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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

JUDEUS PORTUGUESES NO MAGREBE

A primeira direçom procurada polos judeus portugueses que abandonaram Portugal encaminhou-se para o Mediterrâneo, aportando nas cidades do Magrebe, atualmente os países de Marrocos, Argélia e Tunísia.
Mapa da África no século XVI
Vários foram os fatores que contribuiram para a tomada desse rumo: 

Em primeiro lugar, a sua proximidade da costa portuguesa, associada tanto ao conhecimento destas águas polos marinheiros portugueses como às boas condições de navegaçom existentes. Assim sendo, os marinheiros de cidades como Setúbal, Sesimbra ou Tavira desempenharam um papel fulcral como passadores de cristãos-novos em navios de pequeno porte.

Em segundo lugar, os Judeus eram bem aceites nom apenas polas cidades de Fez, Argel e Tunes, mas também polas praças marroquinas sob soberania portuguesa (nomeadamente Ceuta, Tanger, Safim, Azamor e Mazagão) onde já existiam comunidades judaicas desempenhando funções de relevância. 

A partir do norte de África outros foram parar a territórios dependentes do Império Otomano (Turquia), onde era numerosa a comunidade hebraica em cidades da Palestina, Alexandria, Constantinopla ou Salónica.

Entre os Judeus portugueses que se fixam no Magrebe logo depois da expulsom de 1497 Abraão Zacuto, astrónomo de D. João II. Em Tunes, Zacuto escreveu em 1504 a História dos Judeus, desde a Criação do Mundo até 1500, assim como vários tratados astronómicos. Esta História foi muito respeitada e republicada em Cracóvia (1581), em Amsterdão (1717), e em Königsberg (1857). Em Londres foi publicada umha ediçom também em 1857. As suas pesquisas salvaram a vida de muitos marinheiros portugueses e permitiram as descobertas do Brasil e do caminho marítimo para a India. Judeu errante, finou em Damasco em 1522.



O cientista Abraão Zacuto rumou para o Magrebe

Antes da chegada dos refugiados judeus portugueses, já viviam no Magrebe outros judeus descendentes daqueles judeus da primeira diáspora babilônica que permaneceram na Pérsia com autorizaçom do rei Ciro e que emigraram de Bagdá a partir do século VIII, por ocasiom da grande expansom omíada em direçom ao Ocidente. Enquanto os recém chegados som chamados de "megorashim" (expulsos), os que lá estavam eram conhecidos como "toshavim" (residentes).

Dada a açom dos Judeus de Fez na conquista e Safim, em 1509, D. Manuel I outorgou-lhes umha carta de privilégio comprometendo-se a "que em nehum tempo sejam lançados fora da dita cidade contra suas vontades, nem os mandarem tonar christãos por força". Com a tomada de Azamor (1513) o monarca também lhes outorgou umha carta de privilégio autorizando os judeus a viverem "em a nossa cidade d'Azamor e que aho diamte a ella quiserem vir vir, morar e estar com suas casas e fazendas nos praz por esta pressente carta". Os Judeus destas duas comunidades tiveram umha grande importância no seu relacionamento e desenvolvimento comercial, chegando alguns deles mesmo a vir à presença do rei em Lisboa, já que eram intermediarios diplomáticos entre o rei e o Sultão de Fez. Finalmente, em 1533 D. João III permitiu a transferência dos judeus portugueses de Azamor e Safim para Arzila. Estes factos demonstram que, embora excluídos de Portugal, o estado luso mantinha com eles relações baseadas na tolerância.

O Sultám de Fez, como outras autoridades no espaço magrebino, incentivaram a vinda de Judeus permitindo que usufruissem dalgumha ou plena liberdade de culto e de movimentos. Destarte, os Judeus portugueses podiam deslocar-se facilmente de um reino para o outro.

A introduçom da Inquisiçom em Portugal em 1536 fez incrementar a saída de refugiados para terras magrebinas, onde os cristãos-novos iriam encontrar importantes comunidades judaicas nas que podiam nom apenas dedicar-se ao comércio, mas também regressar ao judaismo. O Tribunal da Inquisiçom de Lisboa nom poupou perseguir os judeus portugueses de Marrocos, ao os terem as autoridades do Santo Ofício por portugueses que adjuraram da fé católica e, por isso, sujeitos ao seu julgamento.

No Magrebe Judeus e cristãos-novos portugueses (muitos dos quais reconvertidos à fé antiga) tiveram um papel preponderante nos contatos comerciais e diplomáticos entre portugueses é árabes, À medida que cresceram as comuniadades judaicas em Fez, Tânger, Tetuám e Xexuám, os judeus começaram a desempenhar o papel de comerciantes (em especial de cereais, açúcar, passas, tâmaras, especiarias, panos e lacre), tradutores, banqueiros e alfaqueques, isto é, resgatadores de cativos. Como o próprio rei D. Manuel chegou a explicitar, as especiarias reexportadas de Lisboa constituira um negócio particularmente rentável.

Para além de mercadorias, os judeus faziam circular saberes religiosos e nunca deixaram de ter contatos com os seus familiares que, apos um batismo forçado, tinham optado por ficar em Portugal. Mesmo algun deles, sobretodo os envolvidos no negócio do resgate de portugueses logo da derrota em Alcácer-Alquivir (1578) e outras localidades de Marrocos, nom hesitaram em abraçar o cristianismo, polo menos em aparência, para poder viajar para Portugal e negociar o diretamente o preço do resgate.

No mês de Outubro de 1578 o xarife fixou o preço para a libertaçom dos 80 fidalgos em 400.000 ducados, os quais tinham que ser pagos em sete meses. No dia 10 de novembro de 1578 um judeu de Fez disponibilizou 10.000 ducados a crédito para começar a libertaçom dos cativos. Segundo o Padre Domingos Maurício Gomes dos Santos, S. J., uns judeus moradores na praça portuguesa de Tânger também contribuíram com dinheiro a crédito para obter a libertaçom dos prisioneiros dispersos em várias localidades do Magrebe. Mais tarde, em janeiro de 1580, quando um grupo de presos foi libertado, viajava com eles umha comissom de judeus prestamistas, levando letras de crédito para serem descontadas em Portugal. Evidentemente, aqueles refugiados tinham sido importantes no esforço para obter a libertaçom dos presos portugueses.

A partir da ocupaçom de Portugal pola Espanha (1580-1640) a intransigência dos espanhóis provoca umha segunda vaga de refugiados judeus portugueses no Magrebe.


A chefia política do reino de Marrocos, apertado entre o imperialismo europeu e turco-otomano, acentuou a sua tentativa de penetraçom para a África numha estratégia com a que contou com o apoio diplomático e financeiro da comunidade judaica. Precisamente devido à sua origem e à dispersom a que as expulsões de Espanha e Portugal os obrigaram, eles podiam ser emissários para alianças tácticas ora com um, ora com outro dos ameaçadores vizinhos.

Com o tempo e a modernidade a divisom entre as comunidades megorashim (expulsos) e toshavim (residentes) desapareceu a partir dum processo de assimilaçom das últimas polas primeiras a teor da sua maior influência cultural e religiosa. Todavia, algum ponto de referencia daquela divisom, de tipo episódico e pontual, resistiu até o século XIX.

A enorme comunidade de Judeus portugueses existente no Reino de Marrocos começa a ser brutalmente perseguida e assassinada nos finais do século XVIII, o que provoca a saída de milhares de judeus. Entretanto, as comunidades de judeus portugueses localizados nos atuais estados da Argélia e Tunísia chegaram até o século XX, altura em que foram desvastadas por novas vagas de perseguições religiosas.

Os Judeus portugueses refugiados no Magrebe mantiveram por muitos séculos o português como língua materna. E, ao raiar do século XIX, ao invês de adotarem o arbía (árabe do Magrebe com forte sotaque judaico falado polos judeus sefarditas espanhóis ao abandonar o ladino ou judeu-espanhol), preferiram voltar para Portugal com o fim da Inquisiçom (1821) ou emigrar para as Américas (Brasil, Venezuela, Argentina e EUA). 

Neste caminho de regresso está a origem das comunidades judaicas ressurgidas no século XIX em Faro, nos Açores ou Lisboa. Entre estes retornados destacam as famílias Cardoso-Nunes, De Mattos, Monteiro, Peres, Pinto, Medina, Miranda,... ou Abraham Nathan Ben-Saúd (a atual família Bensaúde).

Durante a Segunda Guerra mundial, quando a França de Vichy estendeu a Marrocos as leis antissemitas, os consulados de Portugal apoiaram a famílias de judeus portugueses ameaçados de serem expropriadas dos seus bens.

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