quinta-feira, 7 de março de 2013

PORQUE DEVEMOS LEMBRAR O HOLOCAUSTO?


Por Jon Iñarritu

No dia 27 de janeiro comemora-se o 67º aniversário da libertaçom de Auschwitz-Birkenau; jornada estabelecida como Dia Internacional da memória das vítimas do holocausto. Relembraremos a maior das barbáries cometidas na história; o extermínio programado em modo industrial de milhões de pessoas: judeus, ciganos, homossexuais, deficientes,... O caso dos judeus merece, se calhar, especial atençom porque, como assinala o nóbel Eliese Wiesel, "nom todas as vítimas eram judias, mas todos os judeus eram vítimas". Seis milhões de pessoas apagadas sob o plano Endlösung der Judenfrage (Soluçom final ao problema judaico). A pior das atrocidades sucedeu mal há umhas décadas, aqui na Europa, no berço do humanismo.
Jon Inarritu
Cada ano, ao chegar esta data ou as comemorações do Porraimos (genocídio cigano), o Iom Ha Shoah (dia do genocídio arménio), surgem vozes advogando por reduzir a celebraçom destes atos ou que defendem que houve um excesso de dedicaçom à questom. Amiudadamente expõe-se que já sabemos todo o acontecido, que é história afastada, e exprime-se, malvadamente, que "a Shoah tem um uso propagandístico". Mesmo alguns representantes institucionais negaram-se a celebrar estes atos. Mas o mais terrível é quando se ouve, no século XXI, que se exagerou o holocausto ou que nom existiu. A negaçom, a revisom e a banalizaçom seguem de atualidade, defendidas desde postulados ideológicos diversos.

Ao contrário, o sobrevivente do holocausto, o catalám de origem húngara Jaime Vandor, acha que "nom se falou avondo do acontecimento mais terrível da história". Conhecemos o acontecido, vimos as imagens, os documentos, as câmaras de gás, visitado os campos, ouvido e lido desde os carrascos a muitas vítimas, como Primo Levi, Simone Veil, Elie Wiesel,... mas milhões de testemunhos de sobreviventes ou descendentes de vítimas desapareceram transformados em fumo ou cinza. Estamos perante a última geraçom que pode relatar as suas terríveis experiências. Quantos relatos de vítimas ficam por conhecer? Em setembro de 2011, estando em Jerusalém, acompanhei umha velha amizade ao Yad Vashem. Na seçom de documentaçom descobrimos a certidom da desapariçom dumha irmã do seu avó. Ao contrário, nom havia certidom nem qualquer rasto do resto dessa numerosa família, gaseada e incinerada, aqui na Europa. Esse dia fui testemunha de como, sete décadas depois, famílias vindas de todos os continentes preenchiam certidões, achegavam fotos, documentos e testemunhos enquanto outras procuravam informações sobre os seus familiares.

Aqui, em Euskal Herria, centos de pessoas foram apresadas e deportadas, umhas ao tentar fugir através do Estado espanhol; outras, nas suas casas. Duas regressaram vivas. Quem o teria pensado na Repúblia da liberté, égalité et fraternité? Ainda estamos a tempo de ouvir a Jackeline Pinede contar como sobreviveu à matança de Oradour-sur-Glane, onde desapareceu a sua família; a senhora Mesplé-Lassallé pode-nos narrar a sua experiência nos campos de concentraçom, podemos ouvir a George Dalmeyda a sua fugida e estância oculta nos Alpes; ou a história da senhora Lates, que sobreviveu escondida no Bearn. Todos sobreviventes da maior barbaridade. Tantas histórias por saber!

Devemos lembrar o acontecido porque devemos-lho aos assassinados, aos sobreviventes, aos seus familiares, aos "Justos entre as Nações" conhecidos e desconhecidos. De igual forma, num período no que vemos o apogeu da extrema direita na Europa; em concreto na República francesa, onde observamos com inquietaçom que um partido para o qual os campos de concentraçom "foram detalhes da história ou balneários", conta com um apoio altíssimo; num Estado espanhol, em que o TC decidiu que a negaçom da Shoah nom é delito. Perante uns índices preocupantes de racismo, anticiganismo, islamofóbia e judeufóbia na UE, devemos lembrar! Para que nom volte a acontecer e para que a discriminaçom e o ódio nom tenham lugar na Europa nem no mundo. Nunca mais!

Jon Iñarritu é um político independentista basco militante do partido Aralar. Desde 2011 é deputado no Parlamento espanhol eleito pola candidatura Amaiur.

Artigo publicado no jornal DEIA e traduzido por CAEIRO.

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