quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

CAPÍTULO 1: OS PRINCÍPIOS DUM ESTUDO CIENTÍFICO DA HISTÓRIA JUDAICA

Abraham Leon

O estudo científico da história judaica ainda nom passou a fase de improvisaçom idealista. Embora o campo da história geral for conquistado, em grande parte pola conceiçom materialista, enquanto os historiadores sérios se tenham engajado na linha de Marx, a história judaica continua a ser o terreno favorito de “investigadores de Deus” de qualquer tipo. Esta é umha das poucas áreas históricas onde os preconceitos idealistas conseguiram prevalecer e manter-se dumha medida tão estendida.

Quanto papel se tem enegrecido para comemorar o famoso "milagre judeu!" "Umha visom estranha de ver estes homens, para preservar o sagrado depósito da fé, enfrentaram perseguiçom e do martírio", disse Bédarride (1). A conservaçom dos judeus é explicada polos historiadores como o resultado da lealdade que demonstraram ao longo dos séculos à sua religiom ou à sua nacionalidade. As diferenças começam a surgir entre eles ao definir o “objetivo" polo qual os judeus se conservaram, o motivo de sua resistência à assimilaçom. Alguns, do ponto de vista da religiom, falam do "depósito sagrado da sua fé", enquanto outros, como Dubnov, defendem a teoria do "apego à ideia nacional". "Temos de procurar as causas do fenómeno histórico da preservaçom do povo judeu na sua força espiritual nacional, na sua base ética e no princípio monoteísta", disse a Allgemeine Enzyklopedie que consegue conciliar os diferentes pontos de vista dos historiadores idealistas (2)
Mas é possível conciliar as teorias idealistas, seria inútil tentar alcançar um compromisso entre estas teorias e as regras básicas da ciência histórica. É preciso rejeitar categoricamente o erro fundamental de todas as escolas idealistas, que consiste em colocar o problema cardinal da história judaica, a manutençom do judaísmo, sob o signo da livre vontade. Apenas o estudo do papel económico dos judeus pode contribuir para esclarecer as causas do "milagre" judeu ".
Estudar a evoluçom deste problema nom apresenta apenas um interesse acadêmico. Sem um estudo aprofundado da história judaica é difícil entender a questom judaica no momento presente. A situaçom dos judeus no século XX está intimamente ligada ao seu passado histórico.
Cada estado social é umha etapa do processo social. O ser é apenas um momento da transformaçom. Para analisar a questom judaica no seu estado atual de desenvolvimento é essencial conhecer as raízes históricas.
No campo da história judaica, como no campo da história geral, o pensamento genial de Marx mostra o caminho a seguir.
"Nom buscar o segredo do judeu na sua religiom, mas buscar o segredo da religiom no judeu real.

Marx situa a questom judaica. Nom há que tomar em conta a religiom para explicar a história dos judeus, polo contrário, a manutençom da religiom e da nacionalidade judaica deve ser explicada polo "verdadeiro judeu", ou seja, o judeu no seu papel económico e social. A conservaçom dos judeus nom tem nada milagroso.
"O judaísmo foi preservado, nom apesar da história, mas pola história (3)."
E é justamente polo estudo do papel histórico do judaísmo que se pode descobrir o "segredo" da sua manutençom na história. Os conflitos entre o judaísmo e da sociedade cristã, sob o seu aspeto religioso, som na verdade conflitos sociais.
"A contradiçom entre o Estado e umha religiom em particular, como o judaísmo, dá umha expressom humana pola contradiçom entre o Estado e os elementos seculares determinados”. (4)

O quadro geral da história judaica é apresentado mais ou menos assim pola escola idealista predominante (com diferentes matizes): até que a destruiçom de Jerusalém, possivelmente até a rebeliom de Bar Kochba, a naçom judaica nom se diferencia em nada doutras nações normalmente constituídas, tais como a romana ou grega. As guerras entre os romanos e os judeus causaram a dispersom do povo judeu ao redor do mundo. Na dispersom, os judeus opuseram umha forte resistência à assimilaçom nacional e religiosa. O Cristianismo nom encontrou no seu caminho adversários tam inflamados e, apesar dos seus melhores esforços, nom os consegue converter. A queda do Império Romano acentua o isolamento do judaísmo que constitui, após o triunfo completo do cristianismo no Ocidente, o único elemento heterodoxo. Os judeus da Diáspora, no momento das invasões bárbaras, nom constituem um grupo homogêneo social. Em vez disso, a agricultura, a indústria, o comércio som amplamente representadas entre eles. É a contínua perseguiçom religiosa que os obrigou a se limitar cada vez mais no comércio e usura. As Cruzadas, o fanatismo religioso que eles têm provocado acentuam violentamente esta tendência, o que transforma os judeus em usurários os leva ao seu confinamento em guetos. Evidentemente, o ódio contra judeus também é impulsionado polo seu papel económico. Mas os historiadores apenas atribuem a este fator umha importância secundária. Esta situaçom do judaismo continua até que a Revoluçom Francesa, que destruiu as barreiras que a opressom religiosa erigira perante os judeus.

Vários factos importantes se encaixam em falso contra este quadro:

1. A dispersom dos judeus nom da data da queda de Jerusalém. Vários séculos antes deste evento, a grande maioria dos judeus já estavam espalhados ao redor do mundo.
"O que é certo é que muito antes da queda de Jerusalém, mais de três quartos dos judeus já nom viviam na Palestina. " (5)
O reino judeu na Palestina tinha para as massas judaicas espalhadas por todo o Império Grego e depois polo Império Romano, umha importância muito secundária. A sua ligaçom com a "mãe-pátria" apenas se manifesta durante as peregrinações religiosas a Jerusalém, que desempenhava um papel semelhante ao da Meca para os muçulmanos. Pouco antes da queda de Jerusalém, o rei Agripa, disse:
"Nom existe no mundo um povo que nom contêm umha grande quantidade da nossa. " (6)
A Diáspora foi, portanto, um fato acidental produto dumha empresa de violência (7), o principal motivo para a emigraçom judaica deve ser procurado nas condições geográficas da Palestina.

"Os judeus na Palestina som possuidores dum país montanhoso que nom é suficiente nalgum momento para proporcionar aos seus habitantes umha vida suportável como seus vizinhos. Esse povo é forçado a escolher entre a pilhagem e a emigraçom. Os escoceses, por exemplo, envolveram-se alternadamente em cada um destes caminhos. Os judeus, depois de muitas lutas com os seus vizinhos também levaram o segundo caminho... Os povos que vivem nessas condições nom se entregam aos estrangeiros como agricultores. Eles vão antes como mercenários como os Arcádios na antiguidade, os Suíços na Idade Média, os Albaneses do nosso tempo, ou como comerciantes, como os judeus, os escoceses e os armênios. Isto mostra um ambiente semelhante desenvolvido por povos de raças diferentes, as mesmas características. " (8)

2. Nom há dúvida que a grande maioria dos judeus na dispersom dedicaram-se ao comércio. A própria Palestina desde tempos muito antigos era umha passagem de mercadorias, umha ponte entre o vale do Eufrates e do Nilo.
"A Síria era a principal estrada de entrada dos conquistadores ... Era também a via que seguiam as mercadorias e pola qual circulavam as ideias. Entende-se que nessas regiões se estabelecese muito cedo umha populaçom com grandes cidades voltadas pola sua situaçom para o comércio. " (9)
As condições geográficas da Palestina, assim, explicam a emigraçom dos judeus e a sua natureza comercial. Por outro lado, nas outras nações, no início do seu desenvolvimento, os comerciantes som estrangeiros.
"A característica dumha economia natural é que cada regiom produz tudo que consome e consome tudo que produz. Nada cresce de modo a adquirir bens ou serviços de outros. Porque nesta economia, produze-se o que se consome, encontra-se entre todos os povos como os primeiros comerciantes os estrangeiros. " (10)
Philo enumera muitas cidades onde os judeus se estabeleceram como comerciantes. Ele disse que eles "viviam em inúmeras cidades na Europa, Ásia, Líbia, em continentes e nas ilhas, no litoral e no interior”. Os judeus que viviam tanto nas ilhas como o continente grego e mais tarde no Ocidente, instalaram-se lá com fins comerciais (11).
"Ao mesmo tempo que os sírios achavam-se os judeus, dispersados ou agrupados em todas as cidades. Estes som marinhos, corretores, banqueiros, cuja influência foi tão fundamental na vida económica do tempo em que a influência oriental que se deteta no mesmo período na arte e nas ideias religiosas. " (12)
É pola sua posiçom social que os judeus estão em dívida para com a autonomia que lhes concederam os imperadores romanos. É apenas aos judeus que se permite formar um Estado dentro do Estado e os outros estavam sujeitos à administraçom das autoridades da cidade, e em certa medida eles mesmo podiam autogovernar-se...
"Cesar... favoreceu os interesses dos judeus de Alexandria e de Roma por favores e privilégios especiais, e protegeu, em particular o seu culto especial face os sacerdotes gregos e romanos. (13) "

3. O ódio aos judeus nom data apenas a partir do estabelecimento do cristianismo. Séneca trata os judeus como raça criminosa. Juvenal acredita que os judeus só existem para causar a dor aos outros povos. Quintiliano disse que os judeus som umha maldiçom para as outras nações.
A causa do anti-semitismo antigo é a mesma que a do anti-semitismo medieval, oposiçom a qualquer sociedade baseada principalmente na produçom de valores de uso em relaçom aos comerciantes.

"A hostilidade medieval em relaçom aos comerciantes nom é apenas de inspiraçom cristã ou pseudo-cristã. Ela também tem umha origem pagã. Ela tem raízes fortes numha ideologia de classe, no desprezo que as classes dominantes da sociedade romana -tanto as senatoriais como as curiais de província – têm, por profunda tradiçom camponesa, a todas as formas de atividade económica nom derivadas da agricultura. (14) "

No entanto, se o anti-semitismo já estava altamente desenvolvido na sociedade romana, a situaçom dos judeus, como vimos, era invejável. A hostilidade das classes que vivem na terra em relaçom ao comércio nom excluiu o seu estado de dependência dele. O proprietário odeia e despreza o comerciante, sem poder prescindir dele (15).

O triunfo do cristianismo nom trouxe alterações significativas a este respeito. O Cristianismo, antes de mais religiom dos escravos e dos oprimidos, foi rapidamente transformado numha ideologia da classe dominante dos proprietários. Foi Constantino o Grande, quem na verdade estabelece as bases da servidom medieval. A marcha triunfal do cristianismo em toda a Europa acompanha-se da extensom da economia feudal. As ordens religiosas têm desempenhado um papel extremamente importante no progresso da civilizaçom, que naquele tempo era o desenvolvimento dumha agricultura baseada na servidom. Por que se surpreender com o facto
"nascido no judaísmo, constituído antes de mais exclusivamente de judeus, o Cristianismo nom acha, no entanto em lado nenhum nos quatro primeiros séculos, mais que neles, dificuldades em adquirir os seguidores de sua doutrina? (16) "
Na verdade, a essência da mentalidade cristã dos dez primeiros séculos de nossa para tudo o relacionado com a vida económca é
"que mal pode um comerciante fazer umha obra agradável a Deus"
e que
"todo negócio envolve umha parte mais ou menos considerável de artifício.(17) "
A vida dos judeus parecia completamente incompreensível para Santo Ambrósio, que viveu no século IV. Ele desprezava profundamente as riquezas dos judeus e acreditava firmemente que eles seriam punidos com a danaçom eterna.

Nada há nada mais natural que a feroz hostilidade dos judeus contra o catolicismo e na sua vontade de manter a religiom que exprime admiravelmente os seus interesses sociais. Nom é portanto a fidelidade dos judeus à sua fé que explica a sua preservaçom como grupo social distinto, mas, ao contrário, a sua preservaçom como grupo social distinto que explica o seu apego à sua fé.

No entanto, como a antiga hostilidade contra os judeus, o anti-semitismo cristão nos dez primeiros séculos da era cristã nom vai reivindicar o aniquilamento do judaísmo. Enquanto o cristianismo oficial perseguia impiedosamente o paganismo e as heresias, tolerava a religiom judaica. A situaçom dos judeus nom parou de melhorar desde a queda do Império Romano, após o triunfo completo do cristianismo, até o século XII. Quanto mais se acentuava o decadência económica, mais importante era o papel comercial dos judeus. No século X, eles constituem a única ligaçom económica entre a Europa e a Ásia.

4. Só a partir do século XII, a par do desenvolvimento económico da Europa Ocidental, com o crescimento das cidades e a formaçom dumha classe comercial e industrial indígena, que a situaçom dos judeus começa a agravar-se a sério, para levar à sua eliminaçom quase total da maioria dos países ocidentais. As perseguições contra os judeus assumem formas cada vez mais violentas. Por contra, nos países da Europa Oriental, atrasados, a situaçom continua a ser florescente até bastante recentemente.

Com estas poucas considerações preliminares, ver-se-á como é falsa a conceçom geral que prevalece no campo da história judaica. Os judeus constituem na história acima de tudo um grupo social com umha funçom económica específica. Eles som umha classe, ou melhor ainda, um povo-classe (18).

O conceito de classe nom contradiz o conceito de povo. O facto de os judeus sobreviver como classe social faz com que tivessem mantido algumhas das suas particularidades religiosas, étnicas e lingüísticas (19).

Esta identidade de classe e de povo (ou de raça) está longe de ser excecional nas sociedades pré-capitalistas. Nela as classes sociais distinguem-se muito freqüentemente por um carácter mais ou menos nacional ou racial.

"As classes inferiores e as classes superiores ... som, em vários países, os povos conquistadores e os povos escravizados dumha época anterior. A raça dos invasores formou umha nobreza ociosa e turbulento ... A raça assobalhada nom vive das armas, mas do seu trabalho (20)”.

Aliás, Kautsky, diz:
"Diferentes classes podem adquirir um carácter racial específico. Por outro lado, o encontro de diferentes raças, cada umha especializada numha determinada profissom, pode ter como resultado que cada umha dessas raças ocupe umha posiçom social diferente dentro da mesma comunidade. Pode ser que a raça se torne classe (21)”.

Há obviamente umha interdependência contínua entre o carácter nacional ou racial e o de classe. A posiçom social dos judeus exerceu umha profunda influência, determinante do seu carácter nacional.

Se nom há qualquer contradiçom neste conceito de povo-classe, ainda é mais fácil aceitar a correspondência da classe e da religiom. Cada vez que umha classe alcança de maturidade e de consciência determinada, a sua oposiçom à massa dominante toma formas religiosas. As heresias Catarista, o Lollardismo, o Maniqueísmo e inúmeras seitas que abundavam nas cidades medievais, som as primeiras manifestações religiosas de oposiçom crescente da burguesia e do povo à ordem feudal. Estas heresias nom foram elevadas em qualquer lugar ao nível de religiom dominante por causa da relativa fraqueza da burguesia medieval. Elas foram brutalmente reprimidas no sangue. Somente no século XVII, com umha burguesia cada vez mais poderosa, que pudo triunfar o luteranismo e, especialmente, o calvinismo e os seus substitutos ingleses.

Enquanto o catolicismo expressa os interesses da aristocracia rural e da ordem feudal, o calvinismo (ou puritanismo) os da burguesia ou o capitalismo, o Judaísmo reflete os interesses dumha classe comercial pré-capitalista (22).

O que principalmente distingue o "capitalista" judaico do capitalismo em si é que, ao contrário deste último, nom é portador dum novo modo de produçom.

"O capital comercial teve umha existência própria e estava claramente separado dos ramos da produçom aos que servia como intermediário. "
"Os povos comerciantes da antiguidade existiam como os deuses de Epicuro nas entranhas da terra, ou melhor, como os judeus nos poros da sociedade polaca".
“A usura e o comércio operam um determinado processo de produçom nom criado por eles e ao que som estranhos (23)”.

O acúmulo de dinheiro nas mãos dos judeus nom veio dumha forma especial de produçom, da produçom capitalista. A mais-valia (ou excedente) provinha da exploraçom feudal e os senhores feudais foram obrigados a abandonar umha parte dessa mais-valia a os judeus. Daí o antagonismo entre os judeus e do feudalismo, mas daí provinha a ligaçom indestrutível que existia entre eles.
Quanto ao senhor, o feudalismo foi também para o judeu a sua terra nutrícia. Se o Senhor precisava do judeu, o judeu também precisava do Senhor. Por causa desta posiçom social os judeus nom puderam elevar-se em qualquer parte ao papel de classe dominante. Na economia feudal, o papel dumha classe de comerciantes só pode estar subordinada. O judaísmo só podia ser um culto mais ou menos tolerado (24).

Já se viu que na Antiguidade os judeus possuiam a sua própria jurisdiçom. Aconteceu o mesmo na Idade Média.

"Na sociedade plástica medieval cada classe de homens, embora viva segundo os seus costumes, tem a sua jurisdiçom especial. Acima do Poder Judiciário do Estado, a Igreja tem o seu funcionalismo, a nobreza as suas cortes feudais, o campnesado as suas cortes próprias. A burguesia, por sua vez, adquire as suas magistraturas (25) "

A organizaçom específica dos judeus foi a Kehila. Cada cidade estava organizada em comunidade judaica (Kehila) que tinha umha vida social especial e um sistema judiciário próprio. Na Polónia esta organizaçom tem alcançado o grau mais avançado. De acordo com umha ordem do rei Sigismundo Augusto em 1551, os judeus tinham o direito de escolher os juízes e os rabinos que deviam administrar todos os seus assuntos. É somente nos processos entre judeus e nom judeus que intervinham os tribunais das voivodias. Cada populaçom judia elegia livremente um conselho da comunidade. A atividade deste conselho, chamado Kahal, era extensa. Devia coletar os impostos para o Estado, atribuir os impostos gerais e especiais, dirigir as escolas de ensino fundamental e superior (Ieschiboth). Ele resolvia todas as questões relacionadas ao comércio, artesanato e a caridade. Ele era responsável pola resoluçom de litígios entre os membros da comunidade. O poder de cada Kahal abrangia os habitantes judeus das aldeias circundantes.

Ao longo do tempo, diversos conselhos das comunidades judaicas tinham o costume de se reunir regionalmente, a intervalos regulares, para discutir os assuntos administrativos, jurídicos e religiosos. Estas reuniões e assemelhavam-se a pequenos parlamentos.

Por ocasiom da grande feira de Lublim reunia-se umha espécie de parlamento geral, com a participaçom de representantes da Grande Polónia, da Pequena Polónia, Podólia, e Volínia. Este parlamento foi chamado o Vaad Arba Aratzoth, o "Conselho dos quatro países."

Os historiadores judeus tradicionais nom deixaram de ver nesta organizaçom umha forma de autonomia nacional. "Na antiga Polónia, disse Dubnov, os judeus constituíam umha naçom com a sua própria autonomia, a sua administraçom interna, os seus tribunais e umha certa independência jurídica (26) "

É claro que falar dumha autonomia nacional no século XVI constitui um grande anacronismo. Esta época ignorava a questom nacional. Na sociedade feudal apenas as classes têm as suas jurisdições especiais. A autonomia judaica reflete a posiçom social e económica específica dos judeus e nom a sua nacionalidade (27).

A evoluçom linguística também reflete a posiçom social específica do judaísmo.

O hebraico desapareceu muito cedo como umha língua viva. Em toda parte os judeus adotaram a língua dos povos circunvizinhos. Mas esta adaptaçom linguística é feita geralmente sob a forma dum dialeto novo qno que se acham algumhas frases em hebraico. Existem, em diversos momentos na história, os dialetos judaico-arábico, judeo-persa, judaico-provençal, judaico-português, judeu-espanhol, etc. sem mencionar o judeu-alemom que se tornou o iídiche atual. O dialeto expressa as duas tendências contraditórias que têm caracterizado a vida judaica: a tendência para a integraçom na sociedade envolvente e a tendência ao isolamento produzida pola situaçom sócio-económica da judaria (28).

Apenas quando os judeus deixam de constituir um grupo social particular que se assimilam completamente à sociedade envolvente. "A assimilaçom nom é um fenómeno novo na história judaica", disse o sociólogo sionista Ruppin (29).
Na realidade, se a história judaica é a história da preservaçom do judaísmo, também é a história da assimilaçom de grandes camadas do judaísmo.
"No Norte de África, antes do Islã, muitos judeus praticavam a agricultura, mas a maioria deles foi absorvida pola populaçom local (30)”.

Esta assimilaçom é explicada polo facto de que os judeus lá deixaram de ser umha classe, eles se tornaram agricultores.
"Se os judeus se tivessem dedicado à agricultura, eles necessariamente teriam-se espalhado por todos os países, o que, em poucas gerações, teria conduzido a umha completa assimilaçom com o resto da populaçom, apesar da diferença religiosa. Mas, dedicados ao comércio e concentrados nas cidades, eles formaram comunidades particulares e tiveram umha vida social separada, relacionando-se e casando entre si (31)”.

Podería-se lembrar também as inúmeras conversões de proprietários de terras judeus na Alemanha no século IV, o completo desaparecimento das tribos guerreiras judias da Arábia, a assimilaçom dos judeus na América do Sul, no Suriname (32),... A lei da assimilaçom poderia ser formulada da seguinte forma: quando os judeus deixam de constituir umha classe, eles perdem mais ou menos rapidamente as suas características étnicas, religiosas e linguísticas; assimilam-se (33).

É muito difícil trazer a história dos judeus na Europa nalguns períodos críticos, as condições económicas, sociais e políticas eram diferentes em cada país. Enquanto a Polónia e a Ucránia ainse se achavam sob feudalismo no final do século XVIII, a Europa Ocidental está a assistir a um rápido desenvolvimento do capitalismo. Compreensivelmente, a situaçom dos judeus na Polónia assemelha-se antes à situaçom dos judeus franceses do período carolíngio do que o dos seus correligionários em Bordéus e Paris. "O judeu português de Bordéus e um judeu alemom de Metz som coisas absolutamente diferentes", escreveu um judeu francês a Voltaire. Os ricos burgueses judeus da França ou da Holanda nom tinham quase nada em comum com os judeus polacos, classe da sociedade feudal.

Apesar das diferenças consideráveis das condições e do ritmo de desenvolvimento económico dos países europeus habitados por judeus, um estudo cuidadoso revela as fases críticas de sua história.


I Período pré-capitalistaÉ também o período de maior prosperidade para os judeus. O “capital” comercial e usurário acha grandes oportunidades de expansom na sociedade feudal. Os judeus som protegidos por reis e príncipes e as suas relações com as outras classes som geralmente boas. Esta situaçom prolonga-se na Europa Ocidental até o século XI. A época carolíngia, culminaçom do desenvolvimento feudal, é também o apogeu da prosperidade dos judeus.

A economia feudal continua a dominar a Europa Oriental até o século XVIII. É também lá onde se situa cada vez mais o centro da vida judaica.

II. Período do capitalismo medieval
A partir do século XI a Europa ocidental entra um período de desenvolvimento económico intenso. A primeira fase desta evoluçom é caracterizada pola criaçom dumha indústria corporativa e dumha burguesia comercial indígena. A penetraçom da economia de mercado na agricultura determina a segunda fase.
O desenvolvimento das cidades e dumha classe comercial indígena supõe a expulsom completa dos judeus do comércio. Eles tornam-se usurários cuja clientela principal é composta por nobres e reis. Mas a transformaçom comercial da economia agrícola mina as suas posições.
A abundância relativa de dinheiro permite que a nobreza se sacuda do jugo da usura. Os judeus som expulsos dum país após outro. Outros assimilam-se, absorvidos especialmente pola burguesia indígena.
Nalgumhas cidades, principalmente na Alemanha e Itália, os judeus dedicam-se ao crédito para as massas populares, camponeses e artesãos. Convertidos em usurários exploradores do povo, eles som frequentemente vítimas de revoltas sangrentas.
Em geral, o período do capitalismo é o das mais violentas perseguições judias. O “capital” judaico entra em conflito com todas as classes da sociedade.
Mas a desigualdade de desenvolvimento económico dos países da Europa Ocidental afeta as formas da luta anti-semita.
Num país, é a nobreza que liderou a luta contra os judeus; noutros é a burguesia e, na Alemanha é o povo que desencadeia o movimento.
O capitalismo medieval é praticamente desconhecido na Europa Oriental. Lá nom há separaçom entre o capital comercial e o capital usurário. Diferentemente da Europa Ocidental, onde judeu é sinónimo de usurário, lá os judeus som principalmente comerciantes e intermediários. Enquanto os judeus som gradualmente eliminados dos países ocidentais, eles afirmam constantemente a sua posiçom na Europa Oriental. Somente no século XIX o desenvolvimento do capitalismo (nom é neste momento o capitalismo coporativo que penetra, mas o capitalismo moderno) começa abalar a situaçom próspera de judeus russos e polacos. “A miséria dos judeus na Rúsia data da aboliçom da servidom e do sistema feudal da propriedade rural. Enquanto ambos tenham existido, os judeus tinham encontrado grandes oportunidades de subsistência como comerciantes e intermediários (34)”.

III. Período do capitalismo mercantilista e industrial
O período capitalista propriamente dito começa na época do Renascimento e manifesta-se primeiramente por umha tremenda expansom das relações comerciais e polo desenvolvimento das manufaturas.
Na medida em que os judeus continuam na Europa Ocidental (e em pequeno número), eles participam do desenvolvimento do capitalismo. Mas a teoria de Sombart que lhes atribui umha açom preponderante no desenvolvimento do capitalismo pertence ao reino da fantasia. Precisamente porque os judeus representavam um capitalismo primitivo (comercial, usurário), o desenvolvimento do capitalismo moderno só poderia ser fatal para a sua situaçom social.
Este fato nom exclui, longe disso, as contribuições individuais dos judeus à criaçom do capitalismo moderno. Mas onde os judeus se integram na classe capitalista, ocorre a sua assimilaçom. O judeu, grande empresário ou um acionista da Companhia holandesa ou inglesa das Índias está no limiar do batismo, limiar que tem cruzado com grande facilidade. O avanço do capitalismo é paralelo à assimilaçom dos judeus na Europa Ocidental.
Se o judaísmo ainda nom desapareceu completamente no Ocidente é graças ao afluxo maciço de judeus da Europa do Leste. A questom judaica que surge agora a nível mundial procede, em primeiro lugar, da situaçom da judaria oriental.
Esta situaçom resulta do atrasado desenvolvimento económico desta regiom. As causas específicas de emigraçom judaica estão ligadas com as causas gerais da emigraçom do século XIX.
A emigraçom geral do século XIX produziu-se em grande parte polo fracasso do desenvolvimento capitalista em relaçom ao ritmo do colapso da economia feudal ou das manufaturas. Ao camponês inglês, expulso pola capitalizaçom da economia rural, junta-se o trabalhador artesanal ou da manufatura expulso pelas máquinas. Estas massas camponesas e artesanais eliminadas polo novo sistema económico devem procurar o seu ganha-pom além dos oceanos. Mas esta situaçom nom se prolonga indefinidamente. Por causa do rápido desenvolvimento das forças produtivas na Europa ocidental a parte da populaçom privada dos eus meios de subsistência pode rapidamente arrumar emprego na indústria. É por isto que na Alemanha, por exemplo, a emigraçom para a América, muito intensa no século XIX, freia-se quase totalmente no seu fim. Acontece o mesmo na Inglaterra e noutros países da Europa ocidental (35).

Mas enquanto o desequilíbrio da socieadde situada entre o desmoronamento do feudalismo e o desenvolvimento do capitalismo desaparecia na Europa ocidental, aprofundava-se nos países atrasados do Leste. Nesta zona a destruiçom da economia feudal e das formas primitivas do capitalismo efetuava-se muito mais rapidamente do que o desenvolvimento do capitalismo moderno. Massas cada vez mais consideráveis de camponeses e de artesãos devem procurar umha via de saída na emigraçom. A começos do século XIX eram principalmente os ingleses, irlandeses, alemães e os escandinavos que formavam a cerna dos imigrantes na América. O elemento eslavo e judaico torna-se preponderante no fim do século XIX entre as massas que se dirigem para a América.

Desde o início do século XIX as massas judaicas procuraram novas vias de emigraçom. Mas ao princípio dirigem-se para o interior da Rússia e da Alemanha. Os judeus conseguem introduzir-se nos grandes centros industriais e comerciais onde desenvolvem um papel importante enquanto comerciantes e industriais. Facto novo e importane, pola primeira vez em séculos, nasce um proletariado judeu. O povo-classe começa a se diferenciar socialmente.

Mas o proletariado judeu concentra-se essencialmente no setor dos meios de consumo. Ele é acima de tudo artesão. Conforme a grande indústria estende o campo da sua açom, os ramos artesanais da economia esmorecem.

A oficina cede o seu lugar à fábrica. Desta maneira a integraçom dos judeus na economia capitalista é muito precária. Já nom apenas é o comerciante “pré-capitalista” que se ve empurrado à emigraçom, mas também o operário artesanal judaico. As massas judias cada vez mais consideráveis abandonam a Europa oriental para o Ocidente e a América. A soluçom da questom judaica, isto é, a penetraçom completa dos judeus na economia torna-se assim um problema mundial.

IV A decadência do capitalismo
O capitalismo, pola diferenciaçom social do judaismo, pola sua integraçom na economia e pola emigraçom, estabeleceu as bases da soluçom da questom judaica. Mas nom a resolveu. Polo contrário, a formidável crise do regime capitalista no século XX agravou a situaçom dos judeus dumha forma inaudita. Os judeus eliminados das suas posições económicas no feudalismo, nom puderam integrar-se na economia capitalista em plena putrefaçom. Nas suas convulsões, o capitalismo rejeita os elementos judaicos que ainda nom se assimilaram completamente.

Em toda a parte desenvolve-se um anti-semitismo feroz nas camadas médias, que abafa sob as contradições capitalistas. O grande capital serve-se desse anti-semitismo elemental da pequena burguesia para mobilizar as massas ao redor da bandeira do racismo.

Os judeus estám asfixiados entre dous sistemas: o feudalismo e o capitalismo, no que cada um acentua a putrefaçom do outro.


NOTAS

(1) J. Bédarride, « Les Juifs en France, en Italia et en Espagne ». Paris 1859.
(2) Ben Adir, artigo sobre o anti-semitismo em “Algemeine yidishe Enzyklopedie” (em iídiche).
(3) Karl Marx, “A questom judaica” (em Obras filosóficas, trad. J. Monitor, Paris, Costes, 1927), pp 205 e 209.
(4) Karl Marx, idem., p. 173
(5) A. Ruppin, « Les Juifs dans le monde moderne », Paris. Payot, 1934.
(6) Flávio José, « Guerre des Juifs », II, XVI, 398, tard. Fr. R. Harmanci (em OEuvres complètes de F. Jose, t. V, Paris, 1912, pp 205ss).
(7) “Inicialmente nós nom conhecemos nenhumha potência hostil que tivesse forçado nosso povo a se espaldar por toda Ásia Menor, em Macedónia e na Grécia”. Rabino Levi herzfeld, Handelsgeschichte der uden des Altertums, Braunschweig, 1879, 2ª ed. 1894, p. 203.
(8) Kart Kautsky, em Die Neue Zeit.
(9) A. Lods, Israel, des origines au milieu du VIIIº siècle. Paris, 1930. p.22
(10) L. Brentano. Die Anfänge des Modernen Kapitalismus, Munique, 1915, p.15
(11) R. Herzfeld, op cit, p. 203
(12) Henri Pirenne, Mahomet et Charlemagne, 2º ed., Paris-Bruxelas, 1937, p. 3
(13) Th. Mommsen, Histoire romaine, trad. Fr. De Guerle, Paris 1882, tomo VII, p. 275
Werner Sombart, na sua obra de valor desigual (Les Juifs et la vie économique, trad. Fr., Paris, 1923), na que os piores absurdos acompanham pequisas cheias de interesse, isto é: “Eu acho na religiom judaica as mesmas ideias-força que caracterizam o capitalismo”. Esta afirmaçom é justa na condiçom de entender por capitalismo o comércio e a usura “pré-capitalistas”. Ver-se-á mais adiante que é falso atribuir aos judeus umha parte preponderante na construçom do capitalismo moderno (ver capítulo IV). Para apoiar a sua tese Sombart cita umha quantidade de extratos do Talmude e doutros livros religisos judaicos que refletem este parentesco da religiom judaica e do espírito comercial. Eis, a modo de exemplo, algumhas destas citações:
“Um homem que gosta da alegria, o óleo e o vinho, nom se torna rico” (Provérbios, 21:17)
“Tu emprestarás a todos os povos e tu nom tomarás prestado de ninguém” (Deuteronomio, 15:6).
“A riqueza honra a casa do sábio e a pobreza do mau”.
R. Eleazar dizia: “O justo gosta melhor do seu dinheiro que do seu corpo”.
E R. Itshak repara nisto: “Que o homem tenham sempre o seu dinheiro em uso”.
Com efeito é difícil obter umha visom conjunta da confusom de textos escritos e comentados em épocas e em países diferentes. A pegada do epírito comercial nota-se netamente na maior parte destes escritos. O trabalho de Sombart é, neste sentido, a ilustraçom da tese marxista de que a religiom constitui o reflexo ideológico dumha classe social. Mas Sombart, como outros sábios burgueses, esforça-se em invertir a relaçom causal: é a religiom que teria sido o fator primário.
(14) Henri Laurent, “Religiom e negócios” em Cahiers du libre examen (Bruxelas, 1938). Aristóteles diz na sua Política: “É com muita razom que se tem umha grande aversom pola usura porque ela procura umha riqueza que procede do mesmo dinheiro. Foi criado para para a troca, enquanto a usura multiplica-a. o juro é o dinheiro do dinheiro e é, de todas as aquisições a mais contrária à natureza”. “Os cidadoms nom devem ejercer nem as artes mecánicas nem as profissões mercantis, porque este tipo de vida tem algo de vil e é contrária à virtude”.
(15) Contrariamente à opiniom de vários historiadores, a economia antiga, a pesar dum desenvolvimento importante das transações comerciais estava fundamentalmente baseada na produçom de valores de uso. “A indústria familiar é a predominante nom só nas sociedades primitivas mas também nas da Antiguidade e prolonga-se até o primeiro período da Idade Média. Os homens dividem-se em pequenos grupos autónomos do ponto de vista económico, e neste sentido bastavam-se a si próprios, consumindo apenas o que produziam e produzindo aquilo que deviam consumir. A troca e a divisom do trabalho apenas existia em estado embrionário”. Charles Gide. Principes d’Économie politique, 6º ediçom, Paris, 1898, p. 165
(16) J. Juster, Les Juifs dans l’Empire Roman, Paris, 1914, p. 125
(17) Heri Lauret, “Religion et affaires”, Cahiers du libre examen (Bruxelas, 1938).
(18) “O camponês e o señor na Idade Média nom som produtores de mercadorias. É certo que trocam os seus excedentes mas esta troca para eles algo estranho, umha exceçom. Destarte, nem o señor nem o camponês possuem em geral grandes quantidades de dinheiro. A grande parte da riqueza consiste em valor de uso, em trigo, em gado,… A circulaçom das mercadorias, circulaçom do capital-dinheiro, a economia monetária em geral, é alheia a esta forma de sociedade. O capital vive, segundo a expressom de Marx, nos poros desta sociedade. É nestes poros onde se introduz o judeu”. Otto Bauer, Die Nationalitätenfrage und die Sozialdemokratie, Viena (1907).
(19) Pirenne diz a respeito da conservaçom do carácter nacional nos alemães que moram nos países eslavos o seguinte: “O motivo principal (desta conservaçom) é se calhar que eles foram entre os eslavos os iniciadores e durante muitos séculos os representantes por excelência da cultura urbana. Os alemães introduziram nos povos agrícolas a burguesia e é, se calhar, antes como classe social que como grupo nacional que eles desde os primórdios se diferenciaram deles”. Henri Pirenne, Histoire de l’Europe, Bruxelas, 1936, p. 248.
(20) Augustin Thierry, Histoire de la conquête de l’Anglaterre par les Normands (1825)
(21) Como os tabiques entre as diferentes classes som estancos na época pré-capitalista, acontece amiúde que as diferenças nacionais persistam durante muito tempo. Estas manifestam-se acima de tudo na diversidade linguística. A língua do povo conquistado estava degradada ao papel dumha fala popular desprezada e a língua dos conquistadores torna-se a língua das gentes de “boa sociedade”. Na Inglaterra, durante muitos séculos, a aristocracia normanda continuava a utilizar o francês, enquanto que o povo exprimia-se em saxom. É a fusom destas duas línguas que forma o inglês moderno. A longo prazo as diferenças linguísticas esbatiam-se. Os burgundos, os francos e outros bárbaros nom demoraram em falar a língua dos seus súbditos. Por outro lado, os conquistadores árabes impuseram a sua língua aos povos conquistados. Estas diferenças linguísticas entre classes só desapareciam completamente com a chegada da burguesia ao poder. K. Kautsky, Rasse und Judentum, p. 26.
(22) “O capitalismo judaico era um capitalismo especulativo de parias; o capitalismo puritano identifica-se à organizaçom burguesa do trabalho” (Max Weber). Para outros a correspondencia entre classe e religiom nom é perfeita. Todos os cavaleiros nom som católicos e todos os burgueses nom se aderem ao calvinismo. Mas as classes deixam pegada na religiom. Assim, “a revogaçom do Edito de Nantes faz fugir, no final do século XVII, ao redor de 100.000 protestantes, quase todos habitantes das cidades e pertencentes às classes industriais e comerciais (os camponeses hugonotes convertidos em apariencia apenas abandonaram o reino). H. Sée, La France économique et sociale au XVIIIº siècle, Paris, 1939, p.15.
(23) Karl Marx, O Capital.
(24) Com a exeçom dumha tribo mongol (os khazares) da ribeira do mar Cáspio, que adota no século XVIII o culto israelita. Existe umha relaçom entre a funçom comercial desta tribo e a sua conversom ao judaismo?
(25) H. Pirenne, Les anciennes démocrates des Pays-Bas, Paris, 1910.
(26) Palestra de S. M. Doubnov na reuniom da Sociedade histórica etnográfica de Sam Petersburgo (cfr. Artigo na revista Voshod, nº12, 1894, em russo).
(27) Já no século V a.C. os judeus da Diáspora falam o aramaico. Mais tarde, falam o grego: “Os epitáfios dos cemitérios judaicos de Roma som sobretodo gregos, redigidos numha gíria pouco compreensível. Alguns som latinos e nenhum está em hebraico”. L. Friedländer, Derstellungen aus der Sittengeschichte Roms, II, p.519.
(28) Seria interessante pesquisar porque os judeus que vivem nos países eslavos conservaram durante tanto tempo o dialeto germánico (iídiche).
(29) A. Ruppin, Les Juifs dans le monde moderne, Paris, 1934, p.265
(30) idem, p.136
(31) idem, p. 136
(32) Na época do desenvolvimento capitalista do século XIV para o XIX, a assimilaçom significou geralmente na Europa ocidental a penetraçom na classe capitalista cristã. A penetraçom dos judeus na classe capitalista pode ser comparada à transformaçom em capitalistas dos proprietários feudais. Aquí também a luta da burguesia contra o feudalismo acaba, nalguns casos, pola expropriaçom total da classe feudal (França) ou pola penetraçom dos feudais na classe capitalista (Inglaterra, Bélgica). O desenvolvimento capitalista teme feitos semelhantes nos judeus. Nalguns casos eles devem assimilar-se; noutros, som eliminados.
(33) Geralmente, as perseguições contra os judeus tinham um carácter social. Mas o atraso da ideologia a respeito da infraestrutura social pode também explicar algumhas perseguições puramente religiosas. Nalgumhas regiões os judeus puderam conservar durante muito tempo a sua religiom particular embora se tivessem convertido em agricultores. As perseguições terám por fim, neste caso, acelerar a sua conversom. O que diferencia as perseguições religiosas das perseguições sociais (sob disfarce religioso) é o seu carácter menos violento e a pouca resistência dos judeus. Assim, se calhar na Espanha visigótica os judeus eram em parte agricultores. Destarte os reis visigóticos nunca sonharam na sua expulsom, como fizeram mais tarde Fernando e Isabel. As perseguições puramente religiosas devem ser consideradas como excecionais.
(34) Werner Sombart, L’apogée du capitalisme, Paris, 1932, p.430.
(35) “O crescimento econòmico dos principais países europeus no último quarto do século XIX para essa vaga de emigraçom, mas em breve tem lugar a segunda vaga integrada principalemente por emigrantes dos países agrários da Europa” W. Woytinski, Tatsachen und Salen Europas, Viena, 1930, p.60.

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