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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

SANTARÉM

Cidade portuguesa, na regiom da Estremadura, com cerca de 29.200 habitantes.

Ocupada polos mouros desde 715, foi "conquistada" num golpe audacioso em março 1147 polos cristãos sob comando de Yahia ben Yahia, guerreiro judeu e amigo de D. Afonso Henriques num golpe audacioso.

Desde sempre um próspero centro agrícola e comercial, a influência oriental, via Fenícia, é bastante marcante em Santarém, fazendo com que afluissem muitos Judeus. 

A presença judaica em Santarém era numerosa e próspera já no período muçulmano. No século XI esta comuna é expressamente referida no foral concedido em 1095 a Santarém por Afonso VI da Galécia-Leom. Consoante os foros, a Sinagoga de Santarém era a mais antiga de Portugal, embora nom se saiba a data da sua construçom. Ela vem expressamente mencionada nos "Costumes de Santarém" (1268), sendo localizável junto da extremidade oriental da Rua de São João de Alpram. No entanto, a primeira referência documental a um judeu de Santarém residente na paróquia de S. Martinho, de nome Isaac, data de 1259. 

O cemitério judaico, identificado em 1301 polo topónimo Creeiro, situava-se inicialmente num monte entre os Mosteiros de São Francisco e Santa Clara, passando no século XIV para sudoeste, junto a Leprosaria e à Fonte da Junqueira.


A judiaria primitiva de Santarém localizava-se na paróquia de S. Martinho, limitada, a leste, polo castelo ou alcáçova (sede administrativa e militar da vila) e a oeste a Igreja hospitalária de S. João de Alporão, com umha porta da muralha medieval. Tratava-se dum espaço aberto, nom delimitado por muralhas, estruturado a partir dumha artéria principal (Rua de Alpram ou Alporão), com casas de ambos os lados, encerrada por duas portas: uma a sul, junto à Casa dos Becos (demolida em 1860) e outra a poente, junto do Mosteiro de S. João do Hospital. Uma artéria transversal abria-se a norte, desembocando junto da Igreja de S. Martinho (a quem competia a cobrança dos dízimos). 

A sua morfologia é assim comum às restantes judiarias portuguesas: proximidade a portas de muralha, ruas direitas, centros de atividade económica e templos cristãos. 
Localizaçom da Judiaria de Santarém. GoogleEarth
Durante os reinados de Afonso IV e Pedro I a comunidade judaica cresceu, tendo a alfama sido muralhada por muros próprios e reorganizada. Durante o reinado de D. Fernando (posterior a 1350) a entrada sul passa a ser feita através dumha ponte levadiça localizada no chamado Lugar da Ponte, ao cimo da calçada de Alfange.

A Judiaria de Santarém constituía uma das sete comarcas definidas por D. Dinis (1279-1325) e reconfirmadas por D. João I (1385-1433). 

Em 1394 é aberta a Rua Nova da Judiaria (também conhecida como Rua Direita de Alpram, hoje Travessa da Judiaria) para colmatar a falta de espaço da judiaria velha em terrenos de propriedade régia. Esta rua dava acesso à zona artesanal de lojas e de intensa atividade comercial da paróquia de S. Martinho.

Porém, em 1416 os procuradores apresentam queixas contra a comuna judaica, referindo explicitamente que a judiaria implantada no eixo central que liga a R. da Sapataria à porta da Alcáçova constituía um atravessamento fundamental para os cristãos nom podendo, portanto, ser aplicada a legislaçom discriminatória dos judeus em vigor.

Acesso à Judiaria de Santarém. GoogleMaps



Travessa da Judiaria de Santarém, mais ao fundo
A partir da segunda dinastia (reinado de D. João I) parece ter-se assistido a uma retraçom da populaçom judaica ao seu núcleo primitivo. Porém, com D. Afonso V, em 1440, a comunidade judaica de Santarém contribui com 36.000 reais para patrocinar a segunda expediçom de D. Fernando de Castro às Canárias após umha tentativa para libertar o Infante D. Fernando do seu cativeiro em Tânger. 

O confinamento da Judiaria de Santarém culminará em alterações urbanas substanciais do bairro do Alpram (demoliçom da torre e da porta de Alpram e construçom da Torre do Relógio) ocorridas durante o reinado de D. Manuel.

Os Judeus de Santarém dedicavam-se às atividades artesanais e intelectuais. A documentaçom existente da época deixam a impressom de que o papel de banqueiros e prestamistas, que tradicionalmente era desempenhado pelos Judeus no seio das sociedades cristãs medievais, é inegavelmente assumido. No princípio do século, Salomão Arame passa quitações de dívidas e em 1308 o mercador de Santarém, Isaque Azerique, fica rendeiro do serviço real dos judeus da vila e termo. Em finais do século XV documentamos 62 indivíduos, dos quais se destacam os mercadores (10), os alfaiates (8), os físicos (8) e cirurgiões (7), os ourives e os rendeiros.

Depois da expulsom, em 1497, muitos mantiveram-se como cristãos-novos ou criptojudeus. Nesta altura a judiaria passa a chamar-se bairro de Santa Cruz. Ainda assim, durante este reinado a comuna de Santarém era a segunda mais importante do país (apenas suplantada por Lisboa), contribuindo com 163.333 reais de tença.

No Museu Municipal existe umha estela sepulcral de forma retangular com desenhos gravados em sulco e em baixo-relevo no verso e reverso da pedra. No reverso representa-se o símbolo judaico, a Estrela de David, inserida em círculo e, no seu interior, novo círculo com uma flor de cinco pontas. No verso há um desenho geométrico, com simetria em círculos, no centro do qual se insculpiu um símbolo de oito pontas.

Na vila de Pernes, freguesia com cerca de 1.450 habitantes, também existem vestígios de presença judaica.

Esta postagem, redigida na variante galega da língua galego-portuguesa, foi elaborada especialmente a partir de informações de Luis Mata, Técnico Superior de História da Câmara santarense.

3 comentários:

  1. Boa exposição. Sempre interessante ampliar conhecimentos. Com excepção de algumas datas e pormenores conhecia todos estes factos.
    Sempre me interessei sobre a histíria dos judeus em Portugal e na cidade de Santarém em particular. Sou natural de Santos pequena aldeia situada a cerca de 20 km da cidade, local onde grande parte da população ter nomes judaicos ou adoptados. Desconheço como ali foram parar, se nos seculos XI e XII ou mais tarde no seculo XV ai se refugiaram para fugir ás conversões forçadas e perseguições.
    António Marujo

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  2. Fiquei muito contente por ver este assunto aqui tratado.
    Para ajudar a desenvolver o tema posso acrescentar que em meados do século 18 havia um comerciante judeu, chamado Alexandre Henriques da Costa, nascido na Covilhã em 1690, que depois de viver no Sabugal e em Alter, veio instalar-se com um negócio de tecidos na Rua Direita sob a casa em que vivia, defronte das escadas da igreja do Salvador, em Santarém. Era conhecida como a loja grande dos judeus.
    em Santarém em 1766, e morava na Rua Direita.
    O seu filho Manuel Lopes da Costa continuou esse negocio e posteriormente abriu outra loja na Travessa de S. Julião ou Rua Bela da Princesa (Rua dos Fanqueiros) em Lisboa.(cf Processo TSO IL28-4253).
    Acusado de praticar a Lei de Moisés ao Santo Oficio, em Lisboa, teve tempo de escapar durante a noite de 25 de Maio de 1768 com sua irmã Feliciana Joaquina, casada com Manuel Borges, numa falua no cais da pedra em direção a Paço de Arcos onde embarcaram num navio inglês. (cf Processo da sua cunhada e prima direita Isabel Violante Rosa IL28-4253).
    Apesar de ter escapado às garras da Inquisição, teve proc TSO IL28- 4410.

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