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quinta-feira, 21 de julho de 2016

O MITO DO COLONIALISMO JUDEU

Em boa parte dos discursos sobre o Próximo Oriente, há um mito muito espalhado de que os Judeus são intrusos da Europa e dos EUA -brancos ocidentais que vieram para "colonizar" e "roubar a terra" do povo palestino "nativo" a quem pertence por direito. Este mito, com base na terminologia marxista, ganhou a cada vez mais legitimidade depois de 1967, quando Israel anexou Jerusalém Oriental e "conquistou" a Cisjordânia. A noçom de "ocupaçom" e o uso da palavra "colonos" reforçam o conceito de "colonizaçom" israelita da terra "árabe".

Para além de assumir que os Palestinos devem ser os verdadeiros nativos porque parecem autenticamente "marrões", o mito do colonialismo suporta um outro mito: os Judeus nom são um povo, com direito à autodeterminaçom, mas umha religiom. Assim sendo, os antissionistas habitualmente falam em cidadãos norte-americanos de fé judaica, alemães de fé judaica e até mesmo em árabes de fé judaica. Na época da Revoluçom Francesa, Clermont-Tonnerre disse da emancipaçom dos Judeus: "Temos de recusar tudo para os Judeus como umha naçom e conceder-lhes tudo como indivíduos." A comunidade judaica de algumha forma iria desaparecer, deixando apenas cidadãos franceses de religiom ou ascendência judia.

Ultimamente, a noçom de que os Judeus nom são um só povo, mas umha comunidade heterogênea de conversos recebeu um impulso polo Professor Shlomo Sand de Telavive, através do livro best-seller intitulado "A Invençom do Povo Judeu". As teorias de Sand baseiam-se na obra de Arthur Koestler, quem popularizou a ideia de os Judeus Asquenazitas serem descendentes da tribo túrquica dos Khazares. Ao inferir que os Judeus nom têm qualquer ligaçom à Palestina estes autores minam a legitimidade de Israel. Porém, os estudos genéticos desacreditaram a teoria de Koestler, já que demonstraram que os Judeus orientais e ocidentais têm mais em comum uns com os outros e são geneticamente mais próximos dos nom-judeus originários do Próximo Oriente -dos Curdos em particular- do que das populações nom judaicas entre as que viveram.

Em junho de 2009 o Presidente Obama articulou um outro mito: Israel foi criado em consequência da Shoah na Europa. Este mito oculta a verdade de que cada Estado árabe é igualmente umha criaçom do colonialismo ocidental. Também ignora o facto de as instituições estatais do Estado judeu estabeleceram-se decênios antes da leitura por Ben Gurion da Declaraçom de Independência de Israel.

Amiudadamente ouvimos ou lemos que Israel está a ser povoado por comedores de porco russos e colonos nom judeus do Brooklyn. Mas esses grupos são marginais. Quase nunca se ouve dizer que mais de metade dos Judeus de Israel são originários de terras muçulmanas e árabes. A grande maioria desses Judeus foram movidos dum canto do mundo "árabe" para a faixa costeira do Proximo Oriente conhecida como Israel.
Fonte: Judeus dos Países Árabes
Até à sua expulsom há 50 anos, os Judeus viveram no Iraque, por exemplo, desde que os babilônios os expulsaram de Jerusalém quase 3.000 anos atrás. No início do século XX, Bagdá era a cidade mais judaica do mundo, depois de Salonica e Jerusalém. Pode dizer-se que os Judeus têm umha reivindicaçom tam legítima sobre Bagdá como a dos Palestinos sobre Jerusalém.

Os Árabes são relativamente novos na regiom; o mundo "árabe" é um termo impróprio. No momento em que os Árabes conquistaram a terra habitada por Judeus e cristãos no século VII, os judeus estabeleceram-se lá 1000 anos antes. A gente no Ocidente tende a aplicar um equívoco comum a todos os Judeus, assumindo a noçom cristã de que os Judeus foram punidos para errar de terra em terra sem qualquer país que possam chamar de seu. Mas nom só os Judeus viveram sempre na Palestina, houve umha continuidade de comunidades judias no Próximo Oriente e Norte da África durante 2.000 anos. Se apenas os habitantes nativos são titulares de direitos políticos, os Judeus são tam indígenas como quaisquer povos que vivem no Próximo Oriente.

Essa presença judaica chegou ao fim nos últimos 50 anos. A Liga Árabe determinou vingar nos indefesos cidadãos judeus em terras árabes logo depois da partilha da Palestina. No dia em que cinco exércitos árabes invadiram o novo Estado judeu, o secretário da Liga Árabe, Azzam Pasha, anunciou: "Esta será umha guerra de extermínio e de um massacre importante no qual se falará como dos massacres mongóis e as Cruzadas".

Os governos árabes na verdade declararam duas guerras em 1948. A guerra militar contra o incipiente Estado judeu de Israel que eles perderam, mas também declararam uma segunda guerra, contra um milhom de cidadãos judeus. Esta guerra ganharam-na com facilidade, através de umha política de intimidaçom, repressom, perseguiçom e surtos esporádicos de violência. O resultado é que mal restam 5.000 Judeus nos países árabes.

O "roubo de terra árabe" alegadamente realizado polos Judeus é umha inversom ofensiva da realidade. Os Judeus em dez países árabes foram despojados de seus direitos e na maioria dos casos despojados dos seus bens. A Organizaçom Mundial dos Judeus de Países Árabes estima que os Judeus nos países árabes perderam muitos mais milhares de milhões de ativos do que os Palestinos, e quatro vezes mais terra do que o tamanho do próprio Israel.

Visto nestes termos, o antissemitismo árabe contribuiu para a criaçom de Israel nom menos do que a Shoah. Os Árabes têm umha grande dívida com os Judeus. É hora de o mundo parar de olhar o conflito através de umha lente distorcida e eurocêntrica.

Fonte: Point of No Return. Traduzido para o galego-português por CAEIRO.

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