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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

FARO

Cidade portuguesa com cerca de 47.000 habitantes, capital do Algarve.

Faro albergou na época medieval, como outras localidades da regiom, umha comunidade judaica.

Conquistada polos Mouros em 718, esteve sob o domínio muçulmano até 1249, em que é "reconquistada" polas tropas de D. Afonso III, que lhe viria a conceder duas cartas forais em 1266 e 1269.

Na altura do século XIII existia já umha importante comunidade judaica, tal como testemunha umha pedra tumular datada de 1315 com o nome de Josef Dotomb, que se supõe ter sido rabino, e que foi encontrada num espaldom militar onde se situa hoje o Centro Histórico Judaico de Faro. Extramuros situava-se a Judiaria de Faro, a sul da R. de Santo António e confinava com a Alagoa.

Porém, a chegada maioritária dos Judeus a Faro, na sua maioria mercadores, produz-se na época dos Descobrimentos Marítimos Portugueses.

A judiaria de Faro ficava situada no local onde hoje se encontra o Convento de Nª. Srª. da Assunção (Museu Infante D. Henrique). 

A comunidade judaica de Faro foi sempre umha das mais distintas da regiom algarvia e das mais notáveis de Portugal, contando com muitos artesãos e gente empreendedora e destacando por ter sido o berço da imprensa em Portugal. 

De facto, possuía umha oficina de copistas (1391). Umha das suas figuras mais relevantes foi o tipógrafo Dom Samuel Gacon (ou Porteiro), quem em 1487 editou o primeiro livro impresso em Portugal, o Pentateuco, umha obra em língua hebraica fundamental nas sinagogas. O único exemplar conhecidos desta ediçom ainda em existência encontra-se na coleçom permanente da Brittish Library, em Londres.


O primeiro livro impresso em Portugal imprentou-se em Faro em 1487 e
foi umha ediçom do Pentateuco (Torá) escrito em língua hebraica.

Em 1492 D. Samuel Porteiro editou também o Talmud, constituído polo "Tratado do Divórcio" e o "Tratado dos Juramentos".

A manifesta prosperidade dos Judeus farenses no século XV é interrompida polo Édito emitido por D. Manuel I, em dezembro de 1496, no qual os expulsa de Portugal, caso nom se convertessem ao catolicismo. Assim, oficialmente, e só neste sentido, é que em Faro, como em Portugal, deixaram de existir Judeus. 

Ato contínuo, em 1519, no local onde estava implantada a Judiaria de Faro, na Vila Adentro, foi erigido o Convento de Nossa Senhora da Assunção com o patrocínio da Rainha D. Leonor, esposa de D. Manuel I.


O convento da Senhora da Assunção foi construído no local que ocupara a Judiaria de Faro.

Tendo-se exilado os Judeus para fugir da Inquisiçom, Samuel Gacon, fugiu para Pesaro, na Itália, desde onde continuou a imprentar tratados talmúdicos. Traços da comunidade judaica de Faro encontram-se também em Fez (Marrocos). Sabe-se também que Judeus expulsos originários de Faro viveram em Baiona, Londres, Dublim e Jamaica durante os séculos XVII e XVIII.

Após o terramoto de 1755 o Marquês de Pombal convidou os seus descendentes, homens de negócio e mercadores que moravam em Gibraltar e no norte da África, para regressar a Portugal e ajudar a recuperar a economia portuguesa. 

É deste jeito que no século XIX se estabelece umha nova comunidade judaica na zona da Rua de Santo António, composta por aproximadamente 60 famílias, contribuindo para o crescimento do comércio local. Com a passagem do tempo membros desta comunidade emigrariam para outras cidades.

Assim sendo, cerca de 1830, esta comunidade judaica edificou duas Sinagogas, de que já nom existem vestígios, e um cemitério. 

Intitulando-se «retornados», chamaram à cidade de Faro a Nova Jerusalém, e depressa tornaram-se a principal comunidade, fruto da sua capacidade financeira e da preparaçom para os negócios. Para além do comércio, os membros desta nova comunidade judaica de Faro investiram na indústria, com a instalaçom de várias fábricas que empregavam centenas de pessoas no fabrico de rolhas de cortiça, cigarrilhas e conservas de peixe. Importavam carvom da Inglaterra e exportavam produtos do campo (nomeadamente figos, amêndoas e alfarrobas) para França, Inglaterra e Gibraltar. 

Prova da prosperidade da comunidade ressuscitada é que o edifício onde hoje está instalado o Colégio Algarve (Rua Filipe Alistão), foi residência-palácio de Abraão Amram. A sua importancia ficou também patente aquando a visita do rei D. Carlos e da restante família real a Faro, para a inauguraçom da estaçom ferroviária da cidade. Como o Bispo carecia de condições para receber o rei, foi Samuel Amram quem emprestou tudo o que ele precisava, mesmo empregados para o servirem. 

Com o advento do século XX, começa também o declínio da pujante comunidade judaica de Faro. As novas gerações de Judeus começaram a sair da cidade para concluir os seus cursos superiores, indo para Lisboa, Londres ou os EUA para jamais regressar. Ao mesmo tempo, aconteceu a grande depressom do final da década de 1920, que levou à falência de muitas das empresas da região que eram propriedade de famílias judias.  Destarte, nos primeiro terço de século a comunidade judaica mal compreendia 50 famílias. Em 1965, vendo o esmorecimento, Semtob Deiblatt Sequerra, o último líder da comunidade, acertou com a Câmara local a manutençom do espaço do cemitério, para garantir a dignidade da necrópole. Em 1970 apenas havia cinco judeus a morar em toda a província, esmorecendo as duas Sinagogas existentes.


O Cemitério Judaico de Faro, classificado como local de interesse público no registo de monumentos nacionais, é a única mostra hoje existente da passagem desta comunidade judaica. O espaço, localizado na zona norte da cidade de Faro, entre o hospital distrital e o estádio de São Luís, é, ao mesmo tempo, Centro Histórico Judaico de Faro, que é gerido pola Comunidade Israelita de Lisboa. 

O terreno do cemitério foi adquirido em 1851 polos líderes da comunidade: Joseph Sicsu, Moisés Sequerra e Samuel Amram, sendo o primeiro enterramento o do Rabbi Joseph Toledano (em 1838) e o último o de Abrahám Ruah, em 1932.

O cemitério foi votado ao abandono até 1990, quando Isaac Bitton, descendente da comunidade de Faro mas radicado nos Estados Unidos, visitou o cemitério e ficou chocado com a sua degradação. Ao seu regresso os EUA, criou a Faro Cemetery Restoration Fund, Inc., organizaçom que no terreno era gerida por Ralf Pinto, descendente de judeus que fugiram para a Holanda. Em 1993 o cemitério foi reaberto ao público numha cerimónia de rededicaçom que contou com a presença do entom presidente da República, Mário Soares, que homenageou assim o contributo da comunidade judaica para o desenvolvimento do Algarve. 

Na ocasiom, o Presidente da República portuguesa plantou o primeiro dos dezoito ciprestes existentes na fachada do cemitério, como homenagem viva a Aristides de Sousa Mendes, o consul português de Bordéus que salvou 30.000 pessoas do Holocausto. 


Ciprestes na fachada do Cemitério da Colónia Judaica de Faro. Wikipedia

Em 2003 o cemitério renomeado passando a designar-se Centro Histórico Judaico de Faro. 

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