sábado, 11 de maio de 2013

TESE 6ª: ISRAEL OCUPA TERRITÓRIOS ÁRABES E EXISTEM REFUGIADOS


Sim, é verdade, e temos de falar nisso sem complacência ou demagogia. Correndo o risco de ofender, eu diria primeiro que as questões fronteiriças com o Egito e a Síria nom podem ter a importância que recebem comummente. Eu também nom vejo nisso socialismo por nengures. As fronteiras som a concretizaçom geográfica das relações reais e globais entre estados, isto é, o seu traçado deve exprimir interesses e necessidades de segurança recíprocas. Eu nom acho que a URSS ou a China, ou a Argélia ou o Marrocos, por nom falar de nações ditas imperialistas, as concebam doutro jeito, já que o mostraram em múltiplas ocasiões. Caso contrário, como interpretar as diferenças fronteiriças entre a China e a URSS? Quem tem umha conduta socialista e quem umha conduta imperialista? Eu nom sou um militar nem um técnico da geopolítica e desconheço o que é indispensável para a segurança do Israel, colinas de Golám, Charm el Cheikh ou um outro ponto da ribeira do Jordám. Desconheço se o Egito vai estar gravemente ameaçado pola perda de Charm el Cheikh ou a Síria pola perda do Golám. Sim compreendo as feridas ao amor póprio nacional. No estado atual de guerra larvada entre estas nações pode existir verdade na tese de cada umha; por isso apenas é legítimo e irá ter algumha chance de sucesso umha negociaçom em que cada parte encontre um benefício relativo. Sobre o plano da segurança como o da psicologia ou da paixom e, mesmo, sobre o do mito. 

É preciso, acima de todo, que cada um se persuada de que existe mais interesse na paz do que na guerra (o qual nom é, por desgraça, o mais evidente). Em suma, todo isto é um assunto de negociaçom, de relaçom de forças e nom som os marxistas que me irám contradizer. Os povos som o que som, todos nós, mal saídos da barbárie, devemos evitar enganar-nos facilmente uns aos outros. Eu acrescento, como mediterrâneo que sou, que estou profundamente convencido que um acordo medíocre vale mais do que umha guerra contínua, mesmo aparentemente beneficiosa. Todo o resto ou é tagarelice ou acocha outros fins, ou, pior, é a expressom de neuroses coletivas de medo e de agressom.

E vaiamos à populaçom propriamente palestiniana. É o ponto mais doloroso e o máis difícil a resolver e nom é seguro que possa encontrar rapidamente umha soluçom satisfatória sem sacrifícios graves para as duas partes. Os palestinianos estám infelizes, é um fato. Estám infelizes porque as famílias estám separadas por causa do estado de guerra que isola as regiões, porque têm muitas incertezas sobre o seu futuro, porque nom têm a plenitude dos seus direitos políticos, económicos e culturais, porque têm reivindicações nacionais insatisfeitas, porque som minoritários e esta condiçom nunca é confortável. Nós, judeus, sabemo-lo melhor do que ninguém.

Procurar a quem corresponde a culpa do seu deslocamento -os países árabes, as ameaças judias ou a sua ansiedade- já nom tem muito interesse. Discutir sobre o seu número exacto também é secundário. Lembrar que esta populaçom nem sempre foi autóctone nom serve de grande cousa. É verdade que muitos deles som vindos da Síria ou doutras partes, que foram atraídos pola prosperidade do país, fertilizado polos sionistas. É verdade que eles nem sempre tiveram umha consciência nacional. Mas, agora, estám lá, eles esqueceram donde vieram, a sua consciência colectiva afirmou-se e estám infelizes. Os palestinianos vivem um drama, eis o que os israelitas devem admitir e nunca esquecer. E eu sei que um grande número entre eles o sabe e o dizem, e muitos calam apenas porque temem pola sua própria segurança.

Dito isto seria absurdo pôr em questom a existência de Israel por causa da infelicidade dos palestinianos, é querer resolver um drama por um crime. Desde algum tempo tomam-se algumhas precauções da linguagem, é certo, nom deixa de ser um progresso: fala-se apenas em "transformar as estruturas do Estado sionista", "de des-sionizar Israel", de fundar no seu lugar um "Estado laico e democrático"... árabe. Eu disse que é preciso pensar nisto: nas condições atuais das populações isso seria a destruiçom do sionismo, isto é, do Estado judeu.

Entom? Entom é precisa umha soluçom política. Para além de dar algumha razom aos palestinos muito antes que os árabes, desde há muito tempo eu também teimo em lhes pedir que abandonem os seus excessos, os seus desenhos catastrofistas para os judeus e para eles próprios. Enquanto nom abandonem esta perspectiva romântica por umha conduta propriamente política nom se avançará um passo. É preciso que os palestinianos, e os árabes, admitam e nunca esqueçam que os judeus têm um Estado, ao lado deles, entre eles e que haverá de contar, tarde ou cedo, com ele para umha coexistência pacífica. Isto é, na prática e na ideologia, cessar de procurar a sua destruiçom porque entom nom haverá fim nem saída.

É preciso, em suma, umha pátria a cada umha das duas partes: Israel para os judeus, um Estado palestiniano para os palestinos com ou ao lado da Jordânia, a examinar.

Trecho tirado de "O sionismo, Israel e o Terceiro Mundo: semelhanças, especificidades e afirmações nacionais", de Albert Memmi (1972).

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