domingo, 21 de julho de 2013

O SIONISMO

Francisco Letamendia

O grupo judeu é um coletivo religioso espalhado polos quatro cantos do mundo, tam pluriétnico quanto as sociedades das que faz parte, ao que apenas etnificou a perseguiçom histórica sofrida a mãos dos cristãos. 

Os judeus sumam hoje em dia por volta de 13 milhões de pessoas, das quais 5,5 milhões moram nos EUA, 4 milhões no Estado de Israel e 1,5 milhões nos Estados que faziam parte da antiga URSS.

A sua extrema diversidade reflete-se hoje na presença no Estado de Israel de judeus Asquenazes, originários da Europa central e oriental e que representam 85% da populaçom judia (e que, pola sua vez, constitui os 80% da populaçom estatal); os judeus Sefarditas, os castelhano-falantes descendentes dos expulsos polos Reis Católicos do “Sefarad” espanhol (5%) e judeus “orientais”, palestinianos e etíopes entre outros (10%). 

A pluralidade linguística resultante obrigou a ressuscitar como oficial umha língua litúrgica, o aramaico.

O sionismo político nasceu como resposta ao antissemitismo europeu, alentado por ideologias como o pan-germanismo-antissemitismo cuja existência fora posta de relevo polo “Cao Dreyfus” na França de finais do século XIX.

Theodor Herzl, autor húngaro, escreveu em 1886 “O Estado judeu, procura dumha solución à questom judaica”, no que constatava que a integraçom dos judeus nos Estados-Nações nom fizera desaparecer, mais bem ao contrário, o antissemitismo polo que era preciso agrupar o povo judeu num território, criando o Estado judeu; e esse território era Palestina. Chegou a haver dúvidas sobre o local onde os judeus se deviam estabelecer sendo sugeridas as pampas argentinas ou Uganda, por exemplo. 

Após dous mil anos de os hebreus que viviam no reino de Judeia terem sido espalhados polos babilónicos, assentou-se finalmente a teoria do regresso para a Palestina. Herzl admitia que se conferisse aos Santos Lugares da cristandade um estatuto de extraterritorialidade, mas nom fazia qualquer mençom, desde umha fechada perspectiva ocidentalo-centralista, nem dos árabes habitantes dessas terras nem da religiom islâmica. Naquele momento os árabes eram 92% da populaçom contra 8% de judeus.

O sionismo nasceu oficialmente en 1897 no Congresso Constituinte Mundial de Bâle. A comunidade judia mesma contestou as ideias de Herzl, mas os campos de extermínio nazistas dissiparam as reservas.

A criaçom judia do Estado de Israel através do ato físico de ocupaçom das terras bíblicas ocupadas até entom polos árabes (ocupaçom cuja justificativa sionista nom som muito distintas das que animaran os puritanos ingleses a estabelecer a “Terra Prometida” nos territórios norte-americanos), constitui o modelo da fundaçom dum “lar nacional” de novo cunho.

A necessidade de sagrar o território como israelita explica a política de compra e colonizaçom do solo palestiniano levada a cabo pola organización sionista Keren Kayemeth Leisval (KKL), que negava expressamente aos judeus a possibilidade de vender as terras adquiridas, que passavam a ser propriedade nacional, evitando deste modo a sua reversom a mãos árabes. Até 1947 a compra-venda voluntária nom deu o fruto desejado, já que a KKL nom conseguiu comprar até ese momento mais que os 6,6% do solo palestiniano.

Após a criaçom do Estado de Israel, porém, e até a guerra de 1967, a proibiçom de vender as “terras nacionais” aplicou-se aos 92% do território do novo Estado. Promociounou-se assim mesmo o trabalho agrícola para vincular os colonos judeus á terra; o KKL exclui nestas terras o traballo assalariado, previsivelmente árabe, a fim de impedir a revinculaçom das terras aos palestinianos. Tal era a significación política, mais que a do socialismo, do trabalho agrícola coletivo dos kibutz, que renunciaram á propriedade privada das suas terras.

Israel nom foi concebido como o Estado dos seus cidadãos judeus ou árabes, mas como o dum povo judeu indeterminado que na sua grande maioria nom habitava nele. Daí que se privilegiasse os imigrantes judeus e se discriminasse, em troca, os cidadãos árabes. Os sionistas de esquerda aplicaram essa lógica ao âmbito do trabalho. A central sindical sionista Histadrut apenas aceitava a filiaçom de judeus e fazia pressom sobre as indústrias para que importassem maquinaria, o que tornaria desnecessário o trabalho manual árabe. Isto acompanhou-se dumha divisom social do trabalho pola que os labores cualificados foram reservados para os judeus e os nom qualificados para os palestinianos.

Os trabalhistas impulsaram até 1977 umha política de assentamentos judeus na Galileia, parte norte de Israel na que vivia a maioria da populaçom árabe, a fim de “a judaizar”; bem como a criaçom dumha cadeia de assentamentos nas cidades que se achavam no eixo norte-sul da margem ocidental (Nablus, Jerusalém, Belém, Hebrom), como meio de impedir a homogeneidade dum futuro Estado palestiniano em Gaza e Cisjordânia (eventualidade que nom defendiam, mas que também nom descartavam). 

Porém, o sionismo de direitas, o de Begin e Aaron, nom aceitava esta alternativa; as terras ocupadas em 1967 pertenciam também ao povo judeu de acordo cum principio de legitimidade divina: o direito bíblico-histórico a habitar em Eretz Israel. Jerusalém, o núcleo sagrado de Israel, era também inalienável; polo que em 1967 foi anexada a sua parte árabe.

O Governo de Begin interpretou, pois, os Acordos de Camp David de 1978 no sentido de que as “pessoas” palestinianas podian chegar a ser autónomas da administraçom militar; mas nom as “terras” nas que viviam, que seguiriam abertas aos assentamentos judeus. Esta conceçom era compatível com o estabelecimento dum “bantustám” palestiniano dotado de autonomia cultural, ao que o Estado judeu abandonaria em todo caso em matéria de prestações sociais e assistência; o exército ficaria nele defendendo os assentamentos judeus e garantindo o acesso destes às reservas de água da ribeira ocidental do rio Jordám.

Porém, as grandes necessidades de financiamento a fim de manter a estrutura sionista do Estado, favorecer a imigraçom judia, evitar a sua emigraçom, criar postos de trabalho e colonizar a terra tornam o Estado de Israel muito dependente dos capitais ocidentais. Isto converteu-se num arma de duplo gume, que colocou em mãos de Ocidente, mormente dos EUA, a possibilidade de fazer pressom sobre ele. Os acordos de Oslo de 1993 foram consequência destas pressões.

Persistem porém as incertezas sobre se a autonomia de Gaza e Cisjordânia dará tam só lugar a um “bantustám” árabe controlado por Israel ou será o germe dum Estado palestiniano justaposto ao judeu.

De resto, a dialéctica do reconhecimento recíproco, cujos alicerces foram postos polos acordos, pode sofrer recuos; o que é de temer à vista da atitude adoptada polo Estado judeu depois do triunfo recente do direitista Likud sobre os trabalhistas nas eleições [de 1996].


Texto tirado de "Juego de espejos" (1996)



Sem comentários:

Enviar um comentário