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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

ISRAEL, OS JUDEUS E A GUERRA DA SÍRIA

Surpreende alguém que Bashar Assad e os seus aliados iranianos e do Hezbollah ameacem com "retaliações" a Israel se o Presidente Barack Obama levar adiante a sua ameaça de atacar o regime sírio? Desde há muito tempo o Estado judeu desempenha no Próximo Oriente o papel de bode expiatório para os ditadores árabes em dificuldades, mas ninguém se pergunta: como é que ousam ameaçar com "retaliaçom" contra uma naçom que nom tem qualquer envolvimento na sua guerra civil? 

O regime ditatorial da dinastia Assad é o responsável primeiro e direto da destruiçom da Síria, do sofrimento da sua populaçom e de todas as consequências humanas, políticas e regionais derivadas disso. Som as forças de Assad as que bombardeiam e lançam mísseis à sua própria populaçom, -chegando mesmo a bombardear campamentos de refugiados palestinianos-, que tortura sistematicamente o seu povo e degolam mulheres e crianças, capaz de arrojar gás sarin ou qualquer outra substância letal sobre os seus cidadãos.

Porém, o mais chocante, som os antissionistas e apologistas da Síria na Europa e nos EUA, que já lançaram o seu próprio ataque preventivo acusando tanto a Israel quanto aos judeus americanos de fomentar umha nova guerra dos EUA no Próximo Oriente. Estes antissionistas e apologistas do regime ditatorial da Síria saem à rua com um "nom à guerra", como se nom existisse umha guerra desde há dous anos, estiveram calados sobre os crimes do regime sírio ou, pior ainda, praticaram o mais abjeto negacionismo. A julgar polas suas arrebatadas denúncias, vibrantes de autoridade moral, o exército dos EUA estaria preste a bombardear um país próspero e calmo, dirigido por um governo muito popular cujo único crime seria o de "resistir" as insidiosas agressões de Israel. "Esta indignaçom moral dalguns anti-imperialistas, -confessa Santiago Alba Rico-, ressoa nos meus ouvidos tam odiosamente hipócrita como as invocações de da democracia e o humanismo" dumha potência como os EUA.


O silêncio dumha parte da esquerda perante a guerra civil síria confirma a tese enunciada por BHL -e referida por J.L. Carod-Rovira- segundo a qual, para segundo quem, "o único muçulmano bom é o que vai contra Israel". O resto, neste caso as vítimas do regime de Assad, árabes todas, nom contam nem interessam nada: que se matem entre eles.

Pola sua vez, as acusações contra o Estado de Israel na guerra da Síria som tam contraditórias que coexistem tanto as que responsabilizam a Israel pola tentativa de ataque americano quanto que o Estado judeu é o garante da permanência dum regime (o da família Assad) por ser um "factor de estabilidade" no Próximo Oriente apesar da sua retórica antissionista que nunca se concretiza. Assim sendo, pola sua originalidade cabe destacar a tese formulada pola organizaçom galega ANOVA-IN, ligando a guerra civil síria com o conflito israelo-palestiniano nos seguintes termos: "Estamos perante umha repetiçom da macabra história que já conhecemos no Iraque, Afeganistám, Líbia e que responde aos mesmos interesses que impedem um estado palestiniano e que amparam a política agressora inumana do Estado de Israel, ou que provocam o caos nas nações árabes que tentam estabelecer regimes democráticos ao serviço das suas cidadanias".


Embora seja certo que alguns judeus americanos do Comité de Assuntos Públicos EUA-Israel (AIPAC) apoiam umha açom militar limitada para punir o uso de armas químicas do regime sírio, a decisom de nom realizar esse ataque mostra até que ponto som falsas as teorias conspiratórias sobre o poder do lobby judeu/sionista nos EUA tam estendida na extrema direita esquerda como na chamada esquerda anti-imperialista.

A acusaçom contra os judeus é um clássico da extrema-direita,
retomada pola esquerda anti-imperialista contra o Estado de Israel
A acusaçom dos "judeus como belicistas" nom é nova. Nos anos 1920, podia-se comprar um Modelo T numha concessionária Ford por 250$ e obter por 0,25$ umha cópia dos quatro volumes d'O Judeu Internacional, umha imitaçom americana dumha notável falsidade, Os Protocolos dos Sábios de Siom. Os leitores d'O Judeu Internacional aprenderam que "o truste judeu do licor" monopolizava o negócio da cerveja ou que o jazz era "idiota música iídiche." Mas essas acusações eram bagatelas comparadas ao Ford do pós-Primeira Guerra mundial que abraçou o "antigo ditado" de que "as guerras som colheita dos judeus ".

Ecoando o libelo de que todas as guerras foram fabricados numha linha de montagem judia, um admirador de Henry Ford, Adolf Hitler, advertiu à "Judaria Mundial" em 30 de janeiro de 1939 que: "Se os financeiros judeus internacionais dentro e fora da Europa deve conseguem mais umha vez mergulhar as nações numha guerra mundial, entom o resultado nom será a bolchevizaçom da terra levando à vitória da Judaria, mas a aniquilaçom da raça judia na Europa!". Em 1945 seis milhões de "belicistas" judeus europeus, desprovidos de qualquer território e de exércitos para ameaçar ninguém, tinham sido assassinados polas forças de Hitler.

No nosso tempo o libelo tóxico de Ford e do fuhrer de que "as guerras respondem a interesses judeus" é retomado e aplicado no Próximo Oriente: 

1. Um grupo heterogéneo de teóricos da conspiraçom, que vam de Lyndon LaRouche a Pat Buchanan e de Louis Farrakhan a Mel Gibson, responsabilizaram pola derrubada americana de Saddam Hussein em 2003 aos israelitas e aos "neo-cons judeus", apesar do facto de que o governo israelita tinha dúvidas sobre a oportunidade de se concentrar principalmente no Iraque em vez do Irám e de que George W. Bush, Dick Cheney e Donald Rumsfeld ainda formam acusados de ser judeus.

2. Mais recentemente durante o debate no Reino Unido sobre o ataque ao regime sírio, o deputado britânico George Galloway, apoiante conhecido de Saddam, Hezbollah e do Hamas, colocou a questom: "De quem é a responsabilidade polo recente ataque de armas químicas na Síria?... Se houve o uso de armamento química, nom foi o al-Qaeda... Eis a minha teoria. Israel entregou-lhes as armas químicas".

3. William Polk, um antigo funcionário do Departamento de Estado no Próximo Oriente e experiente contrário a Israel, num artigo em "The Atlantic", responsabilizou o Mossad israelita por falsificar umhas transcrições gravadas às autoridades sírias sobre o uso armamento de destruiçom maciço. Polk também culpabilizou o Estado judeu, sem qualquer evidência, de usar armas químicas no Líbano e em Gaza.

4. Bob Dreyfus na revista "The Nation", que nas décadas de 1930 e 1940 suportou o totalitarismo estalinista antes, durante e depois do Pacto Hitler-Estaline, revela "o lobby que está por trás da tentativa dumha guerra ilegal e estrategicamente incompetente contra a Síria e que nada a tem a ver com a Síria", mas que se trataria dumha conspiraçom israelita para empurrar o ingênuo Obama a umha guerra contra o regime islamista do Irám.

5. O blogueiro Andrew Sullivan acusa a AIPAC de "pressionar [a Casa Branca] para se envolver numha grande guerra no Próximo Oriente".

Na década de 1980, Saddam Hussein usou gás venenoso para assassinar milhares de Curdos iraquianos. Simon Wiesenthal advertiu entom que todos iríamos pagar um preço polo nosso silêncio face o crime do tirano contra a humanidade. Agora Assad retomou a página da antologia de assassinato em massa de Saddam. Muitos de nós acreditamos, como os presidentes Barack Obama e François Hollande à frente, que nom agir agora pode trazer umha guerra mais ampla e mais mortal mais tarde. Por enquanto nom se eliminar o arsenal de armas químicas do regime sírio ao abrigo do acordo russo-americano, a ameaça de ataque à Síria por estas duas democracias ocidentais paira sobre a mesa.

Mas, seja qual for o resultado, umha cousa é certa: aos olhos de muitos, os judeus já som culpados.

Artigo redigido a partir das informações de Harold Brackman, historiador e consultor do Centro Simon Wiesenthal, publicadas no Jerusalem Post.

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