domingo, 24 de novembro de 2013

CASTELO DE VIDE

Vila portuguesa, na regiom do Alentejo, com 3.400 habitantes.

A mais antiga referência documental conhecida sobre a povoaçom data de 1273, mas há autores que defendem que terá sido Pedro Annes que, em 1180, lhe outorgou o primeiro foral, seguindo-se-lhe em 1310 o do Rei Dom Dinis, que mandou construir o castelo e, posteriormente, ratificado por D. Manuel I.

A presença judaica em Castelo de Vide está documentada desde o século XIV. Nessa altura foi que D. Pedro I aforava a Mestre Lourenço o seu físico, provavelmente judeu, umha terra em Castelo de Vide, sendo vários os documentos datados do século XV que testemunham a existência da comunidade judaica da vila. 


O conjunto alargado de ruas que compunham a Judiaria, implantada ao longo da encosta nascente da porta principal do castelo, desenvolveu-se entre o Largo do Mercado e a Fonte da Vila "em nada diferiam das que formavam o restante núcleo medieval".

Ainda que estabelecido numha das zonas mais acidentadas, o bairro era atravessado por um eixo fundamental de comunicaçom do castelo com o exterior e vice-versa. Estreitas calçadas serpenteiam desde a Porta da Vila, no castelo, até à Fonte da Vila, em todo semelhantes às que formam o restante núcleo medieval de Castelo de Vide.


Fonte da Vila, centro da Judiaria de Castelo da Vide
O judeu, pola sua vivência em diáspora, ligou-se fundamentalmente, às atividades mercantis, justificando-se, mutuamente mercado e judiaria, no mesmo espaço-encosta nascente do Castelo.

A comunidade judaica de Castelo de Vide evoluiu entre dous espaços fundamentais: o velho Largo do Mercado e a vetusta Fonte da Vila. 

Amplitude do bairro judeu de Castelo de Vide. GoogleEarth
A amplitude do bairro judeu de Castelo de Vide, como se vê na imagem de acima, pode compreender-se devido à proximidade com a fronteira castelhana. Assim sendo, o édito de 1492, promulgado polos reis católicos provocou umha deslocaçom maciça de famílias judias que procuravam abrigo em Portugal. Datará dessa altura o desenvolvimento comercial e manufatureiro que veio a caracterizar, posteriormente, Castelo de Vide.  O arrial levantado às portas de Castelo de Vide para albergar os judeus castelhanos teria recebido entre 4000 e 5000 pessoas. Depois da expulsom dos Judeus de Portugal de 1496, permaneceram em Castelo de Vide muitas famílias de Judeus convertidos ao cristianismo.

Nom apenas nas artes e ofícios se notabilizou a comunidade judaica de Castelo de Vide, tendo brilhado no século XVI também os seus filhos na botânica e medicina, como nos provam os nomes de Garcia de Orta, filho de cristãos-novos e autor de "Colóquio dos Simples e Drogas da Índia", ou o Mestre Jorge o Físico.

Ainda que de difícil delimitaçom urbana, a Judiaria de Castelo de Vide estendia-se polas ruas medievais da Fonte, do Mercado, do Arçário, do Mestre Jorge, da Judiaria, da Ruinha da Judiaria, e ainda pola atual Rua dos Serralheiros e da Rua Nova. 


Arruamentos da Judiaria de Castelo de Vide. GoogleMaps
A despeito da renovaçom que, por via da sua contínua ocupaçom, foi sofrendo, a judiaria de Castelo de Vide apresenta ainda alguns elementos característicos: as portas ogivais de habitaçom e de oficina ou comércio (algumhas decoradas com símbolos profissionais), as janelas góticas, alguns com elementos simbólicos da época, as velhas calçadas e o edifício que se julga ser a antiga Sinagoga. Aliás, outros edifícios da Rua da Judiaria, da Rua da Fonte ou da Ruinha da Judiaria mostram ainda o que resta da tradiçom milenar judaica de marcar a sua fé nas ombreiras das portas.





Como conjunto arquitectónico e urbanístico, esta judiaria é a que se encontra mais bem preservada em todo o País. 

O edifício identificado como Sinagoga de Castelo de Vide localiza-se na confluência da Rua da Judiaria com a Rua da Fonte. Compõe-se de dous pisos, abrindo-se numha das divisões do piso superior o que se julga ser o Tabernáculo. Neste compartimento reuniam-se os homens da comunidade, enquanto que na divisom à sua direita, daquela separada, originalmente por um pequeno postigo, congregavam-se os membros do sexo feminino, enquanto decorriam as sessões de estudo dos Textos Sagrados. Umha porta de acesso ao primeiro piso apresenta uma pequena concavidade que se chama a marca da MEZUZAH, palavra hebraica que significa "ombreira da porta".


Sinagoga de Castelo de Vide
Armário judaico (helaj) da Sinagoga de Castelo de Vide
As Sinagogas, enquanto espaço polifacetado, funcionavam, paralelamente, como Escola. Também na Sinagoga de Castelo de Vide existe um espaço, que diz a tradiçom popular, ter sido dedicado ao ensino dos mais jovens. A Escola, situava-se à esquerda da sala do Tabernáculo.

Como elementos distintivos do casario vizinho, destaca a volumetria invulgar da alegada Sinagoga, a ausência de chaminé original ou o espaço anexo de dimensões inusitadas.

Os trabalhos de restauro, consolidaçom e valorizaçom do edifício da Sinagoga obrigaram à realizaçom de vários projetos de investigaçom arqueológicos no piso inferior deste espaço. Nesses trabalhos, dirigidos pola Prof. Carmen Balesteros, além da identificaçom de vários testemunhos das diferentes ocupações ao longo dos tempos, foi possível manter três silos escavados no granito de base, apresentando um deles vestígios de ter sido forrado com placas de cortiça.

Os diferentes níveis estratigráficos observados indicam a existência de, polo menos, três fases distintas de utilizaçom do piso inferior. A mais antiga, contemporânea da abertura dos silos, remonta aos finais do século XIV. Os dous silos do primeiro compartimento estiveram em uso até meados do século XVI, enquanto que os materiais exumados no silo do segundo compartimento apontam para um abandono algo mais tardio.

Quer polos materiais arqueológicos recolhidos no interior dos silos, quer polo espólio identificado na sondagem efetuada no quintal da Sinagoga, outrora espaço coberto, pode-se afirmar que o século XVI foi época de profundas alterações deste edifício, coincidindo com o fim da liberdade de culto dos Judeus em Portugal. Posteriormente, no séc. XVIII sofreu obras de adaptaçom para residência.

Posteriores utilizações foram dadas a este imóvel. O espaço interno e externo foi sendo alterado e adaptado ao longo dos séculos. O Tabernáculo só foi redescoberto nos anos setenta do século XX, quando se procedeu à sua reconstruçom e arranjo respeitando a traça primitiva.


O Museu da Sinagoga de Castelo de Vide alberga um conjunto de conteúdos expositivos como o Bairro Judeu de Castelo de Vide, Os Judeus de Castelo de Vide e a Diáspora, A Sinagoga Medieval e as Celebrações Anuais e os Rituais Diários.


Memorial a Judeus mortos pola Inquisiçom no Museu da Sinagoga

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