sábado, 19 de abril de 2014

O PROCESO DO MALSIM CONTRA OS CRISTÃOS-NOVOS DE RIBADÁVIA

As primeiras visitas da Inquisiçom espanhola a Ribadávia nom se produzem até 1595, um século depois da expulsom dos Judeus.

O processo de Ribadávia recebe o nome da alcunha com o que era conhecido um cristão-novo, Jerónimo Bautista de Mena, vizinho desta vila. Pessoa inadaptada, de carácter volúvel e agressivo, foi enviado para Veneza, Pisa e Tessalónica, onde aprendeu a lei judaica e se circuncidou, mas, de regresso à Galiza, manifestou a sua inadaptaçom recorrendo ao Tribunal da Inquisiçom.

Assim sendo, em outubro de 1606 entregou ao Santo Ofício umha lista com 200 pessoas acusadas de seguir a praticar o judaísmo apesar de se terem convertido ao cristianismo. O malsim (do hebraico mashlin, isto é, delator, traidor) denunciou à sua própria mãe, Ana Mendes, morta mais de dous anos atrás, os seus irmãos de 15 e 13 anos, às suas irmãs e cunhados, para além de delatar a várias famílias de mercadores, como a de Fernão Gomes, médicos, vereadores, oficiais de justiça, estudantes, médicos ou advogados.

Em 1607 foram praticadas a maioria de detenções, já que muitos dos denunciados fugiram, altura em que Jerónimo Bautista, o acusador, rejeitado polo seu grupo originário, apareceu assassinado numha rua sem se conhecerem os seus autores. Polos calabouços secretos da Inquisiçom, sediada no convento de Santo Domingos, passou grande parte da vizinhança da vila para ser interrogada ou torturada. Mesmo houve casos de heroísmo, como o de Maria Vasques, de 60 anos, que nom delatou a ninguém apesar das graves torturas às que foi submetida.

Convento de Santo Domingos de Ribadávia
Nem todos os perseguidos neste processo eram vizinhos de Ribadávia (19), ainda que alguns eram de Portugal (10) como, por exemplo, Leonor Gomes, de 68 anos e natural de Vila Flor ou António de Morais, natural de Mirandela de 36 anos. Também se testemunham processados de Ourense (4), Ponte Vedra (2) e Verim (1). 

Os acusados exerciam profissões muito diferentes e foram objeto de investigaçom tanto um "graduado em artes e medicina" como um mercador de peixe e outro de panos ou Duarte Coronel, pertencente a umha ilustre família de judeus de Salvaterra do Minho e vizinho de Ribadávia, pois casara com Ana de Mena. Foram condenadas um total de 42 pessoas, tanto homens quanto mulheres de todo tipo de idades, acusados todos eles de "terem vivido na lei de Moisés".


Em 11 de maio de 1608 celebrou-se na praça da Quintana de Santiago de Compostela um grande auto-da-fé com 28 acusados de Ribadávia, sendo queimados Filipe Álvares e o seu filho António Mendes. Posteriormente, a 22 de fevereiro de 1609, celebrou-se um novo auto, com mais sete réus procedentes de Ribadávia.

Porém, as investigações do Santo Ofício fizeram com que as suspeitas caíssem mesmo sobre o próprio acusador, chegando-se a desenterrar o seu corpo e a queimar as suas ossadas por heresia em agosto de 1610. Nesta última fase do processo, iniciada em setembro de 1609, também foram condenadas a memória e fama de Branca Vasques, Ana Mendes e Marcos Lopes, já todos defuntos, ao tempo que se ordenava a confiscaçom dos seus bens e que fossem queimados em "estátua".

O processo de Ribadávia, que envolveu quase metade da populaçom da vila, supôs umha comoçom enorme para umha populaçom tam pequena.

Casa da Inquisiçom de Ribadávia, no fundo da R. S. Martinho
Durante a Festa da Istória que cada ano se celebra em Ribadávia para comemorar a presença judaica nesta vila galega tem lugar umha cenificaçom teatral baseada neste caso. O argumento serve de escusa para apresentar umha reconstruçom da vida dos conversos nos inícios do século XVII.

No quadro dos eventos da XII Jornada Europeia da Cultura Judaica, em 2009 colocou-se umha placa comemorativa deste infame processo.

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