quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

CAPÍTULO 7: A DECADÊNCIA DO CAPITALISMO E A TRAGÉDIA JUDAICA DO SÉCULO XX

Abraham Leon

O mérito essencial do sistema capitalista foi ter dado uma tremenda expansão das forças produtivas, ter criado a economia mundial, ter permitido um progresso desconhecido até entom da técnica e da ciência. À estagnaçom do feudalismo, o capitalismo opõe um dinamismo inigualável. Centenas de milhões de homens até entom imobilizados numha vida rotineira e sem horizonte, de repente, viram-se atraídos pela corrente de uma existência febril e intensa.

Os judeus viviam nos poros da sociedade feudal. Quando o sistema feudal começou a ruir, começou por expulsar estes elementos que eram à vez estranhos e indispensáveis. Mesmo antes o agricultor ter deixado a aldeia para o centro industrial, o judeu deixara a pequena cidade medieval de emigrar às grandes cidades do mundo. A destruiçom da funçom secular do judaísmo na sociedade feudal é acompanhada pela sua penetraçom passiva na sociedade capitalista.

Mas se o capitalismo tem dado à humanidade realizações prodigiosas da humanidade, apenas o seu desaparecimento poderia permitir à humanidade desfrutar delas. Só o socialismo foi capaz de elevar a humanidade à altura das bases materiais da civilizaçom. Mas o capitalismo sobrevive e todas as imensas aquisições viram-se cada vez mais contra os interesses mais elementares da humanidade.

Os avanços na tecnologia e ciência tornam-se progressos da ciência e da tecnologia da morte. O desenvolvimento dos meios de produçom nom é mais que crescimento dos meios de destruiçom. O mundo tornou-se demasiado pequeno para o aparelho de produçom construído pelo capitalismo, reduze-se pelos esforços desesperados de cada imperialismo para alargar a sua esfera de influência. Enquanto as exportações em excesso constituem um fenómeno inseparável do modo de produçom capitalista, o capitalismo decadente tenta superá-las, isto é, adicionar aos seus males os males de sua remoçom.

Poderosas barreiras impedem a livre circulaçom de bens e pessoas. Obstáculos intransponíveis erguem-se perante as massas privadas de trabalho e pão atrás do colapso do mundo feudal tradicional. A putrefaçom do capitalismo nom só acelerou a decadência da sociedade feudal, mas centuplicou os sofrimentos que este tem causado. Os civilizadores, no impasse, interpõem-se no caminho daqueles que se querem civilizar. Sem poder se civilizar, eles podem muito menos permanecer no estágio da barbárie. Aos povos cuja bases tradicionais de existência destrói, o capitalismo interpõe-se no caminho do futuro após ter fechado o caminho do passado.

A tragédia judaica do século XX está relacionada com estes fenómenos gerais.. A situaçom extremamente trágica do Judaísmo do nosso tempo, explica-se pola extrema fragilidade da sua posiçom social e económica. Primeiros em serem desprezados pelo feudalismo decadente, os judeus também foram os primeiros em serem rejeitados pelas convulsões do capitalismo agonizante. As massas judaicas encontraram-se entaladas entre a bigorna do feudalismo decadente e o martelo do capitalismo que apodrece.

A) Na Europa Oriental
Toda a situaçom do judaísmo na Europa Oriental explica-se pela combinaçom do declínio de antigas formas feudais e da degeneraçom do capitalismo. A diferenciaçom social que ocorre nas aldeias como resultado da penetraçom capitalista, faz afluir nas cidades camponeses ricos e proletarizados; os primeiros querem fazer valer os seus capitais, os últimos oferecem a sua força de trabalho. Mas existem tão poucas oportunidades de investir o capital quanto oportunidades de trabalho. Mal nasceu, o sistema capitalista já mostra todos os sintomas de senilidade. Se bem a decadência geral do capitalismo se manifesta pela crise e o desemprego, no seio dos países da Europa Oriental esta manifesta-se pelo encerramento de todas as oportunidades de emigraçom para fora de suas fronteiras. Entre sete e oito milhões de camponeses ficam sem terra e quase sem trabalho na Polónia "independente". Colocada entre dois fogos, os judeus som alvo da hostilidade da pequena burguesia e dos camponeses que procuram criar uma posiçom à sua custa.

"As posições judaicas estão particularmente ameaçadas pela burguesia polaca urbana e pelo camponesado rico que buscam a soluçom para as suas dificuldades num feroz nacionalismo económico, enquanto a classe trabalhadora polaca, que sofre um desemprego permanente, procura uma soluçom à sua maneira na libertaçom económica e política e nom numa concorrência estéril e assassina ... " (1)

É justamente nas regiões mais desenvolvidas pelo capitalismo que rapidamente se forma uma classe comercial nom judaica. É lá onde a luta anti-semita é mais feroz.

"O declínio das lojas dos judeus foi maior nas voivodias centrais, quer dizer, numa regiom onde a populaçom é puramente polaca, onde o camponesado conseguiu um nível de vida mais elevado, onde a indústria está mais desenvolvidos, o que é muito importante para a situaçom material e intelectual da aldeia.”(2)

Enquanto em 1914, 72% das lojas nas aldeias eram de judeus, essa percentagem caiu para 34% em 1935, ou seja, mais de metade. A situaçom é melhor para os judeus nos territórios economicamente menos desenvolvidos.

"A participaçom dos judeus no comércio é mais importante nas voivodias mais atrasadas”. (Lipovski.)

"Os territórios orientais pertencentes à Bielo-rússia constituem, do ponto de vista económico, inteletual e político, a parte mais atrasada da Polónia. Nestas regiões a maioria absoluta dos comerciantes judeus aumenta um terço. " (3)

Em 1938, 82,6% das lojas nas regiões mais atrasadas da Polónia estavam nas mãos dos judeus. (4)

Todos estes fatos provam mais uma vez que na base da questom judaica na Europa Oriental acha-se a destruiçom do feudalismo. Quanto mais atrasada está uma regiom mais facilmente os judeus atingem manter as suas posições seculares. Mas é a decadência geral do capitalismo a que torna impossível a soluçom da questom judaica. A crise e o desemprego crónico tornaram impossível para os judeus se mudar para outras ocupações, produzindo um engarrafamento feroz nas profissões que incrementam sem cessar a violência anti-semita. Os governos dos latifundiários e dos grandes capitalistas, naturalmente, tenta organizar a vaga antijudaica e assim desviar as massas do seu verdadeiro inimigo. "Resolver a questom judaica" torna-se sinónimo para eles sinónimo da oluçom da questom social. Para abrir caminho às "forças nacionais", o Eestado organiza uma luta sistemática para “desjudaizar" todas as profissões. Os meios de "polonizar" o comércio na Polónia vam do boicote simples das lojas de judeus para os pogromos e incêndios. Eis, por exemplo, o “boletim de vitória", publicado em 1936 no jornal do governo Ilustrowany Kurjer Codzienny: 160 posições de comércio polaco foram conquistadas durante os primeiros meses deste ano no distrito de Radom. Apenas em Przytyk (famosa cidade de pogrom), 50 patentes comerciais foram compradas pelos poloneses. Em total, em vários distritos, 2.500 posições foram conquistadas pelo comércio polaco. (5)

O Artesanato judaico nom foi tratado com delicadez pelo governo polaco. O boicote, os impostos exorbitantes, examesde polaco (muitos artesãos judeus desconheciam esta língua) contribuem para expulsar os artesãos judeus. Privados de subsídios de desemprego, o proletariado artesanal é um dos mais carennciados. Os salários dos trabalhadores judeus som muito baixos e as condições de vida terríveis (jornadas de de trabalho até 18 horas).

As universidades constituem o terreno preferido da luta anti-semita. A burguesia polonês fez todos os esforços para proibir o acesso dos judeus a profissões intelectuais. As universidades polonesas tornaram-se palco de autênticos pogromos, de defenestrações, etc. Muito antes das estrelas de David de Hitler, a burguesia polonês introduziu as bancadas-gueto nas Universidades. Medidas “legais”, discretas mas nom menos eficazes, tornaram o acesso praticamente impossível da juventude judaica para as universidades, cujas condições de vida ancestrais desenvolveram altamente as faculdades intelectuais. A percentagem de estudantes judeus na Polónia diminuiu de 24,5% em 1923-1934 para 13,2% em 1933-1936. (6)

A mesma política de expulsom de estudantes judeus estava na agenda na Letónia e da Hungria. O percentual de estudantes judeus passou na Letónia de 15,7% em 1920 para 8,5% em 1931; na Hungria, de 31,7% em 1918 para 10,5% em 1931. Em geral, a situaçom dos judeus na Hungria tinha sido semelhante, durante muitos séculos, em todos os aspetos à que conheceram na Polónia.

Neste país de grandes magnates feudais, os judeus desempenharom durante muito tempo o papel de classe intermediária entre os senhores e camponeses.

"Um dos nossos correspondentes relembra que, ainda no final do século XIX, um conde de Palugyay tomou grande cuidado para evitar a sua exclusom do Círculo nacional da nobreza húngara em, Budapeste, simplesmente porque ele próprio quisera ocupar-se da processamento industrial dos produtos das suas terras e, especialmente, da destilaçom de álcool de batata e aguardente, ele tinha ainda autorizado se encarregar da sua venda. "

As profissões liberais nom foram imunes a esse preconceito, prevalente tanto na aristocracia da nobreza quanto na pequena burguesia. Pouco antes da queda da monarquia, um magnate húngaro exprimiu-se de forma depreciativa sobre os nobres que, "por dinheiro", examinavam as gargantas de pessoas desconhecidas. Uma consequência natural dessa atitude foi que, especialmente nas cidades, os judeus integraram a classe intermediária entre o camponesado e a nobreza ... O comércio, nomeadamente o realizado em pequena escala, era, aos olhos do povo, uma coisa de judeus.

Mesmo hoje para as massas da populaçom húngara a loja e, em geral, todo o relativo à sua exploraçom, é considerado judeu, mesmo se esta loja passou a ser o instrumento da luta económica contra os judeus.

Eis uma história que ilustra de uma maneira notável este estado de espírito: uma camponesa manda seu filho para as compras. Ela quer fazê-las na cooperativa semiestatal Mangia e nom numa loja judaica, mes ela disse: "Piesta, vai junto ao judeu, nom junto do judeu que é judeu, mas na nova loja." (7)

O processo de eliminaçom de judeus das suas posições económicas teve lugar por toda a Europa Oriental. A situaçom das massas judaicas tornou-se sem saída. Uma juventude desclassada, sem possibilidade de integraçom na vida económica, vivia numa pobreza abjeta. Antes da segunda guerra, 40% da populaçom judaica da Polónia recorreram às instituições filantrópicas. A tuberculose grassava.

Segundo os correspondentes da Seçom económica e estatística do Instituto científico judaico sediado nas áreas onde o desespero e a falta total de um futuro melhor abafam a juventude judaica. Isto é o que escreve Miedzyrzace:

"A situaçom da juventude judaica é muito difícil, especialmente a dos filhos de comerciantes que estão desempregados, porque os pais nom precisam de ajuda. Nom é possível abrir novos negócios. 75 raparigos e 120 raparigas de 15 a 28 anos, nom têm nehuma esperança de integraçom na vida económica. "

Para Sulejow (voivodia de Lodz), temos um quadro mais detalhado, característico das pequenas cidades da Polónia:

"Quase 50% dos filhos de comerciantes judeus estão a trabalhar com os seus pais, mas apenas porque eles nom conseguem encontrar outra ocupaçom. 25% aprendem um ofício qualquer e 25% permanecem inativos. 70% dos filhos permanecem nas oficinas de artesanato de seus pais, embora eles estão quase sem trabalho. 10% aprendem novos ofícios, 20% nom têm nada para fazer. Os filhos dos rabinos e de trabalhadores das comunidades judaicas tentam assegurar a sua subsistência aprendendo um ofício. Todos os jovens querem emigrar, 90% na Palestina, mas por causa do número limitado de certificados de emigraçom, as suas oportunidades são mínimas. Nom importa, eles estão prontos para ir para o Pólo Norte ou Pólo Sul, na condiçom de escapar desta estagnaçom. Cada vez mais, os jovens virou-se para o artesanato e o número de jovens no comércio está em declínio. " (8)


B) Na Europa Ocidental

A situaçom do judaísmo, tornou-se impossível na Europa Oriental pela combinaçom do declínio do feudalismo e a decadência do capitalismo, criando uma atmosfera de asfixia e antagonismos furiosos, repercutiu de alguma forma a escala global. A Europa Ocidental e Central tornou-se palco dum aumento assustador do anti-semitismo. Embora a reduçom da emigraçom judaica, que passou duma média anual de 155.000 entre 1901-1914 para 43.657 entre 1926-1935 (9), agravou terrivelmente a situaçom dos judeus na Europa Oriental, a crise geral do capitalismo tornou-na intolerável nos países ocidentais onde se reduziu a emigraçom. A questom judaica atingiu um nível de intensidade sem precedentes nom só nos países de emigraçom, mas também nos países de imigraçom. Mesmo antes da primeira guerra imperialista a chegada maciça de imigrantes judeus criou um forte movimento anti-semita nas classes médias em vários países da Europa Central e Ocidental. Basta lembrar o grande sucesso do Partido Anti-semita Social-cristão em Viena e do seu líder Lueger, o aumento crescente do anti-semitismo na Alemanha (Treitschke) ou o caso Dreyfus. O anti-semitismo mostrou mais claramente suas raízes em Viena, um dos grandes centros de imigraçom judaica antes da primeira guerra imperialista. A pequena burguesia, arruinada pelo desenvolvimento do capitalismo monopolista e em vias de proletarizaçom enfureceu-se com a chegada maciça do elemento judaico, tradicionalmente pequena burguesia artesanal.

Após a primeira guerra imperialista, os países da Europa Ocidental e Central: Alemanha, Áustria, França e Bélgica viram um afluxo de dezenas de milhares de imigrantes judeus da Europa Oriental, andrajosos, privados de todos os recursos. A aparente prosperidade do pós-guerra permitiu a penetraçom desses elementos em todos os ramos comerciais e artesanais. Mesmo os imigrantes judeus que entraram na indústria nom ficariam muito tempo nesse setor.

O longo passado comercial dos judeus pesa sobre os seus descendentes e as condições económicas favoráveis do pós-guerra trouxe um processo desproletarizaçom significativo, tanto na Europa Ocidental e nos Estados Unidos. Os trabalhadores judeus conservaram nos países de imigraçom a sua estrutura tradicional. Em Paris, de 21.083 trabalhadores judeus sindicalizados em 1936, havia 9.253 trabalhando em casa.

A crise económica de 1929 tornou desesperada a situaçom das massas pequeno-burguesas. O congestionamento no pequeno comércio, o artesanato, as profissões inteletuais tomou proporções desconhecidas. A pequena burguesia encarava com crescente hostilidade o seu concorrente judeu cuja habilidade profissional, resultado de séculos de prática, lhe permitia muitas vezes atravessar com facilidade os “tempos difíceis". O anti-semitismo, sempre sob a influência da pequena burguesia, achou eco em grande parte das camadas de trabalhadores artesanais.

Por conseguinte, é errado acusar o garnde capital de ter dado origem ao anti-semitismo. O grande capital utilizou o anti-semitismo básico das massas pequeno-burguesas. Converteu-se numa peça central da ideologia fascista. Para o mito do "capitalismo judaico”, o grande capital tentou tirar proveito do ódio anticapitalista das massas. A possibilidade real duma agitaçom contra os capitalistas judeus foi o resultado do antagonismo entre o capital e monopolista e o capital especulativo-comercial que era principalmente judaico. Os escândalos do capital especulativocomercial som os mais conhecidos do público, nomeadamente os escândalos da bolsa. Isto permitiu ao capital monopolista canalizar o ódio das massas pequeno-burguesas e mesmo dumha parte do operariado contra o “capitalismo judaico”.

C) O Racismo
"A ideologia é um processo que o pretenso pensador cumpre bem com uma consciência, mas com uma falsa consciência. As verdadeiras forças motrizes a movem permanecem desconhecidos, caso contrário nom seria um processo ideológico. Também se imagina forças motrizes falsas ou aparentes." (Engels a Mehring, 14 de julho de 1893.)

Até agora, temos tentado compreender os princípios reais do anti-semitismo do nosso tempo. Mas basta considerar o papel desempenhado no desenvolvimento do anti-semitismo o miserável documento fabricado pela Okhrana (polícia secreta czarista), Os Protocolos dos Sábios de Siom, para perceber a importância das "forças motrizes falsas ou aparentes" do anti-semitismo. Hoje, na propaganda nazista, o verdadeiro motivo para o anti-semitismo na Europa Ocidental, a concorrência económica da pequena burguesia, nom desempenha qualquer papel. Em contra, as alegações mais fantásticas dos Protocolos dos Sábios de Siom, “os planos de dominaçom universal do judaísmo internacional”, som retornandas em cada discurso e manifesto de Hitler. Trata-se portanto de analisar este elemento mítico e ideológico do anti-semitismo.

A religiom constitui o exemplo mais característico duma ideologia. As suas forças verdadeiras forças motrizes devem ser procuradas no ámbito mundano dos interesses materiais duma classe, mas é nas esferas mais etéreas onde se acham as suas forças motrizes aparentes. No entanto, o deus que atira contra a aristocracia inglesa e Carlos I os fanáticos puritanos de Cromwell, nom era mais que o reflexo ou o símbolo dos interesses dos camponeses e burgueses ingleses. Qualquer revoluçom religiosa é realmente uma revoluçom social.

É o desenvolvimento desenfreado das forças produtivas em choque com os estreitos limites de consumo o que constitui a verdadeira força motriz do imperialismo, fase superior do capitalismo. Mas é a Raça a que parece ser a sua força aparente mais carácterística. O racismo é, portanto, antes de mais, o disfarce ideológico do imperialismo moderno. A “raça que luta pelo seu espaço vital" nom é senom o reflexo da necessidade constante de expansom que caracteriza o capitalismo financeiro ou capitalismo monopolista.

Se a contradiçom fundamental do capitalismo, a contradiçom entre produçom e consumo, dirigido pela grande burguesia o leva à necessidade de lutar pela conquista de mercados exteriores, faz com que a pequena burguesia se veja obrigada a lutar lutar pela expansom do mercado interior. A falta de mercados exteriores para os grandes capitalistas coincide com a falta de mercados internos para os pquenos capitalistas. Enquanto a grande burguesia luta com raiva contra os seus concorrentes nos mercados estrangeiros, a pequena burguesia luta, sem menos empenho, contra os seus concorrentes no mercado interno. O racismo exterior acompanha-se portanto dum racismo interior. A deterioraçom sem precedentes das contradições do capitalismo no século XX conduz a uma crescente exasperaçom tanto do racismo exterior quanto do racismo interior.

O carácter principalmente comercial e artesanal do judaismo, herdade duma longa história, converte-o no inimigo número da pequena burguesia no mercado interior. É portanto o carácter pequeno-burguês do judaísmo o que o faz tão odioso para a pequena burguesia. Mas se o passado histórico do judaísmo tem uma influência decisiva sobre a sua atual composiçom social, tem efeitos nom menos importantes na representaçom dos judeus na consciência das massas populares. Para estas o judeu continua a ser o representante tradicional dos “poderes do dinheiro”.

Este fato é de grande importância porque a pequena burguesia nom é apenas uma classe capitalista, quer dizer, um classe depositária em miniatura de todas as tendências capitalistas, mas também é anti-capitalista. Ela é consciente, embora vagamente, de estar a ser destruída e saqueada pelo grande capital. Mas a sua natureza híbrida, a sua situaçom intraclassista nom lhe permite compreender a estrutura real da sociedade e do verdadeiro carácter do grande capital. Ela é incapaz de compreender as verdadeiras tendências de evoluçom social, porque sente que este desenvolvimento só lhe pode ser fatal. Ela quer ser anti-capitalista sem deixar de ser capitalista. Ela quer destruir o carácter maléfico do capitalismo, ou seja, as tendências que a empobrecem, mantendo o carácter bom do capitalismo que lhe permite viver e se enriquecer. Mas como nom existe capitalismo que possua as boas tendências sem possuir as más, a pequena burguesia vê-se forçada a o inventar a partir do zero. Nom é por acaso que a pequena burguesia inventou o hipercapitalismo; o desvio mau do capitalismo, o seu espírito do mal. Nom é por acaso que os seus teóricos, por mais de um século, incluindo Proudhon (10), se esforçaram para lutar contra o "mau capitalismo especulativo" e defendem o "útil capitalism produtivo”. A tentativa dos teóricos nazistas de distinguir entre o "capital produtivo nacional" e "capital parasitário judaico " é provavelmente a última tentativa neste gênero. O capitalismo judaico pode representar melhor o mito do capitalismo mau. O conceito de riqueza judaica está, com efeito, profundamente enraizado na consciência das massas populares. Trata-se somente de revelar e atualizar, através de uma propaganda cuidadosamente orquestrada, a imagem do judeu usurário contra o que lutaram muito tempo camponeses, pequenos burgueses e nobres. A pequena burguesia e uma camada de trabalhadores permaneceram sob o seu controle, facilmente influenciados por tal propaganda sobe o capitalismo judaico.

Historicamente, o sucesso do racismo significa que o capitalismo conseguiu canalizar a consciência anti-capitalista das massas na direçom de uma forma anterior do capitalismo que já nom existe, exceto como um vestígio, mas este vestígio é ainda significativo o suficiente para dar uma aparência de realidade ao mito.

Vemos que o racismo está formado por elementos muito díspares. Ele reflete a vontade expansionista do grande capital. Ele expressa o ódio da pequena burguesia contra os elementos "estrangeiros" no mercado interior e as suas tendências anticapitalistas.

É enquanto elemento capitalista que a pequena burguesia combate o rival judeu e enquanto elemento anti-capitalista que luta contra o capital judaico. Enfim, o racismo desvia a luta anticapitalista das massas para uma forma anterior do capitalismo que já nom existe, exceto como um vestígio.

Mas se a análise científica permite identificar os seus componentes, a ideologia racista deve aparecer como uma doutrina absolutamente homogênea. O racismo serve precisamente para fundir todas as classes no cadinho de uma comunidade racial oposta às outras raças. O mito racista tenta aparecer como um todo, com apenas uma vaga relaçom com suas origens diversas. Ele tende a fusionar de uma forma perfeita os seus vários elementos.

Por exemplo, o racismo exterior, disfarce ideológico do imperialismo, nom deve, em si, ter necessariamente um carácter anti-semita. Mas, por necessidade de sincretismo, é o carácter que geralmente adota. O anti-capitalismo das massas, primeiro canalizado na direçom do judaísmo, em seguida é dirigido contra o inimigo exterior que lhe é identificado. A “raça germânica” está no dever de lutar contra o judeus, o seu principal inimigo, em todos os seus disfarces: o do bolchevismo e do liberalismo interior anglo-saxom e do bolchevismo exterior.

Disse Hitler em Mein Kampf que é necessário apresentar os diferentes inimigos sob um aspeto comum, caso contrário, existe o perigo de que as massas pensem demais sobre as diferenças exsitentes entre esses inimigos. É por isso que o racismo é um mito e nom uma doutrina. Ele exige fé, mas teme como fe o raciocínio. O anti-semitismo é o melhor contribuinte para a consolidaçom dos diferentes elementos do racismo.

Para além de fundir as diferentes classes numa só raça, é preciso também que esta raça tenha um só inimigo: o judeu internacional. O mito da raça está necessariamente acompanhado pelo seu negativo: a anti-raça, o judeu. A comunidade racial é construída sobre o ódio racial aos judeus, ódio cujo alicerce racial reside na história racial, quando o judeu era realmente um corpor estranho e hostil a todas as classes. A ironia da história é que a ideologia anti-semita mais radical da história triunfe precisamente na altura em que o judaísmo está em processo de assimilaçom económica e social. Mas, como todas as ironias da história, este aparente paradoxo é compreensível. No momento em que o judeu era inassimilável, altura em que ele representava realmente o capital, ele era essencial para a sociedade. Nom poderia haver questom de o destruir. Atualmente a sociedade capitalista à beira do abismo, tenta salvar-se ressuscitando o judeu e ódio aos judeus. Mas é precisamente porque os judeus nom desempenham o papel atribuído a eles que a perseguiçom anti-semita pode tomar uma escala semelhante. Como o capitalismo é um mito judaico é por isso que é tão fácil de derrotar. Mas para superar o seu negativo, o racismo também destrói as bases de sua própria existência. Conforme desaparece o fantasma do capitalismo judaico aparece, em toda a sua feiúra, a realidade capitalista. As contradições sociais, um momento obscurecidas pelo nevoeiro da intoxicaçom racial, aparecem em toda a sua nitidez. Eventualmente, o mito mostra-se impotente perante a realidade.

Apesar da sua aparente homogeneidade, a evoluçom do racismo mostra claramente as transformações económicas, sociais e políticas que tenta dissimular. Inicialmente, a fim de criar a estrutura necessária para lutar pelo um espaço vital, a guerra imperialista, o grande capital deve derrotar o seu inimigo interior, o proletariado. É a pequena burguesia e os elementos desclassados do proletariado que fornecem as tropas de choque, capazes de quebrar as organizações económicas e políticas do proletariado. O racismo em primeiro lugar aparece como uma ideologia da pequena burguesia. O seu programa reflete os interesses e as ilusões desta classe. Ele promete a luta contra o hipercapitalismo contra os trusts, a bolsa, os armazéns,... Mas, uma vez que o grande capital deu quebrado o proletariado com o apoio da pequena burguesia, esta classe torna-se uma carga insuportável. O programa de preparaçom da guerra implica precisamente a eliminaçom implacável das pequenas empresas, um prodigioso desenvolvimento dos trusts e uma proletarizaçom intensiva. Esta preparaçom militar exige o apoio ou pelo menos uma certa neutralidade do proletariado, o fator de produçom mais importante. Assim, o grande capital nom hesita por um momento violar o mais cinicamente as suas promessas mais solenes e a esganar brutalmente a pequena burguesia. O racismo agora dedica-se a gabar o proletariado, a aparecer como um movimento radicalmente "socialista". Aqui aidentificaçom judaismo-capitalismo desempenha o papel mais importante. A expropriaçom radical dos capitalistas judeus deve agir como uma garantia, de cauçom, da vontade de luta anticapitalista do racismo. A natureza anónima do capitalismo monopolista em contraste com o carácter geralmente pessoal (e amiúde comercial especulativo) das empresas judaicas facilita-lhe esta operaçom de fraude espiritual. O homem do povo percebe mais facilmente o capitalismo "real", o comerciante, o fabricante, o especulador que o “respeitável diretor de uma sociedade anónima" que passa por um "fator essencial de produçom”. Assim, a ideologia racista vem a seguinte identificaçom: Judaísmo = capitalismo; racismo = socialismo; economia planificada para a guerra = economia planificada socialista.

É inegável que camadas significativas de trabalhadores, privados das suas organizações, cegos pelo sucesso da política exterior de Hitler, deixaram-se enganar como fora anteriormente o caso da pequena burguesia, pela mitologia racista. Temporariamente a burguesia parece ter atingido seu objetivo. A furiosa perseguiçom antijudaica que se espalha por toda a Europa, serve para mostrar a vitória “definitiva” do racismo, a derrota irredutível do judaísmo internacional.

D) Sobre a raça judaica
A "teoria" racial atualmente dominante é uma tentativa de estabelecer "cientificamente" o racismo. Éstá desprovida de qualquer valor científico. Basta olhar para as patéticas acrobacias realizadas por teóricos racistas para demonstrar a relaçom dos "germánicos” com os japoneses ou o antagonismo irredutível entre “o heroico espírito germânico” e "o espírito mercantil anglo-saxom" para estar completamente convencido. As divagações dum Montandon sobre a "desprostituiçom" da "etnia" judaica por ... a obrigaçom a levar estrelas de David certamente nom estão nada bem. A verdadeira prostituiçom "sábios" a respeito do racismo demonstra um raro espetáculo da privaçom da dignidade humana. Este é a culminaçom da decadência completa da ciência burguesa, que já, em democracia, nom foi nada objetiva.

Entretanto, as tolices racistas nom devem impedir-nos analisar em que medida é necessário falar de uma raça judaica. No entanto, o exame mais superficial da questom leva-nos à conclusom de que os judeus som na verdade uma mistura das raças mais diversas. Obviamente, a natureza dispersa do judaismo é a principal causa disto. Mas mesmo na Palestina, os judeus estavam longe de ser uma "raça pura". Sem mencionar o fato de que, segundo a Bíblia, os israelitas tomaram à sua saída do Egito uma massa de egícios e que Estrabom considerava como os descendentes dos egícios, basta recordar as muitas raças que se instalaram na Palestina: Hititas, Cananeus, Filisteus ("Arianos"), Egícios, Fenícios, Gregos, Árabes. A Judeia estava habitada, segundo Estrabom, por fenícios, egícios e árabes. O desenvolvimento de proselitismo judaico durante o período grego e romano tem enfatizado o carácter misto do judaísmo. Já em 139 aC, os judeus foram expulsos de Roma terem feito proselitismo. A comunidade de Antioquia estava em grande parte composta de convertidos. O proselitismo nunca cessou, mesmo durante os períodos posteriores. A conversom forçada de escravos para o judaísmo, a conversom dos Cazares assim como outras raças e tribos na longa diáspora constituiram tantos fatores que fizeram do judaísmo um conglomerado característico de raças.

Atualmente, nom há absolutamente nenhuma homogeneidade racial entre os judeus iemenitas, por exemplo, e os judeus do Daguestão. Os primeiros som do tipo oriental enquanto os segundos pertencem à raça mongol. Há judeus negros na Índia, judeus etíopes (Falascha), judeus "trogloditas" na África. No entanto, esta diferença fundamental que existe, por exemplo, entre os judeus do Daguestão e os judeus iemenitas nom esgota a questom. Na verdade, nove décimos dos judeus de hoje som os judeus que vivem na Europa Oriental ou descendentes de judeus destes territórios. Existe uma raça judaica europeu-oriental? Eis como resopnde a histo o teórico anti-semita Hans Gunther:

"O judaismo oriental que integra quase nove décimos dos judeus, composto hoje judeus da Rússia, Polónia, Galícia, Hungria, Áustria e Alemanha, e a maioria dos judeus da América do Norte e Europa Ocidental, constitui uma mistura de raças): asiática-anterior (vorderasiatisch), oriental, báltica, asiática-interior(innerasiatisch), nórdica, hamítica, negra” (Rassenkunde de Jüdisches Volkes).

Segundo estudos realizados em Nova Iorque, sobre 4.235 judeus, havia:


14,25% de judeus e 12,70% de mulheres judias tinham o chamado nariz judaico, que nom é mais do que o nariz comum dos povos da Ásia Menor, especialmente prevalente entre os armênios. Este nariz está tão altamente espalhado entre os povos do Mediterrâneo quanto entre os bávaros (raça dinárica). Com estas poucas observações pode-se concluir a inutilidade do conceito de "raça judaica". A raça judaica é um mito. Por contra, é justo dizer que os judeus som uma mistura racial diferentes de misturas raciais da maioria dos povos europeus, principalmente eslavos e germânicos.

No entanto, nom som tanto as características antropológicas dos judeus que os distinguem dos outros povos mas as suas características fisiológicas, patológicas e principalmente psíquico.

É sobretodo a funçom económica e social do judaísmo através da história que explica este fenómeno. Durante séculos, os judeus eram moradores urbanos, dedicados ao comércio. O tipo judaico é muito mais um resultado desta funçom secular do que uma característica racial. Os judeus têm absorvido uma massa de elementos raciais heterogêneos, mas todos estes elementos estiveram submetidos à influência das condições específicas em que os judeus viviam, o que, eventualmente, leva à criaçom do chamado "tipo judaico ". Este é o resultado de uma longa seleçom, nom racial, mas económica e social. A fraqueza corporal, a freqüência de certas doenças como diabetes, nervosismo, uma postura corporal específica, etc., nom som características raciais, mas o resultado duma determinada posiçom social. Nom há nada mais ridículo do que explicar, por exemplo, a propensom ao comércio ou a tendência à abstraçom dos judeus pela raça. Onde quer que os judeus se assimilarem economicamente judeus assimilados, deixam de formar uma classe e perdem rapidamente todas estas características. É assim que, quando os teóricos racistas pensavam estar perante umha “raça verdadeira”, na realidade estão perante uma comunidade humana cujas características específicas som principalmente o resultado de condições sociais em que viveram há muitos séculos. Uma alteraçom nestas condições sociais devem, naturalmente, levar ao desaparecimento das "características raciais" do judaísmo.

E) O sionismo

O sionismo nasceu no fulgor dos incêndios causados pelos pogromos russos de 1882 e das turbulências do caso Dreyfus, dois eventos que refletiram a gravidade que começa a ter o problema judaico no final do século XIX.

A rápida capitalizaçom da economia russa após a reforma de 1863 torna insustentável a situaçom das massas judaicas nas pequenas cidades. No Ocidente, as classes médias, esmagadas pela concentraçom capitalista, começam a se voltar contra o elemento judeu cuja concorrência agrava a sua situaçom. Na Rússia, funda-se a Associaçom de "Amantes de Siom". Leo Pinsker escreveu a "Auto-emancipaçom", livro em que defendia o retorno à Palestina, a única soluçom possível para a questom judaica. Em Paris, o barom Rothschild, que, como todos os magnates judeus, olha com muitas reservas a chegada maciça de imigrantes judeus nos países ocidentais, começa a se interessar no trabalho de colonizaçom judaica na Palestina. Ajudar "seus infelizes irmãos " para retornar à terra dos “antepassados", ou seja, para ir tão longe quanto for possível, nom fez nada para ofender a burguesia do Ocidente, temendo com razom a ascensom do anti-semitismo. Logo após a publicaçom do livro de Leo Pinsker, um jornalista judeu de Budapeste, Theodore Herzl, assiste em Paris às manifestações anti-semitas causadas pelo caso Dreyfus. Ele escreve "O Estado Judeu", que se converte, até hoje, no Evangelho do movimento sionista. Desde o início, o sionismo aparece como uma reaçom da pequena burguesia judaica (que, aliás, forma o núcleo do judaísmo), duramente atingida pela vaga crescente de anti-semitismo, atirada de um país para outro, e tentando chegar à Terra Prometida, onde ela poderá escapar das tempestades do mundo moderno.

O sionismo é portanto um movimento muito jovem; de fato é o mais novo dos movimentos nacionais europeus. Isso nom impede pretender, muito mais do que qualquer outro nacionalismo, tirar a sua cerna de um passado muito distante. Enquanto o sionismo é realmente o produto da última fase do capitalismo, do capitalismo que começa a apodrecer, ele visa tirar a sua origem dum passado de mais de dois mil anos. Embora o sionismo é essencialmente uma reaçom contra a situaçom criada ao judaismo pela combinaçom da destruiçom do feudalismo e do declínio do capitalismo, ele afirma ser uma reaçom contra o estado de coisas existente desde a queda de Jerusalém no ano 70 dC. O seu nascimento recente é naturalmente a melhor resposta a estas reivindicações. Na verdade, como acreditar que o remédio para um mal que já existe há dois mil anos foi encontrado somente no final do século XIX? Mas como todos os nacionalismos, e muito mais intensamente, o sionismo considera o passado histórico à luz do presente. Assim, ele também distorce a imagem do presente. Assim como apresenta às crianças francesas uma França como existente desde a Gália de Vercingetorix, assim como apresenta às crianças da Provença as vitórias dos reis da Ile-de-França contra os seus antepassados como os seus próprios sucessos, o sionismo tenta criar o mito do judaísmo eterno, sempre sujeitos às mesmas perseguições.

O Sionismo vê na queda de Jerusalém a causa da dispersom e, portanto, a origem de todos os males judaicos do passado, presente e futuro.

"A fonte de todas as desgraças do povo judeu é a perda de sua pátria histórica e a sua dispersom em todos os países”,

disse a delegaçom marxista do Poaley-Zion no Comité holando-escandinavo. Após a dispersom violenta dos judeus pelos romanos, a história lamentável continua. Expulsos de sua pátria, os judeus nom querem (ó belezas do livre arbítrio!) se assimilar. Convencidos de sua "coesom nacional", "dum sentimento ético superior " e "de uma crença indestrutível num Deus único” (11), eles têm resistido a todas as tentativas de assimilaçom. A sua única esperança durante esses dias sombrios que duraram dois mil anos, foi a visom de voltar para sua antiga pátria.

O sionismo nunca se colocou seriamente esta pergunta: por que, durante esses dois mil anos, os judeus nunca realmente tentaram retornar a esta pátria? Por que demorou até finais do século XIX, altura em que Herzl consegue convencê-los dessa necessidade? Por que todos os antecessores de Herzl, como o famoso Sebeta Zevi, eram tratados como falsos messias? Por que os aderentes de Sabetai Zevi foram ferozmente perseguidos pelo judaísmo ortodoxo?

Naturalmente, para responder a estas questões interessantes, esconde-se por trás da religiom.

"Enquanto as massas acreditavam que deviam permanecer na Diáspora até a vinda do Messias, havia que sofrer em silêncio"

disse Zitlovski (12), cujo sionismo é bastante condicional. Mas, por esta explicaçom nom explica nada. Trata-se precisamente de saber porque as massas judaicas acreditavam que havia que esperar o Messias para poder “regressar à sua pátria”? A religiom, reflexo ideológico dos interesses sociais, deve necessariamente corresponder a isso. Hoje, a religiom nom constitui um obstáculo ao sionismo. (13)

Na realidade, enquanto o judaísmo estava incorporado no sistema feudal, o “sonho de Siom " nom era mais que um sonho e nom correspondia a nenhum interesse real do judaísmo. O senhorio ou o “arrendatário” judeu da Polónia do século XVI pensava tão pouco em " retornar" à Palestina como hoje o milionário judeu da América. O messianismo religioso judaico nom diferia em nada do messiânico próprio das outras religiões. Os peregrinos judeus que viajavam para a Palestina lá achavam peregrinos católicos, ortodoxos e muçulmanos. Isso nom era tanto o "retorno à Palestina", que era o fundo da crença messiânica, como a crença na reconstruçom do Templo de Jerusalém.

Todas estas conceções idealistas do sionismo som naturalmente inseparáveis do dogma do anti-semitismo eterno.

"Enquanto os judeus viverem na diáspora, vão ser odiados pelos nativos. "

Este ponto de vista essencial para o sionismo, a sua ossatura, pode-se dizer, está naturalmente matizado pelas suas diversas correntes. O sionismo transpõe o anti-semitismo moderno a toda a história, ele poupa-se o trabalho de estudar as várias formas de anti-semitismo, a sua evoluçom. No entanto, temos visto que em vários períodos históricos, o judaísmo fazia parte das classes proprietárias e era tratada como eles. Em suma, as fontes do sionismo deveriam ser procuradas na incapacidade de se assimilar por causa do anti-semitismo "eterno" e da vontade de salvaguardar os “tesouros do judaismo”. (14)

Na verdade, a ideologia sionista, como qualquer ideologia, é o reflexo distorcido dos interesses de uma classe. É a ideologia da pequena burguesia judaica, abafada entre o feudalismo em ruínas eo capitalismo em decomposiçom. A refutaçom das fantasias ideologistas do sionismo nom refuta, naturalmente, as necessidades reais que lhe deu nascimento. Este anti-semitismo moderno, e nom o mítico anti-semitismo "eterno" é o melhor agitador em favor do sionismo. Da mesma forma, a questom essencial que se coloca é saber em que medida o sionismo é capaz de resolver, nom o "eterno problema judaico, mas a questom judaica na era da decadência capitalista”.

Os teóricos sionistas gostam de comparar o sionismo a todos os outros movimentos nacionais. Mas, na realidade, os fundamentos dos movimentos nacionais e do sionismo som totalmente diferentes. O movimento nacional da burguesia europeia é o resultado do desenvolvimento capitalista e reflete a vontade da burguesia para criar as bases nacionais da produçom, de abolir as sobrevivências feudais. O movimento nacional da burguesia europeia está intimamente ligado à fase ascendente do capitalismo. Mas, no século XIX, no período do florescimento dos nacionalismos, longe de ser sionista, a burguesia judaica estava completamente assimiladora. O processo económico, do qual som derivadas as nações modernas, lançou as bases para a integraçom da burguesia judia na naçom burguesa.

Só quando o processo da formaçom das nações está a chegar ao fim, quando as forças produtivas se acham desde há tempo apertadas nas fronteiras nacionais, é que começa a aparecer o processo da expulsom dos judeus da sociedade capitalista, que começa a se desenvolver o anti-semitismo moderno. A eliminaçom do judaísmo acompanha a decadência do capitalismo. Longe de ser um produto do desenvolvimento das forças produtivas, o sionismo é precisamente a consequência da cessaçom deste desenvolvimento, o resultado da petrificaçom do capitalismo. Enquanto o movimento nacional é o produto do período ascendente do capitalismo, o sionismo é o produto da era imperialista. A tragédia judia do século XX é uma conseqüência direta da decadência do capitalismo.

Aqui reside o atranco principal para a realizaçom do sionismo. A decadência do capitalismo, base do crescimento do sionismo, é também causa da impossibilidade da sua realizaçom. A burguesia judaica é obrigada a criar do zero um Estado nacional, de se assegurar dos quadros objetivos do desenvolvimento das suas forças produtivas, precisamente quando as condições dum desenvolvimento como esse desapareceram. As condições da decadência do capitalismo que têm colocado de forma tão aguda a questom judaica, tornam também impossível a sua soluçom pela via sionista. E nom há nada de surpreendente nisto. Mal se pode remover um mal sem destruir as suas causas. Mas o sionismo quer resolver a questom judaica sem destruir o capitalismo que é a principal fonte de sofrimento dos judeus.

No final do século XIX, altura em que o problema judaico apenas começava a surgir em toda sua agudeza, 150.000 judeus deixaram anualmente o seu país de origem. Entre 1881 e 1925, cerca de 4 milhões de judeus foram expatriados. Apesar destes números enormes, o judaísmo da Europa Oriental aumentou de 6 a 8 milhões.

Assim, mesmo quando o capitalismo ainda se desenvolve, mesmo quando os países de ultramar ainda acolhiam os imigrantes, a questom judaica nom poderia receber nem um começo de soluçom (no sentido sionista); longe de diminuir, a populaçom judaica mostrara uma tendência a seguir crescendo ainda mais. Para começar a resolver a questom judaica, isto é, para começar a transplantar realmente as massas judaicas, exigiria que os países de imigraçom absorvessem pelo menos um pouco mais do que o aumento natural dos judeus da Diáspora, pelo menos 300.000 judeus por ano. E se, antes da primeira guerra imperialista, quando todas as condições ainda eram favoráveis à emigraçom, quando todos os países desenvolvidos como os Estados Unidos deixavam os imigrantes em massa, uma cifra semelhante nunca poderia ser alcançada, como acreditar que tal realizaçom seja possível no momento da crise persistente do capitalismo na época de guerras quase incessantes?

Naturalmente, existem navios suficientes no mundo para transportar centenas de milhares ou mesmo milhões de judeus. Mas se todos os países têm fechado as suas portas para os imigrantes, é porque há um excesso de oferta de força de trabalho, como há uma superproduçom de mercadorias. Contrariamente à tese malthusiana de que há muitos homens no planeta para muito poucos produtos, é precisamente a abundância de produtos a por causa do “excesso” de seres humanos. Por que milagre, quando os mercados mundiais estão saturados de produtos, quando o desemprego se instala por toda parte permanentemente, por que milagre um país tão grande e tão rico seja qual for (deixamos portanto de lado os dados específicos da pobre e pequena Palestina), poderia desenvolver as suas forças produtivas desenvolvidas para acolher 300.000 imigrantes a cada ano? Na realidade, as possibilidades de emigraçom judaica diminuem ao mesmo tempo que aumenta a sua necessidade. As causas empurram à migraçom som as mesmas que impedem a sua realizaçom, provenhem da decadência do capitalismo.

Esta é a contradiçom essencial entre a necessidade e a possibilidade de emigrar que criam tantas dificuldades políticas do sionismo. O tempo de desenvolvimento das nações europeias foi também o período duma intensa colonizaçom nos países estrangeiros. Foi no início e meados do século XIX, a idade de ouro do nacionalismo europeu, que foi colonizada a América do Norte e é também neste período que América do Sul e a Austrália começaram a se desenvolver. Vastas extensões de terra estavam quase inteiramente sem um proprietário e prestavam-se muito bem para o estabelecimento de milhões de emigrantes europeus. Nesta época, por razões que estudamos, os judeus nom pensavam em emigrar.

Hoje, o mundo está colonizado, industrializado e dividido entre os diversos imperialismos. Em toda parte, os imigrantes judeus enfrentar tanto o nacionalismo dos “indígenas” quanto o imperialismo dominante. Na Palestina, o nacionalismo judaico está enfrentando a um nacionalismo árabe cada vez mais agressivo. O enriquecimento da Palestina pela imigraçom judaica aumenta na mesma intensidade que o nacionalismo árabe. O desenvolvimento económico do país resulta no aumento da populaçom árabe, a sua diferenciaçom social, o crescimento dum capitalismo nacional. Para derrotar a resistência árabe, os judeus precisam do imperialismo inglês. Mas o seu "apoio" é tão nocivo quanto a resistência árabe. O imperialismo inglês vê favoravelmente uma baixa imigraçom judaica que constitui um contrapeso ao fator árabe, mas ele opõe-se ao estabelecimento de uma grande populaçom judaica na Palestina, ao desenvolvimento industrial, ao aumento do proletariado. Ele serve-se apenas dos judeus para compensar a ameaça árabe, mas ele faz de tudo para causar dificuldades para a imigraçom judaica.

Assim, às dificuldades crescentes da resistência árabe, acrescenta-se o jogo traiçoeiro do imperialismo britânico. Finalmente, tem-se de tirar uma conclusom final das premissas básicas que foram estabelecidas. Devido à sua natureza necessariamente artificial, por causa das perspetivas limitadas de desenvolvimento rápido e normal da economia palestina no nosso tempo, a obra da colonizaçom sionista demanda uns capitais consideráveis. O sionismo demanda às raças judaicas do mundo uns sacrifícios crescentes. Mas enquanto a situaçom dos judeus for mais ou menos tolerável na Diáspora, nenhuma classe judeu sente a necessidade de fazer estes sacrifícios. A medida que as massas judias sentem a necessidade duma "pátria", a medida que as perseguições aumentam de intensidade, as massas judaicas som cada vez menos capazes de contribuir para a construçom sionista. "Um povo judeu forte na Diáspora é necessário para a reconstruçom da Palestina", diz Ruppin. Mas, enquanto o povo judeu for forte na diáspora, ele nom sente nenhuma necessidade de reconstruçom palestina. Quando sentir forte esta necessidade, a possibilidade de a realizar nom existirá. Seria difícil pedir hoje aos judeus europeus, que têm uma necessidade vital de emigrar, para fazer alguma coisa para a reconstruçom palestina. O dia em que eles o possam fazer, há muito a apostar que o seu entusiasmo por esta tarefa terá caido muito.

Nom se pode naturalmente excluir um relativo sucesso do sionismo no sentido de criar uma maioria judaica na Palestina e mesmo da formaçom dum "Estado judeu", ou seja, um Estado ao abrigo da dominaçom completa do imperialismo inglês ou americano. Seria, de alguma forma, o retorno à situaçom que existia na Palestina antes da destruiçom de Jerusalém e, neste ponto de vista, haverá uma "reparaçom duma injustiça bimilenária”. Mas este pequeno Estado judeu "independente" no meio de uma Diáspora mundial apenas será um retorno aparente ao estado de coisas antes de 70. Nem mesmo vai ser o início da soluçom da questom judaica. Na verdade, a Diáspora judaica no tempo dos romanos tinha fortes fundamentos económicos, os judeus tinham no mundo um papel económico importante. A existência ou a nom existência duma metrópole palestina apenas tinha, para os judeus daquela época, uma importância secundária. Hoje, nom se trata de dar aos judeus um centro político ou espiritual e político (como queria Ahad Haam). Trata-se de salvar os judeus da aniquilaçom que lhes espera na Diáspora. Ora, em que vai mudar a existência dum pequeno Estado judeu a situaçom dos judeus polacos ou alemães? Mesmo admitindo que todos os judeus no mundo fossem hoje cidadãos palestinos, teria sido difernete a política de Hitler? Há que estar golpeado duma incurável imbecilidade jurídica para crer que, nomeadamente no momento atual, a criaçom de um pequeno Estado judeu na Palestina pudesse mudar algo na situaçom dos judeus no mundo. A situaçom após a eventual criaçom de um Estado judeu na Palestina, assemelhará-se à situaçom que existia no tempo dos romanos só que, em ambos os casos, a existência dum pequeno Estado judeu na Palestina nom exerce qualquer influência sobre a situaçom dos judeus na Diáspora. Na época romana, a situaçom económica e social do judaísmo na Diáspora era muito forte, assim que o desaparecimento deste Estado judaico nom a comprometeu. Hoje, a situaçom dos judeus no mundo é muito má, por isso o restabelecimento dum Estado judeu na Palestina, nom a poderá restaurar. Em ambos os casos, a situaçom dos judeus nom depende da existência dum Estado na Palestina, mas da situaçom económica, social e política geral. Mesmo admitindo que o sonho sionista for realizado e que a “injustiça secular" for reparada -e nom estamos muito longe disso- a situaçom dos judeus do mundo será alterada. O templo pode ser reconstruída, mas os fiéis continuarão a sofrer.

A história do sionismo é a melhor ilustraçom das dificuldades intransponíveis que este movimento encontra. Estas dificuldades resultam, numa última análise, da contradiçom essencial que o rasga: a contradiçom entre a crescente necessidade de resolver a questom judaica e a impossibilidade crescente de a resolver nas condições do capitalismo decadente. Imediatamente após a guerra imperialista, a emigraçom judaica para a Palestina nom enfrentou grandes obstáculos no seu caminho. Apesar disso, houve relativamente poucos imigrantes, as condições económicas dos países capitalistas após a guerra tornou menos premente necessidade de emigrar. É por causa do pequeno tamanho desta emigraçom que o governo britânico nom se sentiu obrigado a pôr barreiras à entrada de judeus na Palestina. Nos anos 1924-1925-1926, a burguesia polaca abriu uma ofensiva económica contra as massas judaicas. Esses anos som o período duma grande imigraçom para a Palestina. Mas essa imigraçom em massa depara-se com dificuldades insuperáveis. O refluxo é quase tão grande como tinha sido o fluxo. Até 1933, data da chegada de Hitler ao poder, a imigraçom continua a ser muito pequena. Após esta data, dezenas de milhares de judeus começam a chegar à Palestina. Mas esta “conjuntura” é logo interrompida por uma onda de protestos e massacres anti-judaicos. Os árabes temem seriamente tornar-se uma minoria no país. Os feudalistas árabes temem ser engolidos pela onda do capitalismo. O imperialismo britânico aproveita esta tensom para impor barreiras à entrada de judeus e tentar aumentar a divisom entre judeus e árabes ao propor a divisom da Palestina. Até a segunda guerra imperialista o sionismo achava-se confrontado com dificuldades crescentes. A populaçom palestina vivia num estado de terror permanente. Justamente quando a situaçom dos judeus se tornou cada vez mais desesperada, o sionismo mostrava-se totalmente incapaz de a solucionar. Os imigrantes judeus "ilegais" foram recebidos com tiros pelos “protetores” británicos.

A ilusom sionista começou mesmo a perder o interesse dos menos informados. Na Polónia, as últimas eleições mostraram que as massas judias se afastavam completamente do sionismo. As massas judaicas começavam a compreender que nom só o sionismo nom poderia melhorar a sua situaçom a sério, mas fornecia armas aos anti-semitas pelas suas teorias sobre “a necessidade objetiva da emigraçom judaica”. A guerra imperialista eo triunfo do hitlerismo na Europa constituem para o judaísmo uma catástrofe sem precedentes. O judaísmo está enfrentando à ameaça do extermínio completo. Que pode fazer o sionismo perante um desastre como este? Nom é óbvio que a questom judaica depende pouco dos futuros destinados a Tel-Aviv, mas muito do regime que se estabeleça amanhã na Europa e no mundo? Os sionistas têm grandes esperanças para uma vitória dos anglo-saxões. No entanto, existe uma razom para acreditar que a atitude dos imperialistas anglo-saxões mudará após a sua eventual vitória perante esta guerra? É óbio que nom. Mesmo admitindo que o imperialismo anglo-saxom crie uma espécie de Estado judeu, vimos que a situaçom dos judeus do mundo veria-se pouco afetada. Uma grande imigraçom judaica para a Palestina após a guerra vai enfrentar as mesmas dificuldades que ela tem experimentado antes (15). Sob as condições da decadência capitalista, é impossível o transplante de milhões de judeus. Somente uma economia planificada mundial socialista seria capaz de tal milagre. Mas isso pressupõe, naturalmente, a Revoluçom proletária.

Precisamente o sionismo visa querer resolver a questom judaica independentemente da Revoluçom mundial. Ao ignorar as verdadeiras causas da questom judaica do nosso tempo, ao se iludir de sonhos infantis e tolas esperanças, o sionismo demonstra que é uma excrescência ideológica e nom uma doutrina científica.
NOTAS

(1) A situaçom económica dos judeus no mundo.
(2) Idem
(3) Idem.
(4) Yiddische Ekonomik, setembro-outubro 1938
(5) Em Varsóvia, em 1882, 79,3% dos comerciantes eram judeus em 1931, 51%. J. Lestschinsky, Der wirtschaftliche Zusammenbruch der Juden in Deutschland und Polen, Paris, Genebra, Congresso judaico mundial, 1936.
(6) Na época em que os intelectuais pequeno-burgueses judeus e nom judeus representam Hitler como o único responsável polo antissemitismo do nosso tempo, na época em que as Nações Unidas, entre as quais a Polónia, autoproclamam a defesa dos “direitos do homem”, esta lembrança nom teria sido inútil. Aliás, Hitler organiza dumha forma premeditada a destruiçom do judaismo europeu e corporifica neste ámbito, como nos outros, a barbárie capitalista, mas os diferentes governos mais ou menos “democráticos” que se sucederam na Polónia pouco teriam de aprender dele. A desapariçom de Hitler nom pode mudar nada de essencial na situaçom dos judeus. Umha melhoria passageira da sua sorte nom fará desaparecer as raizes profundas ao antissemitismo do século XX.
(7) A situaçom económica dos Judeus no mundo...
(8) A situaçom económica dos Judeus no mundo, p. 252
(9) Yiddische Ekonomik, maio-junho 1938.
(10) Ver a utopia proudhoniana do crédito gratuito.
(11) Ben Adir, “Antissemitismo”, Algemeine yidishe Encyklopedie.
(12) Zhitlovski (H. Jitlovski), Der socialism un di nacionale Frage, éd. Iídiche, Nova Iorque, 1908.
(13) Existe um partido burguês religioso-sionista (Misrakhi) e um partido operário religioso-sionista (Poalé-Misrakhi).
(14) A. Böhm, Die Zionitische Bewegung, Telavive e Jerusalém, 1935-37, capítulo III.
(15) Neste capítulo, o sionismo é tratado como assunto ligado à questom judaica. O papel do sionismo na Palestina constitui naturalmente outro problema.

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