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domingo, 1 de fevereiro de 2015

JOSÉ FERNÁNDEZ VÁZQUEZ, O COMANDANTE SOTOMAYOR, UM GALEGO EM AUSCHWITZ

Este ano comemora-se o 70º aniversário da libertaçom polos soviéticos do campo de extermínio de Auschwitz. Neste artigo aproximamo-nos da figura de José Fernando Fernández Vazquez, o Comandante Sotomayor, um galego que esteve nesse campo da morte industrial desenhado polo nazismo.
O Comandante Sotomayor fardado com o uniforme usado para o sequestro do Santa María
FOTO: blogue de Farruco Sesto
Como é que chegou a Auschwitz?
Militar republicano, no fim da guerra civil espanhola acabou internado no campo de refugiados de Saint Cyprien na França. Iniciada a Segunda Guerra mundial, com umha França ocupada, participa na resistência francesa contra os nazistas. 


Detido pola GESTAPO, foi deportado como prisioneiro para o campo de concentraçom de Auschwitz onde realizou trabalhos forçados. No momento da sua libertaçom polas tropas soviéticas em abril de 1945, mal pesava 37 quilogramos.
Inícios
José Fernández Vázquez nasceu na Póvoa do Caraminhal en 1904. 
Filho de António Sottomayor e de Maria Portela. De pequeno “lia mais do que dormia”, segundo os que o conheceram.

De ofício pedreiro, sendo moi novo aderiu voluntário á Marinha espanhola, entom enquadrada ao serviço dum regime monárquico.
Engajamento político
Sendo alferes de navio, à idade de 24 anos é confinado para Marrocos pola sua militancia republicana durante a ditadura militar de Primo de Rivera (1923-30).
En 1930 abandona o exército depois do seu envolvimento na Sublevaçom republicana de Jaca. A escolha que enfrentara era entre deixar o exército ou ser submetido a um conselho de guerra.

Depois de receber influência ideológica da revoluçom russa, filia-se ao PSOE e em 1931 participa na constituiçom da Agrupaçom Socialista da P. do Caraminhal. Com a implantaçom da República, em abril 1931, constitui uma junta municipal revolucionária que tenta impedir a tomada de posse do alcalde de Caraminhas, eleito na lista monárquica.

Em 1932 publica o livro "Ideias socialistas" em que aponta ideias sobre a técnica do golpe de Estado e em 1933 abandona o PSOE para ingressar no Partido Comunista de Espanha (PCE). Nas eleições gerais de novembro desse ano candidata-se por esse partido sem conseguir ser eleito.

Guerra civil
Ao se produzir o golpe de estado nazi-fascista de julho de 1936 morava em Vila-Garcia de Arousa, onde tentou organizar a resistência ao levante militar. É elevado para tenente de navio com a misom de defender a ria de Arousa. Porém, a rápida vitória das forças fascistas na Galiza faz com que se tenha de refugiar na serra do Barbança.

Lá ficou com um grupo de milicianos armados até outubro de 1937, altura en que foge para Portugal, onde colaborou, no Porto, no afundamento dum buque da Kriegsmarine carregado com armamento para o bando franquista.
Toma rumo para a França, chegando a Bordéus a 12 de dezembro desse mesmo ano. Logo a seguir consegue passar de novo para a zona republicana. Em Barcelona reincorpora-se na marinha republicana e participa nas ações navais do Mediterrâneo, destacando a sua atuaçom no afundamento do cruceiro franquista "Baleares" em março de 1938. 

Nessa altura é conhecido como Noé ou Jorge de Sotomayor (Soutomaior). Diz que adotou esta alcunha porque achava que os Sotomayor, antiga linhagem nobiliária galega, faziam parte dos seus antepassados, o que diz muito da sua personalidade mitómana e imaginativa.

Antes do fim da guerra foi destinado como Adido Naval para a embaixada da Espanha republicana em Paris.

Após a Segunda Guerra mundial
Logo a seguir da sua libertaçom do campo de Auschwitz instala-se em Paris, onde trabalha como operário de montagem na fábrica automobilística Renault. Lá integra-se em agrupações e entidades republicanas do exilo. 

Em 1948 abandona a sua militância no PCE como medida de protesto polo abandono da resistência armada polos comunistas espanhóis.

Nessa altura emigra para Venezuela, onde é acolhido em Puerto Caballo e realiza vários trabalhos como motorista gabarra, eletricista na construçom e serrador de madeira. Também atua politicamente nas organizações "Libertad para España" e "Lar Galego". Assim sendo, entra em contato com Xosé Velo Mosquera, militante galeguista refugiado e que fundara a Uniom de Combatentes Espanhóis Antifranquistas Nacionalistas Galegos. 

Com elementos do antisalazarismo (Henrique Galvão) em 1959 fundaram a Direçom Revolucionária Ibérica de Libertação (DRIL).
O Santa María
Entre o 22 de janeiro e 2 de fevereiro de 1961 participou, juntamente con Xosé Velo e Humberto Delgado, no comando formado por 24 pessoas que sequestrou o Santa Maria, um navío transatlântico propriedade do Estado português. O sequestro do Santa Maria, que chamou amplamente as atenções internacionais, alvejaba o derrocamento das ditaduras franquista espanhola e do Estado Novo português. 
Nom conseguiram os seus objetivos, mas obrigaram a intervir à ONU e aos EUA que, após umhas duras negociações, conseguiram que o sequestro acabasse sem vitimar pessoas e os seus assaltantes em total liberdade.

Como o resto de companheiros, o Comandante Soutomaior obteve asilo político no Brasil, pais onde mora até 1962, decidindo regressar a Venezuela perante a perda de força da DRIL. Porém, é expulso por dar treinamento militar a membros do MIR.

Posteriormente, entre 1963-68 passou uns anos em Cuba, onde lecionou como professor universitário.
Foi membro permanente do Grupo Latino-Americano da Tricontinental (Organizaçom de Solidariedade dos Povos da África, Ásia e América Latina), viajando como representante a China, Laos, Camboja e Vietname, países onde se desenvolve a revoluçom comunista.

Últimos anos
Em 1979 regressa ao Estado espanhol para apresentar o seu livro de memórias (Eu roubei o Santa Maria).




Casado em primeiras núpcias com Eva Villalonga, de quem teve um filho: Franklin. Casa em segundas núpcias com Margarita Ackermann, umha alemã, de quem terá dous filhos: Federico e Enrique; Casa pola terceira vez, em 1958, com Sacramento de Jesus Peña.
Finou em Caracas em 11 de fevereiro de 1986.


Homenagem

Sob o título "Umha travessia no século XX", em 2007 umha exposiçom organizada polo Arquivo da Emigraçom Galega do Conselho da Cultura Galega (CCG) lembrou a figura do Comandante Sotomayor com umha parte dos fundos cedidos ao CCG por Federico Fernández Ackermann, um dos seis filhos de Soutomaior.

Os fundos constam de material gráfico, correspondência entre o Comandante Sotomayor e Celso Emílio Ferreiro, José Velo, documentaçom pessoal que recolhe os treze dias do sequestro do Santa Maria. Esta exposiçom evidencia as relções entre os exilados galegos e portugueses na América.

Mais informações: 

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