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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

OS JUDEUS PORTUGUESES NA INGLATERRA


Depois da expulsom dos Judeus dos reinos de Espanha e de Portugal, e do estabelecimento da Inquisiçom, um grupo de Judeus portugueses, aparentemente católicos, estabeleceu-se na Inglaterra, mormente nas cidades de Londres e Bristol, ligada a atividades de comércio marítimo. Na altura de 1550 já havia cerca de umha centena de membros da comunidade judaica portuguesa em Londres que praticavam o judaismo em secreto,  como as famílias Anes, Costa, Lopes, Alvares, Martin, Rebelo,...

Em 1609 os Judeus portugueses foram oficialmente expulsos de Londres acusados de judaizarem. Porém, há evidências de que polo menos umha parcela deles continuaram a viver na capital inglesa e durante todo o século XVII a colónia de cristãos-novos nom deixou de crescer.

Em 1651, Oliver Cromwell, na sua política de colocar a Inglaterra na chefia do comercio mundial, concedeu benefícios aos mercadores judeus sefarditas que se fixassem na Inglaterra. Com certeza, o estadista inglês estava ciente de que a experiência dos cristãos-novos no comércio marítimo e ultramarino contribuiria para tornar a Grã Bretanha numha potência económica mundial, já que os Judeus sefarditas portugueses constituiam umha importante rede comercial tanto nas colónias espanholas e portuguesas quanto no Levante, Índias Orientais, Ilhas Canárias, Brasil e Países Baixos. Em consequência, um considerável número de mercadores cristãos-novos portugueses (judeus) fixaram-se em Londres e formaram umha congregaçom secreta encabeçada por Antonio Fernandes do Carvalhal. A sua posiçom privilegiada permitiu que Cromwell e o seu secretário, John Thurloe, obtivessem importantes informações sobre os planos de Carlos Estuardo na Holanda e dos espanhóis na América.

Em 1656, o Rabino Menasseh ben Israel de Amsterdão (Manuel Dias Soeiro, natural da Ilha da Madeira) fez umha visita a Inglaterra para tentar persuadir o Governo Inglês a autorizar os Judeus a se estabelecerem umha vez mais em solo britânico. Foi entom que conheceu Oliver Cromwell, que se dispunha favorável à ideia. Após a deliberaçom da comissom reguladora, relativamente à questom, foi anunciado que o Decreto de Expulsom dos Judeus da Inglaterra de 1290 já nom tinha relevância. 

Aos Judeus portugueses foram entom concedidas muitas facilidades. O antedito António Fernandes do Carvalhal, natural do Fundão, e o filho dele, foram dos primeiros a fazê-lo, tendo-se tornado amigos íntimos e consultores de Cromwell. A comunidade sefardita portuguesa nom parou de aumentar com a vinda de outros cristãos-novos chegados nom apenas de Portugal, mas também de Amsterdão e Hamburgo. É durante o protecturado de Cronwell (1649-59) que se inicia o comércio do vinho do Porto com a Inglaterra. Seguidamente, em 1657 os mercadores portugueses “criaram” uma esnoga numha habitaçom, e retornaram abertamente ao Judaísmo, chegando o rabino Menasseh a oficiar numha ocasiom um serviço religioso. 

Os Judeus portugueses de Londres nom tardaram a desligar-se de Cromwel, passando a apoiar o regresso da monarquia, tirando disso evidentes benefícios. A renovaçom da Aliança luso-britânica em 1661, bem como o casamento de Dona Catarina de Bragaça com Carlos II dez anos antes foi negociada e assegurada financeiramente por estes judeus portugueses. Assim sendo, em 1664 Carlos II emitiu uma promessa formal por escrito de proteçom dos cristãos-novos portugueses e, em 1674 e 1685, outras declarações reais foram feitas confirmando essa declaraçom. 

Em 1698, a aprovaçom Lei de Supressom da Blasfémia supõe o reconhecimento à legalidade de praticar o judaísmo na Inglaterra. Esta tolerância abriu as portas à fixaçom dumha numerosa comunidade sefardita, com a chegada, ao longo dos anos, de muitos cristãos-novos de Portugal e Espanha, fugidos da Inquisiçom, entre os que se contavam importantes mercadores e médicos (Fernando Mendes, Jacob de Castro Sarmento, António Ribeiro Sanches,...). Muitos destes Judeus portugueses eram bem sucedidos e atingiram posições proeminentes na sociedade britânica, assumindo um lugar destacado na Bolsa de Londres, bem como no comércio ultramarino da Inglaterra.

Em 1690 refugiados judeus asquenazitas da Polónia e Alemanha, em número pouco expressivo, foram ajudados polos sefarditas a emigrarem para a Grã-Bretanha, onde fixaram a primeira comunidade. Nessa altura havia cerca de 400 Judeus na Inglaterra, polo que os sefarditas permaneceram como a maior comunidade por mais dum século.

A comunidade sefardita prosperou e construiu em 1701 a sua primeira esnoga em Londres, chamada Bevis MarksNas suas atas ficaram registados variados nomes de famílias de origem ibérica, tais como: Montefiore, Lindo, Disraeli, Mocatta, Da Costa, etc. Em 1705 abriu-se umha imprenta de língua hebraica.

Grande Esnoga de Londres. Foto: Wikipedia
Os sefarditas portugueses contribuiram para a introduçom na Inglaterra do popular prato de peixe com batatas frias, pois até entom os ingleses nom utilizavam o azeite na comida.

No século XVIII o grupo dos Judeus portugueses tem umha sólida posiçom no comércio marítimo, tráfico de escravos e na alta finança. A sua presença, marcada pola extrema discriçom, tem um papel muito destacado no comércio têxtil, pedras preciosas e do tabaco em Londres. Na altura de 1734 por volta de 6.000 Judeus viviam na Inglaterra.

Os Judeus sefarditas continuaram a exercer cargos de grande importância na sociedade britânica, mas somente no século XIX, após umha gigantesca vaga de refugiados polacos e da Europa de leste, a composiçom demográfica da comunidade judaica britânica foi alterada e famílias asquenazitas, tais como os Rothschilds, se tornaram proeminentes. 

Por volta de 1912, um novo fluxo demográfico de judeus sefarditas chegou à ilha, desta vez desde a Turquia e Grécia, principalmente Salónica. Devido ao declínio do Império Otomano e o controlo de Salónica polos gregos, ocorre um enorme êxodo sefardita, com muitos partindo para os EUA, França e Inglaterra. Aqueles que chegaram a Inglaterra criaram umha nova comunidade separada da histórica de Bevis Marks, aceitando no entanto, autoridade da mais antiga.

Com a ajuda da Sinagoga Bevis Marks e da Fundação David Sassoon, a comunidade sefardita oriental conseguiu construir a sua própria sinagoga em Holland Park (Londres) no ano de 1928. Embora ambas as comunidades tivessem nas suas origens os Judeus de Espanha e Portugal, foi a Sinagoga Holland Park que manteve a sua herança histórica com idioma Judeo-Espanhol e o Ladino. Polo contrário, a Sinagoga Bevis Marks tinha as suas origens quase exclusivamente na língua portuguesa, em vez do Ladino.

Hoje, existem cerca de 10 sinagogas sefarditas na Grã-Bretanha com uma forte vida comunitária, grande parte delas situadas em Londres, mas a Bevis Marks continua a ser a sinagoga sefardita “per se”.

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