domingo, 26 de janeiro de 2014

VILAR MAIOR

Freguesia portuguesa do concelho do Sabugal e com 120 habitantes.

Vilar Maior foi vila e sede de concelho entre 1296 e 1855. À época da Reconquista cristã da península Ibérica, a sua posiçom teve valor estratégico, na fronteira entre cristãos e muçulmanos. 

Possui um castelo medieval, cuja primeira referência é datada de segunda metade do século XI, imediatamente após a campanha das Beiras, promovida por Fernando Magno (1139). Segundo essa vertente, a sua (re)construçom inscreve-se no quadro de expansom do reino de Galécia-Leom. Outros, entretanto, atribuem a sua (re)construçom a Afonso VIII de Galécia-Leom, tendo a cerca da vila sido erguida desde o final do século XIII, o que atesta a sua importância regional à época.

Integrante do território de Ribacôa, disputado a Leom por D. Dinis (1279-1325), este soberano passou foral à povoaçom em novembro de 1296, quando a terá conquistado. A sua posse definitiva para Portugal, entretanto, só foi assegurada polo Tratado de Alcanices (1297), a partir de quando o soberano procurou consolidar as fronteiras na regiom, fazendo reedificar os castelos de Alfaiates, Almeida, Castelo Bom, Castelo Melhor, Castelo Mendo, Castelo Rodrigo, Pinhel, Sabugal e este, de Vilar Maior.

Com a paz, a fortificaçom perdeu importância e começaram a sentir-se dificuldades de povoamento. Visando reverter esse quadro, em meados do século XV, a vila recebeu o privilégio de couto de homiziados (1440), visando atrair moradores. Polo mesmo motivo, D. Manuel I (1495-1521) concedeu-lhe o Foral Novo (1510).

Existem indícios de presença judaica em Vilar Maior entre os séculos XV e XVI. 
Judiaria de Vilar Maior. Ao fundo o castelo. GoogleMaps
A judiaria de Vilar Maior correspondia à zona mais antiga e elevada da povoaçom na Rua da Costa.
R. da Costa na Judiaria de Vilar Maior. GoogleMaps
Nesta rua situar-se-ia a sinagoga, em cujo nº5 se identificou, numha parede interior, um armário judaico ou hejal, altar de pedra que serviria para  a realizaçom dos cultos. 
Armário judaico de Vilar Maior. Maria Virgínia Magro.
Este armário encontra-se virado para a porta de entrada, na direçom noroeste. É composto por quinze blocos de granito, apresentado três níveis de formato rectangular, sendo o superior de largura inferior aos restantes, e o nicho inferior apresenta um vazadouro. Este piso inferior estaria provavelmente relacionado com a guarda de recipientes com líquido, deduzindo também polo rebaixamento da base para a parte posterior. Tem cerca de 1,97 m de altura face aos 1,10 m de largura e umha profundeza que ronda os 45 cm. 
Armário judeu de Vilar Maior. Maria Virgínia Magro.
Nom tem moldura e, ao contrário dos outros dous exemplares encontrados no Sabugal, este armário nom apresenta vestígios de ter possuído porta ou cortina.
Parte traseira do armário judeu de Vilar Maior. Maria Virgínia Magro.
Estes armários têm sido aceites como o local onde eram guardados os rolos manuscritos da Torah. Diante destes prestar-se-ia o culto no dia de Shabat, com a leitura dos manuscritos. Estes apareceriam principalmente nas sinagogas, mas umha vez que o culto judaico foi proibido e estes foram obrigados a partir ou a se converterem ao cristianismo, surgem armários destes em casas particulares, cristãos-novos, que continuavam a prestar culto judaico ocultamente, o que parece ser o caso desta habitaçom.

Na mesma casa, ao lado do armário, som visíveis duas portas para o mesmo espaço. Numha primeira observaçom poder-se-ia atribuir este cenário a umha sinagoga onde era comum haver duas entradas, umha para os homens e outra para as mulheres. 
As duas portas no interior da casa. Maria Virgínia Magro.
No entanto, sabe-se que estas aberturas dariam também para espaços diferentes, o que nom é o caso aqui. Numha observaçom mais detalhada apercebe-se também que estas duas portas som de cronologia diferente. A que se encontra nitidamente mais perto do armário, de acordo com o aparelho de construçom, assemelha-se a umha obra mais recente em comparaçom com a da esquerda, com ombreiras chanfradas e mais rústica

Exclui-se, assim, a hipótese de se tratar dumha sinagoga, preferindo interpretar este espaço como uma casa onde o culto judaico era praticado secretamente.

Atualmente, este edifício apresenta o Hejal, as duas entradas diferenciadas, uma para os homens e outra para as mulheres, e um altar em granito onde seria guardada a Torah, a Arón Há-Kodesh, arca sagrada. 

Ainda nesta rua som visíveis alguns vestígios gravados na pedra da presença desta comunidade, nomeadamente o candelabro de sete braços gravado ao contrário nas ombreiras e soleiras das portas, simulando umha  cruz no pé do candelabro. 

Em habitações de Vilar Maior som proliferam marcas cruciformes frisamos já a proliferaçom, sendo bem visíveis dous núcleos na aldeia: um inserido entre a Rua da Costa e Rua da Igreja; e outro, a cota inferior, entre o Largo das Portas e a Avenida das Escolas. A dispersom destas marcas pode afastar a ideia de se tratar dumha judiaria. 
Marca judaica na Rua da Costa, nº 12. Maria Virgínia Magro.

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