segunda-feira, 20 de maio de 2013

A POLÍTICA DA URSS E DOS EUA NA FORMAÇOM DE ISRAEL: 1944 (I)


13 de janeiro
Num relatório de Randolph E. Paul para a Unidade de Controlo de Fundos Exteriores do Departamento de Estado intitulado “Relatorio ao Secretário sobre a Aquiescência deste Governo no assassinato dos Judeus”, o primeiro documento oficial atacando a cumplicidade norte-americana no Holocausto. Redigido por Josias DuBois, o documento é umha acusaçom da política diplomática, militar e de imigraçom do Departamento de Estado dos EUA. Entre outras cousas, o Relatório narra a inaçom do Departamento de Estado e, nalguns casos, a sua oposiçom ativa para a libertaçom de recursos para o pagamento do resgate dos judeus na Roménia e nas França ocupada, e condena as políticas de imigraçom que fecharam as portas americanas aos refugiados judeus dos países europeus entom envolvidos no seu extermínio sistemático.

Mais concretamente, o documento atribui responsabilidades individuais a altos funcionários do governo norte-americano nos seguintes termos: "Francamente, Breckinridge Long, na minha humilde opiniom, é menos solidário com os refugiados em todo o Departamento de Estado. Eu atribuo-lhe o gargalo na concessom de vistos”. Breckinridge Long era o assessor do presidente Roosevelt para a Secretaria de Estado.

O catalisador para o Relatório foi um incidente envolvendo 70.000 judeus, cuja evacuaçom da Romênia poderiam ter sido conseguida com um suborno de 170.000 dólares. Os fundos da Unidade de Controlo Exterior do Tesouro, que estava dentro da jurisdiçom de Randolph E. Paul, autorizou o pagamento dos fundos, pagamento que tanto o Presidente como o Secretário de Estado Cordell Hull suportavam. Porém, desde que a proposta foi feita e aprovada em meados de julho de 1943 até dezembro de 1943, uma combinaçom de burocracia entre o Departamento de Estado e do Ministério britânico da Economia de Guerra colocaram vários obstáculos. Foi a frustraçom por esse episódio o que propiciou o Relatório.


Ivan Maisky, cérebro da estratégia da política exterior soviética, envia a Molotov um longo relatório sobre a ordem do pós-guerra centrado no objectivo estratégico de preservar os ganhos soviéticos na Europa do Leste. Segundo ele, a ordem do pós-guerra tinha de criar umha "longa paz" na Europa e Ásia, entre 30 e 50 anos, necessária para a URSS se tornar avonde forte para temer qualquer agressom por parte dumha potência ou de qualquer combinaçom de potências na Europa e Ásia. Este período de paz longa também era necessário para a Europa se tornar socialista, pois Maisky nom acreditava que as revoluções proletárias na Europa de pós-guerra. Nesse cenário, de acordo com os princípios leninistas, a estratégia de Moscovo devia ser explorar as contradições entre as potências imperialistas (nomeadamente Grã-Bretanha e Estados Unidos) na procura dos interesses soviéticos. Ao abrigo do pensamento clássico do equilíbrio de poder, Maisky sugeriu manter a Grã-Bretanha como umha potência forte de modo a contrabalançar a expansom imperialista dos Estados Unidos. Sobre este ponto Maisky diferia de Litvinov, que achava que o poder britânico iria permanecer dominante na Europa Ocidental e que os Estados Unidos iriam recuar por causa do seu tradicional isolacionismo. Ele sugeriu que era possível conciliar os interesses da Uniom Soviética e da Grã Bretanha.

Ao invés, Litvinov era a favor dumha aproximaçom soviético-americana contra a Grã-Bretanha pois esperava que as contradições entre Londres e Moscovo tornar-se-iam mais agudas após a guerra. Após a derrota da Alemanha, com a França e a Itália enfraquecidas, a URSS continuaria a ser a única grande potência continental.

Maisky achava que a questom colonial daria terreno extremamente fértil para as contradições anglo-americanas. Assim sendo, os Estados Unidos iriam praticar um novo tipo de "imperialismo dinâmico", que seria um desafio para o "enfraquecido imperialismo conservador" praticado pola Grã-Bretanha nas suas colônias. Maisky salientou que a Uniom Soviética nom tinha prestado muita atençom a esta questão, que seria umha das questões mais importantes do pós-guerra. Por isso, era preciso estar pronto. Além disso, era muito provável que o desenvolvimento de conflitos entre Londres e Washington no mundo colonial iriam depender da posiçom da Uniom Soviética. Maisky nom desenvolveu propostas precisas sobre o Próximo Oriente, mas apenas salientou que esta área era um terreno favorável sobre o qual reforçar a influência soviética. Na sua opiniom, este objetivo deve ser umha prioridade da diplomacia soviética depois da guerra.

As reflexões de Maisky devem ser vistas com o pano de fundo dos esforços da Uniom Soviética para formular umha política relativamente ao mundo árabe e à Palestina. No Próximo Oriente, tradicionalmente dominado pola Grã-Bretanha, Moscovo poderia apoiar tanto o movimento nacional árabe quanto o projeto sionista dum Estado judeu na Palestina. A opçom árabe significaria apoiar o projeto dumha federaçom pan-árabe, mas a diplomacia soviética era muito desconfiada dessa ideia.


Janeiro – março
O governo de Roosevelt rejeita várias resoluções do Congresso e Senado em favor de que os EUA se empenhassem em abrir os portões da Palestina para a imigraçom ilimitada de judeus e de que lá deveria ser criado um Estado para esse povo nos seguintes termos: "No Departamento de Estado, sentimos que a aprovaçom dessas resoluções... podem precipitar o conflito na Palestina e noutras partes do mundo árabe, pondo em perigo as tropas americanas e exigindo o desvio de tropas da Europa e outras áreas de combate. Poderia também prejudicar ou arruinar as negociações pendentes com Ibn Saud (rei da Arábia Saudita) para a construçom do oleoduto na Arábia Saudita, que os nossos líderes militares consideram de fundamental importância para a nossa segurança...".

As duas resoluções da câmara foram introduzidas polos congressistas Compton (republicano eleito por Conectcut) e por Wright (democrata da Pensilvânia). No senado foram apresentadas polos senadores Wagner (democrata eleito por Nova Iorque e Presidente do American Palestine Committee) e Taft (republicano do Ohio). As resoluções foram encaminhadas para o Comité de Relações Exteriores, presidido por Sol Bloom, um notório sionista de Nova Iorque. Ele esforçou-se pola aprovaçom das resoluções mas, sendo um importante líder democrata no Congresso e à sua boa e próxima relaçom com o presidente Roosevelt, estava limitado por outros compromissos. A posiçom do governo era contrária à aprovaçom dessas resoluções. O Secretário de Defesa e o Secretário de Estado comunicaram que nengumha medida a respeito poderia ser tomada polo governo.

12 de junho
A Organizaçom Munidal Agudat Israel recebe um telegrama da Suíça descrevendo o iminente extermínio dos judeus húngaros em Auschwitz e chamando para bombardear as ferrovias usadas para a sua deportaçom.

18 de junho
Jacob Rosenheim, da Organizaçom Mundial Agudat Israel em Nova Iorque, envia umha carta a Henry Morgenthau, Secretário do Tesouro norte-americano, solicitando  o bombardeamento dos caminhos de ferro da deportaçom.

26 de junho
Thomas Handy, Chefe Adjunto do Estado-Maior do Departamento de Guerra, envia um memorando ao Diretor da Divisom de Assuntos Civis, transmitindo a conclusom da Divisom de Operações que bombardear os caminhos de ferro de deportaçom era "impraticável" nos seguintes termos: “Em linha com a política nom declarada [do Departamento de Guerra] de nom ajudar no resgate de refugiados, o Departamento de Guerra rotineiramente recusou pedidos para bombardear caminhos de ferro de deportaçom. Nunca foram realizados para verificar a viabilidade de tais bombardeios”.

29 de junho
Um relatório interno da Mesa de Refugiados de Guerra de Benjamin Akzin para Lawrence S. Lesser urge o bombardeamento dos campos de extermínio de Auschwitz e Birkenau.

Fontes
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