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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A DIÁSPORA DOS JUDEUS DA NAÇÃO PORTUGUESA

Os Judeus da nação portuguesa som um subgrupo dos Judeus sefarditas. Apesar desta designaçom, trata-se de Judeus oriundos de Portugal e Espanha, donde foram expulsos nos séculos XV e XVI.

Este grupo, também chamado de Sefarditas Ocidentais, difere-se dos Sefarditas Orientais (aqueles que fugiram para territórios dependentes do Império Otomano e que maioritariamente falam ladino ou judeu-espanhol), já que possuem umha herança linguística, ritual e social próprias. De língua falada e escrita portuguesa, os rituais judaicos dos Judeus portugueses baseiam-se nos pré-existentes à expulsom de Sefarad (Península ibérica).

Essa era também a língua falada polos judeus galegos, e nom o ladino/judeu-espanhol, que quando foram expulsos do Reino da Galiza em 1492, incluido na altura dentro da Coroa de Castela, foram para alguns locais da Europa onde a partir de 1497 chegaram os judeus portugueses. Assim sendo, a Holanda, Alemanha, Flandres, Inglaterra e algum outro país acolheram os Judeus galegos que com o tempo acabaram por nom se distinguirem dos judeus da nação portuguesa. Afinal torods eram considerados judeus portugueses, e isso foi porque a Galiza falava a mesma língua que Portugal, com o qual a uniom e confusom foi muito fácil, mas como a Galiza nom era independente, os Judeus galegos apenas eram judeus portugueses de estranha procedência. 

Os Judeus galegos nom integraram o grupo dos sefarditas orientais e provavelmente hoje os seus descendentes estejam com a ideia serem descendentes dos Judeus portugueses.

A expulsom dos Judeus da Península Ibérica (Sefarad)

Após a expulsom dos Judeus dos reinos de Espanha polos reis católicos em 1492, entre 83.000-100.000 pessoas, que se recusaram converter-se à religiom cristã emigraram para Portugal, acrescentando-se à comunidade de 30.000 Judeus lá existente. O rei D. João II, influenciado por judeus importantes na Corte, acolhe-os, impondo-lhes o pagamento dumha quantia elevada para permanecerem em Portugal. Os que nom podiam pagar viram metade dos seus bens confiscados para a Coroa. Com esta medida pretendia-se a fixaçom de operários especializados, que faltavam em Portugal. 

Finado D. João II, sucede-lhe D. Manuel, monarca que se revelou tolerante para com os Judeus que nom podiam pagar. No entanto, em dezembro de 1496 é aprovado um édito e em março de 1497 é imposta a expulsom da comunidade judaica de Portugal, iniciando umha série de medidas persecutórias. Os Judeus portugueses viviam em território português polo menos desde o século I d.n.e. 



Porém, Manuel I nom queria a saída dos Judeus, tam necessários para o progresso económico, polo que, por um lado, foram baptizados à força por decisom do rei e, por outro lado, em abril de 1499 proibiu que esses cristãos novos conversos abandonassem o país sob penas severas. Destarte, desejado ou nom, os Judeus portugueses tornaram-se em cristãos-novos conversos ou cripto-judeus. Dado o secretismo da sua situaçom, a lealdade religiosa deste coletivo pode ser classificada segundo o seguintes perfis:
- Sinceros cristãos, embora sujeitos a discriminaçom e às acusações de judaizantes por parte da Inquisiçom
- Aqueles que honestamente tentaram viver como cristãos, mas que, ao descobrir que ainda nom eram aceites socialmente e eram suspeitos de judaizantes, conceberam dúvidas intelectuais sobre o assunto e decidiram regressar ao judaísmo.
- Verdadeiros cripto-judeus, que viam as suas conversões como forçadas e, relutantemente, conformados com o catolicismo até encontrar a primeira oportunidade de viver umha vida judaica aberta.
- Oportunistas culturais cujos pontos de vista privados puderam ter sido bastante céticos e que se mostravam conformes com a forma local do judaísmo ou do cristianismo, dependendo de onde eles estavam a cada momento.

Seja como for, os Judeus sefarditas portugueses, viram-se obrigados a viver um judaísmo na clandestinidade, sob o medo permanente da denúncia por heresia. Em consequência iniciaram um êxodo continuado (que se prolongou até os finais do século XVIII) para outros lugares, com maior ou menor fortuna, onde pudessem praticar o judaismo publicamente. Eles foram geralmente aceitados polas comunidades judaicas locais como anusim (conversos forçados), cuja conversom, sendo involuntaria, nom punha em causa a sua judeidade.

Destinos da Diáspora cristã-nova portuguesa Fonte: ANUÁRIO JANUS

Destinos da Diáspora judaica


Os destinos da emigraçom clandestina dos conversos da primeira geraçom logo após a expulsom foram o norte da África, o Império Otomano (Turquia), ou mesmo o regresso a Portugal ou aos reinos de Espanha. Estas comunidades nom precisaram qualquer "formaçom" já que ainda tinham algum conhecimento direto do judaismo com base na memória do contato cumha comunidade judaica viva. 


No entanto, o massacre dos cristãos-novos de Lisboa, na Páscoa de 1506, iria permitir-lhes alcançar a possibilidade de partir com autorizaçom régia para terras da cristandade. Entre esse ano e 14 de junho de 1532, os cristãos-novos puderam sair livremente de Portugal com bens e família. Esta permissom voltar-lhes-ia a ser concedida com os perdões gerais de 1535 e 1547 e tornar-lhes-iam a ser outorgadas ou negadas, ao longo dos séculos XVI e XVII, consoante as vontades políticas ou as necessidades económicas dos soberanos. Iniciava-se assim a nova diáspora judaica. 

Ainda que até 1536 foi possível, através da política de baptismos forçados, escamotear o decreto de expulsom conservando as suas antigas crenças religiosas, a Inquisiçom, ao perseguir as heresias com mão de fogo, em especial os judaízantes, só lhes deixou a alternativa da fuga do país, sempre que ela era possível. Doravante o número de Judeus em Portugal diminuiu dramaticamente, passando de 60.000 em 1542 e 30.000 em 1605 para uns 7.000-8.000 em 1631.

O primeiro êxodo acompanhou a própria expansom atlântica portuguesa, sendo as novas terras descobertas pretexto para umha diáspora em território nacional. Assim sendo, as ilhas atlânticas (Madeira, os Açores e S. Tomé), o Oriente e o Brasil abriam-lhes perspectivas de comércio rentável e dumha relativa liberdade religiosa, entre vizinhos que desconheciam o seu passado de judeus. 

Os primeiros Judeus portugueses chegaram ao Brasil principalmente como cristãos-novos conversos e contribuiram para a colonizaçom do território. De facto, quando em 1500 Pedro Álvares Cabral desembarcou nas Terras de Vera Cruz estava acompanhado por Gaspar da Gama, um judeu polaco. Fernão de Noronha, um fidalgo cristão-novo português, foi um dos primeiros grandes exploradores de pau-brasil nas terras recém descobertas. Com ele iniciou-se o regime das capitanias ao receber em 1504, por concessom de D. Manuel, a Ilha de São João (hoje Fernando de Noronha).

No essencial, o regime das capitanias, consistia numha doaçom ao capitám que se dispusesse a colonizar um território a expensas suas. As primeiras capitanias no Brasil foram 15, criadas entre 1534-36 por João III. Cedo elas atrairam famílias de cristãos-novos, que estám na gênese do desenvolvimento da exploraçom açucareira. A cidade de Salvador da Baía, primeira capital do Brasil, recebeu, logo após a descoberta, várias famílias de origem judaica. Foram elas que desenvolveram o interior e se expandiram para os territórios que hoje constituem os estados de Sergipe e Alagoas.

A Inquisiçom nom tinha ainda atravessado o Atlântico e a distância emprestava umha ilusom de segurança. Muitos dos que lá chegavam eram deportados, condenados ao degredo por suspeita de judaísmo, transformando o território virtualmente numha colónia penal. Mesmo assim, o espectro inquisitorial pairava ainda na penumbra e sobre os Judeus pesava o receio de poderem ser repatriados para Portugal a mando dos tribunais da Inquisiçom. 

Na altura de 1624 por volta de 50.000 europeus moravam no Brasil, sendo os cristãos-novos umha significativa percentagem, onde trabalhavam como mercadores, importadores, exportadores, mestres, poetas e mesmo como padres. 

Os historiadores som consensuais na conclusom de que um em cada três colonos portugueses no Brasil era cristão-novo, isto é, judeu oculto ou de ascendência judaica.

Os que preferiram retornar para o Próximo Oriente foram bem recebidos polos turcos otomanos, sendo assimilados posteriormente nas comunidades sefarditas orientais.

Alguns rumaram para o norte da Europa, onde fundaram comunidades em Flandres (Antuérpia), nos Países Baixos (Amsterdão) e norte da Alemanha (Hamburgo). Outros dirigiram-se para o sudoeste da França (Bordéus e área de Baiona) e um menor número para a Inglaterra e para os territórios dos estados que hoje conformam a Itália.

A opçom polo judaísmo significava para os que partiam a impossibilidade de regressar a Portugal, quer como cristãos, quer como Judeus, a menos que se "purgassem" voluntariamente da sua culpa, num dos tribunais inquisitoriais (operativos em Portugal desde 1540) ou que, com algumha sorte, conseguissem iludir possíveis denunciantes, conhecedores da sua opçom judaica, através de disfarces bem sucedidos ou da utilizaçom de múltiplos pseudónimos.

Umha vez alcançados os seus locais de refúgio, estes cristãos-novos pertencentes a gerações posteriores aos éditos de expulsom tiveram de reeducar-se no judaismo, já que tanto a memória como os rituais judaicos viram-se adulterados pola situaçom de clandestinidade em que viviam. Para "regressar" a um judaismo verdadeiro foi possível precisaram, quer dos Sefarditas que viviam na Itália, quer dos exilados de 1492 que viviam em Marrocos (herdeiros diretos da tradiçom judaica andalusi), quer dos Judeus asquenazitas dos Países Baixos e Alemanha.

Os Judeus portugueses fixados nos Países Baixos também chegaram com os Holandeses em Pernambuco e a toda a regiom setentrional do Nordeste brasileiro (1630-54). Com a reconquista portuguesa e a proibiçom de praticar o judaismo a comunidade dispersou-se, sendo que alguns voltaram para os Países Baixos, outros migraram para outras colónias holandesas da América do Sul, do Norte e Caraíbas (nomeadamente CuraçãoCosta Selvagem ou Guianas, Jamaica e Barbados) e umha parcela permaneceu refugiada nos sertões onde se converteram em cripto-judeus brasileiros.

Em Nova Iorque, que fora colónia holandesa com o nome de Nova Amsterdão, chegaram do Recife um grupo de 23 judeus em 1654, onde fundaram a primeira comunidade judaica dessa cidade. Os Judeus da nação portuguesa fundaram outras comunidades na América do Norte, como Montreal, Newport, Philadelphia, Charlotte, Nova Orleães e participaram ativamente da sociedade norte-americana, formando uma elite política e cultural judia.


Os Judeus Ocidentais conservaram o português como primeira língua
Os Judeus da nação portuguesa falaram maioritariamente português como primeira língua. Até o século XVII o portugués foi utilizado para a comunicación diária entre gerações mais novas e era a língua habitual dos documentos oficiais utilizados nas sinagogas. Porém, como língua litúrgica persistiu até meados do século XIX, aquando foi substituido polas línguas próprias dos locais de fixaçom. Polo contrário, os Sefarditas Orientais e da África do Norte falavam principalmente o ladino, língua judia derivada do judeu-espanhol.

O uso do dialeto judeu-português conservou-se nalguns documentos, mas deixou de ser usado como língua falada desde finais do século XVIII ou inícios do XIX. Por exemplo, o português deixou de ser lingua falada nos Países Baixos no período napoleónico, quando as escolas judaicas apenas permitiram o ensino do neerlandês e do hebraico. Os sermões na sinagoga de Bevis Marks (Londres) foram em português até 1830.

Com a Shoa, no quadro da Segunda Guerra Mundial, os Judeus da nação portuguesa sofreram fortemente, tendo a sua populaçom diminuída, de forma considerável, nas suas comunidades na Europa continental.

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