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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

TUI

Cidade galega situada à beira do rio Minho na terra do Toronho e que tem cerca de 17.300 habitantes. É sede episcopal e foi capital dumha das sete províncias do Reino da Galiza até 1833. 

Tui teve desde da Idade Média umha grande importância. O seu papel na história galega foi determinante polo seu carácter de fronteira do Minho, o que lhe deu umha grande importância militar. Além disso, durante da Idade Média Tui foi centro comercial de importância ligado ao porto fluvial.
A cidade de Tui coroada pola catedral-fortaleza
A atual localizaçom deve-se ao traslado da cidade que, com motivo da carta foral de 1170, levou a cabo o Rei galego Fernando II no século XII, encerrando-a em muralhas (acabadas no século XIII) e das que ainda se conserva a Porta da Pia.

A sua catedral-fortaleza, iniciada no século XII, está situada no local mais alto da cidade e acha-se circundada pola cidade velha. No claustro gótico da Catedral pode-se observar umha inscriçom, ainda clara, dum candelabro judaico de sete braços (menorah) frente à entrada da sala capitular, do século XII. Polo seu tamanho e significaçom, a gravura desta menorah nom pode ser confundida com a marca do pedreiro. 

A presença de Judeus em Tui está documentada desde os séculos XIV e XV, com umha Judiaria de certa importância, existindo nela duas sinagogas, cemitério e açougue. Porém, pouco se sabe da comunidade hebraica de Tui, embora se ache que foi bastante importante, dando-lhe umha grande mobilidade geográfica, ao estar próxima doutras cidades e portos importantes como Vigo, Baiona ou Salvaterra do Minho, onde houve assentadas e prósperas colónias judias.

Existem duas teorias sobre a localizaçom da Judiaria de Tui: por um lado, que esta estaria localizada fora da cidade, num bairro denominado de Saraiva e, por outro lado, que estaria intramuros. A hipótese da localizaçom extramuros nom se corresponderia com qualquer modelo de distribuiçom geográfica da populaçom judaica e, mais bem, poderia fazer referência aos campos pertencentes à comunidade hebraica ou, mesmo, ao seu cemitério.

A documentaçom existente situa os Judeus a morar dentro da muralha, nom num bairro judeu como tal, mas espalhados dentro do perímetro murado da cidade, ao abrigo da catedral-fortaleza e sob a proteçom do bispado. 
Porta Bergám na atual rua Tilve. GoogleMaps
No quadro doutras cidades, a Judaria de Tui achar-se-ia no entorno da Rua da Oliveira, muito próxima da Porta Bergám, e que muda o seu nome para o de Porta Nova, dando passagem à Rua Nova, nome habitual que receberam as ruas habitadas por Judeus após a segregaçom habitacional. 
Planta medieval de Tui com indicaçom das ruas com presença judaica
Mais concretamente a Judiaria de Tui abrangeria as Ruas Fornos, Entre-fornos (atual Rua do Prazer), Ruela da Soidade, Rua e Ruela do Ouro. Também é possível que os negócios hebraicos mais prósperos de Tui estivessem localizados nas arcadas da Rua Corredoura.
R. da Soidade na Judiaria de Tui.
R. do Prazer e R. do Ouro na Judiaria de Tui. GoogleMaps
Ruela do Ouro (à esquerda) e escadas na Rua do Ouro na Judiaria de Tui
GoogleMaps
A Sinagoga de Tui estava localizada ao pé da Porta da Pia da muralha medieval, cujo nome “Pia” provém do banho ritual judaico ou micvé que estava na sua proximidade. Com umhas dimensões de 25m2, estava escavado na rocha e provavelmente nascia no seu fundo um manancial, consoante as prescrições religiosas. Na muralha de Tui a existência dumha torre chamada “do Judeu” evidencia a presença judaica. De resto na Rua Entre-fornos (antiga Triparia) achava-se o açougue judaico, o único documentado na Galiza.

Nas ruas do bairro judeu de Tui ainda existem casas manuelinas do seculo XV, algumhas com falsos arcos conopiais, nalgum caso coroados com umha cruz nas portas ou janelas, como na casa situada no nº9 da Rua de S. Telmo. 
Casa do séc. XV com lintel manuelino com cruz. Foto: E. Fonseca Moretón
No número 46 da Rua Carpentaria umha casa de nova construçom conserva sobre a porta de entrada o antigo lintel da habitaçom medieval que está decorado também com um falso arco conopial coroado por umha cruz. 
Lintel manuelino do séc. XV com cruz numha casa de Tui. Foto: E. Fonseca Moretón

Algumha destas casas do século XV têm cruzes gravadas nas suas fachadas, como a que dá ao nº82 da Rua Lorenço Cuenca ou de Abaixo.

Também, umha casa da R. Pároco R. Vasquez, localizada em frente do Albergue de Peregrinos, apresenta inscrições cuja origem ainda nom foi determinada (1), um pássaro da vida (2) e um cruciforme (3) característico de judeus ou cristãos-novos.
CAEIRO
Cruciforme da R. Pároco R. Vasquez de Tui. CAEIRO

Antes da expulsom dos Judeus de 1492, na altura de 1464, estima-se que por volta de 7 por cento da populaçom de Tui fosse judaica, tornando-se, destarte, na percentagem mais elevada da Galiza. A documentaçom conservada refere que os Judeus de Tui ocuparam-se no artesanato, em tarefas relacionadas diretamente com a catedral e o cabido, registando-se a existência de pedreiros e de ourives que trabalharam para o cabido.

Após a expulsom dos Judeus de Portugal (1496), Tui começou a receber inúmeras quantidades de cristãos-novos refugiados em Portugal quando o édito de expulsom dos Reis Católicos. Com a passagem dos anos quase todos converteram-se ao catolicismo, ingressando grande parte na igreja até ascender na hierarquia eclesiástica. De facto, a sé episcopal de Tui solicitou o estabelecimento do Estatuto de limpeza de sangue em 1609 para travar a ascensom na hierarquia dos cristãos-novos. O pedido, reiterado em 1616, foi desouvido pola Câmara de Castela da que dependia a igreja galega. 

Porém, a atividade da Inquisiçom testemunha-se na coleçom de “sambenitos” existente no Museu Diocesano, os únicos que se conservam nom apenas na Galiza, mas no Estado espanhol.
Coleçom de "sambenitos" no Museu Diocesano de Tui
Na atualidade e graças ao crescente interesse polo passado hebraico da Galiza, a vila de Tui aderiu-se à rede espanhola de judiarias dentro do programa Caminhos de Sefarad.

O Pleno do Concelho de Tui aprovou, no dia 27 de setembro de 2018, a solicitude de admisom  na Rede de Judiarias espanhola "Caminhos de Sefarad". Caso ser admitida a candidatura, a Judiaria de Tui passaria a fazer parte do grupo de cidades que pertencem a essa rede, entre as quais estám as galegas de Ribadávia e Monforte de Lemos.

O dia 28 foi remetida oficialmente a candiatura tudense, um passo extraordinário, em palavras do historiador Suso Vila, "para a reabilitaçom do património de Tui e a sua divulgaçom. (...) Agora apenas fica a avaliaçom por parte da Rede de Judiarias". Com efeito, a entrada nesta rede comportaria muitos benefícios no tocante à valorizaçom do património, o conhecimento e difusom da sua história, a promoçom turística ou o intercâmbio cultural.

A preparaçom da memória para que a candidaturafosse possível foi realizada por Suso Vila consoante as condições impostas pola associaçom Caminos de Sefarad. "Esta candidatura nom é cousa de agora, nem espontânea", frisou ele. "Ha muitos anos tentando Tui entrar na rede".

4 comentários:

  1. 1)Houve um êxodo de judeus de Barcelos para a Galiza na perseguição da Inquisição em Portugal.
    2) como autorizam a colocação de uma horrorosa porta de alumínio numa zona histórica da bela cidade de Tui, conforme se vê numa foto?

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  2. 1) Durante os séculos de perseguições estám documentados movimentos bidirecionais de judeus/cristãos-novos entre a Galiza e Portugal (nos arquivos da Inquisiçom da Galiza é normal encontrar processados portugueses por judaizarem e também existem provas documentais de judeus galegos a morarem em Portugal). Com certeza, a fronteira galego-portuguesa era muito permeável e muitos Judeus galegos também atravesavam a raia para realizar as suas atividades (arrieiros).
    2) Cousas da vida moderna! Com aberrações como a referida da porta de Tui, autoridades e cidadania galega mostra um grave problema para conciliar "progresso" e respeito polo património.

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  3. A existência dos sambenitos em Tui : os únicos que chegaram aos dias de hoje em toda a Península Ibérica .

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