quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A RESSURREIÇOM DA LÍNGUA HEBRAICA

Breogám Cohen, sócio-linguista

Nos primórdios da nossa era a língua mais falada na Palestina era o aramaico, língua que partilha com o hebraico a sua adscriçom semítica, a língua de cultura era o grego, a língua do império e dos exércitos de ocupaçom era o latim e o hebraico era já unicamente, desde havia polo menos um século, a língua litúrgica e dos livros sagrados do judaismo. Apenas as elites religiosas, rabínicas, liam, escreviam e falavam o hebraico.

O aramaico foi a língua falada polo povo judeu até que foi removida paulatinamente polo árabe por causa da invasom árabe do século VI. Entre os anos 70 e 135 d.n.e. produziu-se um êxodo maciço de judeus para outras terras, a conhecida diáspora judaica. Neste exilo cada comunidade judaica adotou a língua do país de acolhida, na Europa, na Ásia e no norte da África, esquecendo o aramaico e conservado o hebraico, como sempre, como língua litúrgica.

O hebraico litúrgico usado na religiom polos judeus gerou umha série de “línguas mistas” caracterizadas polo uso dumha mínima percentagem de termos judaicos inseridos nas línguas de acolhida. Assim, podemos falar hoje do judeu-tamazgith, do judeu-turco, do judeu-georgiano, etc. Os “judeus” mais falados forom o iídiche (do alemao jüdisch, judeu) e o ladino.

O iídiche é a língua dos judeus asquenazes de toda a Europa central e oriental. Tem estrutura germánica e 70% de léxico alemao, 15% eslavo e só 5% de léxico hebraico. Antes da Segunda Guera mundial falavam iídiche na Europa central uns 11 milhões de pessoas. O ladino é o judeu dos sefarditas castelhanos, que chegou a ser falado a começos do século XX por dous milhões de pessoas em países das ribeiras mediterrâneas. Hoje calcula-se que terá 150.000 falantes.

Na Palestina árabe conservam-se restos de aramaico (ainda hoje se fala aramaico nalgumhas vilas das redondezas e Damasco). Na diáspora cada umha das línguas de acolhida tomou incrustações léxicas hebraicas. O povo judeu nom falou o hebraico durante quase dous milénios. O hebraico nom estava vivo, porém tampouco se poderia dizer que estava morto já que seguia sendo língua litúrgica e forçada língua veicular entre rabinos e comerciantes.

A finais do século XVIII na Alemanha houve tentativas de restaurar o hebraico, mas este tinha um léxico muito limitado, arcaico e circunscrito à vida religiosa, nada apto para a vida moderna e as ciências. Se o sonho era ter umha pátria na Palestina, essa pátria nom seria viável se cada grupo de judeus falava a língua do seu país de acolhida, era preciso umha língua e a única língua de todos os judeus fora o hebraico.

Em 1880 um grupo de idealistas judeus regressa à Palestina. Entre eles vai o lituano Eliezer Ben-Yehuda, quem acomete o labor de reelaborar o hebraico modernizando a gramática, simplificando-a, dotando-a de maior versatilidade e adatabilidade para a sua utilizaçom em novos usos, colhendo empréstimos do árabe, do aramaico e das “línguas judaicas”, criando neologismos, etc. Em 1890 Ben-Yehuda criou o embriom do que com os anos seria, em 1940, a Academia da Língua Hebraica. Ben-Yehuda inventou umha língua falada, o neohebraico, a partir dumha língua unicamente escrita, o hebraico dos livros sagrados.

Entre 1891 e 1903 chegaram à Palestina uns 30.000 judeus de diversas origens e língus. Em 1898 Ben-Yehuda funda umha rede de escolas destinadas a lecionar hebraico aos recém chegados, e assim, por volta de 1915 nascerom os primeiros judeus craidos desde o berço em hebraico desde havia 2000 anos.

Como a maioria dos judeus retornados eram asquenazes, o neohebraico teve umha forte competência com o alemao e o iídiche neste primeiro terço do século XX, pois se a maioria dos imigrantes falavam estas variedades germánicas era inecessário “forçar” o aprendizado dumha nova língua.

Ben-Yehuda conseguiu em 1918 que os britânicos declarassem o neohebraico terceira língua oficial da Palestina junto ao árabe e o inglês, de maneira que o hebraico se introduziu nas escolas, na administraçom e no poder político.

Após a Segunda Guerra mundial os próprios judeus germanófonos ou iídichófonos apreenderam voluntariamente o hebraico e renunciaram a umhas línguas “ligadas” à barbárie nazista.

Hoje em dia, embora o árabe também é língua oficial de Israel junto com o hebraico, na prática o hebraico é a única língua oficial devido aos inúmeros problemas com os que acham os usuários do árabe, nom apenas os árabes palestinos mas também uns 400.000 judeus procedentes de países árabes (Síria, Iraque, Egito, Iemem,...) que têm o árabe como língua materna e habitual. O árabe é umha língua fortemente secundarizada, pois é assimilada com a “língua do inimigo”.

Na foto "Shotê Coca-Cola, "Beba Coca-Cola" em hebraico


Para obter a nacionalidade israelita é preciso demonstrar conhecimento do hebraico. O estado de Israel inviste enormes quantidades de dinheiro em “hebraizar” linguisticamente toda essa vaga de judeus da diáspora que venhem falando inglês, russo, polaco, húngaro, ladino, árabe, tamazight, turco, farsi, amárico, tigrinha, italiano, servo-croata, grego,...

A resistência à integraçom linguística provém fundamentalmente de falantes de línguas “superiores”, quer dizer, inglês e russo. Dado que o inglês é, de facto, non de iure, língua cooficial em Israel e umha alta percentagem de israelitas também fala inglês, há muitos judeus ianques que podem prescindir de apreender hebraico a nom ser que vivam em comunidades ou vilas com judeus doutras origens. Com os russófonos (russos, ucranianos e bielo-russos) passa-se algo semelhante, de maneira que, por exemplo, em muitos canais de televisom legendam em russo o emitido em hebraico. Os russófonos andam cerca do milhom de pessoas, vivem em comunidades isoladas, som pouco ou nada religiosos e têm umha cultura bastante afastada da populaçom média.

Ainda sendo de facto a única língua oficial, o neohebraico está obrigado a competir constantemente na casa com estas duas línguas citadas, mas isto faz parte da própria dinâmica interna da sociedade israelita, com as suas fóbias, fílias, contradições e pluralidades.

O exemplo do hebraico é o exemplo de como com vontade e estado próprios umha língua pode resuscitar: de apenas um cento de neofalantes para quase seis milhões de pessoas, e só em cem anos.

* Tirado de "De Compostela a Ierushalam", revista da Associaçom Galega de Amizade com Israel.

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