quarta-feira, 23 de julho de 2014

GENOCÍDIOS

Com motivo da Guerra de Gaza de 2008-09 entre as Forças de Defesa de Israel e o grupo militante islamista palestiniano do Hamas, Joan Bernat, entom eurodeputado de ERC, fazia a seguinte reflexom relativamente aos GENOCÍDIOS. As suas palavras tornam novamente estes dias à tona da atualidade, pois a acusaçom de genocídio volta a pairar sobre o Estado de Israel, enfrentado numha escalada de violência com o terrorismo islamista.
Bernat Joan

Ultimamente está-se ouvindo o termo "genocídio" (acho que de maneira totalmente frívola) para se referir ao ataque do Tsahal (o exército de Israel) à Faixa de Gaza contra os quartéis militares do Hamás (com a perda, muito importante, de vidas de pessoas nom ligadas a qualquer força armada). Acho que frivolizar sobre os genocídios mostra, em boa parte, a imadurez, a capacidade de manipulaçom e o fanatismo dalguns setores da nossa sociedade, que estima mais afirmar-se nas suas posições do que nom procurar objetividade e parcialidade entre partes em conflito.

Quais foram os grandes genocídios do último século (entendendo por genocídio a vontade de liquidar toda umha populaçom polo facto de ser ela, independentemente de qualquer outra consideraçom?). Por rácios, o mais béstia de todos seria os dos Khmers Vermelhos de Camboja, que liquidaram mais de dous milhões de pessoas dumha populaçom de aproximadamente seis. Para que se produza algo semelhante nos Países Catalães devia haver uns quatro milhões de mortos. Pol Pot, o líder comunista cambodjano, obteve a duvidosa honra de ser o primeiro na classificaçom, falando em proporções.

Se, por outro lado, usarmos os números absolutos, quem ganha é um outro líder comunista, Mao Zedong. Existindo ainda um certo baile de cifras, a maioria de analistas do "reinado" de Mao concordam em que se produziram por volta de sessenta milhões de mortos (muitíssimos mais do que houve entre os contendores de todos os lados que morreram durante a Segunda Guerra mundial). Já agora, em plena matança, Ocidente estava cheio de maoistas que achavam mais positivo o regime chinês do que, ponhamos por caso, a democracia burguesa que sofremos na nossa parte do mundo.

Prossigamos com as cifras arrepiantes: durante o Holodomor (a Grande Fome), na Ucrânia morreram dez milhões de pessoas. Alguém pode retorquir que nom se trata dum genocídio direto perpetrado pola Uniom Soviética contra umha das suas nacionalidades, mas o facto é que os mortos -de fome- foram a consequência da coletivizaçom das terras e da tentativa de dar cabo com os propriétarios rurais. Se, de passagem, se enfraquecia a consciência nacional ucraniana e se afirmava a "consciência de classe", isso era o que se ganhava.

Mas a frieza com a que se perpetrou e pola mostruosidade do planeamento e a execuçom, o genocídio contra os Judeus (seis milhões de mortos), também destaca poderosamente. Foi levado a cabo polo nazismo e nele manifestava-se claramente a vontade de dar cabo de toda a populaçom judia (o que se denomina "soluçom final"), a partir do discurso paradoxal de que punham em perigo a sociedade alemã.

E, puxando para atrás, chegamos ao primeiro grande genocídio do século XX, que foi o genocídio contra os Arménios a mãos da Turquia. Neste genocídio, que a Turquia ainda hoje nom reconhece, por volta de um milhom e meio de Arménios foram mortos, e os que ficaram (os sobreviventes) tiveram de abandonar as suas terras e espalhar-se por todo o mundo.

Seria muito de agradecer, portanto, ao falar em genocídios, que nom se frivolize tanto e se seja algo mais rigoroso e mais sérios (se nom é pedir muito!). Talvez o rigor e a seriedade serám precisos para que nom se produza nengum novo genocídio. E, além disso, nom nos deparemos com ele aplaudindo-o.

Fonte: CRITERI
Traduzido para o galego-português por CAEIRO.

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