade judaica terá tido na cidade desde o século XIV. Embora o bairro judeu de Tomar já existia por finais do século XIV, como mostra o documento mais antigo respeitante à Judiaria de Tomar (1384), é no século XV quando a judiaria mais se desenvolveu pois, para além da construçom da Sinagoga, enquanto governador da Ordem do Cristo, o Infante D. Henrique foi o grande promotor da fixaçom dos Judeus em Tomar, dando-lhes umha rua para constituirem o seu bairro. Destarte, os Judeus de Tomar seriam vitais para o bom sucesso da abertura das novas rotas comerciais na África na época dos Descobrimentos.

Localizaçom da Judiaria de Tomar. GoogleEarth
É assim que surgiu a Judiaria de Tomar, localizada na Rua Direita (hoje Rua Dr. Joaquim Jacinto), perto da Praça de São João (hoje Praça da República) e da Corredoura, no centro sócio-económico da cidade. Ao longo do século XV, o seu crescimento impôs-lhe o encerramento de portas entre o pôr e o nascer do sol.


Planta de Tomar no século XV
As portas outrora existentes na Judiaria de Tomar situar-se-iam nas extremidades ocidental e oriental da Rua da Judiaria, mais especificamente nos cruzamentos com as Ruas do Moinho e Direita.
GoogleMaps
Segundo  informações recolhidas, existia umha tradiçom que assinalava o prédio, no cruzamento com a Rua dos Moinhos, onde vivia o "guarda" da Judiaria, que fechava as respetivas portas ao pôr-do-sol, e decerto as abria à alvorada. Nas esquinas deste cruzamento ainda existem os sinais dos sítios das trancas e, do lado da Rua dos Moinhos, houve umha espécie de porta em arco, do qual já nom restam vestígios.
Cruzamento da Rua da Judiaria com a Rua do Moinho
Cruzamento da Rua da Judiaria com a R. Direita (hoje R. Infantaria)
GoogleMaps
Embora entre a comunidade judaica de Tomar houvesse pessoas com razoável abastança, nomeadamente os que exerciam a cobrança das rendas da Ordem de Cristo, ourives das alfaias religiosas, médicos, mercadores e rendeiros, a maioria da gente de naçom, como eram conhecidos, dedicava-se ao artesanato e ao pequeno comércio de loja aberta, aliado decerto à venda ambulante.

Com a expulsom dos Judeus dos reinos de Espanha em 1492 a muito significativa populaçom judaica de Tomar deu novo ímpeto à cidade, com a sua experiência nas profissões e no comércio. Destarte, a populaçom judaica da cidade passa de 150-200 pessoas em meados do século XV para 250-300.

Porém, em 1496 os Judeus som expulsos de Portugal dando cabo da existência tanto judiaria como da sinagoga enquanto templo, passando o edifício a ter diversas funções, entre as quais, cadeia pública (a partir de 1516), capela de culto cristão (entre finais do séc. XVI e inícios do XVII), palheiro (durante o séc. XIX), servindo, em 1920, quando visitada por um grupo de arqueólogos portugueses, de adega e armazém de mercearia. 

Com o estabelecimento em 1540 dum Tribunal da Inquisiçom em Tomar, iniciou-se a perseguiçom dos judeus e cristão-novos. O primeiro auto-da-fé foi realizado em 6 de maio de 1543. Depois dum segundo auto-da-fé, a 20 de junho de 1544, o Tribunal foi suspenso, devido talvez à descoberta de abusos administrativos. Em 10 de julho de 1548 esse Tribunal foi fechado junto com umha bula de perdom que libertou todas as pessoas detidas. Porém, a maior repressom produziu-se por volta de 1550. 

Muitos Judeus e cristãos-novos conseguiram safar a perseguiçom fugindo para a Holanda, Império Otomano ou Inglaterra. Outros houve que nom quiseram se converter a cristãos-novos foram presos, torturados e executados em Autos-de-Fé. Muitos mais foram expropriados pois como os bens expropriados revertiam para a própria Inquisiçom, a esta bastava apenas umha denúncia anónima e a ascendência judaica para expropriar qualquer rico mercador, fosse este criptojudeu ou nom. 

Os distúrbios económicos provocados pola perseguiçom fanática da Inquisiçom fizeram com que a cidade de Tomar perdesse grande parte do seu dinamismo económico. 

Que a comunidade judaica podia ter ainda um peso significativo em Tomar, atesta-o a carta de excusa da Câmara de Tomar, em 1609 enviada em resposta à Câmara de Lisboa que pedia um subsídio para a recepçom a Filipe III (ocupante rei espanhol): "[...] nem forças temos para lhe oferecer ainda mui pequeno serviço; porque esta Vila está a mais miserável de Portugal, porquanto estão presos pelo Santo Ofício mais de 50 homens de Nação, e ausentes muitos mais, os quais eram mui ricos e em cujo trato estava todo o dinheiro deste povo. Além disso, os demais moradores têm poucas fazendas, e estas todas tributárias do Convento, de quem são as melhores rendas, e dos Comendadores, que são muitos, por serem terras da Ordem de Cristo [...]". De facto, ainda hoje som muito comuns os nomes ou descendentes de cristão-novos entre os habitantes da cidade.


Em 1890 a Câmara Municipal decidiu mudar de novo o nome da Rua Nova para o de Dr. Joaquim Jacinto.


Classificada como Monumento Nacional polo governo português em 19 de julho 1921, a Sinagoga de Tomar foi comprada polo engenheiro Samuel Schwarz em 1923. Este judeu-polaco, investigador e apaixonado pola cultura hebraica, reabilitou o antigo templo, promovendo obras de limpeza e desaterro, doando-o ao Estado Português em 1939 sob a condiçom de aí ser instalado o Museu Luso-Hebraico Abraam Zacuto.
Samuel Schwarz (1880-1953), estudioso e divulgador da comunidade criptojudaica de Portugal
Do acervo da sinagoga, para além de inúmeras doações dos judeus visitantes, fazem parte algumhas lápides, umhas originais e outras reproduções, provenientes de vários locais do país.

Museu Luso-Hebraico Abrão Zacuto no nº73 da R. da Judiaria
Desta coleçom, recolhida por Samuel Schwarz, destaca-se uma estela funerária proveniente de Faro, alusiva ao falecimento em 1315 de Rab Ioseph, judeu nabantino, e a lápide de 1308, que assinala a fundaçom da segunda sinagoga de Lisboa.

Com planta quadrangular, a Sinagoga tem 9,50 metros de fundo por 8,25 de largo. A sua altura corresponde à das habitações que a ladeiam, de rés-do-chão e primeiro andar. Apresenta uma abóbada de arestas sem nervuras, construída em tijolo, suportada por quatro colunas centrais com capitéis ornados de motivos florais. Nos quatro cantos superiores da sala, crê-se que por razões de ordem acústica, estám incorporadas na parede 8 bilhas de barro invertidas. Em cada um dos ângulos do tecto, um curioso orifício, denuncia a presença na alvenaria de ânforas de barro, com a funçom de regular a sonoridade dos cânticos durante o ofício religioso. 



Adossada ao edifício principal, após escavações arqueológicas, foi encontrada umha sala, destinada ao mikvah, o banho ritual de purificaçom das mulheres (imagem abaixo).



A Sinagoga de Tomar encerra um forte simbolismo. É com efeito a única sinagoga do século XV, coeva da presença deste povo em Portugal em épocas anteriores à expulsom, construída de raiz, que ainda hoje se mantém de pé.

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