quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

CAPÍTULO 2: DA ÉPOCA DA ANTIGUIDADE PARA A ÉPOCA CAROLÍNGIA, O PERÍODO DE PROSPERIDADE COMERCIAL DOS JUDEUS


Abraham Leon

A) Antes da conquista romana
É através da Síria e da Palestina que foram realizadas, desde um período muito precoce, a troca de mercadorias entre os dois mais antigos centros de cultura do mundo antigo mediterrâneo: o Egito e a Assíria. A natureza essencialmente comercial dos fenícios e dos cananeus (1) decorre da situaçom geográfica e histórica dos países que habitavam. Os fenícios tornaram-se o primeiro grande povo comerciante da antiguidade porque eles viram-se colocados entre os dois primeiros grandes centros da civilizaçom. Som as mercadorias assírias e egípcias que constituiram, no início, o objeto principal do comércio fenício. O mesmo aconteceu com os comerciantes palestinos (2). Segundo Heródoto, as mercadorias assírias foram os bens mais antigos e importantes do comércio fenício. Nom menos antiga foi a ligaçom dos fenícios com o Egito. As lendas da Canaã bíblica, bem como os mitos fenícios, mostram as estreitas relações dos habitantes desses países com o Egito por mar e por terra. Heródoto fala também das mercadorias egípcias, levadas à Grécia desde um período muito distante elos fenícios (3).
Mas se a situaçom geográfica da Palestina foi tão favorável como a da Fenícia ao tráfego de mercadorias entre o Egito e a Assíria (4), as facilidades de navegaçom da Síria, tornavam-na completamente ausente. A Fenícia possuia tudo o necessário para viajar pelo mar, os ciprestes e cedros do Líbano forneciam-na de madeira de construçom, o cobre e o ferro erão igualmente abundantes nas montanhas do Líbano e nas redondezas . No litoral fenício muitos portos naturais ofereciam-se para a navegaçom (5). Entom, nom deve surpreender o facto de os navios fenícios, de forma temperã e carregados pesadamente com produtos egípcios e assírios, começaram a cruzam as rotas do mundo antigo.

« As relações políticas e mercantis da Fenícia com os grandes estados do Nilo e do Eufrates, relacionamentos estabelecidos mais de dois mil anos aC, permitiram a ampliaçom do comércio fenício aos estados costeiros do Oceano Índico ».(6)
Os fenícios aproximaram os povos e as civilizações mais diversas da Antiguidade. (7)

Durante muitos séculos, os fenícios mantiveram o monopólio do comércio entre os países relativamente desenvolvidos do Leste e os países incultos do Ocidente. Na época da hegemonia comercial dos fenícios, a situaçom económica das ilhas do Mediterrâneo ocidental e dos países que fazem fronteira com eles ainda estava muito atrasada.

« Isso nom quer dizer que o negócio tem sido desconhecido para a sociedade homérica, mas foi principalmente para os gregos em importações. Para pagar as matérias-primas ou objetos fabricados que os navegadores estrangeiros estavam a oferecer, os gregos parecem sobretudo ter dado gado ». (8)
Esta situaçom, muito desfavorável para os nativos, nom se mantém a longo prazo. O comércio fenício tornou-se um importante estimulante do desenvolvimento económico da Grécia. A ascensom da Grécia foi também favorecida pela colonizaçom helénica, que teve uma grande extensom entre os séculos IX e VII aC. Os colonos gregos começaram a se espalhar em todas as direções do Mediterrâneo. As cidades gregas multiplicam-se. Tucídides e Platom explicam a emigraçom grega por causa da falta de terra.

O desenvolvimento da colonizaçom grega é acompanhada por uma expansom prodigiosa (relativamente à época) da indústria e do comércio helénicos. O desenvolvimento económico da Grécia irá resultar na diminuiçom do comércio fenício.
« Noutrora nas enseadas gregas os fenícios desembarcavam as suas mercadorias que eles trocavam por produtos indígenas, na maioria das vezes, cabeças de gado. Agora, os marinheiros gregos (9) vão levar eles próprios no Egito, Síria, Ásia Menor, aos povos da Europa como os etruscos, mesmo grosseiros como os scitas, galos, ligures, íberos, os bens fabricados e obras de arte, tecidos, armas, joias, vasos pintados cuja reputaçom é grande e que dos gostam todos os bárbaros ». (10)
O período entre o século VI e IV parece ter sido a época do apogeu económico da Grécia.
« O que caracteriza essa nova era é que os ofícios têm proliferado, organizado, especializado e a divisom especializada do trabalho tem avançado muito longe ». (11)

Na época da guerra do Peloponeso, Hiponicas empregava 600 escravos e Nicias 1000 nas suas minas.
Este desenvolvimento económico importante da Grécia levou a maioria dos estudiosos burgueses a falar de um « capitalismo grego ». Eles até mesmo comparam a indústria e o comércio helénicos ao grande movimento económico da era industrial.
Na realidade, a agricultura continua a ser a base económica da Grécia e suas colónias.
« A colónia grega é quase sempre nom uma colónia de mercado, mas uma colónia militar e agrícola ».(12)
Assim, Estrabom conta de Cumas, uma colónia grega na Itália, que só trezentos anos depois da sua criaçom que os seus moradores perceberam que a sua cidade estava perto do mar. O carácter essencialmente agrícola vida económica do mundo helênico é inegável. Tampouco se pode falar de uma indústria comparável à indústria moderna.
« Os métodos de produçom e organizaçom mantiveram-se artesanais ». (13)

Só as minas parecem apresentar, pelo menos enquanto à força de trabalho, um espetáculo semelhante ao que hoje conhecemos.

O fato de que, apesar de sua grande expansom, a indústria e o comércio se estivessem em grande parte nas mãos de estrangeiros, os metecos, é a melhor prova do seu papel relativamente secundário na economia grega.
« No imenso tráfego do que Atenas é o centro, como na sua indústria, a participaçom dos metecos permanece preponderante ». (14)
Em Delos, o grande centro comercial, a inscrições mostram que quase todos os comerciantes som estrangeiros. (15)
O cidadão grego despreza o comércio e a indústria e é basicamente proprietário. Aristóteles, como Platom, opõem-se à aceitaçom de comerciantes na cidade. (16)
Temos de ter cuidado para nom exagerar a importância do desenvolvimento industrial e comercial da Grécia. Na verdade, a expansom grega era essencialmente agrícola e militar. Porém, foi de mãos dadas com um desenvolvimento industrial e comercial muito importante para a época (17). Os gregos nunca se tornaram um povo comerciante como os fenícios e judeus, mas nas colónias gregas e mais tarde nos reinos helénicos, existe um crescimento comercial e industrial muito importante. Escusado será dizer que os estados gregos, enquanto nom serem realmente mercantis, favoreceram com todas as forças o comércio e a indústria, as fontes de financiamento mais importantes.
Nom é só ao desenvolvimento económico da Grécia e das suas colónias que devemos atribuir o declínio do comércio fenício, há ainda outra questom importante: o antagonismo crescente entre a Pérsia e a Grécia. Juntamente com a extensom da civilizaçom helênica, assiste-se à marcha triunfal dos persas em toda a Ásia. O Império Persa atingiu o seu apogeu no século V. Estende-se sobre uma parte da Ásia e sobre o Egito.
O desenvolvimento paralelo das civilizações grega e persa deu um golpe de misericórdia para o comércio fenício. O comércio entre a Europa e a Ásia viu-se muito dificultado pela divisom do Mediterrâneo entre as duas sociedades, também hostis entre si. Os mundos persa e grego foram criaram cada um tráfego comercial próprio.

Presumivelmente a Palestina, completamente suplantada antes pelos fenícios, começa a desempenhar um papel comercial importante com a decadência fenícia e o desenvolvimento do comércio da Ásia após o período das conquistas persas. A rota entre o Egito e Babilônia recupera o seu valor. Enquanto o comércio fenício perde cada vez mais a sua importância, a tal ponto que no momento de Lucian a salga consittui a principal despesa (18), os judeus desempenham no Império Persa um papel de primeiro plano.
Alguns historiadores atribuem ao exílio babilônico um papel importante na conversom de judeus em povo comerciante.
« Na Babilônia os judeus transformam-se em povo comerciante, tal como nós o conhecemos na história económica do mundo. Eles descobriram entre os babilônios relações económicas muito avançadas. Os textos cuneiformes encontrados recentemente mostram que os judeus exilados foram ativos no comércio. Eles ocupavam-se dos negócios de crédito, altamente desenvolvidos entre os babilônios; eles também foram grandes comerciantes ». (19)
Mas a dispersom dos judeus é, certamente, anterior ao exílio da Babilônia.
« Há sérias razões para admitir a existência de uma diáspora pré-exílica ». (20)
Exagera-se muito a amplidom do exílio judaico sob Nabucodonosor. Apenas uma parte das classes dominantes ficou atingida pelas ações do rei da Babilônia. A maioria dos judeus que viviam na Palestina continuou a permanecer ali. Se assim for, na época persa já já judeus espalhados em todas as partes deste vasto império e o livro de Ester é muito eloquente sobre este assunto, seria pueril ver neste fato a conseqüência do exílio da Babilônia, exílio que durou um total de 50 anos. É infantil acreditar que o povo judeu tivesse retornado à Palestina na época de Esdras e Neemias. A sua obra foi essencialmente religiosa. Tratava-se de reconstruir o templo e de reconstruir uma metrópole religiosa para a judaria dispersa.
« A maioria dos historiadores exageraram extremamente o papel do judaísmo palestino na época persa. Procede-se como se, uma vez restaurada Jerusalém, toda a história de Israel estivesse concentrada em torno da montanha sagrada, como se todo o povo tivesse voltado do exilo e tivesse vivido numa terra de poucas centenas de quilómetros entre Tecoa, Mitspa e Jericó. Na verdade naquela época os judeus da Judeia, apenas erão uma pequena parte do judaismo E talvez nom fosse a mais importante». (21)
O decreto de Ciro dirige-se com estas palavras aos judeus da Diáspora:
«... que todos os outros, onde quer que vivam, ajudam (aqueles que vão para a Palestina) em prata, ouro, bens e em animais, além do que eles oferecem voluntariamente para o templo de Deus que está em Jerusalém ».
Todos os que estavam nas redondezas, diz o Livro de Esdras, colocar nas mãos dos 42.000 judeus que retornavam à Palestina vasos de prata e de ouro, gado e mobiliário. (22)

É óbvio que este nom é um retorno maciço dos judeus à Palestina, mas em especial a reconstruçom do templo. Os principais assentamentos da diáspora estavam localizadas, no período persa, na Mesopotámia, na Caldeia e no Egito, datam do século V aC, mostram a situaçom dos assentamentos judaicos da Diáspora neste momento.
Consoante os registos pertencentes a uma família judia, parece que
« Os judeus faziam o comércio, compravão e vendiam casas e terrenos, emprestavão dinheiro, administravam os armazéns e eram bem versados em matéria de direito ». (23)

É muito interessante constatar que mesmo as canções e as histórias som em aramaico, o que mostra que já no século V aC o hebraico já nom era uma língua comum para os judeus. O aramaico é a grande língua asiática da época, a língua comercial (24). A religiom dos judeus de Elefantina nom está tão avançado como a religiom oficial codificada no tempo de Esdras-Neemias. Numa petiçom ao governador persa, eles solicitam permissom para reconstruir o seu templo. Mas, especificamente, a reforma de Esdras-Neemias visa concentrar todos os judeus da diáspora sobre o único templo de Jerusalém. É realmente a Jerusalém onde chegam, até o ano de 70, os dons dos judeus espalhados pelo mundo.
É essa riqueza do templo de Jerusalém que foi provavelmente a razom principal da empresa de Antíoco contra os judeus.
« Simom disse-lhe que a fazenda pública em Jerusalém estava cheia de enormes somas e que havia enormes riquezas públicas ». (25)
Mais tarde, Mitridates confisca na pequena ilha de Cos 800 talentos para o templo de Jerusalém. Na época romana, Cícero lamentava-se nos seus discursos, as enormes somas que chegavam a Jerusalém.
O período helenístico é o período de apogeu económico da Antigüidade. As conquistas de Alexandre destruiram as barreiras entre o mundo helênico e da Ásia e do Egito. As cidades surgiram como cogumelos em todas as partes do império helênico. Os

« mais grandes fundadores das cidades, nom só nesta época, mas mesmo na história, foram Seleuco I e o u filho Antíoco I ». (26)
Os reis do período helenístico criam novos centros urbanos destinados a substituir as antigas cidades persas e fenícias.
« Nas costas da Síria, o porto de Antioquia faz esquecer as antigas cidades de Sidon e Tyr ». (27)
Seleuco criou na beira do rio Tigre Seleucia para roubar a Babilónia o seu papel central no comércio mundial. Este objetivo foi plenamente alcançado.
Enquanto a Babilónia caiu em decadência, a Seleucia grega tornou-se, provavelmente, a maior cidade naquela época. Segundo Plínio tinha 600.000 habitantes. Junto a Selêucia, Antioquia e Alexandria tornaram-se o centro do mundo helenístico. Todas essas cidades experimentaram durante o período helenístico uma prosperidade indiscutível.

A situaçom dos judeus parece ter-se reforçado ainda mais depois das conquistas de Alexandre.
« Os judeus foram capazes de conquistar o reconhecimento de privilégios especiais, bem como parece, pelos selêucidas e por Lagides. Em Alexandria, onde tinham sido atraídos por Ptolomeu I e onde abundavam, eles formavam uma comunidade distinta que se autoadministrava e estava à margem da jurisdiçom dos tribunais gregos ».(28)
« Os judeus obtiveram na capital da Síria, Antioquia, uma certa autonomia e uma posiçom privilegiada, à semelhança de Cirene ». (29)
A situaçom privilegiada e a posiçom económica específica dos judeus já estão causando sérios conflitos com a populaçom das cidades onde viviam. Os conflitos eclodiram constantemente, tanto nas cidades palestinas como na Alexandria, Selêucia, Cirene e Chipre (30). Estes conflitos nom têm nada em comum com os antagonismos nacionais vigentes. Em vez disso, os impérios helenísticos conhecem uma enorme assimilaçom dos povos que o compõem. O nome grego é usado cada vez menos os membros de uma naçom em particular, é atribuído às partes dominantes e cultivadas da populaçom. Alexandre ordenou a todos, diz um escritor antigo, considerar o mundo como a sua pátria, como os seus pais e aos justos e como os estrangeiros os ímpios.
A crescente importância do judaísmo na vida comercial do mundo helenístico também deve ser atribuída ao deslocamento do eixo da economia para o Oriente. A prosperidade de Alexandria, Antioquia, Selêucia oferece um forte contraste com a pobreza e a decadência na que a Grécia caira na mesma época.
Políbio insiste várias vezes sobre a decadência das cidades gregas. No século II « os visitantes mal podiam acreditar que esta cidade onde a água era escassa, as ruas mal definida, as casas incómodas, era a famosa Atenas » (31). Atenas foi removida do seu papel como o centro do mundo civilizado. O que, com o declínio económico, contribuiu para a ruína da Grécia foram as incessantes lutas de classes (32) que em consequência dum modo de produçom atrasado, nom podia conduzir a nenhum resultado significativo. O triunfo da plebe foi efêmera; a distribuiçom da riqueza só podia levar a novas desigualdades sociais, geradoras de novos conflitos sociais. Assim, o triunfo da Grécia, depois das conquistas de Alexandre, foi ilusório. O deslocamento do centro económico do mundo para o Oriente que se seguiu, levou ao seu rápido declínio (33). As classes proprietárias e aristocráticas, impotentes perante as revoltas plebeias, tiveram que buscar o apoio de Roma (34), mas Roma nom fiz mas que dar o golpe final à Grécia e ao helenismo. Os romanos lançaram-se sobre o mundo helenístico como uma rica presa que deviam saquear e conquistar.
« Entre 211 e 208, conforme informações muito incompletas e que nos chegaram, cinco cidades da antiga Grécia som saqueadas ».(35)
Corinto, a rica cidade comercial, é destruída. « Eu estive lá, disse Polbe, vi os quadros serem pisoteados pelos soldados que se sentam sobre eles para jogar dados ». Roma também trouxe duras pancadas ao helenismo na Ásia (36). O magnífico edifício helenístico foi destruído pelos golpes combinados dos romanos e dos partos.
B) O imperialismo romano e o seu declínio
Ao contrário do imperialismo moderno, baseado principalmente no desenvolvimento das forças produtivas, o imperialismo antigo baseia-se na pilhagem dos países conquistados. Nom se trata, para os imperialistas antigos, abrir o caminho para os seus produtos e o seu capital, mas roubar o país conquistado.
O estado atrasado da produçom na antiguidade só podia assegurar o luxo das classes ricas dos países conquistadores com a ruína mais ou menos rápida dos povos conquistados. O esgotamento desses países conquistados, as dificuldades crescentes de novas conquistas, o abrandamento gradual dos conquistadores, levaria mais cedo ou mais tarde ao declínio do imperialismo antigo.
Roma é o exemplo clássico do imperialismo antigo. Muito se tem exagerado o desenvolvimento comercial e industrial de Roma. O seu comércio sempre foi passivo (37). Roma fez de atrair a exportaçom das províncias sem nada em troca (38). A classe dominante romana tinha um profundo desprezo por qualquer tipo de tráfego. A lei Claudia proíbe os senadores, os seus filho e toda a aristocracia de Roma a possuir navios com mais de 300 ânforas, o que corresponde a menos de 80 hectolitros de grãos ou vegetais. Isto significa proibir a prática do comércio. O César renovou a proibiçom. A política romana nunca foi determinada pelo seu alegado interesse comercial. A melhor prova é que a Roma, após a derrota de Aníbal, proibe a entrada dos Cartagineses no seu mar. (39)

« Em geral, deve-se dizer que os problemas económicos romanos eram muito simples. A conquista gradual da Itália, bem como a das províncias, ocupava o excesso de capital e da populaçom, a necessidade da indústria e do comércio nom se sente », disse Tenney Frank (40).

Os comerciantes em Roma eram geralmente estrangeiros, o que também explica o crescimento continuado do assentamento judaico em Roma desde o tempo do César. Os negociadores romanos nom eram os comerciantes, mas os usurários que pilhavam as províncias (41). O desenvolvimento do comércio no Império Romano deve ser atribuído principalmente à necessidade de aumento de luxo das classes dominantes de Roma. Estrabom explica desta maneira o desenvolvimento do grande mercado de Delos:
« donde vem o desenvolvimento do comércio? Como os romanos, fortalecidos pela destruiçom de Cartago e Corinto, costumaram-se a usar um grande número de escravos ». (42)
Aconteceu o mesmo com a indústria. A indústria romana dependia principalmente das necessidade de luxo da aristocracia. Tenney Frank, depois de perceber que durante o século IV aC nenhum progresso significativo fora feito no domínio da indústria, acrescenta que
« Os dois séculos que se seguiram nom houve alteraçom na natureza da produçom industrial em Roma, que, provavelmente, a quantidade de artefatos aumenta devido a um maior crescimento da cidade, mas nom seguiu com as exportações e que a única mudança visível foi a substituiçom do trabalho escravo pelo trabalho livre ». (43)
Mesmo aqueles autores que acreditam que a Itália era um país de produçom no período republicano, admitem que deixa de sê-lo no período imperial.
« A Itália é cada vez menos um país de produçom ... Várias indústrias de sucesso no final do período republicano estom em declínio .. Assim, o tráfego entre a Itália e do Oriente nom se realizará que numa só direçom e passa a cada cada vez mais nas mãos dos asiáticos, alexandrinos e sírios ». (44)
Assim, a Itália viveu da exploraçom das províncias. A pequena propriedade, a base do poder romano, foi progressivamente eliminada por vastas áreas que servem ao luxo da aristocracia romana e onde predominava o trabalho escravo (45). Toda a gente sabe a conclusom de Plínio: « Latifundia perdidere Italiant ».
O escravo torna-se cada vez mais um luxo e nom um fator de produçom (46). Horácio numa das suas sátiras, disse que pelo menos dez escravos eram indispensáveis para ser um homem. Na verdade, milhares de escravos travalhavam nos grandes latifúndios.
« Nos domínios de Tusculum e Tibre, nas margens do Terracina e de Baia, onde os antigos agricultores romanos tinham semeado e colhido, podia ser vista elevar-se num esplendor vazio, as moradias de nobres romanos, algumas das quais abrangiam o espaço de uma moradia de tamanho médio, com as suas dependências, jardins, aquedutos, reservatórios de água doce e água salgada para a preservaçom e propagaçom de peixes marinhos e de peixes de água doce,criaçom de lebres, coelhos, veados, cervos, javalis e aviários para faisões e pavões ». (47)
Ao mesmo tempo que o trabalho livre foi eliminado pelo trabalho escravo, a Itália tornou-se o centro do esbanjamento da riqueza drenada do Império.
Os impostos esmagadores arruinavam as províncias;
« os custosos e frequentes armamentos navais e as defesas da costa para lutar contra a pirataria, a tarefa de contribuir para as obras de arte, às lutas de animais ou a outros requisitos de luxo absurdos dos Romanos pelo teatro e a caça eram quase tão frequentes como opressivas e incalculáveis. Um único fato pode mostrar até que ponto levaram as coisas. Durante os três anos da administraçom de Caio Verres na Sicília o número de agricultores Leontini passou de 84 para 32; em Motya, de 187 para 86, em Herbita, de 252 para 120; em Argyrium, de 250 para 80, de modo que nos quatro distritos mais férteis da Sicília, 59% dos proprietários preferem deixar os seus campos em baldio que os cultivar sob este regime. Nos estados clientes as formas de tributaçom foram pouco diferentes, mas a carga era ainda maior, se possível, uma vez que aos abusos dos romanos se sumavam os das cortes do país ».(48)

O capitalismo romano, na medida em que o termo capitalismo lhe fosse aplicável, era essencialmente especulativo e nom tinha qualquer ligaçom com o desenvolvimento das forças produtivas. (49)
O comércio e a banca de Roma assemelhavam-se a uma empresa de roubo organizado.
« Mas o que era ainda pior, se possível, e menos ainda sujeito a controle, foi o mal causado pelos homens e negócios da Itália às infelizes províncias. As partes mais produtivas da terra e todos os negócios comerciais e monetários estavam concentrados nas suas mãos ... A usura floresceu mais do que nunca ».
« Todas as cidades, diz um tratado publicado em 684 (70 aC) estão arruinadas » a mesma realidade é especialmente patente no caso da Espanha e na Gália narbonense, províncias que estavam economicamente na mesma situaçom. Na Ásia Menor, cidades como Samos e Halicarnasso, estavam quase vazias; a escravidom parecia um paraíso em comparaçom com o tormento ao que sucumbiram os provinciais livres e mesmo os pacientes asiáticos estavam, de acordo com as descrições dos estadistas romanos, cansados da vida ». (50)
« Os estadistas romanos concordaram publicamente e abertamente em que o nome romano era incrivelmente detestável em toda a Grécia e Ásia ».
É evidente que este sistema de parasitismo e roubo nom poderia ser prolongado indefinidamente. A fonte de riqueza que atraiu Roma secou.
Muito antes da queda de Roma assiste-se a uma diminuiçom continuada do comércio. A base da pilhagem foi diminuindo gradualmente à medida que Roma esvaziava da sua substância os países conquistados.
O facto de a produçom de cereais, especialmente a do trigo caiu, enquanto a vinha e as oliveiras conquistaram vastas regiões no leste e oeste, é uma indicaçom alarmante da situaçom. Os produtos de luxo eliminam os produtos essenciais para a produçom e a reproduçom da força de trabalho.
« A extensom da viticultura e do azeite significou nom só um agravamento das condições económicas na Itália, mas poderia ser como resultado da escassez de trigo e da fome em todo o império ». (51)
Trajano vai tentar contrariar esse perigo, exigindo que os senadores a comprar terras na Itália. Os seus sucessores nom terão muito sucesso. O luxo mata a produçom.

« Logo as excelentes construções nom deixarão terras para o arado do lavrador, exclamou Horácio.

No século II, o declínio do comércio está completo. As relações com os países distantes som interrompidas.
« Nós nom encontramos moedas romanas do século II, nas Índias ».(52)

o que mostra uma interrupçom do comércio entre Roma e Índia. A decadência da agricultura egípcia era tão pronunciada no século II, que foi necessário abrir mão a alguns suprimentos de trigo desta província outrora rica. Foram substituídas as entregas egípcias pelos abastecimentos de trigo da província de África (Argélia e Tunísia atual). (53)
Cómodo foi obrigado a construir uma frota para transportar o trigo da província de África. Vimos que o comércio no Império Romano estava principalmente baseado no fornecimento das classes ricas de Roma. É surpreendente que o esgotamento das províncias fosse seguido pela decadência comercial? Cada vez mais, os imperadores romanos foram forçados a recorrer a requisições em espécie, o que agravou o mal que entrentavam as províncias.
« As requisições multiplicavam-ser: trigo, couros, madeiras e animais domésticos devem ser entregues, e o pagamento foi muito irregular, quando era possível contar com ele ». (54)
A economia puramente natural, produtora exclusiva de valores de uso, substitui-se lentamente pela troca de produtos.
« Enquanto a paz romana já tinha resultado na troca regular das coisas e do nivelamento das condições de vida entre as diferentes regiões do Império, na anarquia do século II, cada país é frequentemente condenado a viver em si, penível e pobremente ». (55)

Tentamos explicar a substituiçom gradual da escravidom pela colonizaçom, quer pela falta de energia dos proprietários de terras, quer pela escassez de escravos provocada pelo fim das guerras exteriores. Provavelmente a principal razom é a destruiçom progressiva das colónias, a cessaçom das remessas de produtos. Os grandes latifundiários, cada vez mais obrigados a viver dos produtos das suas terras, têm interesse em substituir o trabalho escravo, relativamente pouco produtivo, pelo sistema de colonos que se assemelhava ao sistema de servidom que florescerá na Idade Média.
« O colono deve ao seu proprietário tudo o que o vilão vai dever ao seu senhor».(56)
Cada vez mais aumenta o poder dos latifundiários que muitas vezes têm grandes extensões de terra. No Egito, no século V, os camponeses som completamente submetidos. A administraçom do Estado vai passar inteiramente nas suas mãos. (57)
É, certamente, inexato ver na economia natural, que irá florescer no período carolíngio, um resultado do colapso do Império Romano e da destruiçom da unidade económica do Mediterrâneo (58). Sem dúvida, as invasões bárbaras desempenharam um papel muito importante no declínio do comércio antigo, no desenvolvimento da economia feudal. Mas o declínio económico do Império Romano começou bem antes da queda de Roma e vários séculos antes da invasom muçulmana. Outro indicador muito importante da evoluçom para a economia natural é a alteraçom monetária já iniciada sob o governo de Nerom (59). O cobre substitui cada vez mais o ouro e prata. No século II há quase falta total de ouro. (60)
O desenvolvimento da economia natural, a economia essencialmente produtora de valores de uso, está longe de ser um « fenómeno anormal » como alegado por Pireno. O Império Romano arruinou-se economicamente antes de o ser politicamente. O enfraquecimento político do Império Romano só foi possível pelo seu declínio económico. O caos político século III e a invasom dos bárbaros, explica-se precisamente apenas pelo declínio económico do Império Romano.

Conforme as províncias estão em ruínas e desaparece a troca intensiva de mercadorias, assiste-se a um retorno à economia natural e a própria existência do Império perde qualquer interesse para as classes proprietárias. Cada país, cada domínio dobra-se sobre si próprio. O Império, com a sua enorme administraçom e o seu exército extremamente caro, torna-se um cancro, um órgao parasitário cujo peso insuportável pesa a todas as classes. Os impostos devoram as substâncias dos povos. Sob Marco Aurélio, quando os soldados, depois do seu grande sucesso contra os Marcomanos, solicitaram um aumento salarial, o Imperador fez esta resposta significativa:

« Tudo o que você receberia em cima do seu pagamento regular deveria ter sido tomado do sangue dos seus pais ».
A fazenda estava exausta. Para manter o aparelho administrativo e o exército, tinha que atacar o destino dos indivíduos. Enquanto as classes mais baixas continuam a se revoltar, as classes proprietárias afastam-se do império que os arruína. Após a ruína económica do Império pela aristocracia, a aristocracia foi arruinada por sua vez pelo Império.
« Todos os dias podiam-se ver pessoas que ontem ainda estavam entre as mais ricas, tendo que levar a bengala do mendigo », disse Herodes.
A selvageria dos soldados cresceu continuamente. Nom foi apenas a gravidade que os levou a roubar os habitantes, o empobrecimento das províncias e o mau estado dos meios de transporte criam dificuldades para o fornecimento dos exércitos, os soldados foram obrigados a usar a violência para conseguir o que era necessário para a sua subsistência. Caracalla, ao conceder a cidadania romana a todos os habitantes só procura aumentar a base tributária. Ironia da história: todo o mundo se tornou romano quando Roma era nada.
Os abusos da administraçom romana, os excessos das tropas incitavam os habitantes do império para buscar a sua destruiçom.
« A permanência dos soldados teve conseqüências catastróficas. A populaçom da Síria preferiu a ocupaçom do país pelos partos ». (61)

« O governo romano tornou-se cada dia mais odioso para os seus súditos ... A inquisiçom grave que confiscava os seus bens e muitas vezes torturava às pessoas, decidiu aos súditos de Valentiniano a preferir a tirania menos complicada dos bárbaros. Eles rejeitaram com horror o nome de cidadãos romanos tão respeitado e tão invejado dos seus antepassados ».(62)
O escritor cristão Salvio disse em De Gubernatione Dei:
« Uma grande parte da Gália e da Espanha já pertence aos Godos e todos os Romanos só querem uma coisa: nom voltar sob o domínio de Roma. Fiquei surpreso de que todos os pobres e necessitados nom tinham fugido dos bárbaros, era o fato de que eles podem abandonar as suas casas. E nós, os romanos, nom estamos surpresos de nom poder derrotar os godos, enquanto preferimos viver entre eles do que entre nós ».
Longe de ser um fenómeno « anormal", a invasom dos bárbaros foi a consequência natural do declínio económico e político do império. Mesmo sem as invasões, o Império teria tombado.
« Um dos fenómenos mais importantes do desenvolvimento interior da Ásia Menor e da Síria é o retorno gradual ao feudalismo... A revolta dos Isaurios na Ásia Menor é um sintoma da tendência para formar Estados independentes ». (63)
Da mesma forma, a tentativa de estabelecer um Império independente galo-romano, as tentativas de dissidência provam quão frágil era a espinha dorsal do Império. Os bárbaros apenas deram o golpe final ao edifício cambaleante do Estado romano.
A causa essencial do declínio do Império Romano deve ser buscada na contradiçom entre o luxo crescente das classes ricas, entre o constante crescimento da mais-valia e da imobilidade do modo de produçom. Durante o período romano, houve pouco progresso no campo da produçom. As ferramentas do agricultor conservaram a sua forma original.
« O arado, a pá, a enxada, a picareta, a foice,... sobreviveram imutáveis de geraçom em geraçom ».(64)
O luxo crescente da aristocracia romana e os custos da administraçom imperial provinham da exploraçom desenfreada das províncias, que resultou no declínio económico, o despovoamento e o esgotamento do solo (65). Ao contrário do mundo capitalista que morrerá da abundância (relativa) dos meios de produçom, o mundo romano morreu pela sua inadequaçom.
As reformas de Diocleciano e Constantino som uma tentativa de assentar o Império romano sobre a base da economia natural.
« O Estado alicerça-se agora no agro e nos seus habitantes ».(66)
O camponês foi acorrentado à sua terra. Cada proprietário era responsável pelo seu domínio e pelo número de colonos estavam estabelecidos: sobre esta base foi estabelecido o novo imposto.
« As reformas de Diocleciano em impostos e os decretos dos imperadores que se seguiram fizeram do colono, um escravo acorrentado a seus senhores e à sua terra ».(67)
Foi o mesmo com outras camadas da populaçom -pequenos proprietários, artesãos, comerciantes, todos foram acorrentados ao seu ugar de residência e à sua profissom. A época de Constantino é a era da dominaçom ilimitada dos grandes proprietários de terras, senhores incontestáveis de grandes domínios principescos. A aristocracia abandona cada vez mais as cidades decadentes e refugia-se nas suntuosas moradias do campo onde vive rodeada pelos seus clientes e servos.
As reformas de Diocleciano e Constantino som tentativas de adaptar o Império à economia natural. Mas já vimos que nesta base o Império nom tinha nenhuma razom de ser. Nada, salvo a tirania, vinculava as suas várias partes. Além disso, se economicamente e socialmente Constantino abre uma nova era histórica simbolizada pela adoçom do cristianismo, politicamente ele inicia o último ato da história do Império Romano.
C) Judaísmo e cristianismo
A situaçom que os judeus tinha adquirido no período helenístico parece nom ter sofrido mudanças fundamentais após a conquista romana. Os privilégios concedidos aos judeus pelas leis helenísticas foram confirmados pelos imperadores romanos.
« Os judeus desfrutaram uma situaçom de privilégio no Império Romano ». (68)
O facto de que tão só na Alexandria vivesse perto de um milhom de judeus basta para caracterizar o seu papel principalmente comerciais na dispersom que tinha três milhões e meio de judeus vários séculos antes da queda de Jerusalém, enquanto apenas um milhom continuava a viver na Palestina.
« Alexandria, no Egito, sob os imperadores romanos, era o que Tyr fora na época do esplendor do comércio fenício... Sob o reinado dos Ptolomeua estabelecera-se um comércio direto entre o Egipto e a Índia. De Tebas, caravanas que viajam para Meroe, na Alta Núbia, cujos mercados também foram frequentados por caravanas do interior da África. Uma frota romana foi até a foz do Nilo para receber os objetos preciosos e distribuí-los no Império ».(69)
Dois de cinco bairros de Alexandria eram habitados por judeus (70). O papel dos judeus na Alexandria era tão importante que um judeu, Tibério Júlio Alexandre, foi nomeado governador romano da cidade.
Em termos de cultura, os judeus de Alexandria foram totalmente assimilados e apenas falavam o grego. Por isto os livros religiosos hebraicos tiveram de ser traduzidos para essa língua. Comunidades semelhante à de Alexandria foram espalhadas em todos os centros comerciais do Império. Os judeus espalharam-se na Itália, Gália e Espanha. Jerusalém continuou a ser o centro religioso da diáspora judaica.
« Os sucessores de David e Salomom tinham pouco mais significado para os judeus daquela época que Jerusalém para os do nosso tempo. A naçom achava, sem dúvida, pela sua unidade intelectual e religiosa, um ponto de encontro no pequeno reino dos Hasmoneus, mas a própria naçom nom era apenas a dos sujeitos de Hasmoneus, mas uma imensa multidom de judeus espalhados por todo o Império e no Império Romano. Nas cidades do interior de Alexandria e de Cirene os judeus formaram comunidades administrativamente e até mesmo localmente distintas, algo semelhante aos “bairros judeus”, mas com uma mais posiçom mais livre e supervisionado por um “mestre do povo” como juiz superior e administrador... Mesmo nesta época o negócio predominante dos judeus era o comércio ». (71)
Nos livros sibilinos do período dos Macabeus diz-se que
« todos os mares estão cheios de judeus ».
« Eles foram em quase todas as cidades e seria difícil encontrar um lugar na terra que nom tenha visto esta tribo ou que nom tenha sido dominado por ela », diz Estrabom.
« Que a maioria dos judeus na antiguidade se dedicavam ao comércio é indiscutível para os economistas ». (72)
Jerusalém era uma cidade grande e rica de 200.000 habitantes. A sua importância baseva-se principalmente no templo de Jerusalém. Os habitantes da cidade e arredores viviam principalmente da massa de peregrinos que acorriam à cidade santa.

« Deus tornou-se para os judeus da Palestina um importante meio de subsistência ».(73)
Nom somente os sacerdotes viviam do serviço do Jeová, mas também inúmeros merceeiros, cambistas e artesãos. Mesmo os camponeses e pescadores da Galileia tinham em Jerusalém mercados para os seus produtos. Seria um erro acreditar que a Palestina estava habitada exclusivamente por judeus. No Norte houvia várias cidades gregas. "Quase todo o resto da Judeia a apresenta-se dividida entre tribos misturadas de egípcios, árabes e fenícios", diz Estrabom. (74)
O proselitismo judaico assume proporções cada vez mais impressionantes no início da era cristã.
« Para muitos era certamente uma tentaçom fazer parte de uma associaçom comercial tão florescente e extendida ». (75)
Já em 139 aC, os judeus foram banidos de Roma por terem realizado proselitismo. Em Antioquia, a maior parte da comunidade judaica estava composta por convertidos.
É a posiçom económica e social dos judeus da Diáspora que, mesmo antes da queda de Jerusalém, tornou possível a sua coesom religiosa e nacional. Mas se é claro que a maioria dos judeus desempenham um papel comercial no Império Romano, nom todos os judeus eram ricos comerciantes ou empresários. Em vez disso, a maioria estava constituída por judeus que tiravam o seu sustento, direta ou indiretamente, do comércio: vendedores ambulantes, estivadores, pequenos artesãos, etc. É essa pequena multidom de pessoas a primeira em ser atingida pela queda do Império Romano e a que mais sofre com os abusos de Roma. Concentrada em grandes massas nas cidades, é capaz de resistir mais do que as massas de camponeses espalhadas no campo. Também é muito mais consciente dos seus interesses. Além disso, as massas judaicas constituiram um foco continuado de problemas e de revoltas dirigidas contra Roma e contra os ricos.
Tornou-se tradiçom fazer da revolta judaica de 70 um grande “levante nacional". No entanto, se a revolta era dirigida contra os abusos intoleráveis dos procuradores romanos, também era decididamente hostil às classes ricas nativas. Todos os aristocratas declararam-se contra a rebeliom. Por todos os meios, o rei Agripa e outros membros das classes ricas tentaram parar o fogo. Foi preciso que os zelotes primeiro massacraraam as “gentes de bem” antes de atacar os romanos. O rei Agripa e Berenice, após o fracasso dos seus esforços de "reconciliaçom" situam-se nom do lado dos insurgentes, mas do lado dos romanos. Os membros das classes dominantes que, como Flávio Josefo, fingiram querer ajudar os revolucionários, apressaram-se em traí-los vergonhosamente. Por outro lado, a revolta na Judeia nom foi original. Várias revoltas eclodiram em várias cidades gregas durante o reinado de Vespasiano. Uma intensa agitaçom social era liderada pelos filósofos cínicos que Vespasiano teve de expulsar das cidades. Os alexandrinos também mostraram a sua hostilidade a Vespasiano.
« O exemplo de Bitínia, os distúrbios em Alexandria sob Trajano, mostram que a luta de classes na Ásia Menor e Egito nunca parou ». (76)
Mas a agitaçom social nom se limita às massas urbanas, mais atingidas pelo declínio crescente da vida económica. Os camponeses também começam também a se pôr em marcha. A situaçom dos agricultores já era muito ruim nos séculos I e II.
« A situaçom dos agricultores agrava-se cada vez mais no Egito. As condições nas que viviam as massas da populaçom egípcia estão muito abaixo da média normal. Os impostos eram esmagadores e o modo de cobrança brutal e caro... » (77)
Sob Marco Aurélio o descontentamento espalha-se por todas as províncias. Espanha recusou-se a fornecer soldados, a Gália está cheia de desertores. As revoltas espalham-se na Espanha, Gália e na África. Numa petiçom ao imperador Commodus, os pequenos agricultores africanos dizem:
« Vamos fugir para um lugar onde podamos viver como homens livres »
Durante o reinado de Sétimo Severo o banditismo atinge proporções sem precedentes. Bandas de "Heimatlos" assolam várias partes do império. Numa petiçom da que foi recentemente encontrada uma cópia, os pequenos agricultores da Lídia na Ásia Menor dirigem-se nestes termos a Septímio Severo:

« Quando os cobradores de impostos do imperador aparecem nas aldeias, eles nom trazem nada de bom; atormentam os moradores com requisições insuportáveis e multas... ».
Outras petições falam da brutalidade e arbitrariedade desses mesmos empregados.
A miséria das massas urbanas e rurais ofereceu um terreno fértil para a propagaçom do cristianismo. Rostovtzeff justamente vê uma ligaçom entre as revoltas judaicas e as revoltas populares no Egito e Cirenaica durante o reinado de Trajano e Adriano (78). Nas camadas mais pobres das grandes cidades da Diáspora espalha-se o cristianismo.
« A primeira comunidade comunista messiânica acha-se em Jerusalém, mas em breve essas comunidades foram fundadas noutras cidades habitadas por um proletariado judeu ». (79)

« As estações mais velhas do comércio fenício terrestre e marítimo foram as mais antigas sedes do cristianismo ». (80)
Bem como as revoltas judaicas foram seguidas por revoltas das camadas populares nom-judaicas, a religiom comunista judaica espalha-se rapidamente entre as massas pagãs.
A comunidade cristã nom nasceu no terreno do judaísmo ortodoxo, estava intimamente ligada com as seitas heréticas (81). Estava sob a influência duma seita comunista judaica, os essênios "que, disse Filo, nom tem nenhuma propriedade, sem casas, escravos, terras ou gado."
Trabalham na agricultura e o comércio é proibido. O cristianismo no seu início deve ser considerado uma reaçom das massas trabalhadoras do povo judeu contra a dominaçom das ricas classes comerciais. Jesus ao expulsar os mercadores do templo expressava o ódio das massas judaicas contra os seus opressores, a sua hostilidade contra a dominaçom dos ricos comerciantes. Nos seus primórdios os cristãos formam pequenas comunidades sem grande importância. Mas é no século II, época de grande miséria no Império Romano, que eles conseguem tornar-se um partido muito poderoso.
«No século III a Igreja é reforçada de maneira extraordinária » (82)
« No século III os elementos do cristianismo aumentam em Alexandria ». (83)
O carácter popular e antiplutocrático do cristianismo primitivo é inegável.
« Bem-aventurados som os pobres, porque a eles pertence o reino de Deus. Bem-aventurados os que têm fome, pois serão satisfeitos... »
« Mas ai de vós, os ricos. Ai daqueles que estão satisfeitos porque terão fome »,

diz o Evangelho de Lucas. A Epístola de Santiago também é afirmativa:
« E agora, ricos, chorai, uivai pelas misérias que vos esperam. As vossas riquezas estão em ruínas e vossas roupas foram comidas pelos vermes. O vosso ouro e prata estavam molhados e a sua ferrugem testemunhará contra vós e devorará a vossa carne como o fogo ... Os salários dos trabalhadores que seituraram os vossos campos e que nom pagastes, levanta a sua voz e seu rugido penetrou o Senhor dos exércitos ». (V. 1-4).

Mas com o rápido desenvolvimento do cristianismo os seus dirigentes tentam moderar o seu antiplutocratismo. O Evangelho de São Mateus mostra a mudança. Ele diz: "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque o reino dos céus vos pertence. Bem-aventurados os que têm sede de justiça, porque serão satisfeitos”. Os pobres tornaram-se pobres de espírito, o reino de Deus nom é mais do que o reino dos céus, os famintos nom têm mais do que sede de justiça. A religiom revolucionária das massas transforma-se em religiom consoladora dessas massas. Kautsky compara este fenómeno com o reviisionismo social-democrata. Seria mais justo comparar esta evoluçom com o fenómeno fascista que conhecemos hoje. O tascismo também tenta usar o "socialismo" para reforçar o primado do capital financeiro. Ele nom hesita perante as falsificações mais flagrantes para enganar as massas, para representar o reino dos magnatas da indústria pesada como o “reino do trabalho”.

Porém, a "revoluçom fascista" também tem um certo conteúdo económico e social. Ela encerra definitivamente a era liberal e inaugura a era do domínio completo do capital monopolista, a antitese do capitalismo de livre concorrência. Da mesma forma, é suficiente dizer que o cristianismo se tornou um instrumento de enganaçom dos pobres. Ele tornou-se a ideologia da classe dos proprietários de terras que tomou o poder absoluto sob Constantino. O seu triunfo coincide com o triunfo completo da economia natural. Ao mesmo tempo que o cristianismo, a economia feudal espalha-se por toda a Europa.
É certamente errado responsabilizar o cristianismo pela queda do Império. Mas ele forneceu a armaçom ideológica às classes que se elevam nas suas ruínas.
« O clero do Oriente e do Ocidente condenou mesmo o mínimo empréstimo a juro » (84)
Ele tomou os interesses da nova classe endinheirada cujas riquezas provêm exclusivamente da terra. A principal razom do fracasso do cristianismo "proletário" e do triunfo do cristianismo "fascista" deve ser procurado no estado atrasado do modo de produçom da época. As condições económicas ainda nom estavam maduras para o triunfo do comunismo. A luta de classe dos séculos II e III nom levaram a nenhum resultado para as massas. (85)

Isso nom significa que as classes mais pobres tivessem aceite o triunfo do catolicismo sem resistência. A abundância de heresias é a melhor prova do contrário. Se a Igreja oficial perseguiu com tanta raiva essas heresias foi porque representavam, pelo menos em parte, os interesses das classes mais pobres. Um autor do século IV escreve de Constantinopla:
« Esta cidade, diz ele, está cheia de escravos e comerciantes, que som todos profundos teólogos que pregam nas lojas e ruas. Peça que um homem vos troque uma moeda de prata, e você vai aprender o diferente que é o Filho do Pai. Pergunte a um outro o preço do pão, ele vai dizer que o Filho é inferior ao Pai. Saiba se o banho está pronto e dirão-lhe que o Filho foi criado a partir do nada ».
Como vimos, o cristianismo foi ao princípio a ideologia das massas judias pobres. As primeiras igrejas foram formadas em torno das sinagogas. Os judeu-cristãos tiveram o seu próprio evangelho que chamavam o Evangelho dos Hebreus. Mas, provavelmente, em breve os judeu-cristãos fundiram-se na grande comunidade cristã. Eles assimilaram-se pela grande massa dos convertidos.
Desde o século II, época da grande expansom do cristianismo, já nom se ouve falar da comunidade judaica de Alexandria. É provável que a maioria dos judeus de Alexandria entraram no colo da Igreja (86). A Igreja de Alexandria consegue durante um certo tempo a hegemonia na nova religiom. No Concílio de Niceia é ela quem dá o tom às outras comunidades cristãs.
Mas se as camadas camponesas da judaria abraçaram com entusiasmo os ensinamentos de Jesus, nom aconteceu o mesmo com as suas classes dominantes e comerciantes. Em vez disso, estas perseguiram zelosamente a religiom comunista primitiva. Mais tarde, quando o cristianismo se tornou a religiom dos grandes proprietários, quando as suas tendências antiplutocráticas iniciais foram limitadas apenas ao comércio e à usura, é claro que entom a oposiçom das classe judias ricas nom perdeu a sua intensidade. Em vez disso, o Judaísmo ganhou cada mais e mais consciência do seu papel. Apesar do declínio do Império, o papel do comércio estava longe de terminar. As classes dominantes ainda precisam de produtos de luxo do Oriente. Se os judeus já desempenhavam um papel importante no comércio das épocas anteriores, eles tornam-se cada vez mais os únicos intermediários entre o Oriente e o Ocidente. Judeu e comerciante tornam-se cada vez mais sinónimos.
O triunfo da economia natural e do cristianismo permite portanto completar o processo de seleçom que transforma os judeus em classe comercial. Na altura do fim do Império Romano, ainda existem alguns grupos de judeus cuja atividade principal é a agricultura ou a gadaria: na Arábia, na Babilónia e no norte da África. Os judeus estão longe de ter desaparecido da Palestina. Contrariamente às opiniões de historiadores e de ideólogos idealistas, os judeus da Palestina nom foram espalhados pelos quatro cantos do universo pelos romanos. Vimos que a diáspora teve outras causas. Em 484 os imperadores tiveram grande dificuldade em sufocar um levante violento dos camponeses samaritanos. No início do século VII, os judeus lançaram-se sobre Tyr e massacram a sua populaçom (87). Em 614 batalhões judeus de Tiberíades, Nazaré e Galileia ajudaram o rei persa a conquistar Jerusalém e exterminaram muitos habitantes. Mesmo no tempo da invasom muçulmana, os judeus eram, segundo Caro, a base da populaçom palestina (88). A conquista muçulmana aqui vai produzir efeitos semelhantes aos que houve em todos os países conquistados.

A populaçom, subjugada, gradualmente assimila-se aos seus conquistadores. Assim como o Egito perdeu todo o seu carácter sob o domínio muçulmano, a Palestina foi finalmente despojada de seu carácter judaico. Ainda hoje, alguns ritos dos camponeses árabes da Palestina recordam a sua origem judaica. Noutros países também, grupos de agricultores ou pastores judeus som submetidos a uma forte pressom para assimiladora e sucumbem cedo ou tarde, e este é o fenómeno essencial cada vez mais evidente pela evoluçom histórica. Somente as comunidades judaicas de carácter nitidamente comercial, numerosas na Itália, Gália, Alemanha, etc. som capazes de resistir a todas as tentativas de assimilaçom. Que fica das tribos judaicas de pastores da Arábia, dos agricultores judeus do norte da África? Nada, exceto as lendas. Em vez disso, os assentamentos comerciais judaicos da Gália, Espanha e da Alemanha, crescem e florescem.

Por conseguinte, nom se pode dizer que se os judeus se têm preservado, nom é apesar, mas precisamente devido à sua dispersom. Se nom tivesse havido Diáspora antes da queda de Jerusalém, se os judeus tivessem permanecido na Palestina, nom há razom para crer que o seu destino tivesse sido diferente do de todas as nações da antiguidade. Os judeus, como os romanos, gregos e egípcios, teriam-se misturado com as nações conquistadoras, teriam adotado a sua religiom e os seus costumes. Mesmo que os atuais habitantes da Palestina continuassem a ostentar o nome de judeus, eles teriam tido tanto em comum com os antigos hebreus que os habitantes do Egito, da Síria e da Grécia com os seus antepassados da antiguidade. Todos os povos do Império Romano foram arrastados na sua debacle. Se os judeus sobreviveram foi porque eles continuaram a levar no mundo bárbaro, o sucessor de Roma, os vestígios do desenvolvimento comercial que caracterizara o mundo antigo. Após a quebra do mundo mediterrâneo eles continuaram a levar entre suas partes dispersas.
D) Os judeus após a queda do Império RomanoÉ, portanto, a transformaçom da naçom judaica em classe o que está na origem da “conservaçom do judaismo”. Na época do colapso do Império Romano o seu papel comercial continua a crescer em importância.

« Se os judeus já participaram antes da queda do Império Romano no comércio mundial, eles atingem uma prosperidade ainda maior após o seu fim ». (89)
É provável que os comerciantes sírios dos que estamos a falar na mesma época fossem também judeus. Esta confusom era comum na Antiguidade. Ovídio fala, por exemplo, do:
“ dia pouco próprio aos negócios, onde se celebra cada semana a festa celebrada pelos sírios da Palestina". (90)
No século IV os judeus pertenciam às camadas abastadas e mais ricas da populaçom ... Crisóstomo diz que os judeus têm grandes somas de dinheiro e que os Patriarcas reunem imensos tesouros. Ele fala da riqueza dos judeus como um fato que os contemporâneos conheciam bem. (91)
Durante séculos os judeus som os únicos intermediários comerciais entre o Oriente e o Ocidente. O centro da vida judaica mudou-se cada vez mais para Espanha e à França. O mestre árabe Ibn Khordâdhbeh (século IX), fala no seu livro das rotas dos judeus radamitas que, segundo ele,
« Falam o persa, latim, árabe, as línguas franca, espanhola e eslava. Eles viajam de Ocidente para Oriente e de Oriente para Ocidente, quer por terra, quer por mar. Eles trazem para o Ocidente eunucos, mulheres escravas, meninos, seda, peles e espadas. Eles embarcam no país dos Francos, no Mar Ocidental e dirigem-se para Faram (Pelusa)... Eles vão para o Sind, a Índia e a China. No seu retorno eles carregam-se de almíscar, aloés, cânfora, canela e outros produtos das terras orientais. Alguns vão a vela para Constantinopla para vender os seus bens, outros vão para a terra dos francos »
É certamente às suas importações que se relacionam os versos de Teodulfo sobre a riqueza do Oriente. Espanha ainda é mencionada no texto de uma fórmula de Luis o Piedoso sobre o judeu Abraão de Saragosa ... Os judeus som os fornecedores de especiarias e tecidos preciosos. Mas segundo os textos de Agobard parece que eles também vendem vinho. Eles ocupam-se do comércio do sal nas ribeiras do Danúbio,. No século X os judeus possuem as salinas perto de Nuremberga. Eles também comerciam com armas. Além disso, exploram os tesouros das igrejas. Mas a sua grande especialidade é o comércio de escravos. Alguns som vendidos no país, mas a maioria som exportados para Espanha. "Judeu" e "comerciante" tornaran-se termos sinónimos. (92)
Assim afirmou um decreto do rei Luís:
« Os comerciantes, ou seja, os judeus e outros comerciantes, donde quer que vierem, deste país ou doutros países, devem pagar uma taxa, quer pelos escravos, quer por outras mercadorias, como era habitual sob outros reis ».(93)
Nom há dúvida de que na era carolíngia os judeus foram os principais intermediários entre o Oriente eo Ocidente. A sua posiçom já dominante no comércio no momento da queda do Império Romano preparou-nos bem para este papel. Foram tratados como cidadãos iguais de Roma. O poeta Rutilius laia-se de que a nação oprimida conquistou os conquistadores. (94)
Em meados do século IV, os comerciantes judeus tinham-se estabelecido em Tongres e Tournai. Os bispos mantiveram as melhores relações com eles e incentivavam fortemente o seu comércio. Sidónio Apolinário pediu ao bispo de Tournai (470) para os receber, dado que “essas pessoas faziam habitualmente bons negócios”.(95)
No século VI Gregório de Tours fala de assentamentos judaicos em Clermont-Ferrand e Orleans. Lyon também tinha naquela época uma grande populaçom de comerciantes judeus (96). O arcebispo de Lyon Agobard na sua carta de Insolentia Judaeorum, queixou-se de que os judeus vendiam escravos cristãos na Espanha. O monge Aronius no século VIII menciona um judeu vivendo na terra dos Francos que trouxe as coisas preciosas da Palestina. (97)
É óbvio que na França, no início da Idade Média, os judeus eram principalmente comerciantes (98). Na Flandres, onde os judeus viveram desde a invasom normanda até a primeira cruzada, o comércio estava nas suas mãos (99). No final do século IX havia em Huy uma grande comunidade judaica. Lá os judeus ocuparam um lugar importante e faziam um comércio florescente... Em 1040 em Liège detinham o comércio nas suas mãos (100). Em Espanha,
« Tudo o comércio exterior era explorado por eles. Este comércio alargava-se a todas as mercadorias do país: vinhos, óleos e minerais. Os tecidos e especiarias, que chegaram no Levante. Acontecia o mesmo na Gália » (101).
Os judeus da Polónia e da Ucrânia também entraram na Europa Ocidental para vender escravos, peles e sal e para comprar todos os tipos de tecidos. Lê-se numa fonte hebraica do século XII que os judeus compravam nos mercados renanos grandes quantidades de tecidos de Flandres para os trocar por peles na Rússia. O comércio judaico entre Mainz e Kiev, "a praça do comércio mais importante da planície do Sul" (102) era muito intensa. (103)
Havia certamente uma importante colónia comercial de judeus neste momento em Kiev, já que se lê numa crónica de 1113 que
« Para decidir Monómaco vier em breve a Kiev, os habitantes desta cidade informaram-lhe que a populaçom preparava-se para pilhar os boiardos e os judeus ».(104)
O viajante árabe Ibrahim Al-Tartoushi também testemunha a dimensom do comércio judaico entre a Europa e o Oriente. Ele escreveu em 973 numa visita a Mainz:
« É maravilhoso que num ponto tão afastado do Ocidenta se achem tantas quantidades de especiarias vindas do Oriente distante ».
Na história sobre o judeu Ben Gourion na obra do geógrafo árabe-persa Qazwini e no relatório da viagem do judeu espanhol Ibrahim ibn Iakov do século X, menciona-se o preço do trigo em Cracóvia e Praga, e as minas de sal pertencentes a judeus (105). Segundo Gumplowicz, os judeus foram os únicos intermediários entre as margens do Báltico e da Ásia. Um documento antigo caracteriza deste jeito os Cazares, tribo mongol do Mar Cáspio convertida ao judaísmo:
« Eles nom têm escravos da terra porque compram tudo com o dinheiro ». (106)
Itil, a capital dos Cazares, foi um grande centro comercial donde partia o tráfego de mercadorias para Mainz.
O converso Herman disse, numa autobiografia escrita, que quando ele ainda era um judeu na idade de 20 anos (cerca de 1127), ele viajava regularmente a partir de Colónia para Mainz para se ocupar de assuntos comerciais porque "todos os judeus estão envolvidos no comércio "(siquidem omnes judaei negotiationi inserviunt).
As palavras do rabino Eliezer Ben Natan som também características da época:
« O comércio, é o nosso principal meio de subsistência ». (107)
Os judeus som
« A única classe cuja subsistência se deve ao comércio. Eles som, ao mesmo tempo, pelo contato que mantêm com os outros, o único elo que restava entre o Oriente e o Ocidente ». (108)
A situaçom dos judeus na primeira metade da Idade Média foi extremamente favorável. Os judeus som considerados parte das classes altas da sociedade e a sua situaçom jurídica nom se afasta significativamente da nobreza. Sob Carlos o Calvo, o edito de Pîtres (864) puniu a venda de ouro ou prata impuro pelo chicote, quando se tratar de servos ou de trabalhadores forçados, e por uma multa de dinheiro quando se tratar de judeus ou de homens livres. (109)
« Os judeus cumpriam entom um papel que respondia a uma urgente necessidade económica, que ninguém mais poderia satisfazer: a profissom comercial ».(110)

Os historiadores burgueses geralmente nom vem muita diferença entre o comércio e a usura antiga ou medieval e o capitalismo na nossa época. No entanto, existe entre o comércio medieval e a usura relacionada a ele, pelo menos tanta distância que entre o grande proprietário capitalista que trabalha para o mercdo e o senhor feudal, entre o proletariado moderno e o servo ou escravo. O modo de produçom dominante na época da prosperidade comercial dos judeus era feudal. Produziam-se principalmente valores de uso e nom valores de troca. Cada domínio era suficiente a si próprio. Apenas alguns produtos de luxo (especiarias, tecidos preciosos, etc) eram objeto de uma troca. Os senhores cediam uma parte dos produtos brutos das suas terras em troca dessas mercadorias raras vindas do Oriente.

A sociedade feudal, baseada na produçom de valores de uso e o “capitalismo” na sua forma comercial e usurária nom som excludentes, mas complementares.
« O desenvolvimento autónomo e predominante do capital como capital comercial corresponde a um sistema de produçom em que o capital nom desempenha nenhum papel e, deste ponto de vista, pode-se dizer que é inversamente proporcional ao desenvolvimento económico da sociedade... Enquanto o capital comercial assegura a troca dos produtos das comunidades menos desenvolvidas, ele criou nom só na aparência, mas quase sempre na realidade, os lucros inflados e manchados pela fraude. Ele nom se limitou a explorar a diferença entre os custos de produçom de vários países, como conduz à equalizaçom dos valores das mercadorias, mas que se apropria da maior parte da mais-valia. Ele consegue isso agindo como um intermediário entre as comunidades que produzem principalmente valores de uso e para os quais a venda destes produtos ao seu valor é de importância secundária, ou lidar com os proprietários de escravos, senhores feudal, governos despóticos, que representam a riqueza... ». (111)
Enquanto o capital comercial e bancário moderno é, economicamente falando, um apêndice do capital industrial e apenas captura uma pequena parte mais-valia criada no processo de produçom capitalista, o capital comercial e usurário faz os seus lucros explorando a diferença entre os custos de produçom de vários países, apropriando-se de uma parte da mais-valia extorquida aos servos pelos seus senhores feudais.

« É sempre a mesma mercadoria na qual o dinheiro se converte na primeira fase e que na segunda fase se converte em mais dinheiro ». (112)
O comerciante judeu nom investe o dinheiro na produçã como irá fazer, alguns séculos mais tarde, o comerciante das cidades medievais. Ele nom compra matérias-primas, ele nom financia os artesãos tecelões. O seu capital comercial é o intermediário entre os produtos que ele nom domina e cujas condições ele nom criou”. (113)
O comércio está intimamente ligado ao empréstimo a juro, a usura. Se a riqueza acumulada nas mãos da classe feudal implica o luxo e o comércio, o luxo, por sua vez, torna-se a marca da riqueza. Inicialmente, o superávit acumulado permete-lhe ao senhor a aquisiçom de tecidos, as especiarias orientais, as sedas e, mais tarde, todos estes produtos tornam-se os atributos da classe dominante. O fato começa a fazer o monge. E quando as rendas ordinárias nom permitem levar o estilo de vida que se tornara habitual para a classe dos proprietários, esta deve tomar emprestado. Uma segunda personagem é adicionada ao comerciante: o usurário. Normalmente, neste momento a segunda personagem é a mesma que a primeira. Só o comerciante tem o dinheiro que precisa o rico perdulário nobre. Mas nom é somente o senhor quem recorre ao usurário. Quando o rei precisa reunir um exército de imediato e o produto normal dos impostos nom é suficiente, ele deve entrar em contato com o homem do dinheiro. Quando o camponês, na sequência de uma má colheita, uma epidemia ou da elevada carga de taxas, impostos e de servidumes, nom pode cumprir a sua carga; quando ele comeu a sua semente, quando nom pode renovar as ferramentas de trabalho utilizadas, entom ele deve tomar prestado o que precisa ao usurário.
A tesouraria do usurário é portanto essencial para uma sociedade baseada na economia natural, é a reserva à que a sociedade se dirige quando se vê envolvida por circunstâncias acidentais.
« O capital produtivo dos juros, o capital usurário, se aplicarmos o nome que corresponde à sua forma original, pertence, com o seu irmão o capital comercial, às formas antediluvianas do capital, às formas muito anteriores à produçom capitalista e encontrar-se nas mais diversas organizações da sociedade ». (114)
« Que os judeus alemães emprestavam dinheiro sob penhores antes mesmo da primeira cruzada, é algo indiscutível. Quando em 1107 o Bispo Herman de Praga penhorou nos judeus de Ratisbona as magníficas tapeçarias da igreja pela soma de 500 marcos de prata, é difícil acreditar que esta fosse a primeira operaçom de crédito deste tipo. Além disso, um documento hebraico reflete os penhores eram habituais nos judeus alemães da época. Mas desta vez, o crédito ainda nom era uma profissom independente, estava intimamente ligado ao comércio ».(115)
Muitas vezes os reis e senhores entregavam aos judeus os produtos dos impostos e taxas. E assim vemos o surgimento de judeus no papel dos arrecadadores de impostos e de cobradores de taxas (116). Os ministros das Finanças dos reis no início da Idade Média muitas vezes eram judeus. Na Espanha, até finais do século XIV, os grandes banqueiros judeus eram ao mesmo tempo arrecadadores de impostos. Na Polónia,

« os reis confiavam aos judeus as funções importantes da administraçom financeira dos seus domínios... Sob Casimiro o Grande e Ladislau Jagellon, nom somente se concede aos judeus os impostos públicos, mas também fontes de renda tão importantes quanto o dinheiro e as salinas reais. Por exemplo, sabe-se que o "Rothschild" de Cracóvia, Levko, o banqueiro de três reis polacos concedeu na segunda metade do século XIV as famosas salinas de Wieliczka e Bochia, e ele também administrava a Casa da Moeda de Cracóvia ». (117)
Enquanto domina a economia natural, os judeus eram indispensáveis para ela. É o seu declínio que vai dar o sinal das perseguições contra os judeus e comprometerá por muito tempo a sua situaçom.

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NOTAS

(1) Se calhar a prosperidade comercial da palestina o que fez aparecer a Palestina, sob os olhos dos israelitas, como o país “do mel e do leite”. É provável que a invasom isralelita deu um golpe grave ao comércio palestiniano. Mas com o tempo, os isralitas beneficiaram-se das suas relações com os países do Nilo e do Éufrates.
(2) É, portanto, desde o princípio, umha situaçom geográfica e histórica específica que determina o carácter comercial dos fenícios e dos judeus. É evidente que a proximidade dos centros de cilizaçom providos dumha indústria relativamente importante e a vizinhança do país que já produz para a troca o que permite o desenvolvimento de povos especificamente comerciantes como os fenícios e os judeus. É ao lado dos primeiros grandes centros da civilizaçom que se desenvolvem os primeiros grandes povos comerciantes.
(3) E. C. Movers, Die Phönizier, Bona, 1841-56, p. 17
(4) “Mesmo antes da chegada dos israelitas a Canã, lá o comércio achava-se num alto grau de desenvolvimento. Das cartas que datam do século XV a.n.e., fala-se de caravanas que atravessam Tell-el-Amarna. D. F. Bühl, Die sozialen Verhältnisse der Israeliten, Berlim 1899, p. 76.
(5) Movers, op. cit., p. 19
(6) Movers, op. cit., p. 18
(7) Movers: “Polo seu infatigável entusiasmo comercial e o seu indestrutível espírito empreiteiro, os fenícios adquiriram o nome dum povo comercial sem comparaçom com qualquer pvo da antiguidade. É apenas mais tarde, na Idade Média, que este nome, com todas as más noções a ele ligado, que passa aos seus vizinhos e herdeiros comerciais, os judeus da Diáspora”, op. cit., p. 26
(8) J. Toutain, L’Economie antique, Paris, 1927, p. 24-25.
(9) Estes “marinhos gregos” parecem ter sido sobretodo os metecas, estrangeiros estabelecidos na Grécia. O papel fundamental dos fenícios ligara-se ao desenvolvimento das civilizações egípciaca e assíria; o desenvolvimento da civilizaçom helénica teve por resultado a prosperidade comercial dos metecas.
(10) Toutain, op. cit., p. 40.
(11) Toutain, op. cit., p. 68.
(12) J. Hasebroek, Staat und Handel im alten Griechenland, Tübingen, 1928, p. 112.
(13) Hasebroek, op. cit., p. 78. A produçom dos valores de uso torna-se o fundamento da economia. Todo o que se pode admitir é que a produçom para a troca tomou na Grécia o máximo de extensom possível polo modo de produçom antiga.
(14) Pierre Roussel, La Grèce et l’Orient, Paris, 1928 (coll. Halphen et Sagnac, II), p. 301. Ver também M. Clerc, Les Métèques athéniens, paris, 1893, p. 396. “O comércio marítimo estava, com efeito, em grande parte nas mãos dos metecas”; e H. Francotte, L’industrie dans la Grèce ancienne, Bruxelas, 1900, I, p. 192: “O comércio marítimo na Atenas estava sobretodo nas mãos dos estrangeiros”.
(15-16) “Já nom se pode falar da comercializaçom do mundo, mas da sua industrializaçom. O carácter agrário da economia é predominante mesmo no século IV...” Hasebroek, op. cit., p. 101.
(17) “Toda aproximaçom entre os portos da Grécia antiga e as praças modernas de Génova e de Marselha apenas pode provocar o cepticismo ou o sorriso. Porém, o espetáculo dado por esta troca, estes transportes, estas idas e vindas das mercadorias, era enton novo no Mediterrâneo, diferia profundamente pola sua intensidade e a sua natureza, da que que oferecera o comércio fenício, simples venda ambulante marítima, antes do que um verdadeiro negócio”. Toutain, op. cit., p. 84.
(18) C. Autran, Phéniciens, Paris, 1920, p. 51
(19) L. Brentano, Das Wirtschaftsleben des antiken Welt, Jena, 1929, p. 79
(20) A. Causse, Les Dispersés d’Israël, Paris, 1929, p. 7
(21) A. Causse, Les Dispersés d’Israël, Paris, 1929, p. 54
(22) Esdras, I, 6.
(23) Jüdisches Lexikon, Berlim, 1927, “Elephantine”
(24) A. Causse, Les Dispersés d’Israël, Paris, 1929, p. 79
(25) Segundo livro dos Macabeus, III, 6
(26) Eduard Meyer, Blüte und Niedergang des Hellenismus in Asien, Berlim, 1925, p. 20.
(27) Pierre Roussel, La Grèce et l’Orient, p. 486
(28) Roussel, op. cit., p. 480
(29) L. Brentano, Das Wirtschaftsleben des antiken Welt, p. 78
(30) Ed. Meyer, op. cit., p. 84
(31) André Pigamol, La Conquête romaine, 4ª ed., Paris, 1944 (Col. Halphen et Sagnac, III), p. 207.
(32) Estas lutas de classes estám estritamente limitadas á populaçom livre das cidades gregas. “Umha igualdade mais ou menos grande na posse dos bens parecia necessária para a manutençom desta democracia política. É na origem das guerras sangrentas entre os ricos e os pobres onde começa por surgir a demagogia grega. Mas nunca os escravos, os servos, os metecas, nom fizeram parte destas reivindicações...”. Claudio Jannet, Les Grandes Epoques de l’Histoire économique jusqu’à la fin du XVI siècle, Paris-Lyon, s.d. p. 8
(33) “Com o helenismo, o centro económico do mundo desloca-se para o Oriente” K. J. Beloch, Geschichte Griechenlands (Hellas und Rom), p. 232
(34) Ver Fustel de Coulanges, La Cité antique, Paris, 1863
(35) Maurice Holleaux, Rome, La Grèce et les monarchies héllénistiques, au III siècle av J.-C., Paris, 1921, p. 231.
(36) André Pigamol, op. cit., p. 232.
(37) H. Cunow, Allgemeine Wirtschaftsgeschichte, Berlim, 1926-29, II, p. 61.
(38) Henri Pirenne, Histoire de l’Europe, Bruxelas, 1936, p. 14. “Os produtos afluiam pra o centro sem dar-se umha corrente compensatória de regresso”. G. Legaret, Histoire du développement du Commerce, Paris, 1927, p.13.
(39) Tenney Frank, An Economic History of Rome to the End of the Republic, Baltimore, 1920, p. 108.
(40) Idem, p. 118.
(41) Idem, p. 261.
(42) Estrabom, Geografia, XIV, 5.
(43) Tenney Frank, ibid., pp. 102 s., citado por Toutain, op. cit., p. 300. Toutain nom partilha esta opiniom..
(44) Jean Hatzfeld, Les trafiquants italiens dans l'Orient hellénique, Paris, 1919, pp. 190, 191.
(45) «Na época dos Augusto, a desapariçom dos camponeses foi objeto das preocupações diárias dos círculos dirigentes » Rostovtzeff, Gesellschaft und Wirtschaft im Römischen Kaiserreich, Leipzig, 1931, t. I, p. 56.
(46) K. Kautsky, De Oorsprong van het Christendom, p. 359.
(47) Th. Mommsen, Histoire romaine, tomo VII, p. 233.
(48) Idem., p. 264.
(49) G. Salvioli, Le capitalisme dans le monde antique, trad. fr., Paris, 1906.
(50) Th. Mommsen, Histoire romaine, tomo VII, p. 267.
(51) M. Rostovtzeff, op. cit., I, p. 165.
(52) Idem, II, p. 180.
(53) Wilhelm Schubart, Aegypten von Alexander dem Grossen bis auf Mohammed, Berlim, 1922, p. 167.
(54) M. Rostovtzeff, op. cit., II, p. 135.
(55) E. Albertini, L'Empire romain, (Col. Halphen e Sagnac, IV), 3° ed., Paris, 1939, p. 306.
(56) E. Lavisse e A. Rambaud, Histoire générale du IV° siècle à nos jours, I, Paris, 1894, p. 16.
(57) W. Schubart, Aegypten von Alexander dem Grossen bis auf Mohammed, p. 29. Muito significativa é também a desapariçom gradual da classe dos Cavaleiros, a classe dos « capitalistas” romanos.
(58) « A organizaçom do domínio, tal como aparecia a partir do século IX, é por tanto o resultado de circunstâncias exteriores, nom se produz umha mudança orgânica. Isto significa que se trata dum fenómeno anormal. » « O Imperio francês vai lançar as bases da Europa medieval. Mas a missom que cumpriu teve por condiçom essencial o derrube da ordem tradicional do mundo, nada teria acontecido se a evoluçom histórica nom tivesse mudado o seu curso pola invasom mussulmana. Sem o Islám, o Império franco nunca teria existido e Carlomagno sem Maoma seria inconcebível”. » (H. Pirenne, Les Villes du Moyen Age, Bruxelas, 1927.) Para Pirenne, a economia feudal resulta portanto da destruiçom da unidade mediterrânica provocada principalmente pola invasom mussulmana.
(59) M. Rostovtzeff, op. cit., I, 125.
(60) Salvioli, Le capitalisme dans le monde antique.
(61) E. Gibbon, Histoire de la décadence et de la chute de l'Empire romain, trad. fr., Paris, 1835-1836, t. I, p. 840.
(62) Gibbon, Décadence et chute de l'Empire romain, p. 840.
(63) M. Rostovtzeff, op. cit., II, p. 141.
(64) Toutain, op. cit., p. 363.
(65) Alguns autores vem no despovoamento e esgotamento do solo as causas essenciais da decadência do Império.
(66) M. Rostovtzeff, op. cit., II, p. 213.
(67) M. Rostovtzeff, op. cit., II, p. 232.
(68) Jacques Zeiller, L'Empire romain et l'Eglise, Paris, 1928 (coll. Histoire du monde, V, 2), p. 28.
(69) G.-B. Depping, Histoire du commerce entre l'Europe et le Levant, Paris, 1826.
(70) W. Schubart, op. cit., p. 23.
(71) Th Mommsen, Histoire romaine, tomo VII, p. 274.
(72) W. Roscher, Die Juden im Mittelalter, p. 328.
(73) K. Kautsky, De oorsprong van het Christendom, p. 223.
(74) Estrabom, Géographie, XVI, 2, 34.
(75) K. Kautsky, op. cit., p. 220.
(76) M. Rostovtzeff, op. cit., I, p. 99. Aliás: « Na Mesopotámia, na Palestina, no Egito e na Cirenaica, as revoltas judaicas sangrantes e perigosas eclodiram após a morte de Trajano. A Cirenaica foi fortemente devastada. » Rostovtzeff, II, p. 76.
(77) M. Rostovtzeff, op. cit., II, p. 64.
(78) M. Rostovtzeff, op. cit., II, p. 65.
(79) K. Kautsky, op. cit., p. 330.
(80) Movers, Die Phönizier, p. 1.
(81) Hölscher, Urgemeinde und Spätjudentum (Avhandlinger utgitt av Det Norske Videnskaps Akademie i Oslo, Hist.-filos. klasse, 1928, n° 4), p. 26.
(82) M. Rostovtzeff, op. cit., II, p. 223.
(83) W. Schubart, op. cit., p. 97.
(84) Gibbon, op. cit., tomo II, pp. 196-7.
(85) Elas foram a manifestaçom da decadência da economia romana. Mas as classes inferiores nom estavam em medida de se fazer com o poder. Umha nova classe possuidora serviu-se da sua ideologia para se impor. Umha mudança era necessária; fez-se no eu exclusivo proveito. O mesmo aconteceu, mutatis mutatis, com a « Revouçom fascista ».
(86) W. Schubart, op. cit., p. 46.
(87) Samuel Krauss, Sudien zur byzantinischen-jüdischen Geschichte, Viena, 1914.
(88) G. Caro, Sozial- und Wirtschaftsgeschichte der Juden im Mittelalter und der Neuzeit, 1908-1920.
(89) L. Brentano, Eine Geschichte der wirtschaftlichen Entwicklung Englands, Jena, 1927-1929, p. 361.
(90) Se mesmo estes Sírios nom som judeus, é um facto que já nom se fala nisso na época carolíngea. É possível que se tivessem fundido nas comunidades comerciais judaicas, salvo que tivessem desaparecido completamente por outras causas. Na época carolíngea, « Judeu » é perfeitamente sinónimo de «mercador».
(91) Rabbin Dr. L. Lucas, Zur Geschichte der Juden in vierten Jahrhundert, Berlim, 1910.
«Na Antioquia, são Joám Crisóstomo mostra os judeus ocupando as primeiras posições comerciais da cidade, fazendo suspender todos os negócios quando eles celebram as suas festas. » C. Jannet, Les Grandes Epoques de l'Histoire économique, p. 137.
(92) Henri Pirenne, Mahomet et Charlemagne, 2° éd., p. 237.
(93) Dr. Julius Brutkus, Der Handel der westeuropäischen Juden mit dem mittelalterlichen Kiew (em iídiche), em Schriften für Wirschaft und Statistik, 1928.
(94) De reditu suo, I, 398; cf. G. B. Depping, Les Juifs dans le Moyen Age, Paris, 1834, p. 18.
(95) S. Ullman, Histoire des Juifs en Belgique jusqu'au XVIII° siècle, Anvers, s.d., pp. 9-10.
(96) H. Pirenne, Les villes au Moyen Age, p. 313.
(97) I. Schipper, Anfänge des Kapitalismus bei den abenländischen Juden im früheren Mittelalter,1907.
(98) H. Sée, Esquisse d'une histoire économique et sociale de la France, Paris, 1929, p. 91.
(99) Verhoeven, Algemeene Inleiding tot de Belgische Historie, cité par Ullmann, op. cit.,p. 8.
(100) Ullmann, op. cit., pp. 12-14.
(101) Bédarride, Les Juifs en France, en Italie, en Espagne, p. 53.
(102) H. Pirenne, op. cit..
(103) Dr. Julius Brutzkus, op. cit..
(104) Idem.
(105) Schipper, Anfänge des Kapitalismus bei den abendländischen Juden.
(106) Dr. Julius Brutzkus, Di Geshikhte fun di Bergyiden oyf kavkaz (História dos Judeus montanheses do Cáucaso), em iídiche, em Historishe Shriften fun Yivo (Yivo Studies in History), t. 2, Vílnius, 1937, pp. 26-42, resumo inglês, pp. VI-VII.
(107) I. Schipper, Yidishe Geschikhte (Wirtschaftsgeshikhte), Varsovie, 1930 (em iídiche), tomo II, p. 45.
(108) Henri Pirenne, Mahomet et Charlemagne, p. 153.
(109) Os judeus estám mesmo melhor protegidos que os nobres polo privilégio concedido a eles de Espira Spire por Henrique IV (1090). O cronista polaco do se´culo XII, Vincenti Kadlubek, mostra-nos que a mesma pena, a « septuaginta », que estava fixada por lesa majestade ou por blasfémia, era aplicada aos assassinos dos judeus. Em 966, o bispo de Verona laiava-se que nas batalhas entre cregos e judeus, os primeiros eram punidos dumha multa que triplicava à que deviam pagar os judeus.
(110) W. Roscher, Die Juden im Mittelalter, p. 324.
(111) Karl Marx, Das Kapital, III, Bd., Berlim, 1953, pp. 359, 362-3; cf. a trad. francesa, livro III, t. 1, Paris, Ed. sociais, 1957, pp. 336-339.
(112) Karl Marx, Le Capital, livro III.
(113) Karl Marx, op. cit., livro III, p. 362 (ed. alemá, Berlim, 1953); t. 1, p. 338 (trad. francesa, Paris, 1957).
(114) Karl Marx, Le Capital, livro III (Das Kapital, III, Berlim, 1953, p. 641; trad. franc, livro III, t. 2, Paris Ed. sociais, 1959, p. 253).
(115) Caro, op. cit., p. 197.
(116) « Os banqueiros encarregavam-se também de operar a receita das grandes propriedades senhoriais. Eles cumpriam algumha classe de funçom de gerentes e de intendentes. » G. Davenel, Histoire économique de la Propriété, etc., Paris, 1886-1920, tome I, p. 109.
(117) I. Schipper, Yidishe Geschikhte, tomo IV, p. 224.

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