quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A NAÇOM HEBRAICA OU DE ISRAEL

Por François Fontan

A familia etnolinguística semita é composta por seis línguas, seis nações: os arameus, que habitaram outrora o Iraque, a Síria e o Líbano, os árabes, que até o século VII apenas habitavam na atual Arábia Saudita, os himyaritas que se achavam em todo o sul da Península Arábica, os amaras e tigrés na Etiópia e Eritreia atuais e, finalmente, os hebreus. Duas outras tribos semitas desapareceram ao longo dos séculos: os assírios- caldeus e fenícios.

Os hebreus diferenciam-se das outras tribos semitas no século XIII a.n.e., isto é, quando Moisés lhes deu a religiom judaica, os organizou e instalou no país entom conhecido como Canaã e conhecido desde entom como "Eretz Israel". Poucas nações tiveram umha história tam turbulenta como trágica. Antes de mais, eles foram capazes de travar a invasom dum povo grego chegado por mar, os filisteus (daí a palavra "Palestina" que os gregos têm espalhado tanto no Ocidente quanto nos países árabes). Eles sofreram as invasões militares dos egípcios, assírios-caldeus, gregos e romanos. As suas revoltas contra o Império Romano foram esmagadas em 70 e 135 d.n.e., e, a partir desse momento, a maioria do povo emigrou, dispersando-se umha parte nos países mediterrânicos (estes som chamados sefarditas) , e outra parte na Europa Central e Oriental (estes som chamados de asquenazes).

Desde a invasom árabe no século VII começou umha imigraçom de colonos árabes que continuou até a nossa época, especialmente depois dos massacres realizados pelos Cruzados nos séculos XI e XII, os árabes tornaram-se maioria. Umha minoria indígena hebreia manteve-se sem interrupçom nas cidades de Jerusalém, Hebron, Safed, Tiberíades e Gaza conservada até 1918 sob o domínio dos sultões turcos. Até o século XIX os hebreus estiveram submetidos, quase em todos os lugares e quase sempre, às humilhações, perseguições e massacres periódicos, tanto nos países cristãos quanto nos países muçulmanos. A partir do século XIX as discriminações contra os hebreus desapareceram na Europa Ocidental, e nesses países, o principal perigo é o da sua absorçom e suave assimilaçom, quer dizer, o seu desaparecimento como étnia (o mesmo destino que ameaça os ocitanos e outras nações colonizadas do Ocidente).

Ao longo dos milênios de dispersom os hebreus foram capazes de manter a sua consciência étnica, a sua religiom, a sua língua (nom como língua habitual, mas como língua cultural e como língua de relaçom entre as comunidades de diferentes países), e sua fé inabalável no retorno à pátria: "No próximo ano em Jerusalém!". No final do século XIX Theodor Herzl criou o movimento nacional hebraico, o sionismo, que é umha frente nacional que reúne diversos partidos (desde Herut, muito semelhante ao gaullismo francês, até o Mapam, de tendência trotskista), cujo objetivo é o retorno dos hebreus à sua pátria e na criaçom de um Estado independente hebreu. Em 1921, a Liga das Nações confiou Eretz Israel para a Inglaterra com o mandato de criar um “lar nacional hebreu”. Inglaterra violou de muitas maneiras o mandato que lhe foi dado: em primeiro lugar, separando dous terços do território para fazer dele um reino árabe títere, a Jordânia, logo, ao proibir o retorno ao país de dezenas de milhares hebreus que fugiam da Alemanha nazista e, finalmente, ao tentar manter a sua dominaçom sobre o país. Após a Segunda Guerra mundial e os massacres nazistas, a Resistência hebraica (o Irgun, liderado por Begin) comandou umha luta armada contra a dominaçom britânica e, finalmente, as Nações Unidas votaram a partilha do que restava do país em dois estados: Israel e a "Palestina" árabe. Desde o dia da sua independência, o Estado de Israel foi invadido polos exércitos de sete Estados árabes, que foram derrotados, apesar da sua enorme superioridade em número e equipamentos. Desde esta época, todos os Etados árabes anunciam sua disposiçom de varrer Israel organizam um bloqueio contra ele e financiam umha organizaçom, a OLP cujas atividades terroristas ocorrem apenas contra a populaçom civil israelita. Desde 1977, um primeiro Estado árabe, o Egito, negoceia a paz com Israel.


Naçom hebreia e naçom árabe, posições anti-imperialistas:

A) Seja qual for a definiçom de naçom, é inegável que os hebreus som umha verdadeira naçom, um grupo étnico. Qualquer anti-imperialista, qualquer etnista, qualquer progressistas deve apoiar incondicionalmente o direito da naçom hebreia à independência numhas fronteiras justas (como acontece com qualquer naçom do mundo).

B) Este direito nom pode, em qualquer caso, depender da opinom que tivermos sobre a política do governo israelita, sobre um aspecto particular do regime ou da sociedade israelita. Só dar algumha orientaçom sobre esta questom: a economia é mista, metade nacionalizada, metade privada; mais de 50% da indústria pertence à central sindical; a terra está completamente nacionalizada e é cultivada em parte por cooperativas, em parte polos "kibbutz" (únicas comunidades no mundo cujo funcionamento interno é completamente comunista); menos de 40% da populaçom é religiosa e apenas 18% votam em partidos religiosos, mas o secularismo nom é satisfatório e existe ainda umha grande desigualdade social entre os asquenazes e sefarditas, por causa do analfabetismo em massa destes desde o seu regresso; as liberdades democráticas som totais (mais ou menos como na Suécia), incluindo os partidos anti-Israel. Os árabes que vivem em Israel têm um nível de vida, um nivel de educaçom e de saúde maior do que todos os países árabes, exceto Kuwait.

C) Parece basicamente justo que umha naçom que nom tem território recupere o seu território histórico, mas neste caso, deve-se considerar o número de populações e a densidade das duas nacionalidades. A naçom hebreia ainda nom libertou todo o seu território histórico: a terra de Gilad a leste do Jordám, ainda está anexada pela Jordânia. Ainda há cerca de doze milhões de judeus espalhados (especialmente nos EUA, URSS e Europa Ocidental), e é provável que alguns deles queiram voltar para a sua pátria, o que será muito limitado. Parece, pois, justo reconhecer para Israel a península do Sinai, que é e sempre esteve desabitada (exceto a sua parte noroeste que tem umha pequena populaçom árabe e que Israel já devolveu para o Egito). Observe que os árabes, que som cerca de dez vezes mais numerosos do que todos os hebreus juntos, possuem territórios cem vezes mais vastos.

D) Umha pequena naçom no mundo de hoje muitas vezes só a pode salvar dum imperialismo próximo usando um imperialismo afastado. Da mesma forma que a Jugoslávia foi salva da ameaça russa pola ajuda dos EUA, Cuba foi salva da ameaça dos EUA pola ajuda da Rússia. A aliança com Israel é umha catástrofe para os interesses americanos, tanto economicamente quanto diplomaticamente, mas é imposta a qualquer governo dos EUA tanto polos muitos eleitores hebreus como pola vasta maioria da opiniom pública americana.

E) Nom há negumha naçom "naçom palestina", como também nom existe umha naçom síria, iraquiana, saudita ou líbia. Apenas há umha única naçom árabe que ainda nom atingiu a sua unidade, e os árabes de Israel, chamados de "palestinianos" som apenas umha pequena fraçom dessa naçom. Os movimentos palestinianos autoproclamam-se a vanguarda do nacionalismo árabe. Os "palestinianos" som historicamente uns colonos, imigrados gradualmente desde o século VII até 1948. Nunca devemos esquecer que qualquer descolonizaçom é também em todos os países umha descolonizaçom demográfica: a grande maioria dos colonos deve sair e voltar para o seu país. Esta soluçom, embora dolorosa para os interessados, no entanto, é a única justa e a única possível a longo prazo. Isto é o que aconteceu com os dous milhões de europeus no norte da África e isso vai acontecer um dia a três milhões de europeus na África do Sul. Metade dos árabes "palestinianos" fugiram para países árabes vizinhos e nalguns deles (Síria, Kuwait), eles integraram-se perfeitamente com a populaçom local, da qual nada os diferencia. Noutros casos (especialmente no Líbano), vivem miseravelmente em campos, que som, naturalmente, as bases do terrorismo anti-israelita. Cedo ou tarde, todos os árabes de Eretz Israel serão repatriados para países árabes subpovoados. De resto, o número de "palestinianos" emigrados de Israel para os países árabes é idêntico ao dos hebreus emigrados de países árabes para Eretz Israel.

F) O antissionismo é a principal forma atual do antissemitismo, já que o sionismo é o movimento nacional hebreu. Nom é por acaso que o principal inspirador dos movimentos “palestinianos” tivesse sido Amin al Husseyn locutor de Rádio Berlim durante a Segunda Guerra mundial. Nom é por acaso que o principal desses movimentos, o Al Fatah, esteja oficialmente financiado polo Estado saudita, que é à vez o último estado esclavagista e o maior trust petroleiro do mundo. Ninguém pode ignorar que a OLP (que abrange todos os movimentos “palestinianos") alveja a destruiçom do Estado de Israel, e que propõe aos hebreus se tornarem árabes (sem discriminaçom religiosa), ou seja, exatamente a mesmo cousa que a OEA (organizaçom fascista dos colonos franceses na Argélia) propunha aos argelinos: abandonar a sua nacionalidade e tornam-se "verdadeiramente franceses". Finalmente, nom é nengumha coincidência que os únicos Estados na Europa que se recusaram a reconhecer Israel foram a Espanha franquista e o Vaticano.

Qualquer um pode criticar amplamente o regime israelita, ao igual que o regime cambojano ou a política de qualquer outro Estado. Mas nengum progressista, nengum internacionalista, pode negar o seu apoio incondicional à naçom hebreia e à naçom cambojana contra os imperialismos árabe e vietnamita.
Nós, nacionalistas ocitanos e internacionalistas consequentes, em pleno acordo com a Roménia comunista e nacionalista, com o presidente Allende do Chile e Jean-Paul Sartre sobre este ponto, declaramo-nos totalmente solidários com a luta da naçom hebreia pola sua sobrevivência como naçom independente.

Reconhecemos no movimento nacional hebreu, no sionismo, um exemplo para todas as nações colonizadas e assimiladas. Devolver a sua consciência nacional e a sua dignidade a um povo martirizado há dois mil anos, especialmente tentado pela resignaçom, a assimilaçom e facilidades da sociedade de consumo, trazer três milhões de pessoas para a sua pátria feita deserto polos feudais árabes e turcos, e fazer desta terra o país mais próspero no Oriente Médio, fazer do hebraico, língua quase morta, a única língua oficial, escolar, usada por todos, dumha sociedade moderna, é umha obra que honra a toda a humanidade, um modelo para todas as nações colonizadas.

Dizemos claramente aos grupos “de esquerda" que se proclamam antissionistas que assim eles fazem prova, quer da sua total ignorância sobre o que falam, quer da sua vontade de usar desonestamente as questões nacionais para uns fins totalmente contrários à descolonizaçom e ao anti-imperialismo.

Francés Fontan 1979

texto publicado em “Lo Lugarn” (vozeiro do Partido Nacionalista Ocitano) n º 13 de outono de 1980

Sem comentários:

Enviar um comentário