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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

CARÇÃO

Carção é umha freguesia portuguesa do concelho de Vimioso, na regiom de Trás-os-Montes.

Os habitantes de Carção estám muito ligados ao comércio desde tempos muito antigos. Um grande número deles som descendentes de Judeus que se refugiaram no século XV nas aldeias raianas. A importância do legado judaico revela-se no símbolo da Junta de freguesia de Carção que tem no brasom umha mezuzá e umha menorá, o candelabro de sete braços, um dos mais antigos símbolos judaicos.


A partir do século XV e XVI iniciou-se o seu maior povoamento. Este facto ficou a dever-se à expulsom dos Judeus de Espanha polos reis católicos. Assim sendo, entraram em Portugal milhares de pessoas e, polo lado de Miranda do Douro, calcula-se que tenham entrado cerca de três mil. Inicialmente, fixaram-se num local chamado Prado das Cabanas, quatro quilómetros a leste de Vimioso, dispersando-se depois, pouco a pouco. Umha vez que Carção estava bem situada e tinha feira todos os meses, aqui chegaram muitas pessoas de origem judaica, trazendo com elas umha nova cultura e umha nova economia.

As tabernas e os talhos eram alguns dos negócios que pertenciam à comunidade judaica. As famílias de negociantes de Carção instalaram-se na zona da praça e os seus estabelecimentos não eram frequentados por lavradores.

A praça de Carção guarda memórias dos tempos de perseguiçom por parte da Inquisiçom, que condenou à fogueira cerca de 18 pessoas da aldeia. Destarte, para safar da morte, muitos Judeus converteram-se por fora, para mostrar que já eram cristãos, quando na realidade ainda viviam o verdadeiro espírito judaico. Este fenómeno é designado de “Marranismo”. Tudo leva a crer que os judeus usavam as alheiras, produto alimentar da zona, para mostrar que já eram cristãos, logo comiam carne de porco, quando, na realidade, eram feitas, apenas, de pão e aves.

Implantada mesmo no centro de Carção, hoje a “Taberna TAI” é um símbolo vivo dos tempos em que os Judeus dominavam o negócio na praça. O edifício centenário, que passou de geraçom em geraçom, foi recuperado segundo a traça original e, agora, acolhe pessoas de todos os estratos sociais. Aqui ouvem-se histórias dos tempos em que o cristianismo e o judaísmo dividiam a populaçom e, em tom de brincadeira, até se fazem comentários sobre as pessoas que ainda têm ar de judeus.

Os tempos passaram, as mentalidades mudaram e as práticas judaicas que ainda poderám existir fazem, apenas, parte da intimidade de cada um. A proprietária da taberna, Laura Tomé, de 57 anos, afirma que nom tem grandes memórias dos tempos áureos do judaísmo, mas sabe que a “Taberna TAI” foi umha das primeiras a surgir em Carção. “Este negócio já vinha do meu sogro, que pertenceu a uma família que tinha taberna e talho”, recorda ela.

“A aldeia estava dividida. Os judeus tinham os seus negócios na zona da praça, ao passo que os lavradores viviam no cimo do povo e só frequentavam os comércios e cafés da sua zona. Quando os lavradores desciam, o que, por norma, acontecia ao fim-de-semana, havia pancadaria”, recorda o presidente da Junta de Freguesia de Carção, Marcolino Fernandes. Com 76 anos, o autarca afirma que ainda viveu no tempo em que as rivalidades entre cristãos e judeus estavam bem vincadas. “Embora eu fosse lavrador, vivi sempre no meio dos Judeus. O meu pai esteve três anos em França e quando regressou comprou uma casa mesmo no centro da praça, o que para os judeus foi umha afronta. Por isso, desde pequeno que fui assistindo às rivalidades”, frisa o carçonense.

Para reivindicar as tradições e vestígios dos judeus, está em fase de conclusom um Museu dedicado às tradições judaicas. Promovido pola Associação Almocreve, este espaço vai ter dous pisos: um para exposições temporárias e outro dedicado ao judaismo. O museu fica mesmo no centro da praça de Carção, onde ainda se encontram outros vestígios judaicos. 

Prédio do Museu Judaico de Carção

“A questão dos cruciformes que há em várias casas, dizerem que realmente eram Judeus, o leom de Judá… as inscrições em hebraico que significam o número oito, depois a pedra lavrada onde tem lá o processo dum senhor que foi morto por partir umha cruz de cristo e isso está no Lago das Fontes, nas fontes tem lá a marcaçom de 1661 que foi a partir daí que houve o maior massacre na povoaçom…” disse Paulo López, o presidente de Almocreve.


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