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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A LÍNGUA DOS JUDEUS DE PORTUGAL

O Judeu-português ou judeo-português é umha língua extinta, que era falada polos Judeus sefarditas de origem portuguesa. Essa forma linguística era vernacular e de uso corrente aos Judeus de Portugal antes do século XVI, quando as comunidades judias foram expulsas por causa da pressom política exercida polos reis católicos espanhois, e sobreviveu em muitas comunidades da diáspora dos Judeus da Nação Portuguesa.
Judiaria de Castelo de Vide
Embora seja muito desconhecida a língua falada polos Judeus antes do édito de expulsom, o léxico do judeu-português era composto basicamente por palavras portuguesas, acrescentando-se palavras hebraicas. Também recebeu empréstimos do ladino ou judeu-espanhol por influência da língua dos Judeus espanhóis, mas era muito distinta dessa, já que os Judeus lusos nunca foram expulsos do seu país, antes forçados à conversom.

A existência dalguns de textos anteriores à expulsom permite fazer umha análise. Os textos eram escritos em letras hebraicas (aljamiado português) ou latinas. O documento mais antigo conhecido (1262) é um tratado sobre a arte do manuscrito iluminado, escrito em português com caracteres hebraicos, "O livro de como se fazem as cores". Trata-se dum documento de grande importância para a história do iluminismo manuscrito hebraico, sendo utilizadas as instruções contidas no texto para a iluminaçom da Bíblia Kennicott escrita na Corunha em 1476.

O texto litúrgico mais antigo é um Mahzor espanhol escrito em hebraico e publicado em Portugal por volta de 1485 que inclui instruções rituais em português aljamiado. Entre outros documentos, destacam um tratado médico de oftalmologia de 1300, localizado na Biblioteca Pública Municipal do Porto, um livro de pregações espanhol do século XV com instruções em português, localizado na Biblioteca Bodleian de Oxônia e um tratado de astrologia médica que contém umha parte em português do século XV, localizado no Seminário Teológico Judaico de Nova Iorque.

Relativamente a fontes nom judias dos séculos XV-XVI, Gil Vicente, considerado o primeiro grande famoso dramaturgo português, apresenta umha passagem judeu-portuguesa na sua obra o "Auto da Barca do Inferno": "Alça manim dona, o dona, ha", onde "manim" parece umha mistura da palavra espanhola mano com o sufixo habitual hebraico do plural -im. Destarte, Gil Vicente apresentava numha só frase a influência de duas palavras nom portuguesas na língua dos Judeus portugueses.

Muitos dos Cristãos-novos continuaram secretamente a observar o judaísmo e preservar a língua até que Inquisiçom se estabeleceu em Portugal em 1536, provocando umha vaga onda migratória dos conversos para Flandres, o norte da Alemanha, Holanda, França, Itália, Inglaterra e as Américas. 

Assim sendo, o judeu-português na diáspora desenvolveu-se a partir do século XVI nos locais onde os cristãos-novos portugueses regressaram ao judaismo e desenvolveram florescentes comunidades judaicas. O judeu-português foi conhecido como a língua dos Judeus da Nação Portuguesa e foi a língua oficial falada e escrita nas comunidades da Diáspora. Na Europa ocidental foi usado en inúmeros âmbitos: doméstico, transações comerciais, administraçom, cerimónias formais, cumprimentações, pregações, discursos, intercâmbios legais, registos, inscrições funerárias, relatórios comunitários,... Apenas depois de meados do século XIX, com a introduçom das escolas públicas, foi que diminuiu o seu uso, limitando-se ao uso familiar ou às celebrações religiosas.

Em geral, nas comunidades judias portuguesas exiladas as traduções dos textos litúrgicos do hebraico faziam-se para o espanhol. Mas no século XVII apareceram muitos textos seculares judeu-portugueses nos campos da filosofia, literatura moral, drama e poesia. Estes textos foram publicados na Itália e Alemanha, bem como em Amsterdão, que se tornou num centro judeu da actividades literária e científica. Mendes dos Remédios fez umha coletânea dos textos judeu-portugueses publicados em Amsterdão.

Apesar das escassas investigações feitas sobre as características lingüísticas do judeu-português da diáspora, segundo um estudo de Germano realizado aos textos de Amesterdão e Hamburgo entre os séculos XVIII e XX, a variedade judia do português incluia formas mais arcaicas do que o padrom da época. O linguista português B.N. Teesma (1975) chama à linguagem do século XVIII de Mendes-Franco de "português fossilizado". O texto de Mendes-Franco, escrito em letras latinas, inclui numerosos empréstimos hebraicos, mormente nos campos semânticos da tradiçom judaica e vida comunitária. As palavras hebraicas aparecem tanto em caracteres hebraicos quanto em transliterações.

Na América foi a língua habitual das comunidades sefarditas de origem portuguesa em Recife, Nova Iorque, Aruba, Curação, Bonaire e Costa do Estado venezuelano de Falcón. Nos Estados Unidos da América a variante judeu-portuguesa foi apoiada principalmente após a migraçom dos Judeus do Brasil Holandês.

Devido à sua similaridade, o Judeu-Português morreu logo em Portugal, mas sobreviveu na Diáspora como língua do dia-a-dia até os princípios do século XIX. Também sobrevive em forma de substrato no papiamento e saramaca, já que alguns dos donos portugueses de escravos eram Judeus.

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