sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

MONFORTE DE LEMOS

Cidade galega, capital da regiom da Ribeira Sacra, situada à beira do rio Cabe e com umha populaçom de cerca de 19.700 habitantes.

De grande importância histórica, trata-se dumha vila fortaleza feudal, destacando o mosteiro e castelo que se acham no cimo dum outeiro do que ainda se conserva a sua torre da Omenagem e algumhas ruínas. Por volta do castelo ergueu-se um burgo, estando o conjunto circundado por muralhas das que ainda restam algumhas partes e portas, como a da Alcaçaba/Peixarias, a Porta Nova ou a do Cárcere Velho/Sapatarias. A muralha isolava a populaçom dos ataques exteriores e, pola sua vez, mantinha o ferrenho domínio condal sobre os vassalos.

O passado hebraico da cidade está intimamente ligado à história de Monforte. Desconhece-se o momento certo em que os Judeus se instalaram em Monforte de Lemos e apenas existe constância documental da sua presença a partir do século XV (as referências mais antigas desta presença remontam-se ao século X). Foi a partir da vaga antissemita castelhana de 1392 que aumentou notavelmente a presença judaica em Monforte, sendo tam importante a populaçom judaica que denominavam Judeus a todos os habitantes da vila ou ao extremo de, em meados do século XV, os Judeus de Monforte se deslocarem para outras vilas, constituindo judiarias em Ares ou reforçando outras existentes como a de Betanços.

Assim sendo, a tradiçom popular fez com que, em determinado momento, todos os vizinhos de Monforte fossem qualificados como rabudos, por extensom dos membros da sua Judiaria, ou que ainda arestora se conserve memória do ditado popular, especialmente entre os moradores da vizinha povoaçom de Sárria, relativo aos monfortinos: "Monforte de Lemos. Monforte dos demos. 500 vizinhos: 300 ladrões e o resto judeus".

Protegidos polos Condes de Lemos, os Judeus de Monforte gozaram da liberdade e tutela senhorial das judiarias de Ribadávia, Ourense, Tui ou Ponte Vedra. Durante séculos os Judeus exerceram o labor de tesoureiros do conde, assessores ou funcionários, bem como os ofícios tradicionais. Mais umha vez, vê-se a ligaçom judeus-senhores feudais-mosteiro.

Como noutros casos, a populaçom hebraica instalou-se ao abrigo do castelo e mosteiro de Sam Vicente do Pino, alojando a sua judiaria na encosta norte que sobe para o monte do castelo e o mosteiro. 

A judiaria inicial de Monforte de Lemos esteve localizada na rua Caleja (depois Rua Nova e agora Rua de Abelardo Baanante). Esta rua surge da igreja paroquial de Santa Maria da Régua, ligando diretamente com a Ponte Velha. Na sua parte alta mostra um interessante conjunto habitacional de construçom popular que se levantaram sobre outras anteriores, que acolhiam famílias hebraicas, como a de Isaque Chamiço em 1462.

Judiaria Velha (Rua Caleja)
Escadaria na parte alta da rua. CAEIRO
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Parte baixa da rua, vista da Ponte Velha. CAEIRO
Ponte Velha de Monforte. CAEIRO
Porém, os Judeus de Monforte, a diferença doutras judiarias galego-portuguesas, nom se viram obrigados a habitar um bairro determinado e encerrado, mas a sua presença estendeu-se por toda a vila, habitando nas chamadas "zonas de âmbito judaico", quer dizer, onde a populaçom era maioritariamente hebraica, mas nom segregada. 
Localizaçom das zonas de âmbito judaico de Monforte. GoogleEarth
Seja como for, a Judiaria de Monforte de Lemos abrangia a Rua da Falagueira, a Rua Caleja (já referida, atual Rua Abelardo Baanante), Rua Velha, Rua Sapatarias (atual Travessa do Cárcere Velho), Peixarias, a Praça do Açougue (atual Praça de Peixarias) ou as ruas dos Ferreiros (hoje parte da Praça de Espanha) e do Cardeal.
Arruamentos da Judiaria de Monforte de Lemos. GoogleMaps


Rua Falagueira


Esta rua liga a Porta de Peixarias com a Porta Nova e constitui o eixo principal do bairro judeu e da cidade medieval. 
Porta de Peixarias no início da R. Falagueira
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Restos dumha edificaçom que permitem localizar em pé o trabuleiro da antiga oficina dum sapateiro: um amplo peitoril utilizado como montra para poder despachar do interior da habitaçom.
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Prédio do antigo Concelho de Monforte de Lemos até o seu deslocamento, no início do século XX, para a Rua do Comércio.
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As hortas foram ocupando o espaço das casas entre a rua e a muralha, ficando em pé algumha das torres.


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Casas reabilitadas no final da Rua.




Porta Nova, vista de dentro da Rua Falagueira:
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Porta Nova, vista de fora:
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Rua Sapatarias
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Conhecida como Rua do Cárcere Velho desde a segunda metade do séc. XIX em referência à prisom do distrito judicial de Monforte que lá esteve. No mesmo prédio do antigo cárcere aprecia-se o início dum arco pertencente à primitiva porta da Sapataria (séculos XIII-XIV).
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Rua Velha
Rua que liga a Sapataria com a Falagueira. Completamenta abandonada, trata-se dumha das mais antigas da cidade; de facto, já recebia esse nome no século XII. Até o século XVI esta rua teve grande vitalidade, registando-se populaçom até o século XVIII. Nos documentos dos séculos XVII e XVIII já se fala nela como umha rua praticamente despovoada.
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Rua Peixarias
Esta rua inicia-se na Porta de Peixarias e percorre o adarve da muralha.
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Eva L. Parguinha
Entroncamento com a R. da Sapataria. GoogleMaps

Rua dos Ferreiros
A parte alta da Praça de Espanha esteve habitada na Idade Média por artesãos judeus, como a família formada por Manuel a sua filha Lidica, os judeus. Muito perto da praça, na rua Doutor Teixeiro, habitou até há pouco tempo um personagem muito popular em Monforte, conhecido como "O Judeu" que despachava o seu pequeno negócio através dum destes trabuleiros repartidos por diferentes pontos da cidade.
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Rua do Cardeal
Também conhecida como Rua dos Sedeiros, estava ocupada na Idade Média por negócios desenvolvidos por Judeus que se dedicavam ao comércio da prata, panos e sedaria.
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Ao pé da Porta da Peixaria, no início da R. Falagueira, encontrou-se umha lápide sepulcral hebraica dedicada a Joám Gaibor e ao seu filho Jorge. Trata-se das casas da família Gaibor, localizadas nos números 1 e 3 da R. Falagueira, um conjunto de duas casas dos séculos XV-XVI cujas fachadas se conservam em muito bom estado e umha delas tem umha das suas portas cum arco de meio ponto semelhante aos doutras portas de casas dessa mesma época de Ribadávia e Alhariz. Ao lado desta existe outra porta de entrada de lintel reto e que tem umha concavidade na ombreira direita.

Suspeita-se que a Sinagoga de Monforte estivesse localizada na Rua Falagueira. Este prédio é identificável pola cantaria das ombreiras e as pedras bem talhadas do lintel do portom.

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A sinagoga apenas conserva os muros e, ao fundo, lindando com o monte de Sam Vicente, dentro do próprio solar duas covas que, segundo os últimos dados e opiniões especializadas podem corresponder ao mikvé ou banho ritual judaico.



Som duas covas, umha delas com uns degraus para descer ao estanque e nela pode-se ver um buraco na parte superior, labrado na rocha que permitia recolher a água procedente do céu.


A Torre da Omenagem, localizada no conjunto monumental de Sam Vicente, o principal elemento do castelo que se conserva, apresenta várias estrelas de Salomom (as cinco pontas que representam os cinco livros do Pentateuco ou cruz de Trasgo) na parte mais antiga da torre (séc. XIV).

Existem muitos documentos do século XV que avalizam o teor da presença judaica em Monforte, respeitantes ao pagamento que as alfamas galegas fazem à Coroa de Castela, e cuja quantia exprime a sua importância e peso demográfico.

Depois da expulsom de 1492 a Rua Falagueira foi rebatizada de Rua da Cruz para varrer o rasto da presença hebraica e cristianizar o ambiente. Embora Juan de Gaibor, secretário do terceiro Conde de Lemos, se converteu ao cristianismo para safar da expulsom, alguns dos membros da sua família foram perseguidos segundo um documento da Inquisiçom de Santiago de 1580, sendo alguns deles executados.

No entanto, Monforte iria viver o seu maior esplendor entre os séculos XVI e XVII como capital do Condado de Lemos.

Existem várias tradições e lendas populares, ainda lembradas, sobre os Judeus de Monforte. Entre as quais, a do Cristo dos Açoites e o Cristo da Colada, nas que se contam supostas heresias e vexames realizadas por Judeus com o imaginário cristão, o milagre posterior do crucifixo e a consequente puniçom para o judeu. Na maioria dos casos, trata-se de difamações vindas da Inquisiçom a fim de justificar a repressom dos convertidos.

Também cabe destacar a história do apelido "de Lemos", já que surpreende o número de famílias sefarditas que portam este apelido desde os século XVI que se estenderam pola Europa e América. Embora nom se possa afirmar que todos eles procedam de Monforte, já que muitos Judeus adoptavam esse nome para procurar a proteçom dos Condes de Lemos.

A câmara municipal de Monforte promoveu um trabalho de pesquisa sobre a comunidade judaica e de conversos. Estes trabalhos significaram um importante passo na recuperaçom e difusom desta parte da história local, como é a entrada de Monforte de Lemos na Rede de Judiarias de Espanha - Caminhos de Sefarad em novembro de 2001.



Além disto, desde 2009, Monforte de Lemos celebra cada ano a sua Festa da Judiaria na zona medieval da cidade, testemunhando deste jeito a pegada da presença judaica.

A 6 de setembro de 2019, com motivo do XX Dia Europeu da Cultura Judaica, o Concelho de Monforte de Lemos realizou um ato de homenagem no número 11 da Rua Falagueira com presença de descendentes de famílias judaicas, entre as quais a Gaibor, e o historiador Filipe Aira. A homenagem consistiu na plantaçom dumha oliveira e na colocaçom dum monólito com umha lápide comemorativa.


Texto da lápide da Rua Falagueira:

"Em lembrança da comunidade judaica e judeu conversa monfortina que, ao longo dos séculos, com as suas vivêncis e com o seu trabalho, contribuiram para a construçom e à existência de Monforte de Lemos.

A Ismael "judila", Moshe "judio", Manuel e Ídica "los judios", Boaventura "judio", Esther "la judia", Ventura "judio", Isaaque Chamizo "el judio" e a todos os demais sefarditas monfortinos antes da expulsom do ano 1492.

Às famílias conversas Gaibor, Céspedes, Coronel, Fonseca, de Freitas, de Paz, de Oliveira, Mesquita, Ávila, Enríquez de Lucena, González, Méndez, Álvarez, Correia, Rodríguez, Feijó, Pereira.

E a todas as famílias sefarditas que desde a nosssa terra a partir do século XVI espalharam polo resto do mundo o apelido "de Lemos" ou "Lemos".

3 comentários:

  1. Sergio Mota e Silva4 de julho de 2018 às 06:22

    Este também é meu mail podem usar qualquer um dos dois. Muito obrigado?
    Sergio Mota e Silva, Porto Alegre, Brasil

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    1. Muito obrigado polos seus comentários.

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    2. Caro Sérgio Mota, para comunicações privadas pode contatar em: cdesassossego@gmail.com

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