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sábado, 12 de outubro de 2013

TRANCOSO

Cidade pertencente ao distrito da Guarda, regiom da Beira Interior, com cerca de 3.200 habitantes. A cidade está rodeada de muralhas e coroada com um castelo medieval.

Nom se sabe ao certo quando se terám fixado os primeiros Judeus em Trancoso, contodo esta presença é anterior ao reinado de D. Pedro I, tendo sido este a conceder, pola primeira vez, em 1364, judiaria apartada, localizada na “…rua da metade da vila onde sempre tinham vivido” para estes habitarem e desenvolverem as suas atividades económicas. A comuna de Trancoso em meados do século XIV estava em pleno crescimento e entrava em confronto com a comuna judaica da Guarda em importância e riqueza.

Em 1439 o rei D. Afonso V outorga à comuna dos judeus umha carta de confirmaçom de "todallas graças e previllegios e liberdade".

Nesta altura, com cerca de 700 pessoas, a comunidade judia de Trancoso era mais numerosa que a da Guarda. Este facto fez com que em 1481 o rei D. João II concedesse a autorizaçom para a ampliaçom da sinagoga. A partir de 1492 foi um local de refúgio dos judeus expulsos de Espanha.

Apesar dos privilégios recebidos dos reis, isto nom  foi suficiente para se livrarem da perseguiçom do Tribunal do Santo Ofício após o édito da sua expulsom de 1496. Trancoso foi um alvo privilegiado da Inquisiçom devido à proximidade com a raia castelhana.

A judiaria de Trancoso encontrava-se dentro das muralhas, junto à igreja de São João de Vila Nova, e englobava a Rua Direita e a Rua da Corredoura.

Ao abrigo da documentaçom existente, pode-se observar que nesta comuna judaica existe pola primeira vez umha maior percentagem de mercadores o que nos poderá indicar que seria um local atrativo para a comercializaçom de produtos, já que muitos eram os que aqui se fixavam. Em segunda posiçom estavam os sapateiros. Depois vinham os mesteres e, embora, em número muito baixo, encontram-se novas profissões, como é o caso do pergaminheiro e do espingardeiro. Também aqui existiram rabis, sendo um deles também físico, o que quer dizer que a religiom estava aqui também bem representada, tal como a área da saúde. Na área da administração a comunidade contava com escrivães, simultaneando com a ocupaçom de sisão e genesimSom Judeus de Trancoso os Levi, Franco, Barzelai, Justo, Barroca, entre outros.


R da Alegria (bairro judeu de Trancoso) 

A localizaçom do antigo bairro judeu continua a ser umha incógnita, havendo várias hipóteses, nenguma delas sustentadas por um documento escrito, embora se pense que estaria localizada na área mais rica e importante do concelho, na entrada da cidade, junto às Portas d’El-Rei e da Rua da Corredoura (atual Rua Doutor Fernandes Vaz), rua em que mais tarde alguns cristãos-novos iriam habitar.

Após investigaçom levada a cabo por técnicos da Câmara Municipal, tudo indica que a antiga Rua da Judiaria seja a atual Rua da Alegria, umha vez que esta é a artéria com o maior número de marcas cruciformes e tem um imóvel onde, segundo a tradiçom oral, se praticou o culto judaico. Aliás, um levantamento topográfico feito pola Universidade de Évora mostra umha plena coincidência com as plantas das sinagogas de Évora, Tomar e Valência de Alcântara.


Planta do centro histórico de Trancoso. As letras localizam as marcas de simbologia religiosa existentes.

Na área urbana que se estende a Sul e a SO do lado Nascente, existe umha série de ruas estreitas, que parecem dar continuidade às que descem a encosta do morro do castelo, confluem para o Largo da Rosa. Esta parece ser uma zona mais antiga, onde nom se regista a localizaçom de igrejas, podendo corresponder em parte à antiga Judiaria, conhecida como umha das mais importantes da Beira.


Relativamente ao património material judaico, o Centro Histórico, em especial nas ruas da Alegria, Cavaleiros e Estrela, é marcado por umha forte presença de marcas religiosas judaicas e cristãs-novas. A Rua da Carreira é a artéria da povoaçom que apresenta maior quantidade de marcas cruciformes e onde é possível encontrar a gravaçom dum candelabro judaico.

Estám inventariadas cerca de 150 marcas religiosas, tendo maior importância as inscrições hebraicas e umha marca cruciforme com a letra hebraico da palavra “S’hadai” = D’us (Deus), bem como as ramificações representando as doze tribos de Israel.


No que diz respeito ao património edificado, o ex-líbris será, provavelmente, a Casa do Gato Preto ou Leom de Judá. Trata-se dum imóvel de raiz medieval com modificações arquitetónicas nos séculos seguintes. O que mais caracteriza este imóvel som os elementos esculpidos na fachada principal: as portas de Jerusalém, umha pomba, uma figura representando um homem a entrar na sinagoga e a segurar o kippá e o Leom de Judá. 


Porta de Jerusalém e Leom de Judá da Casa do Gato Preto. Foto Saraiva

A Porta de Jerusalém representa a entrada para a principal cidade do mundo judaico. A pomba é um símbolo de paz e inocência. Para os judeus, a pomba simboliza o povo de Israel, pois é a ave mais perseguida, tal como Israel é perseguido pelas nações do Mundo. Em relaçom ao Leão de Judá, o leão é o símbolo da tribo de Judá e era um motivo favorito na decoraçom de sinagogas. Os Judeus acreditavam que o leite de leoa tinha propriedades curativas. Os rabinos diziam que “era melhor ser uma cauda de leom que uma cabeça de raposa”, ou seja, era melhor associarem-se a pessoas eminentes, mesmo como subordinado, do que ser líder de uma ralé. A proveniência destes elementos é desconhecida, no entanto só seriam ali fixados em meados do século XIX, após o termo da atividade da Inquisiçom em Portugal e em concordância com a ampliaçom arquitetónica que o imóvel sofreu.


Casa do Gato Negtro de Trancoso

Existe a tese de que esta poderá ter sido a antiga sinagoga, mas tal nom se confirma pois quando os judeus pediram a D. João II (1482) autorizaçom para ampliarem a sinagoga ele autorizou, desde que ela nom fosse sumptuosa nem ostentasse riqueza. Talvez esta casa tenha pertencido a umha família judaica ou ao rabino da comunidade.

É, ainda, de salientar, em termos de património construído, o Poço do Mestre (possível nascente que alimentava o mickvé, ver imagem), bem como o imóvel nº 5 A da Praça D. Dinis, casa judaica onde se encontrou um pergaminho com a oraçom do “SHEMÁ” de Israel.


Poço do Mestre de Troncoso
Em outubro de 2012, durante o III Festival Internacional da Memória Sefardita, o Embaixador de Israel em Portugal, Ehud Gol, e o Município de Trancoso inauguraram o Centro de Interpretaçom Judaica Isaac Cardoso, conseguindo, deste modo, reforçar a importância do património judaico para a cidade.


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