quarta-feira, 20 de novembro de 2013

LISBOA

Lisboa é a capital e a maior cidade portuguesa, com umha populaçom municipal de 547.700 habitantes que atinge cerca de 3 milhões na área metropolitana. Localizada na regiom da Estremadura, Lisboa é a grande cidade e a capital mais ocidental da Europa, além de ser a única ao longo da sua costa atlântica.

Possivelmente os primeiros Judeus tenham chegado a Lisboa com os Fenícios, fundadores da cidade e os seus vizinhos no Próximo Oriente, sendo raro o barco fenício que nom levasse mercadores ou sócios do Reino de Israel.

Cidade cercada por umha muralha erguida em inícios do século IV, reedificada entre finais do século X e inícios do século XI, na sequência da investida de Ordonho III, rei da Galécia-Leom, em 953, segundo o Chronicon de Sampiro

Quando aconteceu a sua conquista polos Mouros em 714 Lisboa era a maior cidade do Gharb al-Andalus, que somava aos 15 hectares de espaço intramuros, dous arrabaldes junto das muralhas (em Alfama e a Ocidente), com umha populaçom que atingiria por volta de 20-25.000 habitantes. Durante o período de dominaçom muçulmano a populaçom lisboeta é grandemente reforçada polos Judeus que lá se estabelecem como mercadores e financeiros, aproveitando a elevaçom da cidade a núcleo comercial proeminente. 

Após a "reconquista" por Dom Afonso Henriques em 1147, a minoria hebraica pôde permanecer no local que historicamente ocupava, na cidade baixa e fora de portas, junto do esteiro que desde a época romana servia de porto. A teor da sua localizaçom estratégica, a cidade tornou-se capital de Portugal em 1255.

Ao longo da história estám documentadas até quatro Judiarias em Lisboa.

Judiarias de Lisboa. GoogleEarth


Judiaria Grande ou Judiaria Velha

A Judiaria Grande ou Judiaria Velha, o mais importante bairro judeu da Lisboa medieval, tem a sua origem no local designado sob domínio islâmico como "arrabalde dos judeus". 

O primeiro testemunho da presença hebraica nesta judiaria é um documento do cartório do Mosteiro de Chelas, datado de 1175, e diz respeito dumha comunidade localizada num arrabalde ocidental da cidade. 


Esta Judiaria, conhecida como Judiaria Grande ou Judiaria Velha de Lisboa abrangia três freguesias: a de Santa Madalena, a de S. Gião/Julião e a de S. Nicolau. Estendia-se, aproximadamente, entre as igrejas de Santa Madalena e de S. Nicolau, a antiga Rua dos Mercadores (que, antes do terramoto, se encontrava entre as atuais ruas da Conceição e de S. Nicolau), a Rua da Princesa (atualmente Rua dos Fanqueiros) e a Rua Nova (que se encontrava aproximadamente à altura da Rua dos Bacalhoeiros).


Planta da Judiaria Grande de Lisboa segundo Vieira da Silva.
Planta da Judiaria Grande de Lisboa segundo João Nunes Tinoco.
Fonte: Maria Ferro Tavares.Os judeus em Portugal no século XV.

O bairro de S. Nicolau era o mais povoado de Lisboa e nele concentrava-se a maioria dos profissionais da comunidade judaica. 

A Sinagoga Grande, construída em 1307 em casas régias aforadas, era o local da câmara de vereaçom dos Judeus de Lisboa e encontrava-se na Rua da Princesa, à  esquina da Rua do Poço da Fotea ou dos Mercadores, aproximadamente, a meia distância entre as atuais Ruas de S. Nicolau e da Conceição. 


Próximo da Sinagoga Grande, localizavam-se vários estabelecimentos públicos: o hospital para homens e o seu balneário, o hospital da comuna, o hospital para pobres, as confrarias, o Estudo de Palaçano (centro de estudos de várias ciências, entre as quais astronomia, cartografia, geografia, medicina, matemática,...), o Beth midrash, a escola, a livraria, o balneário público, a carniçaria, a estalagem e a cadeia. Os arrruamentos eram delimitados profissionalmente, ou seja, mercadores, ferreiros, tintureiros, sirgueiros (fabricadores de sedas) e gibiteiros (fabricantes de roupas) encontravam-se nas ruas que levavam os seus nomes, como se vê no mapa: rua da Gibitaria, rua da Sirgaria, rua da Tinturaria. 

Sendo esta a principal judiaria da cidade de Lisboa, lá se encontravam as instalações de maior utilizaçom da comunidade judaica, constatava-se também a instalaçom de oficinas e tendas utilizadas polos mesteres.

Em 1366 D. Pedro ordena o fecho das portas da Judiaria Grande referindo expressamente a existência de guardas régios. A cumprir-se rigorosamente esta ordem, o encerramento da judiaria truncava alguns trajetos urbanos importantes obrigando a contornar os limites do bairro, já que ocupavam o coraçom da zona baixa da cidade. Esta judiaria (com a nova) eram tangentes à Rua Nova, o centro financeiro, comercial e social, considerada por monarcas e cronistas como a melhor e principal rua da capital. Estendendo-se polas anteditas três freguesias era constituída por umha vasta rede de ruas, travessas e becos, sendo os eixos mais importantes a Rua do Picoto ou dos Mercadores e a Rua da Gibitaria. 

Apesar de ter-se ordenado a transferência dos Judeus de Lisboa para a zona de Valverde (atualmente ocupada polos Restauradores e Av. da Liberdade), esta ordem nunca chegou a concretizar-se.

Nesta altura os Judeus, talvez 10% da populaçom da cidade, ou mesmo mais, som grandes comerciantes, com ligações aos seus correligionários por toda a Europa, Norte da África e Próximo Oriente, e os que nom praticam o comércio constituem grande parte dos letrados, como médicos, advogados, cartógrafos e especialistas nas ciências ou artes. A sua atividade é fundamental para a vitalidade da economia da cidade. Entre os Judeus sefarditas de Lisboa contam-se grandes nomes como os Abravanel.

Judiaria de Pedreira


Até 1317/19 existiu umha outra Judiaria no lugar de Pedreiraonde hoje se situa o Largo do Carmo e imediações. No ano 1260 foi construída umha sinagoga neste bairro judeu. A sua extinçom deveu-se à doaçom desse casario polo rei D. Dinis ao Almirante Pessanha.


Judiaria Nova

A Judiaria Nova de Lisboa, também conhecida como Judiaria de Teracenas, ou Pequena da Moeda (por ficar próxima do antigo edifício da Moeda), foi fundada no reinado de D. Dinis (1279-1325). A sua origem remonta-se aquando os Judeus tiveram de abandonar o bairro da Pedreira, entre 1317-19, estabelecendo-se nas proximidades da atual Rua de S. Julião, no local onde fica hoje o Banco de Portugal, numha rua paralela à Praça do Comércio.

Essa Judiaria era realmente pequena, e parece que se reduziu apenas a umha só rua, que se chamava entom Rua da Judiaria ou das Taracenas ou Tercenas, seguindo, aproximadamente, o eixo da atual igreja de S. Julião, desde a porta principal até à fachada do edifício do Banco de Portugal, na Rua Áurea. 

A Judiaria Pequena de Lisboa teve igualmente umha sinagoga, "esnoga que partia por detrás com casas da Rua Morraz, e junto dela havia huma casa de banhos dos Judeos». E  provável que esta sinagoga estivesse situada no sítio onde se encontra a atual igreja da Rua de S. Julião, polo facto de que, na reconstruçom de Lisboa depois do terramoto, se construir umha igreja no sítio onde anteriormente tivesse existido umha antiga igreja, sendo certo que, no reinado de D. Manuel, a ex-Sinagoga da Judiaria Pequena também foi transformada em igreja.

A Judiaria Pequena foi demolida em 1370, durante o reinado de D. Fernando (1367-83), que viveu um período conturbado com a comunidade judaica e decidiu aumentar a taracenas reais a custa das casas dos Judeus.


Judiaria de Alfama

Segundo alguns historiadores a Judiaria de Alfama teria nascido durante o reinado do rei D. Fernando (1367-83), já segundo outros, na época de D. Pedro I, (1357-67) após a trágica investida do exército castelhano de Enrique II aos bairros Judeus de Lisboa em 1373. Seja como for, a Judiaria de Alfama e respetiva Sinagoga, situar-se-ia próximo da Torre de S. Pedro, perto da Igreja dedicada ao santo do mesmo nome. 

O que se conhece sobre o templo hebraico de Alfama é que se tratava dum edifício constituído por quatro salas sobradadas e possuidor dumha varanda que dava para o beco. Parece que esta sinagoga foi construída entre 1373-74, como consta numha sentença de D. Fernando. Os Judeus por a terem edificado sem consentimento régio, foram condenados ao pagamento de 50 libras de ouro, com proibiçom de exercer culto dentro da mesma. 


Durante o reinado de D. Pedro I é aprovada a primeira lei segregacionista que, para além de impedir o contato físico, visava também a nom agregaçom cultural.

Provavelmente no final do séc. XIV e início do XV a populaçom judaica de Lisboa expandiu-se a partir da chegada dos seus correligionários advindos dos reinos peninsulares, principalmente de Castela, onde as perseguições se intensificaram numha vaga de antissemitismo.

Em 1450 umha lei segregacionista determinava que todo judeu maior de quinze anos encontrado fora da comuna após o toque do sino de oraçom (18h), numha primeira incidência teria de pagar cinco mil libras e, se por acaso nom tivesse a quantia, ficaria preso até que fosse paga a quantia determinada. Se houvesse umha segunda vez, ele teria de pagar dez mil libras e, se nom pudesse, ficaria preso até que quitasse a dívida. Caso ocorresse umha terceira vez, ele seria açoitado publicamente e depois solto. A legislaçom era muito rígida quanto ao deslocamento dos Judeus fora das comunas no período noturno. Se ocorresse de anoitecer e as portas das comunas estivessem fechadas e o judeu nom conseguisse adentrar a tempo, ele deveria dormir numha pousada com outros homens, o que permite compreender que pouco ou quase nom era permitida a ausência da comuna dumha judia. E, outrossim, se algum judeu tivesse de sair à noite por um motivo de grande necessidade, ele teria de ir acompanhado dum cristão. Caso fosse um arrecadador de sisas do rei, deveria arrecadar o imposto à noite e também acompanhado dum cristão.

Em 1482 é concluída a chamada "Bíblia de Lisboa",  o mais completo códice datado da famosa escola medieval portuguesa de iluminura hebraica. Trata-se dum testemunho importante e único sobre a riqueza da vida cultural da Judiaria portuguesa. A designada "Bíblia de Lisboa", é umha das mais belas e precisas no que respeita aos manuscritos bíblicos hebraicos, e, como tal, tem sido utilizado em diversas e modernas edições críticas, considerado até como um texto modelo. É também o manuscrito mais bem realizado e datado da escola medieval portuguesa de iluminura hebraica. O manuscrito exibe-se na Biblioteca Britânica que a comprou em 1882.

Em julho de 1490 o rei D. João II insta o concelho de Lisboa a garantir proteçom da comuna judaica de Lisboa. Anos antes tivera lugar um assalto à Judiaria de Lisboa.

Em 1492 os espanhóis expulsam os Judeus do seu território, animados pelo espírito fundamentalista cristão. Muitos vêm para Lisboa, tendo provavelmente a sua populaçom duplicado (seriam depois da expulsom um quinto dos Lisboetas, ou mesmo mais). 

Em 1496 o rei D. Manuel I, em troca dum casamento real com a dinastia espanhola, decide expulsar os Judeus do seu reino. Porém, reconhecendo a importância central dos Judeus na prosperidade da cidade, Dom Manuel decreta que todos os Judeus se convertam ao cristianismo, sendo obrigado a expulsar apenas os que se recusam, nom sem antes os expropriar de seus bens. 

Os efeitos a desapariçom das judiarias de Lisboa fizeram-se sentir de forma marcante na dinâmica da cidade. Para tal contribuiu nom apenas a dimensom dos bairros judaicos e bens afectos, como sobretudo o desígnio régio. Assim sendo, as grandes transformações urbanísticas realizadas na capital por D. Manuel estám intimamente ligadas ao desaparecimento das judiarias e à entrada no mercado dum conjunto avultado de propriedades urbanas. Foi, com certeza, em terrenos que tinham pertencido aos Judeus que se ergueu o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, novos eixos de ligaçom ao Rossio, à Alcáçova e à colina do Mosteiro de S. Francisco ou reestruturar o sector mais oriental da Ribeira. Tal como um dos maiores ensanches de Lisboa, a urbanizaçom de Vila Nova do Andrade (o atual Bairro Alto) resultou, a partir de 1498, da venda das propriedades pertencentes ao abastado judeu Guedelha Palaçano.


Durante muitos anos os cristãos-novos praticam o Judaísmo em segredo ou abertamente e apesar de motins e violências contra eles (como muitas crianças que som arrancadas dos pais e dadas a famílias cristãs que as tratam como escravos) som tolerados até à implantaçom da Inquisiçom em Portugal, muitos anos depois. O resultado é a ascensom social dos cristãos-novos que temporariamente, sem a limitaçom de serem Judeus, progridem até aos mais elevados cargos da corte. Novamente som as antigas elites descendentes da antiga aristocracia da Galiza e as Astúrias (a nobreza de Portucale) que criam problemas à ascensom social dos Judeus, frequentemente melhor educados e mais hábeis do que os primeiros. 

O mal-dizer dos Cristãos-Velhos culmina no Massacre de Cristãos-Novos em 1506, incitado polos Priores menores das Igrejas, no qual por volta de 3.000 pessoas terám sido assassinadas. Na atualidade um Memorial situado no Largo da igreja de S. Domingos lembra este ataque antissemita.




Como resultado dos conflitos, o Rei é persuadido polos nobres territoriais a introduzir a Inquisiçom, o qual só terá lugar em 1531 no reinado de D. João III, bem como as limitações legais a todos os descendentes de cristãos-novos (semelhantes às antigas contra os Judeus), que os impedem de ameaçar os cargos superiores do Estado à Aristocracia dos cristãos-velhos. O primeiro auto-de-fé (morte de heréticos na fogueira) é realizado no Terreiro do Paço em 1540. Desde a Praça Dom Pedro, também conhecida como Rossio, local onde se estabeleceu o Tribunal da Inquisiçom, este órgão de repressom mata na fogueira muitos cristãos-novos, mas expropria a propriedade e as riquezas de muitos outros.


Após o édito de expulsom o monarca mandou transformar o cemitério judaico de Lisboa em rossio, ao mesmo tempo que se aproveitaram as lápides sepulcrais para a construçom do Hospital Real de Todos os Santos. A Sinagoga Grande foi transformada em igreja de Nossa Senhora da Conceição, doada polo Rei ao Mestrado do Cristo. A Sinagoga Pequena, situada na R. de S. Julião, foi arrendada por Duarte Borges, alfaiate cristão-novo, revertendo o foro para o Hospital Real de Todos os Santos. A sinagoga de Alfama seria aforada a Gonçalo Fernandes, revertendo o foro para S. Domingos


Mais tarde, a Ordem de Cristo mandou para a igreja da Conceição os freires, tendo-se conservado esta comunidade na antiga sinagoga até o terramoto de 1755. Em 1698 constrói-se a igreja paroquial de Nossa Senhora da Conceição na vizinha Rua dos Ferros, passando a antiga sinagoga a chamar-se Conceição Velha, para a distinguir da nova igreja.


Em consequência do terramoto de 1755, que destruiu a quase totalidade de Lisboa, o prédio da antiga Sinagoga Grande foi também completamente destroçado, ficando apenas umha lápide com uma inscriçom hebraica, que foi salva de entre os entulhos polo entom Bispo de Beja, que a levou para a sua diocese e mais tarde para Évora. Atualmente, conserva-se no Museu Luso-Hebraico «Abraham Zacuto» de Tomar.

Tendo a igreja da Misericórdia da Rua da Alfândega escapado em parte à destruiçom, os freires da Ordem de Cristo, da ex-Sinagoga Grande, ou igreja Colegiada da Conceição Velha, foram transferidos para a vizinha igreja da Rua da Alfândega, que, por esta razom, passou a chamar-se também (mas só depois de 1755) da Conceição Velha. Daí provém a errada suposiçom dalguns olisipógrafos de que a atual igreja da Conceição Velha da Rua da Alfândega era antiga sinagoga. A igreja da Conceição Velha, que foi realmente sinagoga, era a que estava situada, antes de terramoto, algures entre as atuais Ruas de S. Nicolau e da Conceição, e que, como referido, ficou completamente destruída.

Porém, o bairro de Alfama nom foi atingido polo terramoto de 1755, daí que ainda exista a respetiva Rua da Judiaria, sendo isto tudo o que resta hoje das quatro Judiarias de Lisboa.



No final do século XIX vários grupos de Judeus vindos de Gibraltar formaram umha comunidade que ordenou a construçom da Sinagoga de Shaaré Tikvá (Portas da Esperança). Este templo, obra do arquiteto Ventura Terra, acha-se desde 1904 no nº 59 da Rua Alexandre Herculano, no centro de Lisboa. Nom possui fachada direta para a rua, já que essa visibilidade estava ainda reservada na altura aos templos católicos. Atualmente é gerida pola Comunidade Israelita de Lisboa.

Durante a II Guerra Mundial Lisboa foi refúgio e ponto de partida para dezenas de milhares de refugiados judeus da barbárie nazista.

Cidade criativa e dinâmica, Lisboa identifica-se como berço de muitas das mais influentes e emblemáticas famílias que perduram hoje na simbologia hebraica internacional: Guedaliah Yahya, Gracia Nassi (Benveniste), Isaac e Judah Abravanel (Abarbanel), Jacob Lumbrozo (primeiro médico judeu dos Estados Unidos), Samuel Usque, entre muitos outros. Tanto no tempo dos judeus como no dos cristãos-novos, Lisboa esteve sempre presente na história judaica. 


A história de Lisboa judaica representa muita da mítica civilizaçom judaica.

Ver JUDIARIA DE ALFAMA DE LISBOA

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