Quando
Israel nasceu há agora 65 anos, o princípio da autodeterminaçom do povo judeu nom
estava em causa como agora e foi promovido pola esquerda, os humanistas e por
todos que se consideravam progressistas.
Nessa
altura os responsáveis pola política externa e militar dos EUA argumentavam
contra o apoio americano ao Estado hebreu, baseando-se em que os sionistas eram
conhecidos representantes do comunismo internacional. Loy W. Henderson,
diplomata norte-americano e diretor do Escritório para os Assuntos de Próximo
Oriente entre 1945-48, insistia: “Sabemos muito bem que todos os judeus som
comunistas. Se os deixarmos vir à Palestina, teremos lá uma quinta coluna
soviética".
Mais
moderado nas suas declarações era o Secretário de Estado, George Marshall, cérebro
do Plano Marshal para a reconstruçom da Europa, quem embora nom expressando os seus
sentimentos sobre as tendências políticas do povo judeu, também tinha a visom
de que um Estado judeu iria ser pró-soviético.
Em
contraste, o delegado soviético na ONU e futuro ministro dos Negócios
Estrangeiros soviético entre 1957-85,
Andrei Gromyko, explicitou a posiçom da URSS em relaçom ao estabelecimento de
um Estado judeu nesses termos: “A delegaçom da URSS sustenta que a decisom de
particionar a Palestina mantém os altos princípios e objetivos das Nações
Unidas. Concorda com o princípio da autodeterminação dos povos... [...] A soluçom
do problema palestino baseada na partiçom da Palestina em dous Estados
separados terá um profundo significado histórico, porque esta decisom atenderá
os legítimos direitos do povo judeu”.
No
período de “lua de mel” das relações entre Israel e a URSS compreendido entre
1947 e 1949, a URSS defendeu na ONU o estabelecimento dum Estado judeu numha
parte da Palestina e cooperou com a Agência Judaica e o yishuv (comunidade judia da Palestina anterior à fundaçom do Estado de Israel) a fim de
conseguir este objetivo. Os representantes oficiais da URSS e a imprensa
soviética apoiaram a luta armada do yishuv e denunciaram a resistência armada
árabe para a criaçom do Estado em funçom do imperialismo britânico.
Quando
o Estado de Israel foi declarado em 14 de maio de 1948 a URSS foi o primeiro Estado em reconhecê-lo de juri, abrir umha embaixada e nomear um embaixador no Estado
hebreu. Toda a esquerda, partidos comunistas incluídos, deram as bem-vindas ao
novo Estado nos quatro cantos do mundo. A Uniom Soviética supriu a Israel com
armamento (através da Checoslováquia) e permitiu a emigraçom em larga escala de
judeus para Israel de todos os países da Europa Oriental, salvo própria URSS. O
facto de a ajuda militar e económica ter sido oferecida indiretamente em vez
de diretamente da Uniom Soviética nom foi vista nessa altura com umha conotaçom
negativa. Deve levar-se em conta que o nacionalismo
árabe estava apoiado pola Gram Bretanha, o principal adversário da
União Soviética na regiom, a URSS enfatizou a sua intençom de se tornar numha
fonte de apoio e proteçom dos árabes.
Durante
toda a sua administraçom, o presidente Franklin D. Roosevelt teve muito cuidado
tanto nas suas declarações e apoios aos sionistas, muito fortes na opiniom
pública e nas câmaras, quanto no seu relacionamento com os árabes. Usando de
muito tato, conseguiu protelar umha decisom mais objetiva de exigir da Gram
Bretanha a libertaçom da imigraçom para a Palestina ou de apoio direto à
criaçom do Estado judeu.
O presidente Harry
Truman (desde abril de 1945) acabou seguindo, em parte, os caminhos de Roosevelt. Sob pressom dos
líderes árabes e dos interesses económicos e estratégicos americanos no Próximo
Oriente, assumiu umha postura simpática ao sionismo, mas sem maiores
consequências práticas. Também renovou várias vezes aos árabes a garantia de
que nengumha decisom seria tomada antes dumha ampla consulta às partes
envolvidas.
O
engajamento das lideranças soviéticas com a causa do movimento sionista nom foi
devido tanto a umha assunçom das teses do movimento nacional judeu, quanto a
umha decisom de geoestratégia política. O mesmo se pode dizer da política
norte-americana, colocada entre a sua política geoestratégica (nomeadamente as
suas necessidades militares e energéticas) como nova grande potência emergente
e umha opiniom pública muito sensibilizada com a questom judaica.
Como
pano de fundo, sem dúvida nengumha, acha-se o início da Guerra Fria,
especificamente a crescente tensom entre a URSS e as potências ocidentais. Entre
finais do ano 1946 e no primeiro trimestre de 1947 já era evidente que chegara
ao fim a Grande Aliança dos Aliados contra o inimigo comum nazi-fascista.
Winston Churchill fora o primeiro líder ocidental a perceber o avanço do comunismo,
iniciando fortes pressões para que o Ocidente encontrasse umha estratégia para
deter o avanço soviético. Ao adoptar a Doutrina Truman, em março de 1947, os
EUA assumem o papel de conter a expansom do comunismo junto aos chamados “elos
frágeis” do sistema capitalista.
Neste
quadro tudo pode ser potencialmente alterado. Assim sendo, durante o processo os
diplomatas norte-americanos acreditavam que, no final, Moscovo iria apoiar o
lado árabe (e vice-versa). Paradoxalmente, se a URSS nom tivesse apoiado com
tanta paixom a partiçom da Palestina e a criaçom de Israel, possivelmente H. Truman teria seguido as recomendações dos seus secretarios de Estado e
de Defesa.
A
questom palestina deu-lhe a URSS umha oportunidade para explorar as
contradições entre Londres e Washington. Embora nos tempos da Grande Aliança a
URSS era contrária a minar o Império britânico, na nova situaçom, a Uniom
Soviética visou o enfraquecimento do Reino Unido ao abrigo da problemática das
Pessoas Deslocadas judias, pois era um assunto que dividia os EUA e o Reino
Unido. Além disso, a decisom de apoiar em cheio a partiçom da Palestina tinha o objetivo de garantir a retirada das tropas e autoridade britânicas dessa
Palestina ocupada e a perpetuaçom do conflito judeu-árabe, que num futuro indefinido
manteria o Próximo Oriente en tensom constante.
Na nova ordem bipolar emergente, o projeto sionista soube tirar proveito da coincidência de interesses entre as duas superpotências na sua corrida pola concorrência global. De facto, as lideranças sionistas souberam lidar entre as duas grandes potências. Situados entre uns e outros, para persuadir o governo norte-americano, no seu discurso, o movimento sionista nos EUA nom duvidou em sugerir que o Estado judeu estaria associado à nova política americana anti-soviética no Próximo Oriente, enquanto no local do conflito e na Europa o sionismo travava estreitas ligações com a diplomacia soviética.
A
criaçom do Estado de Israel nom teria sido possível sem as contradições
existentes entre as duas Grandes Potências que acabaram apoiando a partiçom da
Palestina na Assembleia Geral da ONU de 29 de novembro de 1947.
Seja
como for, a decisom final norte-americana em prol da partiçom da Palestina e o
imediato reconhecimeto do Estado de Israel foram contrárias aos interesses de
Estado desse país e significou perdas materiais e políticas de grande
importância. Por um lado, as relações com os países árabes deterioraram-se,
prejudicando os interesses económicos em geral, e particularmente os ligados à
indústria petrolífera. Também foram prejudicados os interesses estratégicos,
ligados da mesma forma ao petróleo, fundamental para a reconstruçom da Europa e
para garantir as reservas americanas. Outro fator estratégico atingido polo
antagonismo árabe é referido às investidas da URSS, que exigiu do Ocidente um
sistema colectivo de segurança na regiom e que, apesar das tentativas
americanas, nom foi possível realizar.
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