quinta-feira, 28 de março de 2013

ANTISSEMITISMO NA GALIZA?


Ignacio Ramonet

Com Ramon Chao, dias atrás estive em Redondela, a minha vila natal, a convite do Club Internacional de Prensa que dirige eficientemente Carmen Carballo. No Multiusos da Xunqueira, posto a disposiciçom polo autarca Xaime Rei, demos em conjunto umha palestra sobre Guerra e paz hoje; a geopolítica dos conflitos contemporâneos que encerrava o ciclo sobre Os latejos do mundo. Longe estávamos de imaginar que, neste contexto, seríamos testemunhas, na Galiza de hoje, de expressões de ódio do antissemitismo.

O nosso objetivo era propor respostas para algumhas das seguintes questões: como entender o mundo contemporâneo? quais som os principais confrontos (militares, políticos, económicos, ambientais), no mundo de hoje? É a talvez a chamada "guerra contra o terrorismo internacional" a resposta adequada para as grandes desordens contemporâneas?

Dissemos que, ao contrário da impressom dada polos grandes meios de comunicaçom, o mundo agora é muito pacificado porque os 80% dos conflitos ocorrem dentro dum único "foco perturbador" constituído por umha área geográfica que vai do Caxemira para o Darfur, na que se acham o Afeganistám, Irám, Iraque, Chechénia, Curdistám, Líbano, Palestina e Somália. Fora desta área, salvo a Colómbia e o Sri Lanka, nom existem guerras importantes no planeta. Ou seja, há 200 anos, nunca conheceu um mundo menos conflituoso. Pola primeira vez em séculos, nengum conflito envolve a dous estados enfrentados entre si. Isto é, que todas as guerras som entre um Estado e umha ou mais organizações nom estatais armadas: por exemplo, os Estados Unidos contra a Al Qaeda, a Turquia contra o PKK curdo ou Israel contra o Hezbollah ou o Hamas.

Era, portanto, um tema muito amplo que Ramon Chao, contando com umha sólida documentaçom histórica, alargou ainda mais, evocando a "guerra aos pobres" dos quais se encarnece hoje a globalizaçom neoliberal. A nossa surpresa veio no início da conversa com a sala lotada dumha assistência em grande parte vinda de fora de Redondela. A primeira pessoa que falou, muito exaltada, começou a atirar invectivas contra umha espécie de "conspiraçom judaica" que, segundo ela, "graças ao seu poder económico e da mídia" "faz umha chantagem permanente à opiniom internacional evocando incessantemente o genocídio e assim vitimizando-se". O que, sempre segundo esta pessoa, "lhes permite cometer pola sua vez um genocídio contra os palestinianos".

Após esta série de preconcebidos antissemitas, expressos em voz alta, o que mais nos surpreendeu foi que umha parte da assistência aplaudiu como se aprovasse tam lamentáveis propósitos. Da minha parte, eu disse que condenava do modo mais explícito tais palavras e que achava inédito nesta altura ainda se pudesse cair, sob o pretexto de defender a causa palestina, no antisemitismo mais crasso. Se é óbvio que se devem criticar algumhas ações dos exércitos de Israel (assim como os atentados palestinos contra civis israelitas inocentes), isso nom deve, em qualquer caso, conduzir a retomar as nefastas pseudoargumentações do mais velho e criminoso antissemitismo. A maioria dos participantes aprovou esta posiçom com aplausos.

Mas, habilmente espalhados pola sala, mostrando que o grupo tinha vindo com más intenções, os amigos da primeira pessoa retorquiram tratando-me como um "traidor" e "ignorante", argumentando que "o antissemitismo nom existe, pois os árabes também som semitas". Como se umha crítica lexical pudesse negar a realidade do trágico e secular antijudaismo em toda a Europa, sem excluir a Galiza.

Este incidente nom só manchou a minha alegria para dar umha palestra pola primeira vez na minha cidade natal de Redondela, mas mostra acima de todo um preocupante enraizamento numha parte errada da extrema esquerda da Galiza de nauseantes teses antissemitas. Que desonram a nossa terra. O sonho da razom produz monstros. E a incapacidade de pensar de algumhas pessoas levou-as à pior das monstruosidades. É hora de retificar.

Artigo de opiniom publicado a 4 de julho de 2007 na ediçom galega do jornal El País

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