Páginas

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

CASTELO BRANCO

Cidade portuguesa, situada na regiom da Beira, perto da fronteira espanhola e do rio Tejo, com cerca de 34.000 habitantes.

Em 1213 recebeu foral de Pedro Alvito, cedido polos Templários, vindo a confirmar esta posse o Papa Inocêncio III em 1215. Entre 1214-30 os Templários mandaram edificar as muralhas e o castelo. É precisamente na zona medieval intramuralhas bem definida, onde ainda se conserva um conjunto assinalável de vestígios de edificaçom quinhentista. 

Já no fim do século XIV existem referências à existência dumha comunidade judaica e respetiva judiaria, embora haja relatos desde o século XIII sobre o assentamento de comerciantes judeus por estas terras. Porém, é no reinado de D. Fernando que surge a primeira prova documental (um contrato comercial) da existência de Judeus em Castelo Branco. 
Portado da Sinagoga de Castelo Branco
Existiu umha sinagoga a qual se presume, ainda sem confirmaçom arqueológica, ter-se situado no atual nº10 da rua da Misericórdia.


Situaçom da Judiaria de Castelo Branco. GoogleEarth
A Judiaria de Castelo Branco situava-se entre a Rua D’Ega, a Travessa da Rua do Muro (troço norte das muralhas), a Rua da Misericordia e a Rua do Caquelé. Os seus dous eixos fundamentais eram a Rua D’Ega no sentido (E-O) e o troço norte do que é hoje a Rua da Misericórdia a partir do cruzamento com aquela rua.
Planta da Judiaria de Castelo Branco
Correspondência entre a Judiaria de Castelo Branco e o desenho de Duarte Armas
Travessa da Rua do Muro, na Judiaria de Castelo Branco
R. do Caquelé na Judiaria de Castelo Branco. Talvez a etimologia do
nome desta rua esteja associada ao cemitério dos Judeus (almocakué)
Os Judeus de Castelo Branco desenvolviam diversas atividades que iam desde a agricultura, passando por mercadores e homens de ofício. A relevância económica desta comunidade teve reflexos demográficos, evidenciados quando em 1473 lhe foi concedida polo rei D. Afonso V a autorizaçom para urbanizar e habitar as ruas transversais ao arruamento que previamente ocupava a Judiaria. 

Entre esse ano e 1496 teve lugar o desenvolvimento da zona de expasom da Judiaria. Esta zona situava-se entre a muralha a (NNE-NNO), a R. D'Ega, as atuais travessas dos Oleiros, Troço superior da R. dos Oleiros (a partir da travessa do mesmo nome), Rua do Arressário e R. da Sobreira. 


Zona de expansom da Judiaria de Castelo Branco
Logo a seguir da expulsom dos Judeus dos Reinos de Espanha, Castelo Branco experimenta um aumento populacional de 60% e um consequente enorme aumento de construções. 

Em 1443 de Castelo Branco foi o berço de Afonso de Paiva, explorador judeu designado polo rei D. João II, para prospecionar por terras do oriente juntamente com Pêro da Covilhã, informações sobre o Caminho Marítimo para a Índia.


Depois da data do decreto de expulsom e conversom forçada dos Judeus de Portugal (1496/7), muitos Hebreus albicastrenses mudaram-se para outros arruamentos, como para o Largo de Camões e para as ruas Nova e do Relógio. A cidade tornou-se um importante centro de marranismo e de cristãos-novos. 

Algumhas das figuras principais da história da medicina internacional, os judeus Amato Lusitano (1511-1568) e Elijah Montalto (1567-1616) que também aqui nasceram, foram duas das personalidades mais relevantes da sua época que mais contribuíram para as bases científicas da medicina no mundo.

Amato Lusitano abandonou Castelo Branco para estudar medicina em Salamanca, regressando a Portugal para exercer essa profissom. Posteriormente deslocou-se para os Países Baixos, estabelecendo-se de vez em Tessalónica em 1559, onde viveu e morreu como judeu.

No centro da cidade, junto do jardim das plantas medicinais de Amato Lusitano, foi erguida em 1956 frente à Câmara Municipal umha estátua de bronze à memória deste grande médico, da autoria do escultor Joaquim Martins Correia (imagem abaixo).



A influência do judaísmo e marranismo nesta cidade foi de tal que, na zona sul do próprio jardim dos bispos do Paço Episcopal, construída no período pombalino, a estátua do cardeal rei D. Henrique 1º. Inquisidor geral do reino, é tratada em tamanho desprezível e de rodapé, tal como as dos reis Filipes.

Quanto à estátua de Moisés, encimando a cascata do mesmo nome, é polos seus pés que passa a água, símbolo de fonte da vida que irriga todo o jardim, no qual com a nova organizaçom espacial criada polo 1º. Bispo de Castelo Branco, Moisés tornou-se simbolicamente a sua figura mais proeminente, ainda que recuada e pouco visível em todo o conjunto, colocando em segunda ordem a figura de S. João Batista do Deserto, o profeta do cristianismo. 

Também o culto ao Espírito Santo, DEUS UNO, tam arreigado ao marranismo dos cristãos-novos, está simbolizado na estatuária do Jardim do Paço através da figura da rainha santa Isabel com o cordom da ordem franciscana, introdutora deste culto em Portugal e o tanque com as três coroas da festa dos Impérios.

Durante os séculos XVI, XVII e XVIII, foram levantados 400 processos na Inquisiçom dentro da área intramuralhas da vila, por denúncia de judaísmo, contra naturais ou moradores de Castelo Branco, dos quais resultaram 14 mortos. Desses, cita-se o caso de Maria Gomes, idosa de 117 anos, a vítima da inquisiçom mais idosa que se conhece. 

Quer nas localidades próximas da vila, quer no estrangeiro, algumhas centenas mais de albicastrenses foram vítimas deste tribunal da igreja; cita-se o caso do irmão de Amato Lusitano, Joseph Oheb (José Amato), que a 13 de abril de 1556 em Ancona/Itália, foi morto na fogueira.

Mais recentemente, o conhecido autor português Camilo Castelo Branco (1825-90), era descendente de cristãos-novos de Castelo Branco. O poeta Fernando Pessoa (1888-1935) também é umha personalidade portuguesa ligada a Judeus de Castelo Branco. De facto, ele defendia que provinha dumha família "mista de fidalgos e judeus beirões", estando muito provavelmente associado à família de Gregório Tavares Pessoa de Amorim.

Quando na década de 1920 os marranos portugueses renovaram as ligações com o judaísmo, um número de marranos de Castelo Branco retornaram à fe mosaica.

No inventário mais recente dos vestígios judaicos de Castelo Branco registam-se 291 portados biselados dos quais 6 som em arco quebrado, 112 janelas biseladas, um conjunto muito significativo de lintéis de portas e janelas trabalhadas, 2 símbolos religiosos claramente judaicos (umha Menorah danificada com sobreposiçom de cruciforme e um Mesusah) e 63 cruciformes associados à presença de cristãos-novos. 

Os vestígios da Menorah danificada com cruciforme sobreposto som visíveis na rua D’Ega nº. 10.


Rua D'Ega, nº 10, na Judiaria de Castelo Branco


Em 2012 o município, que faz parte da Rede de Judiarias de Portugal, colocou no pavimento da R. D'Ega (antiga rua principal da Judiaria) umha Estrela de David em recordaçom dos 516 anos da proibiçom das judiarias em Portugal.


Estrela de David na R. D'Ega de Castelo Branco

Na freguesia de Alcains também existem vestígios que confirmam a existência dumha comunidade judaica.

2 comentários:

  1. Em relação à Sinagoga de Castelo Branco só foi pena que alguém se tivesse lembrado de picar o arco gótico e tivesse apagado a inscrição que lá se encontrava, a Estrela de David. Existem desenhos de 1932, e de facto a estrela ainda lá se encontrava por essa data. Penso que a estrela deveria ser reposta, pois não é difícil de fazer essa inscrição, bastando recorrer aos desenhos existentes para saber a sua localização exata.

    José Z. Barradas

    ResponderEliminar