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quarta-feira, 22 de julho de 2015

A DEPORTAÇOM DAS CRIANÇAS JUDIAS DE SÃO TOMÉ

Em 1470 os navegadores portugueses João de Santarém, Pedro Escobar e Edigel Campos descobrem as ilhas de São Tomé e Príncipe, um arquipélago localizado no Golfo da Guiné na África equatorial. Até entom estiveram desabitadas polo que era preciso povoar a nova colónia na que os portugueses recusavam fixar-se.


Mato na ilha de São Tomé
Assim sendo, em carta datada de 29 de julho de 1493 o rei D. João II nomeou Álvaro de Caminha donatário da Ilha de São Tomé. Ele ocupar-se-ia da sua colonizaçom dum modo mais efectivo do que os seus antecessores, já que, para além de lhe conceder o privilégio especial de comprar escravos no continente e alguns degregados, foram-lhe entregues os filhos dos recém-batizados dos Judeus.

Pouco antes, em 1492, o reino de Portugal recebeu milhares de refugiados logo depois de ser decretada a expulsom dos Judeus dos reinos de Espanha. Esses refugiados tiveram de lidar com a esperteza de Dom João II, que vislumbrou umha oportunidade de tirar proveito dessa desgraça alheia: o rei instituiu a cobrança de dous escudos por cada refugiado para que pudessem permanecer em Portugal por oito meses. Como ao fim do prazo de permanência os Judeus nom conseguiram sair de Portugal, o rei ordenou que fossem vendidos como escravos. 

Para as crianças com idades entre 2 e 10 anos desses refugiados o rei português reservou um outro destino: colonizar São Tomé. Destarte, no porto de Lisboa nom menos que 2000 crianças foram separadas e arrancadas à força dos seus pais e postas em barcos com rumo a São Tomé. Rabi Samuel Usque, judeu português relata isso no seu livro "Os Sofrimentos e Tribulações de Israel" (1553), referindo que quando os pais viram que a deportaçom era inevitável, eles passaram às crianças a importância de observar o judaismo; e alguns até casaram as suas crianças. Outras fontes contam o caso de mães que se jogaram com os seus filhos ao mar para evitar a separaçom. 

Num ano, apenas 600 crianças permaneciam vivas. Com efeito, a ilha era um inferno, completamente deserta e para onde também foram levados escravos e criminosos. Usque relata dramaticamente como as crianças chegaram à ilha: "Quando essas crianças inocentes chegaram à selva de São Tomé, o que seria os seus túmulos, elas foram levadas à costa e deixadas ali sem compaixom. Quase todas foram engolidas polos grandes lagartos da ilha e os que ficaram, pois escaparam aos répteis, morreram de fome e abandono".

Os esforços dos pais aparentemente nom foram em vão, como relatam os rumores que chegaram ao Ofício da Inquisiçom em Lisboa de que em São Tomé e Príncipe os descendentes conservaram alguns costumes judaicos. O bispo nomeado a São Tomé e Príncipe em 1616, Pedro da Cunha Lobo, ficou atormentado com o problema. Em 1621 ele foi acordado por uma procissom, levantada para confrontá-los, e foi insultado tão sinceramente que em desgosto ele desistiu e pegou o primeiro navio de volta para Portugal. Porém, acha-se que essa presença judaica apagou-se de vez na altura do século XVIII.


Nos séculos XIX e XX houve um certo fluxo de judeus comerciantes de cacau e açúcar nas ilhas. Hoje desconhece-se a existência de Judeus nas ilhas mas ainda podem ser achados os descendentes das crianças escravizadas no perfil étnico dos são-tomenses. Alguns costumes judaicos permanecem, embora misturados com os valores e cultura da sociedade crioula.

Em 12 de julho de 1995, Dia Nacional da República Democrática de São Tomé e Príncipe, teve lugar umha Conferência Internacional para em lembrança das crianças judias portuguesas que foram deportadas para as ilhas no século XV.

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