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sexta-feira, 5 de julho de 2024

A SUPER-MAIORIA TRABALHISTA NAS ELEIÇÕES NO REINO UNIDO E A QUESTOM JUDAICA

 A eleiçom de 4 de julho para a Câmara dos Comuns resultou numha vitória esmagadora para o Partido Trabalhista liderado por Keir Stamer com a eleiçom de 411 assentos, sendo a primeira vitória do Partido Trabalhista, com 33,8% de votaçom, numha eleiçom geral em 19 anos.

Keir Stamer e a sua mulher Victoria, de origem judaica

O Partido Conservador governante (121 mandatos e 23,7%), sob o Primeiro-Ministro Rishi Sunak, perdeu mais de 245 assentos, encerrando o seu mandato de 14 anos como o principal partido. Os Liberal-Democratas (71) e o Reform UK (4) tiveram ganhos significativos (12,2% e 14,3%, respetivamente), enquanto o Partido Nacional Escocês (SNP), com 9 lugares, perdeu 38 mandatos.

Deputados judeus eleitos

Um total de 13 deputados judeus foram eleitos em todo o Reino Unido enquanto os trabalhistas chegavam ao poder em meio a um colapso abrangente do voto conservador.

Em Londres, foram eleitos 4 candidatos trabalhistas pola primeira vez: Sarah Sackman (eleita pola circunscriçom mais judia do país, Finchley e Golders Green), Ben Coleman (por Chelsea and Fulham), Georgia Gould (Queen's Park & Maida Vale) e David Pinto-Duschinsky (Hendon). No norte da Inglaterra, Josh Simons, também foi eleito por Makerfield e Peter Prinsley por Bury St. Edmonds. 


Os 6 novos deputados eleitos somam-se aos outros 6 que já eram membros do parlamento: 

  • Alex Sobel, reeleito em Leeds Central and Headingley
  • Fabian Hamilton, reeleito em Leeds North East
  • Damien Egan, reeleito em Bristol Nordeste depois de ganhar a cadeira numha eleiçom suplementar
  • Charlotte Nichols, eleita em Warrington North
  • Matthew Patrick, eleito em West Wirral
  • Ed Miliband, ex-líder trabalhista e secretário de Estado paralelo para Segurança Energética e Net Zero, também foi reeleito.

Apenas um candidato conservador judeu foi eleito deputado, Sir Julian Lewis (New Forest East), ex-presidente do comité seleto de defesa e que representa a cadeira desde 1997.

Entre os deputados judeus do Partido Conservador que perderam os seus assentos estão Grant Shapps (secretário de Defesa chumbado por pouco menos de 3000 votos em Welwyn Hatfield), Sir Michael Fabricant (derrotado em Lichfield por apenas 800 votos). Outros três renunciaram a candidatar-se: Sir Michael Ellis, ex-procurador-geral da Inglaterra e País de Gales, Robert Halfon, ex-diretor político dos Amigos Conservadores de Israel, e Andrew Percy (converso ao judaísmo em 2017) e foi vice-presidente dos Amigos Conservadores de Israel.


Desafios do novo governo

O novo governo encara dous desafios principais: a extrema-direita nacionalista e anti-europeia do partido Reform UK de Nigel Farage e o movimento dos independentes do The Muslim Vote (TMV), umha organizaçom profundamente radical cujos líderes incluem vários apologistas declarados do massacre terrorista do HAMAS de 7 de outubro.


Ambos fizeram incursões profundas na votaçom central do Partido Trabalhista. O Reform UK pode ter conquistado apenas quatro assentos, mas a sua quota de 14,3% dos votos ficou dous pontos à frente dos Liberais-Democratas. No contexto da vitória desproporcional do Partido Trabalhista, a decepçom do Reform UK só pode minar a fé no sistema eleitoral do tipo "first-past-the-post" que historicamente concedeu ao Reino Unido governos estáveis, ao mesmo tempo que impediu que extremistas ganhassem o poder. Farage certamente usará os seus consideráveis ​​dons retóricos para explorar isto, e poderá assim minar o sentido de legitimidade de que o Partido Trabalhista necessita para funcionar eficazmente no governo.


O Reform UK ficou em segundo lugar em dezenas de círculos eleitorais, especialmente nas regiões desfavorecidas do “muro vermelho” que transitoriamente se tornaram conservadoras em 2019. Isto ainda está a algumha distância do desejo expresso de Farage de se tornar líder do principal partido da oposiçom na altura das próximas eleições gerais em 2029. Mas com os conservadores num estado tão esmagado e enfraquecido, nom admiraria algum tipo de fusom ou “aquisiçom reversa” caso o próximo líder conservador nom obtivesse umha boa pontuaçom nas sondagens de opiniom e nas eleições locais nos próximos meses e anos à frente.


Relativamente às ameaças apresentadas polo Voto Muçulmano organizado em TMV e os sucessos dos seus três candidatos nas eleições, referir que a campanha anti-sionista e anti-Israel desse movimento conseguiu derrotar dous ministros do gabinete paralelo, Jon Ashworth e Thangam Debbonaire, e quase barrar a eleiçom de outros dous membros-chave da administraçom de Starmer, Wes Streeting e Shabana Mahmood. O TMV estará bem posicionado para levar para casa o caso da sua longa lista de exigências –nom apenas um cessar-fogo imediato em Gaza e o fim da venda de armas a Israel-, mas novas leis contra a islamofobia que podem muito bem ameaçar a liberdade de expressom.

No entanto, há um ponto mais importante a ser apreciado, que requer umha avaliaçom do resultado eleitoral como um todo. Muitas cousas consternaram a comunidade judaica do Reino Unido desde que surgiram as primeiras notícias do terrível massacre de 7 de outubro: o horror simples, desolador e irremediável do que o HAMAS fez; o sofrimento tanto dos palestinianos como dos israelitas na guerra em curso que ainda parece invencível; as perspetivas, agora cada vez mais próximas, dum conflito em grande escala com o Hezbollah no norte de Israel. É claro que também chocou muito a explosom do discurso antissemita e dos incidentes antissemitas no Reino Unido, e com o contínuo fracasso dalguns nom-judeus em mostrar o menor sinal de empatia ou compreensom. 

Jeremy Corbyn, velho líder trabalhista, conseguiu ser eleito como candidato independente graças a umha campanha baseada no palestinismo e anti-Israel

Porém, até à data, a política britânica tem-se revelado impressionantemente resistente a todos os tipos de extremismo. Na década de 1930, enquanto a economia do Reino Unido definhava na recessom, nem o fascismo nem o comunismo de estilo soviético conseguiram muito mais do que umha posiçom marginal.


O trabalhismo pode ser confiável novamente para os Judeus

Nas vésperas das eleições Mike Katz, presidente do Movimento Trabalhista Judaico (JLM), assinava num artigo de opiniom no The Jewish Chronicle (TheJC) afirmando que "O trabalhismo pode ser confiável novamente" que a seguir reproduzimos na íntegra:


"Como posso ter certeza?"

Isso é o que às vezes –mas nem sempre– ouço quando investigo os lares judeus nesta eleiçom. Como podem eles ter a certeza de que o Partido Trabalhista mudou para sempre?

Para mim, tendo visto de perto as mudanças que Keir Starmer trouxe no Trabalhismo, é óbvio.


Desde as suas primeiras palavras quando se tornou líder em 2020, quando o país tinha acabado de entrar em confinamento, ele poderia ter-se concentrado no combate disso. Em vez disso, ele apresentou um pedido de desculpas à comunidade judaica pola crise de antissemitismo que o envolveu.


Keir tem sido inabalável na sua tolerância zero ao antissemitismo. Ele entendeu que, no fundo, esta era uma cruzada moral para um partido que sempre se orgulhou de ser um partido de igualdade e tolerância para com as minorias.

Para o Movimento Trabalhista Judaico (JLM), a voz filiada dos Judeus no partido durante mais dum século, quando ele se tornou líder foi como se um interruptor tivesse sido ligado. Da noite para o dia, passamos de marginalizados, ignorados e iluminados a gás para sermos um parceiro vital para a equipa de Starmer, consultados juntamente com outras organizações comunitárias no significativo processo de mudança.


Demitir Rebecca Long-Bailey por compartilhar um artigo contendo umha teoria da conspiraçom antissemita. Proibir a adesom a organizações que negavam o antissemitismo trabalhista. Retirar o chicote de Jeremy Corbyn quando este negou a extensom do antissemitismo exposto no relatório sem precedentes e condenatório da Comissom para a Igualdade e os Direitos Humanos. Tirar o apoio dum candidato eleitoral, mesmo que isso significasse perder a cadeira -algo que nengum grande partido jamais fez. Demissom de candidatos parlamentares que compartilham conteúdo odioso.


Vez após vez, Keir Starmer demonstrou o seu compromisso em combater o ódio antijudaico e em tornar o Partido Trabalhista um espaço seguro para os Judeus mais umha vez.


Com a ajuda do JLM (e muitas das nossas sessões de formaçom ministradas a todos, desde o Gabinete Paralelo até aos membros comuns), houve umha mudança cultural em todo o partido. Os candidatos moderados vencem eleições e seleções internas, controlando órgãos vitais como o Comité Executivo Nacional. O grupo Corbynite Momentum é um flush quebrado. Quem nom gosta é mandado embora.


Parafraseando Tony Blair, ninguém pode ter dúvidas de que Keir lidera o seu partido – enquanto Sunak é liderado polo seu.


Desde a atrocidade terrorista de 7 de outubro, as cousas ficaram mais difíceis. Mas –ao contrário de 2019– o aumento que vimos no antissemitismo nom é puramente produto de maus atores do Partido Trabalhista. É um problema da sociedade e um problema que todos precisamos resolver.


Francamente, estávamos preocupados com a recepçom que receberíamos na Conferência Trabalhista, que começou no dia seguinte àquele acontecimento horrível. Mas a reaçom, de todos, foi de empatia e apoio. A vice-líder Angela Rayner introduziu o minuto de silêncio e podia ouvir-se um alfinete cair no salom lotado. Membros comuns do partido fizeram fila ao redor do quarteirom para participar da vigília dos Amigos Trabalhistas de Israel.


Embora muitos membros trabalhistas –tal como muitos Judeus– olhem com horror para o impato da guerra em Gaza, a posiçom do Partido Trabalhista é consistente com a do nosso governo e, mais significativamente, com a dos Estados Unidos. Os reféns têm de ser libertados, precisamos dum cessar-fogo e de ajuda humanitária como prelúdio para um acordo de paz a longo prazo entre dous Estados.


No seu manifesto, o Partido Trabalhista repetiu o seu compromisso de reconhecer um Estado palestiniano apenas “como um contributo para um processo de paz renovado” –nom unilateralmente ou como um golpe do primeiro dia. Como Keir costuma dizer, sob a sua supervisom, o Trabalhismo tornou-se um partido de poder, nom de protesto.


E Keir entende bem os medos da nossa comunidade sobre o ódio nos protestos. Na conferência emblemática do JLM no início deste ano, falando sobre marchas, ele disse que quando a comunidade vê “pessoas que odeiam os Judeus, escondendo-se atrás de pessoas que apoiam a causa justa dum Estado palestiniano, vemos o que vocês veem... deixem-me assegurar-vos que nunca deixaremos que o antissemitismo volte furtivamente ao Partido Trabalhista disfarçado. Nom vejo causa maior na minha liderança do que esta. Este é o meu papel.”


Politicamente, estruturalmente e culturalmente, o Partido Trabalhista mudou. Nós, no JLM, ajudámos a concretizar essa mudança, por isso o Partido Trabalhista estava em condições de mudar o país para melhor. E, com umha série de membros e aliados do JLM concorrendo às eleições na quinta-feira, estamos firmemente na vanguarda dessa mudança.


Entretanto, temos um partido Conservador que nom conseguiu proibir grupos terroristas como o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irão (IRGC) -como os Trabalhistas prometeram fazer- e que zomba de Keir por querer respeitar a herança judaica da sua esposa e reservar um tempo para passar a sexta-feira de jantar noturno com a sua família.


Nas últimas eleições gerais, o JLM derrubou as ferramentas e entrou em greve de campanha. Aos Judeus –juntamente com muitos, muitos outros– foi negada umha escolha real naquela eleiçom. As pessoas nom queriam votar em Boris Johnson (umha opiniom posteriormente justificada em abundância polo Partygate e muito mais), mas nom conseguiram votar no Trabalhismo sob Corbyn.


Essa escolha foi agora restaurada. Estamos a fazer umha forte campanha por um governo trabalhista –mas, muito mais importante, como comunidade em quem votamos, essa escolha pode basear-se na esperança e nom no medo. Isso porque o Trabalhismo mudou e nom vamos voltar atrás.


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