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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

COVILHÃ

A Covilhã é umha cidade portuguesa com cerca de 36.400 habitantes situada na vertente sudeste da Serra da Estrela, sendo um dos centros urbanos de maior relevo da regiom. É umha cidade de características próprias desde há séculos, conjugando em simultâneo factos interessantes da realidade portuguesa.

A comunidade judaica da cidade da Covilhã foi desde o século XII e até à sua diluiçom, a maior e mais importante da Regiom da Serra da Estrela e umha das maiores e mais fortes de Portugal.

A carta foral de Covilhã de 1186 mostra umha certa proteçom por parte de el-Rei da atividade comercial dos Judeus, declarando que "todo aquele que penhorar mercadores cristãos e viandantes ou sejam judeus ou mouros que nom forem fiadores ou devedores pagará ao fisco sessenta soldos e restituirá em dobro o que apreender a seu dono, e além disso cem morabitinos, em pena da imunidade que nom respeitou, pertencendo metade ao Rei e a outra metade ao concelho". Durante séculos serám constantes e diversificadas as referências históricas registadas em relaçom a esta judiaria.

A judiaria da cidade da Covilhã, era de grande dimensom e localizava-se na zona sudeste da cidade dentro e fora da muralha, totalizando cerca de 30% da área total da cidade. 

Tendo como referência a planta quinhentista da cidade da Covilhã, pode-se observar que o bairro judeu começou por encontrar-se dentro da muralha cristã, mas devido ao elevado crescimento da populaçom judaica, desde finais do séc. XIV foi aumentando para fora da muralha no arrabalde.

A judiaria ocuparia um espaço que se estenderia entre a Porta de S. Vicente e as Portas do Sol (...), num território que se desenrolaria entre o atual edifício do mercado municipal e o pelourinho estendendo-se até aos adros das igrejas de São Silvestre, São Tiago, São Pedro e menos provavelmente, até às igrejas da Madalena, e de São Bartolomeu. (...) A judiaria avizinharia a oriente com a rua Direita e, provavelmente, com o mercado medieval. Estavam englobadas dentro do seu espaço a Porta do Sol, e os arcos de D. Joana e Barbacã. 

Contodo, é de considerar que esta primitiva área, a partir dos finais do séc. XV, deveria estender-se até à zona atualmente demarcada como da judiaria, abarcando as Ruas das Flores e do Ginásio Clube e as Rua, Travessa e Beco da Alegria, que se situavam igualmente próximas do “(...) muro da dicta vila contra o arravalde”.


R. do Ginásio da Covilhã. Imagem tirada do Google Maps

Devido à sua localizaçom, o contato entre os judeus e os cristãos era permanente já que cinco das dez portas da cidade estavam dentro da área judaica. Além das portas havia igualmente janelas abertas para o casario cristão. Essas janelas e portas na judiaria da Covilhã tiveram de ser fechadas em 1468 por ordem de D. Afonso V, devido a queixas de cristãos por estarem abertas para a sua cidade.

No final do século XV esta enorme judiaria poderia ser dividida em polo menos três núcleos hebraicos, o primeiro, mais antigo, dentro da muralha junto à Porta do Sol, o segundo núcleo também junto à Porta do Sol, mas extramuros e o terceiro, posterior, encontrava-se também fora da muralha abrangendo uma área substancialmente maior, alargando-se desde a Porta de São Vicente até à Porta da Vila e incorporando bairros do Refúgio e Meia Légua. Este último de Refúgio deverá ter o seu nome ligado a umha zona que terá sido refúgio de judeus perseguidos. Nessa altura, o volume financeiro das rendas pagas pola comunida era de 42.500 réis.
Planta da Covilhã no séc. XV
O bairro judeu da Covilhã situa-se atualmente na área urbana da cidade, fora das antigas muralhas, na freguesia de São Pedro, num terreno de topografia com pendente acentuada. A memória popular refere que aí viveu a maior parte da comunidade judaica covilhanense e também aí se situa a antiga Sinagoga. 

Nesta zona ainda se encontram imóveis com características arquitectónicas e técnicas construtivas medievais. As ruas som estreitas, sem lógica aparente e os espaços públicos exíguos, enquanto que os prédios som estreitos nas fachadas, adossados, tendo-se desenvolvido em comprimento e em altura, ao sabor de gostos pessoais e de acrescentos apendiculares.

Casas com o piso térreo em granito e o piso superior em tabique, método construtivo tipicamente medieval, som de fácil percepçom no bairro judeu da Covilhã. Habitações com características arquitetónicas judaicas, como porta grande e pequena, janelas desenquadradas, portas chanfradas ou ombreiras biseladas som fáceis de descobrir hoje na Rua das Flores e Rua do Ginásio.


Judiaria da Covilhã. A amarelo estám os percursos de ligações internas entre as casas, para facilitar a prática secreta de culto judaico e fuga às perseguições da inquisiçom.


A profissom de sapateiros destacava-se muito dentre os membros da judiaria de Covilhã, sendo seguida polo ofício de ferreiro. Também é expressivo o trabalho da ourivesaria entre a comuna judaica, bem como a existência de três rabinos, sendo que dous deles se ocupavam também das funções de físicos. A Covilhã existia também um carniceiro próprio.

As inquirições das denúncias contra os judeus secretos ou judaizantes eram feitas nas igrejas de Santa Maria e da Madalena, a primeira delas ainda é hoje visitável.


Travessa da Alegria. Bairro judeu da Covilhã. Imagem tirada do Google Maps
A importância dos membros das comunidades judaicas da Covilhã ou seus descendentes pode ver-se reflectida em três factos principais:
- O desenvolvimento posterior da indústria de lanifícios que teve a colaboraçom de imensos elementos importantes oriundos desse ramo social e étnico;
- A quantidade e qualidade de portugueses judeus ou de origem judaica covilhanense ligados à epopeia dos Descobrimentos e expansom marítima portuguesa, caso único em Portugal: Mestre José Vizinho, cosmógrafo de D. João II; Rui Faleiro, artífice da viagem de circumnavegaçom de Fernão de Magalhães; Francisco Faleiro, grande cosmógrafo colocado ao serviço de Espanha, autor do Tratado del esphera y del arte del marear; eventualmente mesmo Pêro da Covilhã, explorador e preparador do caminho marítimo para a Índia, seria de origem cristã-nova; também o famoso João Ramalho, primeiro bandeirante no Brasil, teria origem judaica covilhanense;
- A presença numerosa dos nomes mais clássicos (embora nom exclusivos) de origem cristã-nova em muitos dos atuais habitantes da cidade (ex.: Mendes, Cardoso, Costa, Pereira, Henriques, Cruz, Dias, Baltazar, Vizinho, Gomes, Ramalho, Nunes, Flores, Franco, Vaz, Pinho, Teles, Faleiro, Elias, Mesquita, Oliveira, Ranito, Benjamim, etc.).

Já no século XX, a terceira comunidade portuguesa foi reestabelecida na Covilhã em julho de 1929, onde existiram 6.000 cripto-judeus. Edificou-se umha sinagoga, chamada Sha'ari kabbalah (As Portas da Tradiçom). Porém, com a implantaçom da ditadura em 1932 a atividade missionária judaica entre os cripto-judeus diminuiu.

Até ao século XX, em meados do qual foi demolido, existia o edifício da sinagoga que se situava nas redondezas da atual igreja de Santiago. 

Perante o nível de constante descaracterizaçom que se vem vindo a constatar nessa zona, degradaçom e consequente envelhecimento dos edifícios existentes, assim como da resoluçom dos problemas existnetes ao nível dos arruamentos, espaços públicos, a câmara municipal elaborou em 2007 umha atuaçom urbanística na judiaria na continuidade do trabalho realizado para a zona intra-muralhas.

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