sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

1967. JEAN-PAUL SARTRE E ISRAEL



Durante a Guerra dos Seis Dias o filósofo e escritor Jean-Paul Sartre opôs-se à política de suporte aos Árabes pregoada polos partidos comunistas de todo o mundo (salvo o regime da Roménia), mostrando que existe umha outra óptica democrática e de esquerdas de encarar o conflito israelo-árabe.

Entre os intelectuais progressistas, Nasser era visto sem dúvida nengumha como um dos líderes do movimento dos nom alinhados. Como tal, ele recebe o suporte da intelligentsia. Maxime Rodinson, no célebre artigo publicado nos "Tempos Modernos" tenta demonstrar que Israel é de facto um "facto colonial" que "se insire perfeitamente no grande movimento de expansom euro-americano dos séculos XIX e XX para povoar ou dominar economicamente e politicamente os outros povos"


Mas os apelos nom apenas antissionistas, mas também antissemitas, que se ouvem nas capitais árabes dissuadem alguns intelectuais de esquerda de dar o seu total suporte ao combate "anti-imperialista". Jean-Paul Sartre, Claude Roy e Pablo Picasso assinam a 31 de maio de 1967 um apelo, juntamente com outros cem intelectuais franceses, que estipula em substância:
  1. A segurança e a soberania de Israel, incluindo a livre circulaçom nas águas internacionais som umha condiçom necessária para o estabelecimento da paz.
  2. Esta paz apenas pode ser alcançada e reforçada através de negociações diretas entre Estados soberanos no interesse mútuo dos povos implicados.

Na sua declaraçom, Sartre opôs-se à tentativa da destruiçom do Estado de Israel polos exércitos árabes e faz um chamado a fortalecer os sectores anti-imperialistas de ambas as partes como a única forma de chegar a umha paz justa e ao socialismo.

Umha segunda declaraçom sobre o mesmo assunto foi publicada nesse dia, também assinada mormente por intelectuais de esquerdas, chamado de "O Grupo dos Vinte e Nove", dirigido por Emmanuel d'Astier de La Vigerie, um amigo da filha de Estaline, Svetlana.

No número especial de um milhar de páginas que consagra a revista "Les Temps Modernes" ao conflito israelo-árabe, a introduçom de Jean-Paul Sartre testemunha as desavenças e o mal-estar da esquerda. Escrita antes da Guerra dos Seis Dias, mas publicado justamente depois, mostra umha esquerda tomada sobre o duplo fogo do seu combate contra o imperialismo e da lembrança do genocídio judeu da Segunda Guerra mundial. Mesmo o título da sua introduçom "Pour la verité", testemunha a atitude perplexa e prudente do filósofo. No tocante a qualificar Israel de imperialista, Sartre recua subitamente, como se as certidões ideológicas nom fossem claramente definíveis ou aplicáveis a este conflito, como se o peso da Historia e a força das paixões pudessem fazer descarrilar a aguilhoada da razom. Portanto Sartre nom toma partido. Figura emblemática do intelectual engajado, ele hesita nesta ocasiom para deixar a voz aos protagonistas, esperando tirar do seu confronto os elementos da verdade.

Em 27 de maio de 1967, menos de dez dias antes do desencadeamento das hostilidades, Jean-Paul Sartre escreve: 

"A história nom se limita a nos fazer descobrir, nuns tempos misturados de sudor e de sangue, as nossas ligações fundamentais com os Israelitas, ela fez-nos tomar consciência alguns anos mais tarde quando a FLN combatia pola independência da Argélia (...) E, francamente, se o racismo feder no nariz, os aromas do imperialismo nom nos lisonjean mais: e eu nom digo aqui que Israel seja imperialista ou "a criatura do imperialismo", mais exatamente eu nom digo nada, exceto que os árabes acusam-no disso e que, nalguns casos, como a agressom de 1956, os factos parecem dar-lhes a razom. Assim, estamos perante exigências rigorosas e contraditorias -as nossas exigências: "O imperialismo é um todo que há que combater em todo lugar e sob todas as formas no Vietname, na Venezuela, em Santo Domingo, na Grécia e também em todos os seus esforços por se estabelecer ou ficar no Próximo Oriente"

"A ideia que os Árabes destruam o Estado judeu e que lancem os seus cidadãos para o mar nom se pode suportar nem um instante, salvo que eu seja racista"

"Aflitos, nom ousamos fazer nada e dizer qualquer cousa ou, se tentarmos qualquer aproximaçom, é com tais pensamentos do passado que os deixamos muito cedo..."

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