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sábado, 19 de abril de 2025

O AUMENTO DEMOGRÁFICO DA JUDIARIA PORTUGUESA

 Maria José Ferro Tavares

É muito difícil de quantificar a populaçom judaica portuguesa. No entanto, se colocada em paralelo com a minoria moura, é obrigado concluir que ela se apresentava com umha maior densidade demográfica e com umha tendência sempre contínua para crescer. Este facto é facilmente observado polo aumento do número de comunas e de Judiarias, no reino, assim como pola expansom, no espaço cristão do concelho, dos seus bairros. Pode-se afirmar que, entre os finais de Trezentos e a data da expulsom, a populaçom judaica quintuplicou o número das suas comunidades que de, cerca de 30, passaram a cerca de 150.

Comunas judaicas em Portugal no século XV

Este crescimento populacional é explicado polas imigrações, provocadas polas expulsões ocorridas noutros reinos cristãos, como a Inglaterra e a França de que ficou a memória nos apelidos Inglês e Francês ou Franco e, sobretudo, polas vicissitudes porque passaram os indivíduos da minoria nos reinos de Aragom/Catalunha e Castela, durante o século XIV, que motivariam a deslocaçom temporária ou definitiva para Portugal.


A comprovar esta imigraçom encontra-se a onomástica de origem toponímica, como, por exemplo, Catalão, Navarro, Aragonês, Castelão, de Nájera, de Valença ou Valencim, Sevilhano, Toledano, etc, onde o verdadeiro apelido judaico da família foi substituído polo da indicaçom de proveniência.


Outra explicaçom possível do aumento demográfico residia na constituiçom da própria família, onde um elevado número de filhos conseguia atingir a idade adulta. De facto, encontram-se agregados familiares com mais de dez filhos, andando a média polos 4/5 filhos por casal. Raros eram os lares onde o número de filhos era diminuto, um ou dous, e neste caso a família era rica, polo que havia um património que se procurava fragmentar ao mínimo.


Assim, pode-se afirmar que a imigraçom de Trezentos, a grande prole e os descobrimentos portugueses contribuíram para o seu crescimento demográfico que, em finais do século xv, deveria rondar os 30.000 indivíduos, espalhados por todo o reino com especial incidência em Lisboa, Évora, Porto e Santarém, as quatro maiores comunas portuguesas.


Esta populaçom de Judeus portugueses viu-se, subitamente, perturbada e atingida pola instabilidade social provocada polo édito de expulsom dos judeus castelhanos, em 1492.


Com autorizaçom de D. João II e contra a opiniom do conselho régio e dos povos, aqueles puderam utilizar, na sua maioria, Portugal como lugar de passagem para o norte de África ou para as cidades italianas; outros, as designadas «600 casas» ou famílias receberam permissom para permanecer no reino. Dum momento para o outro, a populaçom judaica duplicou senom triplicou, trazendo consigo consequências graves para a minoria de origem portuguesa.


Maria José Pimenta Ferro Tavares (Lisboa, 1945) é umha historiadora e professora portuguesa, especialista na história dos Judeus e dos cristãos novos em Portugal. Em 1998 foi a primeira reitora dumha universidade ou instituiçom de ensino superior em Portugal. As principais obras dela são "Os Judeus em Portugal no século XIV", Lisboa, Guimarães Editores (2000) e "Os Judeus em Portugal no século XV", Universidade Nova de Lisboa  (1982-1984).

Fonte: Linhas de Força da História dos Judeus em Portugal UNED


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