Albert Memmi |
P: Tal como tens demonstrado, o sionismo nom é um fenómeno colonial, mas pura e simplesmente um movimento de libertaçom nacional. E ainda, como é que explica que a crítica a israel tam visível na Europa pareça cada vez mais encontrar alimento numha espécie de ideologia anti-imperialista, como está hoje encarnada num movimento que alguns, entre os quais P. H. Taguief e A. Finkielkraut, consderam de neo-esquerdismo?
Albert Memmi: Porque a esquerda europeia permanece impregnada com o maniqueismo soviético e estalinista. Os árabes, porque foram dominados polo Ocidente e ainda nom estám fora do seu alcance, parecem ser as vítimas. A mesma cousa acontece com Israel. Deparamos com os sistemas feudais árabes (que por algum milagre considerados como progressistas) e o dinheiro do petróleo irá pesar cada vez mais fortemente na política da Europa.
P: A soluçom que a esquerda intelectual israelita durante tanto tempo defendeu -refiro-me à partilha da terra em "dou estados para dous pvos" com Jerusalém como capital tanto do estado Palestiniano no leste e para o Estado hebraico no oeste- ainda acha que é operativa depois da falência dos acordos de Oslo concebidos com essa base?
Albert Memmi: Enquanto os povos nom se tornarem mais razoáveis, eu sou em favor da partilha da Palestina em dous estados e dous povos. Mas eu nom tenho a certeza de que o sonho sionista tenha realmente desaparecido, nem se os árabes se resignam com a existência no seu seio dumha entidade nacional judaica ou israelita.
Entrevista com Albert Memmi por Dov Maimon em destinada ao suplemento cultural do semanário israelita (Centro) Makor Rishon, 20-21 de abril de 2007
P: Que retrato poderia fazer, hoje, do colonizado palestiniano, iraquiano ou afegão?
Albert Memmi: Tratando-se dos casos que enuncia, vou falar só do palestiniano e do iraquiano, porque desconheço o caso do afegão. Para o palestiniano, ele está realmente dominado polo israelita e é preciso que isso acabe. É o meu profundo sentimento de humanista. Mas é certo também que o mundo árabe sobrevalora a questom palestiniana. E na minha humilde opiniom, se o Estado de Israel desaparecesse, os problemas do mundo árabe continuariam a existir. É preciso, em consequência, parar de tomar a Palestina como álibi. Hoje a realidade é a seguinte, estamos perante um conflito entre dous nacionalismos. É preciso portanto chegar a um acordo e, acima de todo, que o mundo árabe se invista menos. Relativamente ao Iraque pensava-se que eliminando Saddam afastar-se-ia o perigo deste país e do Ocidente. Mas foi o efeito inverso, é hoje som o caos e a anarquia que imperam. Era precisa a guerra para isso? Acho que nom. Sobre este terreno as Nações Unidas desengajaram-se, mas é certo que som os lucros do petróleo que regem tudo nessa regiom. E o mundo ocidental aflige-se perante a perspectiva de nom ter petróleo, o que conduz ao que sabemos.
P: Amiudadamente diz-se no ocidente que os mussulmanos nom estám prontos ao debate contraditório, à crítica e à autocrítica, mas com os judeus -e sobretodo os israelitas-, nom acontece o mesmo? Noutras palavras, pode-se, hoje, no Ocidente, criticar o Estado de Israel?
Albert Memmi: Devemos criticar o governo israelita e nom a existência do Estado de Israel. Eu tomei muitas vezes posturas contra os governos israelitas, nós, "os intelectuais judeus", nom vamos comprometer a nossa crítica sobre certos governos israelitas. Mas o problema real do mundo árabe é que ele faz mal ao absorver as suas minorias. Entom, é preciso ser cuidadoso com a totalizaçom, como "os judeus som usurários" ou que "os negros cheiram mal" ou "que os mussulmanos som terroristas" ou "que as mulheres som sorrateiras"... Estas observações som os resultados dum erro de lógica, som acusações implícitas que geram a heterofobia.
P: Numha intervençom durante um recente colóquio em Paris sobre a paz no Próximo Oriente você disse que um dos problemas do mundo árabe atual é a sua incapacidade de "reter" as suas minorias. É que a Europa, os EUA e Israel, nom têm também eles o mesmo problema com as suas minorias árabe, turca, africana,...?
Albert Memmi: Todas as maiorias têm tendência a desconfiar das minorias e às "fechar" mas para o resto, é apenas umha questom de grau.
P: Que significa, para Israel e os Árabes, "renunciar a certos mitos"? Quais som esses mitos que acha anacrónicos nos dous lados?
Albert Memmi: Para Israel som chegados os tempos de abandonar a ideia dum Grande Israel demográfico e territorial e é preciso deixar de acreditar, igualmente, que é a única soluçom para o mundo judeu. Para os árabes, é preciso que aceitem as suas minorias tanto como eles precisam delas. O Ocidente precisa do mundo árabe e vice-versa.
Entrevista acordada expresivamente para a "Expression Tunisie" (2008). Tirada de Palestine Solidarité
"O Estado de Israel nom é umha entidade colonial cuja destruiçom seria legítima, tal como tentam de fazer acreditar os Estados árabes. Salvo a dominaçom dos Palestinianos, o que já é inaceitável, Israel nom possui nengumha das características dum regime colonial. Israel nom é um Reino cruzado, umha excrescência religiosa da Europa, destinada cedo ou tarde a ser varrido do mapa após a fadiga da cristandade. Israel, como a Palestina para os Palestinianos, é um facto nacional que responde a umha condiçom difícil de viver e a umha aspiraçom coletiva, com o seu próprio imaginário, que o liga, com razom ou sem ela, a esta Terra.
É assim que o perceberam as Nações Unidas quando decidiram a constituiçom de dous Estados sobeanos. Nom possuindo metrópole detrás dele, para superar o Estado hebraico, este deveria ser destruido. Israel, entom, defender-se-ia contra a parede e o custo da sua destruiçom seria terrivelmente caro para todos os seus parceiros. A sua eventual destruiçom mereceria tal cataclismo? Sem esquecer a vergonha indelével na história dos árabes, como o genocídio nazista na história dos alemães ou o genocídio arménio na história turca.
P: Albert Memmi sempre militou com grande entusiasmo para o estabelecimento dumha paz justa entre Israel e o mundo árabe. Nom resulta desesperançador observar o estado das relações, muito amargas, que agora prevalecem entre Israel e os Palestinianos?
Albert Memmi: É verdade que eu trabalhei duro por muitos anos para o estabelecimento dumha paz real entre Israel e o mundo árabe. Mas temo que hoje ninguém quer realmente essa paz por razões que levariam muito tempo decrever. Isso nom nos impede de continuar a procurar essa paz. Eu preciso que no meu livro "Judeus e Árabes", publicado em 1974 polas Edições Gallimard, eu mostrei que era necessário agir nom apenas sobre a relaçom entre Israel e os Palestinianos, mas também em todo o mundo árabe-muçulmano e a sua xenofobia. Desta forma, eu perguntei aos sionistas, que eu era e sigo a ser, para fazer um exame de consciência".
Entrevista com Albert Memmi de Elias Levy, "The Canadian Jewish News", 13/5/2012
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