Páginas

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

IDIOTAS ÚTEIS

 Xavier Diez

“Idiotas úteis” é um conceito atribuído a Lenine –apesar da falta de provas documentais–. É utilizado para definir aquela pessoa ou grupo que luta por umha determinada causa com base na justiça que o inspira, e que nom tem a capacidade de compreender plenamente as consequências das suas ações e é cinicamente manipulado por atores políticos que perseguem objetivos ocultos e perversos, os quais podem ser de natureza extremista ou totalitária. É umha expressom frequente desde a guerra fria e foi utilizada para identificar aqueles intelectuais ou ativistas em defesa de causas nobres: a paz mundial, o desarmamento, a desnuclearizaçom, as guerrilhas latino-americanas… sem compreender que o KGB estava por detrás, profundamente infiltrado nas estruturas da esquerda ocidental, que utilizou esta estratégia para enfraquecer o seu rival geopolítico.

Os idiotas úteis e a manipulaçom do movimento pró-palestiniano

Nom é precisa muita imaginaçom para ver que o movimento palestinista liga perigosamente esta tradiçom de manipulaçom perversa dos bons sentimentos e melhores intenções das pessoas por aqueles espaços políticos que têm a sua própria agenda com objetivos incompatíveis com o sentido inerente de justiça que inspira a maioria dos ativistas. Sobre esta questom, o conflito israelo-árabe pode ser analisado de inúmeras formas e os factores são tão diversos que é praticamente impossível ter umha posiçom minimamente coerente e rigorosa. A própria polarizaçom que se regista, sobretudo na nossa casa, torna utópica umha abordagem equitativa e imparcial. E já vemos que o confronto entre os admiradores da força brutal e descontrolada de Israel, e os que defendem a extinçom prática dos Judeus (o lema do “rio para o mar” é umha poetizaçom, na melhor das hipóteses, da limpeza étnica), impedir qualquer debate com as garantias mínimas de civismo.

MADRID: Resistência Islâmica. Os Nossos Heróis Nacionais. upraestado unificado de países islâmicos. Exército islâico global único. Destruamos Israel e a NATO

Numha época em que a polarizaçom normaliza o insulto, a ameaça, a desqualificaçom ou o cancelamento, qualquer pessoa que escreva sobre umha questom complexa como esta é como jogar futebol num campo minado. Na verdade, a este respeito, nom parece que tenhamos ultrapassado a era da guerra fria, quando muitos são fervorosos defensores de tornar pessoal tudo o que é meramente político, e quando expor o que nom se quer ouvir nom representa um incitamento ao diálogo e à reflexom, mas umha perigosa dissidência que deve ser combatida através da repressom e do ostracismo. E, nesse sentido, infelizmente a maior parte da esquerda nom amadureceu e continua com esta captura entre a inocência infantil e a suscetibilidade dum adolescente mimado e irritadiço.


Estará Israel a fazer o que está certo em Gaza e na Cisjordânia? Nom. Os ataques indiscriminados contra civis nom só são reprováveis, como podem constituir determinados crimes de guerra. A retaliaçom colectiva contra as famílias é ilegal e imoral, tal como o é a ocupaçom ilegal e ilegítima de terras palestinianas por colonos. As detenções arbitrárias e indefinidas vão contra o direito internacional e a mais elementar moralidade. Ora, e em termos menos legais e mais sentimentais, o que podemos pensar quando vemos que todos os selvagens que raptaram, violaram, torturaram e assassinaram brutalmente Shani Louk, a jovem de dezanove anos capturada polo HAMAS a 7 de outubro, e que foi exibida numha imagem conhecida, todos foram eliminados, um após outro? Embora se possa ser contra a pena de morte ou execuções extrajudiciais em abstrato, imagino que muitas feministas ficarão encantadas com o facto de estes monstros terem recebido umha puniçom proporcional ao seu crime. Embora ações como estas vão contra as nossas convicções, há situações em que qualquer pessoa normal pode deixá-las estacionadas para satisfazer um sentimento natural de vingança.

Todas as bestas que assassinaram Shani Louk foram eliminadas por Israel


Para além dos crimes que o Estado de Israel e as suas forças armadas podem cometer diariamente, e para além de que a independência palestiniana é umha causa louvável e legítima (eu sempre defendi a soluçom de dous Estados como a menos má possível), temos de falar sobre os idiotas úteis. E, de facto, e dumha forma suspeitamente semelhante à era da guerra fria, nom é necessário ter grande clarividência política de que existe umha clara manipulaçom do movimento polo islamismo político. Já se viu em diversas manifestações, onde nom se gritam apenas palavras de ordem a favor do genocídio que denunciam o seu adversário ("do rio ao mar" representa um programa inequívoco para se livrar dos oito milhões de Judeus que vivem dentro das fronteiras do seu Estado), mas sim a proliferaçom de supostos "véus islâmicos" -na realidade, símbolos políticos que defendem a imposiçom do Islão nas suas sociedades paralelas e expansionismo, como já foi experimentado com o Daesh na Síria– estabelecem objetivos políticos claros que são claramente contrários aos dos manifestantes ocidentais. E isto, apesar de nom terem consciência disso ou, polo véu dos seus preconceitos, se recusarem a vê-lo

O palestinismo usa simbologia política islamista

E chegámos a Amesterdão e aos incidentes que se seguiram ao jogo da Liga dos Campeões entre o Ajax e o Maccabi Telavive. Para além do facto inerente de que qualquer explosom de violência tem elementos confusos e está repleta de claro-escuro, a dura realidade é que a caça de cidadãos israelitas polas mãos de rapazes muito jovens, a maioria dos quais pertencentes à comunidade muçulmana do país, recordou ser perigosa e terrivelmente perigosa. Que isto tenha acontecido na cidade de Anne Frank, muito perto do aniversário da Noite dos Cristais, o facto perturbador é que aquela noite de extrema violência ocorreu num país abalado por tensões intercomunitárias. Recorde-se que foi em Amesterdão que o cineasta Theo Van Gogh foi morto por um islamista em 2004 por causa do filme “Submissom”, umha curta-metragem de dez minutos em que denunciou, com base no testemunho do escritor e ativista Ayaan Hirsi Ali, violência contra as mulheres nas sociedades islâmicas. Isto num país onde Geert Wilders, com um programa eleitoral anti-imigraçom (especialmente muçulmana) ganhou as últimas eleições e o seu partido está no governo.


De qualquer modo, é de notar que os ataques de 7 de outubro a Israel, às mãos do HAMAS, e a subsequente repressom às mãos do exército, envolveram umha situaçom extrema em que as tensões intercomunitárias estão a abalar politicamente as sociedades europeias. A título de exemplo, e de acordo com o relatório anual do Ministério do Interior francês, durante o ano de 2023 ocorreram 2.772 incidentes violentos relacionados, dos quais 1.676 foram de natureza antissemita, 854 de natureza anti-cristã e 242 de natureza natureza anti-cristã anti-muçulmana De qualquer modo, é óbvio que isto também se reflecte na política a partir do surgimento do crescimento daqueles partidos cuja hostilidade à imigraçom em geral, e aos muçulmanos em particular, é um dos principais pontos programáticos.


E os ativistas pró-palestinianos? Como dissemos, a louvável causa da independência palestiniana, como qualquer outra independência de um povo para ter um Estado, esconde o facto da manipulaçom do movimento do extremismo do HAMAS e dos interesses geopolíticos do Irão, numha era de reequilíbrio internacional, em que os estudantes de Maquiavel nom hesitam em gerar conflitos por procuraçom (ou guerras por procuraçom) em que a populaçom civil é sacrificada como carne para canhom (como nom é fazer ao HAMAS ou ao Hezbollah). Já expliquei em mais do que umha ocasiom que detesto o conceito de “terrorista” polo abuso que o poder lhe tem feito. Contudo, o HAMAS poderia ser considerado umha organizaçom terrorista, como foi visto antes, durante e depois do 7 de outubro. Umha organizaçom que tem umha agenda totalitária, em que pretende impor um califado universal, umha teocracia política e fazer da Sharia o código que regula umha sociedade islamizada. E a sharia representa, fundamentalmente, umha aberraçom jurídica, que reduz a condiçom feminina a umha minoria permanente de idade, ou que reconhece a discriminaçom religiosa como um princípio jurídico, impede a menor liberdade pessoal e impõe umha brutalidade medieval.

O islamismo é umha ideologia totalitária contrária aos direitos humanos

Apesar dumha retórica sedutora, a realidade é que este tipo de ativistas envoltos na bandeira palestiniana nom têm realmente consciência de quem estão a interpretar. Ou, pior ainda, como na era da guerra fria, fazem da política umha religiom substituta (na França o termo "islamo-esquerdista" tornou-se popular) o que implica a desqualificaçom ou intimidaçom daqueles que nom concordam com os seus slogans  E que muitas vezes, quando discordas dos seus postulados, mandam-te para a polícia moral.


Traduçom livre do catalão para o galego-português por CAEIRO.


Sem comentários:

Enviar um comentário