terça-feira, 14 de maio de 2013

ISRAEL POR ALBERT MEMMI


- Um número de leitores criticaram-me por ter realizado até o momento o inventário da condiçom judia na Diáspora. Embora eu acredite ter amiudamente mostrado que o sionismo estava na encruzilhada nesta condiçom, eis é o que eu acho que é o papel e a importância de Israel no destino dos judeus.



Querem saber o que é Israel? 
Antes de mais, perguntem-se o que é um judeu.

Mas, o que é um judeu?

Umha religiom? Nom somente;
Umha naçom? Nom possui nem Estado nem território;
Um povo? Está espalhado através do universo; 
Umha língua? Eles falam centenas; 
Umha cultura? Ele tem a doutros povos... 
Quem, judeu ou nom judeu, nom tem tentado acertar este jogo intrincado, abandonando-o depois, derrotado por esta constante dificuldade que supõe compreender o judeu clara e distintamente?

O que um judeu é nom se define apenas polo que ele é, mas também por aquilo que ele nom é: o judeu nom é exatamente daqui, nem o é exatamente de acolá, nom completamente deste povo, nem inteiramente daquele. Goste ou nom, com ou sem o seu consentimento, ele é também referência a um outro lugar e, o mais inquietante: um outro lugar de nengures. Um outro lugar que é acima de tudo ausência, vácuo impossível a encher, fantasma impossível a exorcizar.

Claro, existe o Livro, sagrado ou nom, extraordinariamente inspirado em todo caso, mas a vertigem retoma-se imediatamente: mesmo este livro, referência do judeu, é também referência de outros: a que terra esmorecida, a que templo desaparecido, a que frutos estranhos é que o meu pai, umha vez no ano, ia procurar um exemplar onde eu nom sei?

Mas agora este vácuo, este fantasma, subitamente se torna-se carne em cheio e chama-se Israel; este pais imaginário, estes frutos desconhecidos, Israel a minha face de sombra, a minha ausência nas nações, Israel a minha nostálgica referência, Israel a minha diferença, põe-se a viver -com efeito- é o que eu sonho - nalgures no mundo, beirado por um verdadeiro mar e um rio, um lago com peixes vivos, colinas florescentes e um deserto onde se pode morrer de sede. Ah! se soubesse o que significa, em toda realidade, para um judeu, esta reencarnaçom, esta renascença à história do seu ser coletivo, até entom aéreo, nublado, efémero que se põe a coagular, a endurecer, a existir extraordinariamente! No fundo, vou-vos confiar algo: ele nom acredita ainda muito com os olhos.

Alguns mesmo afirmam que Israel entrou na sua vida por arrombamento. Talvez, mas, logo entrou, eles reconheceram-no: reconheceram-se nele; daí a sua violência por vezes: sem que eles o tivessem demandado, som apresentados por um espelho exato; mas, sabemos, ele nunca está cómodo ao se olhar. Já, eles tiveram de se reconhecer com vergonha e dor, medo e pena, nos fantasmas dos abatidos e dos calcinados; aqui eles confrontados com o seu retrato de trabalhadores-soldados. E se eles rejeitam isso, que o mundo inteiro confirme o testemunho do seu espelho, os parabenize ou os insulte. E, no fundo deles próprios, nom sentem um orgulho confuso que aumenta o seu estupor e a sua cólera?

Eu digo que nengum judeu hoje nom pode pensar em Israel sem problemas.

Mas eu nom cito aqueles que por memória e porque a sua excepçom confirma esta imensa descoberta: Israel devolveu ao judeu a quase totalidade do seu ser.

Retomemos esse jogo intrincado do início, que bem poderia ser chamado de jogo da alcachofra... Portanto, o judeu nom tinha Estado, nem naçom, nem bandeira, nem terra, nem língua, nem cultura; a sua religiom, à que ele desesperadamente se apegava, nunca era maioritária, a memória que cultivava obstinadamente apenas lhe contava sofrimentos. Sabem como se chama isso? Isso descreve-se, vive-se e tem um nome: a opressom. O judeu era um dos mais velhos oprimidos da história universal: Israel quase pôs fim à opressom do judeu.

Texto escrito por Albert Memmi para umha recolha fotográfica, comandada polas edições Albin Michel; reproduzido por "A terra reencontrada" em 20 de janeiro de 1974.

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