Capela de Santo Tirso,
A mais antiga da povoaçom
Data dos tempos dos Mouros
Dos primórdios da naçom.
Umha lenda muito antiga,
Deste Santo, já falava,
E vou tentar descrever,
O que nela se contava.
Andava um dia um baile,
Só de Mouros e Judeus,
E cometeram um pecado,
Fazendo um pecado, Deus.
Na casa onde dançavam,
Umha cristã trabalhava,
E para aqueles infiéis,
Todo o dia cozinhava.
Num enorme caldeirão,
Água, a aquecer tentava,
Muita lenha ali queimou,
Mas a água fria estava.
O fogo partia as pedras,
Que naquela lareira havia,
Enquanto a água ao lume,
Mais gelava e nom fervia.
Foram sete carros de lenha,
Que a criada ali queimou,
Mas a água nom fervia,
E um judeu lhe gritou.
Entom maldita criada,
Essa água nom aquece?
Com tanto fogo debaixo,
Nom sei o que acontece.
Meteu a mão naquela água,
Que estava fria e gelada,
Os Judeus que a espiavam,
Rompem em grande gargalhada.
Com a mão no caldeirom,
Remexeu a água fria,
E viu a cruz de Cristo dourada,
Que no fundo da água jazia.
A cruz de Cristo tirou,
E um milagre se deu,
Aquela água tam fria,
Com grande energia ferveu.
Com a força do ferver,
Toda a água saltou fora,
O que aconteceu aos Judeus,
Eu vou-lhes contar agora:
Foram presos, desterrados,
Cada um p´ra seu lugar,
Mas passados muitos anos,
Se voltaram a juntar.
Foram juntos num só dia,
Numha escura prisom,
Mas nengum se conhecia,
Nem mesmo o próprio irmão.
Um dia no desespero,
Estando quase a morrer,
Rogou a Santo Tirso
Que lhe viesse valer.
O que a Santo Tirso pedes?
Que te livre da prisom?
Perguntou-lhe um dos presos,
Que era seu próprio irmão.
Santo Tirso de Penela Vedra,
Só ele me pode valer,
Que eu veja os meus amigos,
Antes de aqui morrer.
Penela Vedra é minha terra,
Terra, onde eu fui nascido,
Há muito que a nom vejo,
Por um pecado cometido.
Outros, que os ouviram falar,
Como amigos procederam,
Chamaram-se polos nomes,
E assim se reconheceram.
Arrependeram-se do mal,
Que eles tinham praticado,
E foram pedir perdom,
Para o seu grande pecado.
Ao pedirem o seu perdom,
Com tanto fervor imploraram,
Que lhes deram fim ao desterro,
E a Penela Vedra regressaram.
Nom sei se será umha lenda,
Ou se teria acontecido,
Mas escutem-me também,
O que a seguir lhes digo:
A casa que foi cenário,
Desta simples narraçom,
Existe bem conservada,
No centro da povoaçom.
Tem sacadas e janelas,
E tem uns largos beirais,
Nom tem ninhos de andorinhas,
Nem lá criam os pardais.
Durante a primavera,
Cada beiral tem seu ninho,
Nesta casa nunca se viu,
O de qualquer passarinho.
Esta lenda é verdadeira,
E não é invençom minha,
E nessa casa, ninguém viu,
Qualquer ninho de andorinha.
Esta lenda, ou narrativa,
Que eu acabo de contar,
Foi ouvida a umha velhinha,
Numha noite de luar.
É umha lenda muito antiga,
Umha lenda como as demais,
Que passam de boca em boca,
Som lendas tradicionais.
Dou por finda esta história,
Escrita tam toscamente,
Passada na minha aldeia,
Que eu amo loucamente.
Texto tirado de Canto da Terra - Portugal
Sem comentários:
Enviar um comentário