quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

SALZEDAS

Freguesia portuguesa com cerca de 770 habitantes pertencente ao concelho de Tarouca e situada na margem direita do rio Varosa, regiom do Alto Douro.

A sua origem remonta ao século XII, tendo aí sido construído o Mosteiro cisterciense de Santa Maria de Salzedas, que chegou a ser um dos maiores e mais ricos mosteiros portugueses.

Vista aérea de Salzedas com o mosteiro. GoogleEarth
Em redor do Mosteiro de Salzedas e da Ponte e Torre da Ucanha, ambos monumentos classificados, emergem a céu aberto os vestigios dumha antiga judiaria (também conhecida como bairro do Quelho).
Mosteiro de Stª Maria de Salzedas. Wikipédia
A Judiaria de Salzedas é um conjunto maioritariamente habitacional, com marcas da ruralidade em que foi gerada, evidenciadas por alguns pisos térreos com a funçom de curro para animais, e onde a parte residencial é limitada aos pisos superiores.

É possível visualizar vestígios de alpendres em madeira, representativos da tradicional irregularidade própria dos materiais mais antigos, bem como pequenos corpos avançados nos pisos superiores. Estes tinham a funçom de aumentar ligeiramente o espaço interno, à custa de uma sobreposiçom com o espaço público, também muito reduzido e formado e organizado em apertadas e sinuosas artérias de comunicaçom.





A maior parte das edificações ao longo da Rua da Senhora do Arco, Rua da Ramalha, Rua do Carvalho e Praça António Pereira de Sousa, estám também dispostas de modo semelhante contribuindo para a homogeneidade do conjunto. 




No interior dum conjunto arquitetónico urbano mais vasto, existem ruínas com inscrições e elementos de simbologia judaica, que podem atestar e testemunhar a presença de Judeus em tempos remotos.



Este conjunto, em vias de classificaçom, desenvolve-se a partir de curiosos arruamentos e apresenta-se como um dos mais autênticos e importantes exemplares da arquitetura vernacular, de carácter urbano, representando um excelente retrato do que seria umha urbe medieval. De traçado muito irregular é moldado polas construções que o compõem e permitem a passagens de uns para outros através de invulgares passadiços, integrados nas arquiteturas.



6 comentários:

  1. O uso de cruciformes nada prova quanto à pertença de determinado fogo a cristãos-novos. Pode ser que sim, pode ser que não... e daqui não saímos. Nunca ninguém fez um estudo aprofundado da relação de marcas cruciformes ou outras com a presença judaica.
    Isso foio um mito que se instalou. Mais nada.
    Antonio Jose Aguilo y Fuster Caria Mendes

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Com certeza, trata-se dumha hipótese. Porém, o facto de existirem esse tipo de marcas (e nom apenas cruciformes) em áreas, quer na Galiza, quer em Portugal, onde está testemunhada a existência de judiarias pode ser considerada umha prova dessa presença judaica. Cumprimentos.

      Eliminar
  2. Um Judeu, ou Cristão-Novo, dificilmente utilizariam uma cruz na sua porta de entrada. Até hoje, nem a própria Doutora Carmen Ballesteros, de saudosóssima memória conseguiu provar qualquer ligação entre os cruciformes e a presença judaica. É verdade que houve muitos judeus que foram forçados a converter-se ao cristianismo no entanto nada mais se pode afirmar. Há uma série de preconceitos que têm de ser desmascarados porque não fazem parte da realidade histórica. São meras invenções.
    Estão neste caso as marcas cruciformes cujo uso, psra um judeu equivalia ao crime mais grave de todos, a idolatria. Mas há outras supostas verdades que, em nada abonam a favor do conhecimento histórico de quem as divulga. É o mito das alheiras, é o mito das portas chanfradas pertecerem a casas de judeus, é o mito das portas larga e estreita também nas casas de judeus, a porta da casa, propriamente dita e a porta da loja, que não era nenhuma loja para vender fosse o que fosse, mas a loja para o gado, é o mito das cantareiras servirem como "Aronot Hakodashim", e tantos outros. Enfim, poderíamos estar aqui a desfiar uma quantidade de aspectos que a lista é quase tão extensa quanto qualquer tipologia arquitectónica orgânica. Há até quem veja na assimetria das casas antigas uma marca da presença judaica. Que ignorância... Eu não conheço, na arquitectura popular medieval muitos imóveis que obedeçam a uma lei da simetria marcada. Nem marcada nem por marcar. A casa medieval entre nós é orgânica, vai-se desenvolvendo consoante as necessidades.
    E pronto, sem querer alargar mais o âmbito desta conversa, por aqui me fico, não sem antes levantar duas questões. Porque é que nas Baleares, ilhas de muitos judeus, não aparecem cruciformes? Tal como na Catalunha, Aragão e Valência? Já agora, mais perto de nós, quem conhece alguma casa da 2ª Guerra pertencente a judeus que apresente, na fachada ou na entrada cruzes gamadas?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Com efeito, a presença de marcas cruciformes na casa de conversos, cristãos-novos, antigos judeus ou descendentes de famílias judaicas é umha contradiçom que apenas tem umha explicaçom: um mecanismo de defesa (e de sobrevivência) daquelas pessoas.
      Como sabe, logo depois dos éditos de expulsom dos Judeus de 1492 e 1496 foram muitos os Hebreus que se converteram ao cristianismo para salvar as vidas e os seus pertences. Os batismos forçados em Portugal (e na Galiza) foram maciços, sendo poucos os Judeus (salvo casos isolados de famílias abastadas) que fugiram rumo para o exilo. As autoridades católicas desconfiavam dessas pessoas. De facto, foi para eles que criaram a Inquisiçom, concebida como tribunal repressor de exceçom para perseguir esses "novos" cristãos. Isto é, à Inquisiçom nom cabia a perseguiçom dos Judeus, mas a dos conversos ou cristãos-novos, suspeitos sempre de judaizarem. Em consequência, umha maneira de estes safarem das incomodações e da repressom do temível Santo Ofício era proteger-se externamente. De que maneira? proclamando a sua nova fé com essas cruzes de converso gravadas na fachada das casas deles. É assim que surgem os cruciformes que alastram nas antigas Judiarias da Galiza e Portugal.

      O Prof. Emílio Fonseca esclarece redondamente o motivo da existência desses cruciformes em casas de atigos judeus: "Esta cruz que proclama externamente a fé cristã de quem mora numha habitaçom nom fazia qualquer sentido que se gravasse na fachada da casa dum cristão velho, cuja fé é induvitável e conhecida para a vizinhança. Dalgumha maneira a cruz gravada na fachada dum antigo judeu está a dizer: "-sim!, cá mora um judeu ou um descendente de antigos judeus mas isso era antes, agora somos uns devotos cristãos". Deste ponto de vista é que apenas pode ser entendido o facto de nesse momento histórico gravurar umha cruz na fachada, perto da porta, na habitaçom dalguém cujas convições cristãs podiam oferecer dúvidas aos seus convizinhos: o converso ou descendente de conversos".

      Destarte os cruciformes surgem como um elemento de proteçom dos cristãos-novos durante o tempo das perseguições da Inquisiçom.

      "Esta é a explicaçom da existência de tantas inscrições deste tipo em prédios medievais e noutras mais modernas situadas em locais onde houve judarias ou populaçom judaica (a existência destas cruzes é praticamente nula onde nom houve judeus). As cruzes deste tipo som abundantes em casas do século XV e XVI, embora as inscrições puderam ter sido realizadas em época posterior à da sua construçom, e o momento da sua execuçom viria determinado polo maior grau de assédio vizinhal ou inquisitorial ao que se veriam submetidos os seus moradores", conclui o Prof. Fonseca.

      Além disso, desconheço os motivos polos quais noutros territórios (Países Catalães ou Aragom) nom aparecem esses cruciformes. Talvez esteja motivado polo facto de serem poucos os Judeus que fugiram da Galiza ou de Portugal, ficando a maioria na terra como cristãos-novos e sempre sob a ameaça da Inquisiçom.

      Relativamente à questom que coloca sobre a alegada existência de cruzes gamadas em casas de Judeus durante os anos do III Reich, apenas referir que, a diferença dos tempos medievais, a política de perseguiçom contra os Judeus dos nazistas nom oferecia alternativas ao extermínio. Nessa altura, como disse Raul Hilberg, nom havia opçom para conversões ou exilos.
      Cumprimentos.

      Eliminar
  3. Isto nunca foi uma judiaria. É simplesmente um mito criado na década de 90 do sec.xx. Pela documentação medieval e moderna não temos judeus ou cristãos novos a viverem organizados aqui. Os cruciformes só mostram a cristianização do lugar mesmo em frente a um mosteiro. Os judeus não eram burros nem a inquisição parva! Mais um mito que insulta a história e a memória da comunidade judaica portuguesa

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Repare que a Inquisiçom foi implementada em Portugal muito depois de os Judeus terem sido banidos nesse Reino. O artigo fala numha altura em que nem existia a Inquisiçom e os Judeus eram "tolerados" a viver.
      De resto, é habitual depararmos com Judiarias ou áreas de âmbito judaico muito perto de centros religiosos. Eis os casos de Santiago de Compostela ou Tui na Galiza. De facto, os muitos Judeus trabalharam como ourives para o clero cristão dessas cidades.
      É a partir do século XIV que alastra umha onda de antissemitismo (mormente nos reinos dependentes da Coroa de Castela e Leom) até a implementaçom da Inquisiçom (séc. XV em Castela e séc XVI em Portugal).
      Cumprimentos

      Eliminar